.
Shabat Hazon, o Shabat da revelação
Diz o Talmud: “Assim como se aumenta a alegria quando entra o mês de Adar, assim se reduz a alegria quando entra o mês de Av.” Existe uma interpretação de que os verbos, aumentar e reduzir, relacionam-se ao mês, e não à alegria.
Ou seja: “Com a alegria podemos aumentar as venturas de Adar e reduzir as calamidades de Av.” Isto é expresso na Lei Judaica que permite comer carne e beber vinho quando o final de um tratado talmúdico é realizado e este fato é sempre comemorado com alegria, mesmo nos primeiros nove dias de Av, quando estes alimentos são normalmente proibidos devido ao luto.
O mês de Av [pai] é denominado Menachêm [que consola] Av. Simplesmente, isto representa uma prece, de que D’us, nosso Pai nos console e traga a reconstrução do Templo. Mas uma vez que Menachêm precede Av surgiu uma explicação mais profunda, ou seja, que nós, os filhos, consolamos o Pai. Esta idéia será entendida de acordo com o dito de nossos sábios que, após a destruição do Templo, D’us disse sobre Si mesmo: “Ai do Pai que exilou Seus filhos e ai dos filhos que foram exilados da mesa de seu Pai.”
Shabat Chazon
O Shabat que antecede Tish’á Beav é denominado Shabat Chazon, pois nele é lida a Haftará, [trecho dos Profetas relacionado com a porção semanal da Torá] que se inicia com as palavras “Chazon [a visão de] Yesha’yáhu”. Rabi Levi Yitschac de Berditchev explicou, por meio desta parábola, que neste Shabat é mostrada a cada judeu uma visão do Terceiro Templo.
E eu, Daniel, sozinho tive a visão, mas as pessoas que estavam comigo não a viram; mesmo assim um grande terror se abateu sobre elas, e fugiram para esconder-se. (Daniel 10:7)
Mas se eles não tiveram a visão, por que ficaram aterrorizados? Porque embora eles mesmos não vissem, suas almas viram. (Talmud, Tratado Meguilá 3a)
No nono dia do mês de Av (Tish’á Beav) jejuamos e lamentamos a destruição do Templo Sagrado em Jerusalém. Tanto o Primeiro Templo (833-423 AEC) como o Segundo Templo (353 AEC-69 EC) foram destruídos nesta data. O Shabat que antecede o dia de jejum é chamado o “Shabat da Visão,” pois neste Shabat lemos um capítulo dos Profetas, intitulado “A Visão de Yeshayáhu.”1
Porém há também um significado mais profundo para o nome “Shabat da Visão,” expresso pelo mestre chassídico Rabi Levi Yitschac de Berditchev 2 com a seguinte metáfora:
Um pai certa vez preparou um lindo conjunto de roupas para o filho. Porém a criança negligenciou o presente do pai e logo o terno estava em frangalhos. O pai deu ao filho um segundo jogo de roupas, mas este também foi arruinado pelo descuido do menino. Então, o pai comprou um terceiro conjunto. Desta vez, entretanto, escondeu-o do filho.
De tempos em tempos, em épocas especiais e oportunas, ele mostra o terno ao filho, explicando que quando o menino aprender a valorizar e tomar os devidos cuidados com a roupa, ela lhe será dada. Isso induz a criança a melhorar seu comportamento, até que gradualmente isso se torne uma segunda natureza – quando então será merecedora do presente dado pelo pai.
No “Shabat da Visão” – diz Rabi Levi Yitschac, a todos e a cada um de nós é concedida uma visão do Terceiro Templo – o final – uma visão que, para parafrasear o Talmud, “embora não vejamos por nós mesmos, nossa alma vê.” Esta visão evoca uma profunda reação em nós, mesmo se não estivermos plenamente conscientes da causa de nossa súbita inspiração.
A Morada Divina
O Templo Sagrado em Jerusalém era o assento da presença manifesta de D’us no mundo físico.
Um dogma básico de nossa fé é que “Toda a terra está repleta com Sua presença”3 e “Não há lugar sem Ele.”4 Mas a presença de D’us e o envolvimento em Sua criação são mascarados pelas obras aparentemente arbitrárias e independentes da natureza e da história. O Templo Sagrado foi um brecha nesta máscara, uma janela através da qual D’us irradiou Sua luz para o mundo. Aqui o envolvimento de D’us em nosso mundo foi demonstrado abertamente por um edifício, no qual milagres eram uma parte “natural” de seu funcionamento diário5, e cujo próprio espaço expressava a infinidade e a completa difusão do Criador.6 Aqui D’us mostrava-se ao homem, e o homem apresentava-se a D’us.7
Por duas vezes recebemos o presente de uma morada Divina em nosso meio. Duas vezes deixamos de nos mostrar merecedores deste presente, e banimos a presença Divina de nossa vida.
Portanto, D’us construiu-nos um terceiro templo. Diferente dos anteriores, de construção humana e portanto sujeitos a degradação por causa das falhas humanas, o Terceiro Templo é tão eterno e invencível quanto seu Arquiteto. Mas D’us ocultou de nós este “terceiro conjunto de roupas,” confinando sua realidade a uma esfera celestial, mais elevada, além da visão e da vivência de nosso ser terreno.
A cada ano, no “Shabat da Visão,” D’us nos mostra o Terceiro Templo. Nossa alma contempla uma visão de um mundo em paz consigo mesmo e com seu Criador, um mundo repleto de conhecimento e de consciência de D’us, um mundo que percebeu seu potencial Divino para a bondade e a perfeição. É uma visão do Terceiro Templo no céu – em seu estado espiritual – como o terceiro jogo de roupas da analogia, que a criança vê mas não pode ter. Mas é também uma visão com uma promessa: uma visão de um templo celestial suspenso para descer à terra, uma visão que nos inspira a corrigir nosso comportamento e apressa o dia em que o Templo espiritual tornar-se-á realidade concreta.
Através destas visões repetidas, viver na Divina Presença torna-se mais e mais uma “segunda natureza” para nós (como disse Rabi Levi Yitschac em sua analogia), elevando-nos progressivamente ao estado de merecimento para vivenciar o Divino em nossa vida.
A Casa Individualizada
As metáforas de nossos Sábios continuam a nos falar muito depois do ponto principal de sua mensagem ter sido assimilado. Sob a superfície do significado mais óbvio da metáfora está camada após camada de significado, onde cada detalhe da narrativa é importante.
O mesmo aplica-se à analogia de Rabi Levi Yitschac. Seu significado básico é claro, mas muitas percepções sutis estão envoltas em seus detalhes. Por exemplo: Por que, poderíamos perguntar, os três Templos são representados como três jogos de roupas? O exemplo de um edifício ou casa8 não teria sido mais apropriado?
A casa e a roupa – ambas “abrigam” e contêm a pessoa. Mas a roupa o faz de modo muito mais pessoal e individualizado. Embora seja verdade que as dimensões e o estilo de uma casa refletem a natureza de seu ocupante, fazem-no de maneira mais generalizada – não tão especificamente e intimamente como uma roupa envolve quem a veste.
Por outro lado, a natureza individual das roupas limita suas funções ao uso pessoal. Uma casa pode abrigar muitas pessoas; uma roupa, apenas uma. Posso convidá-lo a ir à minha casa, mas não posso compartilhar minha roupa com você: mesmo se eu a der a você, não irá vestir-lhe tão bem quanto a mim, pois “serve” apenas a meu corpo.
D’us escolheu revelar Sua presença em nosso mundo em uma “morada” – uma estrutura comunal que vai além do pessoa, para abraçar um povo inteiro e toda a comunidade do homem.9 Mesmo assim o Templo Sagrado em Jerusalém também tinha alguns aspectos semelhantes ao da roupa. São estes aspectos que Rabi Levi Yitschac deseja enfatizar quando retrata o Templo Sagrado como um conjunto de roupas.
Pois o Templo Sagrado foi também uma estrutura altamente compartimentalizada. Havia um “Pátio das Mulheres” e um pátio reservado para os homens, uma área restrita aos cohanim (sacerdotes), um “Santuário” (hechal) impregnado de uma santidade maior que a dos “pátios,” e o “Santo dos Santos” – uma câmara na qual apenas o Sumo Sacerdote podia entrar, e somente em Yom Kipur, o mais santo de todos os dias do ano. O Talmud enumera oito áreas de santidade variada dentro do complexo do Templo, cada qual com sua função e propósito distinto.10
Em outras palavras, embora o Templo expressasse uma única verdade – a presença toda penetrante de D’us em nosso mundo – assim o fazia para cada indivíduo de forma personalizada. Embora fosse uma “casa” no sentido em que servia a muitos indivíduos – na verdade o mundo todo – como seu ponto de encontro com o infinito, todo e cada indivíduo o considerava uma “roupa” sob medida para suas necessidades espirituais, segundo seu relacionamento pessoal e íntimo com D’us. A cada ano, no Shabat que antecede Tish’á Beav, temos uma visão de nosso mundo como um lar Divino – um local onde todas as criaturas de D’us sentirão Sua presença. Mas esta é também uma visão de uma “roupa” Divina – o relacionamento nitidamente pessoal com D’us, que serve especialmente a nosso caráter e aspirações individuais, que cada um de nós irá desfrutar quando o Terceiro Templo descer à terra.11
NOTAS
1.
Yeshayáhu 1:1-27. Esta leitura é a terceira de uma série de leituras, chamada os “Três de Admoestação,” que são lidas nos três Shabatot que precedem o Nove de Av.
2.
1740-1810.
3.
Yeshayáhu 6:3.
4.
Ticunei Zôhar, Ticun 57.
5.
Ética dos Pais 5:5.
6.
O Talmud (Tratado Yoma 21a) relata que o Templo e seu mobiliário desafiavam a característica mais fundamental dos objetos físicos – que eles ocupam espaço – pois “O espaço da Arca não fazia parte das medidas.” O Santo dos Santos media 20 cúbitos (aprox. 9,5 metros) por 20 cúbitos; a Arca que ficava no centro media 2,5 x 1,5 cúbitos; porém a distância entre cada uma das paredes externas da Arca às paredes da câmara era de uns bons 10 cúbitos. Em outras palavras, a Arca, embora fosse um objeto físico com dimensões espaciais, não ocupava espaço algum no aposento.
7.
Shemot 23:17, e pelo Talmud, San’hedrin 4b.
8.
Conforme a analogia dada pelo Midrash.
9.
A “morada” também representa “um lugar que abriga a própria essência da pessoa”.
10.
Talmud, Kelim 1:6.
11.
Baseado nas palestras do Rebe em Shabat Chazon, 5742 (1982) e 5744 (1984), (Licutei Sichot, vol. XXIX, págs. 18-25).
O Terceiro, Beit HaMikdash, o Templo Sagrado de Jerusalém
As rezas que falamos nos dias de hoje correspondem aos serviços realizados no Beit HaMikdash
Lemos diariamente no sidur, no livro de rezas, trechos a respeito dos sacrifícios, oferendas e oferta de incenso.
Vários tratados do Talmud abordam assuntos referentes ao Beit HaMikdash e aos serviços nele realizados, e as principais rezas do judaísmo, em particular a Amidá (Shemone Esrei), incluem pedidos para que seja construído o terceiro Beit HaMikdash em Jerusalém que será eterno.
Jerusalém e o Beit HaMikdash são continuamente lembrados.
O costume de se quebrar um copo após a cerimônia de casamento serve para lembrar que a felicidade de um judeu não pode ser completa até que o Beit HaMikdash volte a existir.
Hoje, pouco resta do Segundo Templo de Jerusalém, o que sobrou dele foi o Kotel HaMaaravi, o Muro Ocidental, que não era o muro do próprio Beit HaMikdash mas sim o muro do monte do Templo
Nossos Sábios ensinam que apesar de o Beit HaMikdash ter sido destruído, a Presença Divina nunca abandonou o Muro Ocidental.
É por este motivo que um número incontável de pessoas, judeus e não-judeus, visitam o Kotel HaMaaravi para rezar.
Hashem (D’us) se encontra em todo lugar, conhece todos os nossos pensamentos e ouve todas as palavras que são pronunciadas por nossos lábios, mas o centro espiritual do Universo é o lugar onde Hashem está mais revelado e os pedidos e súplicas de Suas criaturas são recebidos com um carinho especial
Nosso exílio se iniciou com a destruição do Segundo Beit HaMikdash e a volta de todos os judeus espalhados pelos quatro cantos da Terra acontecerá apenas depois da construção do Terceiro Beit HaMikdash.
Quando a Casa de D’us for re-estabelecida, o Povo Judeu terá cumprido a sua missão, a santificação do mundo físico para que possa conter a Revelação da Luz Infinita.
A reconstrução da Casa de D’us, o Beit HaMikdash, Templo Sagrado de Jerusalém, indicará que o mundo finalmente se tornou a Morada do Criador Infinito. Quando isto ocorrer, a era tão sonhada pela humanidade se concretizará
A importância do Beit HaMikdash, o Templo Sagrado de Jerusalém
Durante 830 anos, existiu em Jerusalém o Beit HaMikdash que era a “Casa de D’us”, o ponto de encontro entre os Céus e a Terra.
A razão da existência do Beit Hamikdash era a de fazer uma ponte entre o mundo espiritual e o mundo material.
Para nós, a importância do Beit Hamikdash, o Templo Sagrado de Jerusalém, é primordial.
A destruição do Beit HaMikdash foi uma calamidade não apenas para o Povo Judeu, mas também para toda a humanidade, porque essa “Casa de D’us” era uma fonte de bênção e proteção para o mundo inteiro.
A reconstrução do Terceiro Beit HaMikdash será o indicativo definitivo do início da Redenção final, a era de paz e prosperidade para todos.
A “Casa de D’us”
O Midrash nos conta que “D’us é o lugar do mundo, quer dizer que tudo o que existe, existe dentro de Hashem (D’us) e somente o nível da revelação Divina varia entre um lugar e outro
O conceito de “Casa de D’us”, se refere a um local específico onde a revelação Divina está no máximo da sua intensidade de acordo com o nível que o mundo material consegue suportar e não se desintegrar, e por isso ela é chamada de o lugar onde “habita” o Eterno
O Rei Salomão, referindo-se ao Beit HaMikdash que tinha acabado de construir, disse: “Os céus e os mais altos céus não Te podem conter, quanto menos esta casa que construí para você”.
O propósito do Beit Hamikdash evidentemente não era o de conter o Infinito, mas sim de servir como centro da revelação Divina na Terra.
Era lá onde a She’hiná, a Presença de D’us, se revelava de forma aberta.
No Templo de Jerusalém não havia ocultação Divina; não havia qualquer dúvida quanto à existência de D’us e a Divina Providência
Rabi Yehoshua de Si’hnin explica de que maneira o Infinito poderia estar em uma moradia terrestre e, ao mesmo tempo, no mundo inteiro.
Ele deu o exemplo de uma caverna à beira-mar. As ondas entram na caverna e ela se enche; contudo isto não faz diminuir o mar. O mesmo vale para a Glória de D’us (Midrash Bamidbar Raba 12,4).
Um dos ensinamentos do Midrash mais citados pelos cabalistas é que o objetivo da Criação é o de construirmos uma “habitação” para D’us neste mundo físico.
Isto significa que D’us deseja “sentir-se em casa” não apenas nos Céus – onde Sua Presença é revelada abertamente, mas também no nosso mundo material, onde sua existência é oculta a tal ponto que muitos chegam a duvidar ou negar.
Construimos a “moradia de D’us” quando elevamos este mundo físico para que ele se torne um lugar sagrado onde o nosso Criador possa se revelar.
A primeira Casa de D’us a ser construída, que serviria como o protótipo do Templo Sagrado, foi o Mishkan, nosso Templo Móvel do deserto.
Ele foi construído no deserto do Sinai após o recebimento da Torá.
A importância dele era tão grande que quase toda a segunda metade do Livro do Êxodo descreve seu aspecto e construção.
O propósito do Templo Móvel era o microcosmo de toda a Criação, representando a parceria entre o ser humano e D’us para fazer do mundo um lugar onde Sua Luz Eterna pudesse ser abertamente revelada.
De fato, a construção do Mishkan, o Templo Móvel pelos Filhos de Israel simbolizava o próprio ato da Criação Divina.
Além de termos sido ordenados a construir um Templo Móvel no deserto do Sinai, recebemos o mandamento de construir um Templo permanente. (Devarim, 12:5).
Mas a construção do Beit Hamikdash, o Templo Fixo, não poderia ocorrer até que o Povo Judeu tivesse ocupado toda a Terra de Israel, colocado um rei sobre si e alcançado a paz com as terras vizinhas. Tal estado de paz foi obtido apenas durante o reinado do rei David.
Após o Rei David ter feito de Jerusalém a capital eterna do Povo Judeu, almejava, acima de tudo, construir “a Casa de D’us”.
Com a ajuda do maior profeta da época, Samuel, o Rei David procurou o local exato do Grande Altar e do lugar mais sagrado do Templo, o Kodesh ha-Kodashim, o Sagrado dos Sagrados, que é a pedra fundamental que a partir dela D’us criou o mundo.
No entanto, D’us não permitiu ao Rei David construir o Templo. A Casa de D’us na Terra é um símbolo de paz e, portanto, não poderia ser construída por um guerreiro que derramara sangue, ainda que em defesa de seu povo e de sua pátria.
Foi o filho de David, Salomão, cujo próprio nome significa “a paz pertence a ele”, quem teve o privilégio de construí-la.
No entanto, apesar de ter sido construído pelo Rei Salomão, um dos nomes do Templo Sagrado é a “Casa de David”, pois além de ter detectado o local onde deveria ser erguido, foi o Rei David quem reuniu todos os materiais para a sua construção.
Todos os objetos de ouro que o Rei David adquiria em suas conquistas militares eram trazidos para Jerusalém e guardados para tal fim.
Foi também David, o maior rei na história judaica, que escavou as fundações do Grande Altar do Templo e entregou a seu filho, Salomão, o plano completo, com todos os detalhes, para a construção do Beit HaMikdash.
A ligação eterna entre o Rei David e o Beit HaMikdash ficou evidente na própria inauguração do Beit Hamikdash.
Quando o Rei Salomão tentou levar a Arca Sagrada para o Sagrado dos Sagrados, as portas fecharam-se hermeticamente e permaneceram fechadas apesar dele ter recitado 24 salmos.
As portas se abriram apenas quando Salomão pediu a D’us que se lembrasse dos méritos de seu pai, David.
Nessa hora, ele foi atendido e conseguiu colocar a Arca sobre a Even Shetiyá – a Pedra Fundamental do Universo.
O Talmud afirma que a rocha é assim chamada porque é o alicerce do Universo, o ponto onde D’us iniciou toda a Criação.
O Zohar, obra fundamental da Cabalá, descreve, metaforicamente, o início da Criação: D’us tomou uma rocha debaixo de Seu Trono de Glória e a jogou no abismo, separando assim as Alturas do mundo inferior.
O primeiro Templo Sagrado, o majestoso edifício construído durante o reinado de Salomão, permaneceu de pé durante 410 anos. Para sua construção, foram empregados 150 mil homens que trabalharam durante sete anos. A tradição conta que durante sua construção ninguém sofreu acidentes, nem se quebraram ferramentas.
Em 586 a.E.C, por causa da idolatria, assassinatos e relações proibidas cometidas pelo nosso povo durante muitos anos em seguida, o Templo foi saqueado destruído e incendiado pelos exércitos do rei Nabucodonosor, e nosso povo foi levado para a Babilônia
Setenta anos depois da destruição do nosso primeiro Beit HaMikdash um segundo Templo Sagrado foi construído, com a volta de judeus da Babilônia sob a liderança de Ezra e Nehemia.
Inaugurado em 516 a.E.C., o Segundo Templo foi reformado, em 20 a.E.C., pelo rei Herodes para expiar seu terrível pecado de ter assassinado a maioria dos sábios judeus. Herodes o transformou em uma das construções mais majestosas da época.
O Grande Altar
Tudo que se refere ao Beit Hamikdash é sagrado, a área do Templo, os pátios, as construções e as escadarias, assim como todos os objetos de seu interior.
Tudo tinha uma razão de ser, um propósito e significado espiritual profundo. O projeto, em todos os seus detalhes, é uma espécie de projeção do mundo superior sobre o nosso mundo.
Um dos elementos principais do Templo era o Grande Altar, o Mizbea’h, onde eram oferecidos todos os sacrifícios.
O Altar, localizado no Pátio, era o único lugar no mundo onde se podia oferecer um sacrifício a D’us, e seu propósito era o de obter o perdão Divino – para os indivíduos, para o Povo Judeu e para toda a humanidade.
É interessante notar que nos dias de hoje, as sinagogas têm uma plataforma central, chamada de Bimá, de onde se lê a Torá. Essa plataforma representa o Grande Altar, que era localizado no centro do Templo.
O Grande Altar representava não apenas o arrependimento pelo pecado, mas a elevação do mundo físico.
Eram ofertados no Mizbea’h sacrifícios de animais, que representavam o mundo animal, e oferendas de farinha e de cevada e libações de vinho, que representavam o mundo vegetal.
Nos sacrifícios utilizava-se sal, simbolizando que até o mundo mineral estava sendo elevado a D’us.
É importante ressaltar que a maioria dos sacrifícios animais e das oferendas de farinha eram consumidos pelos Cohanim, por aqueles que os ofereciam e pelas famílias e amigos destes.
O sacrifício de animais era feito não porque D’us quisesse o derramamento de sangue de suas criaturas. Na verdade, Ele proíbe ao ser humano ser cruel com qualquer ser vivo. Mas era feito para lembrar ao homem que tudo que há no mundo, e em todos os mundos, pertence a seu Criador.
O homem levava sacrifícios ao Templo para aprender a dedicar parte de suas posses a D’us. O sacrifício de animais também continha um significado místico: era a forma de o homem dizer a D’us: “Foi minha alma natural (animal), não minha alma Divina, que fez com que eu me afastasse de você .
Este animal que estou sacrificando simboliza meu desejo de me elevar espiritualmente, de ‘sacrificar’ meus desejos e impulsos naturais que me levaram a pecar”.
O Motivo de se trazer um Korban (sacrifício) para Hashem
Os sacrifícios eram feitos inicialmente no Templo móvel no deserto e posteriormente no Beit Hamikdash, o Templo Sagrado de Jerusalém
O Rambam, Rabi Moshe ben Maimon (Córdoba 1138, Fustat 1204). No seu livro Moré Nevuhim que quer dizer “professor dos desorientados”, explica que uma pessoa normal não consegue mudar de um extremo ao outro repentinamente. Diz o Rambam que o ser humano por natureza não consegue abandonar de imediato o que sempre estava acostumado a fazer
Quando Hashem enviou Moshe Rabeinu para transformar o nosso povo em um reinado de sacerdotes, em um povo sagrado, era necessário para isso que eles se entregassem ao trabalho Divino de todo o coração, servir somente à D’us e à nada fora Ele
As pessoas do mundo inteiro naquela época estavam acostumadas a sacrificar alguns tipos de animais nos templos onde eram colocadas as estátuas, se prostravam na frente das estátuas, e acendiam para elas incenso.l
Todos cresceram educados dessa maneira, e os mais dedicados eram sacerdotes nos templos que eram feitos para o Sol, a lua e as estrelas
Diz o Rambam, que o motivo de Hashem não ter pedido para deixar todos esses trabalhos e não anulá-los, foi porque a natureza humana é de as pessoas estarem sempre apegadas ao que estão acostumadas a fazer
Caso Hashem pedisse para eles pararem de fazer os sacrifícios, seria comparado a um profeta que surgisse na nossa época, e dissesse que Hashem nos ordenou à não rezar para ele e não pedir, a ajuda dele na hora do sofrimento; mas somente fazer todo o trabalho Divino por meio de pensamento sem ação, o que seria um absurdo para nós.
Por isso, no lugar de anular esses costumes, Hashem pediu para que eles fizessem isso para Ele
Não fizessem os sacrifícios para a idolatria, mas sim para Hashem
Não fizessem um Templo para a idolatria, mas sim para Hashem
Não fizessem um Altar para fazer sacrifícios para a idolatria, mas sim para fazer sacrifícios para Hashem
Não se prostrassem para a idolatria, mas sim para Hashem
Hashem pediu para terem sacerdotes no Templo de Hashem, como tinham sacerdotes no templo da idolatria
Pediu para que fossem dados presentes para os sacerdotes de Hashem, para que eles possam se manter fazendo esse trabalho, e essa é a origem dos presentes que os Cohanim, e os Leviim tinham que receber do nosso povo
Essa foi a perspicácia Divina para apagar a lembrança da idolatria, e fazer uma verdadeira reviravolta no nosso povo, nos direcionando dessa forma à conscientização da existência de D’us e da sua unicidade
E assim impedindo que as pessoas daquela época ficassem “perdidas”, por ser anulado o trabalho que elas estavam acostumadas a fazer, e que não sabiam fazer nada fora disso
Até aqui, a tradução das palavras do Rambam no seu livro Moré Nevuhim.
O Rambam começou a escrever esse livro em 1185, quando tinha 47 anos, e terminou de escrevê-lo em cerca de 1191
Esse livro foi escrito no idioma árabe, mas com letras hebraicas. O Rambam escreveu esse livro quando morava em Fustat, antiga parte do Cairo atual, e trabalhava lá como médico do Vizir do Egito
Mesmo assim, na prática, o Rambam escreve no seu livro Mishne Torá, que os Korbanot fazem parte da categoria de mandamentos da Torá chamada de Hukim, mandamentos Divinos
para os quais não existe uma explicação lógica
Nossos Sábios ensinam que há muitas semelhanças entre as orações e os sacrifícios: ambos têm um propósito similar, que é o de reaproximar o homem a seu Criador.
O profeta Hoshea alude a isto quando declara, referindo-se a uma época em que os judeus já não tinham o Templo: “Compensaremos os nossos bois com a oferenda de nossos lábios”.
Deve-se ressaltar que a palavra hebraica para sacrifício, Corban, provém da raiz Carov, que significa “estar próximo, aproximar”.
Logo, tanto os sacrifícios quanto as orações são formas de aproximar o homem a D’us.
De fato, esse conceito de que o Altar servia de ligação entre D’us e o homem era conhecido mesmo antes da existência do Templo.
O primeiro homem, Adam, foi criado no lugar onde seria erguido o Grande Altar, e para lá retornou após ter sido expulso do Jardim do Éden.
Para tentar redimir seu pecado de ter comido o fruto proibido – que trouxe a impureza e o mal ao mundo – Adam construiu, no lugar do Grande Altar, sobre o Monte do Templo, um altar para D’us.
Foi para este mesmo local que Caim e Abel levaram suas oferendas.
Destruído pelo Dilúvio, o Altar foi reconstruído por Noah, no mesmo lugar. Lá, seu filho Shem ofereceu os primeiros sacrifícios, e lá, D’us fez Seu primeiro pacto com a humanidade: nunca mais esta seria totalmente destruída por um dilúvio.
O Altar tornou-se, portanto, um símbolo de proteção para todos os seres humanos.
A localização do Altar foi revelada a Avraham durante seu último teste, o mais difícil de todos – quando recebeu a ordem Divina de levar seu filho, Itzhak, ao Monte Moriá, para o sacrificar.
Ao se aproximarem de Jerusalém, pai e filho viram um anel de nuvens sobre o Monte do Templo e perceberam que esta era a montanha onde Adam e Noah haviam erguido o Altar para D’us.
Ao se aproximarem ainda mais, uma coluna de fogo indicou sua localização exata.
Avraham, então, reconstruiu o Altar, e se aprontou para sacrificar o filho. Mas D’us o deteve.
Não obstante, o Talmud ensina que D’us considera como se o sacrifício de Itzhak tivesse, de fato, ocorrido. Este ato supremo de lealdade a D’us, por parte do pai e do filho, serve como fonte de proteção eterna para seus descendentes, o Povo de Israel.
A localização do Altar foi revelada, muitos anos depois, ao Rei David, para que lá construísse o Primeiro Templo. E foram os últimos profetas de Israel que revelaram o lugar exato para a construção do Segundo Templo
O Santuário e o Sagrado dos Sagrados
No interior do Templo, havia um Santuário, chamada de Kodesh (Sagrado), que continha o Altar onde era oferecido diariamente o incenso, a Mesa com 12 prateleiras abertas, representando as Doze Tribos, onde eram colocados os Le’hem HaPanim – o Pão dos Cohanim e a Menorá de sete braços.
Toda noite, eram acesos seis dos sete braços da Menorá, enquanto que o do meio sempre permanecia aceso, pois simbolizava a Luz Eterna de D’us – a Ner Tamid.
Todos esses objetos sagrados eram de ouro e haviam sido confeccionados por Betzalel, no deserto do Sinai, conforme as instruções que Moshé recebera de D’us.
Dentro do Santuário, localizava-se o ponto mais sagrado de todo o Templo – o Kodesh ha-Kodashim, o Sagrado dos Sagrados, o lugar da revelação da Glória Divina, o ponto de intersecção entre os diferentes mundos e entre um nível de existência e outro.
O local do Kodesh ha-Kodashim é um ponto situado em nosso mundo e outros mundos, ao mesmo tempo.
O lugar era fechado para todos os homens, exceto para uma breve entrada do Sumo Sacerdote, o Cohen Gadol, durante Yom Kipur, para que lá fosse oferecido o incenso no dia mais sagrado do calendário judaico.
No centro do Sagrado dos Sagrados encontrava-se a Arca da Aliança, Aron Hakodesh, feita de madeira revestida de ouro. Sobre a Arca, havia uma tampa de ouro puro e, fixos sobre a mesma, dois querubins de ouro batido, feitos de uma só peça, com as asas estendidas e as faces voltadas entre si.
Toda a estrutura da Arca, as tampas e os querubins, são descritos detalhadamente na Torá. Assim como os outros objetos que estavam no Santuário, também o Aron Hakodesh havia sido confeccionado por Betzazel, sob supervisão pessoal de Moshe, conforme as instruções que recebera de D’us.
Ainda mais importante era o conteúdo do Aron Hakodesh, que guardava os objetos mais sagrados do judaísmo: as Duas Tábuas dos Dez Mandamentos e a Torá original, escrita por Moshe.
Como vimos acima, o Rei Salomão colocou a Arca sobre a rocha plana chamada de Even Shetiyá, Fundamental do Universo, para enfatizar que o propósito da Criação e o motivo pelo qual o Universo continua a ser recriado e sustentado por D’us é o Pacto da Torá.
A localização exata do Sagrado dos Sagrados foi revelada apenas para Yaccov, o terceiro e último patriarca do Povo Judeu.
Avraham e Itzhak sabiam apenas que o Sagrado dos Sagrados se localizava em algum ponto, no Monte do Templo.
A Torá conta que Yaacov, seguindo viagem para encontrar uma esposa, parou em Jerusalém, e aí adormeceu sobre uma rocha.
Enquanto dormia, sonhou com uma escada, cujo topo atingia os Céus, e por onde anjos subiam e desciam.
Isto indicava que o lugar onde se encontrava era o foco da elevação espiritual – o portal para os Céus através do qual uma pessoa pode subir a níveis espirituais mais elevados.
Yaacov, ao acordar, percebendo que este era o ponto mais sagrado do mundo, colocou uma pedra como monumento e verteu óleo sobre a mesma.
Mais tarde, tanto o Rei David quanto Ezra e Neemias reencontraram o local exato para que lá pudesse ser iniciada a construção dos dois Grandes Templos
Três domínios
Maimônides, o Rambam, descreve o Universo como contendo três níveis: a matéria não-refinada – a terra e as criaturas terrestres; a matéria refinada – as estrelas e os corpos celestes; e seres totalmente espirituais – os anjos e outros seres não-físicos.
No âmbito do tempo, há também três divisões: os seis dias da semana, o Shabat e o “Shabat dos Shabats” – Yom Kipur, que é o dia mais sagrado do calendário judaico.
Em relação às almas do Povo Judeu, há os Israelim, que, em sua maioria, eram fazendeiros, comerciantes, soldados e estadistas; os Leviim, cujo serviço no Templo Sagrado envolvia o refinamento e a elevação do mundo material; e os Cohanim, cujo líder era o Cohen Gadol, o Sumo Sacerdote, que personificava o ápice espiritual alcançável pelo homem.
Tanto no Tabernáculo quanto no Templo, esses três domínios eram representados, respectivamente, pelo Pátio, pelo Santuário e pelo Sagrado dos Sagrados.
O Pátio englobava os elementos menos refinados do serviço do Templo. O Pátio era o lugar onde os Cohanim lavavam seus pés e suas mãos para se purificarem do contato com o mundo material antes de iniciarem seu serviço.
O Pátio era também onde eram abatidos os animais para os sacrifícios, onde a carne destes era consumida pelos Israelim, e onde as gorduras dos sacrifícios animais (representando a materialidade excessiva) eram queimadas no Grande Altar.
Era também neste domínio do Templo que eram depositadas as cinzas que constituíam “os resíduos” da Menorá e do Altar interno, de ouro, onde era oferecido o incenso.
O Santuário, onde apenas os Cohanim tinham permissão de adentrar, representava os elementos mais refinados do serviço do Templo. Como explicado acima, era no Santuário que se localizavam a Menorá, a mesa onde era posto o Pão dos Cohanim e o Altar onde era queimado o incenso.
O terceiro e mais sagrado domínio era o Sagrado dos Sagrados, que hospedava apenas a Arca Sagrada e que podia ser adentrado apenas pelo Cohen Gadol e somente em Yom Kipur. Este domínio representava a transcendência do físico que é realizada pelo homem através de seu serviço a D’us.
O Templo incluía esses três domínios porque a missão de construir uma Moradia para D’us nos mundos inferiores deve incluir todos os assuntos pertinentes à vida de um judeu.
Este deve servir a D’us em seus momentos de grande exaltação espiritual – simbolizados pelo Sagrado dos Sagrados, em ocasiões em que é necessário trabalhar para elevar e refinar o mundo – correspondendo ao serviço no Santuário, e, finalmente, nas atividades mundanas do dia a dia – representadas pelo Pátio
בין המצרים
As Três Semanas marcam um período de luto anual no qual lembramos a destruição do Templo Sagrado e o início de nosso exílio.
O período tem início no dia 17 do mês hebraico de Tamuz, data que marca a destruição das muralhas de Jerusalém pelos romanos em 69 da EC.
Chega ao seu clímax e conclui com o jejum de Tishá BeAv, dia 9 do mês de Av, data em que ambos os Templos Sagrados foram incendiados.
Este é o dia mais triste do calendário judaico, e é também a data em que muitas outras tragédias aconteceram para o nosso povo.
É chamado de bein hametzarim – “entre os apertos”, baseado no versículo (Ecihá 1:3) que declara: “Todos seus perseguidores alcançaram-na dentro dos apertos.” Os Sábios (Ei’há Rabá 1) explicam que ‘dentro dos apertos’ refere-se a dias de aflição que ocorreram no período entre 17 de Tamuz e 9 de Av.
Nesse período, muitas calamidades aconteceram sobre o povo judeu através das gerações.
Foi durante este período, dentro dos apertos, que tanto o primeiro quanto o segundo Templos foram destruídos. Este período foi portanto estabelecido como um tempo de luto pela destruição dos Santuários.
Durante essa época, diminuímos um pouco a extensão da nosso alegria. Casamentos não são realizados, não ouvimos música tocada diretamente por instrumentos musicais, danças,, e de cortar os cabelos.
Segundo o costume sefaradi que é baseado na opinião de Bet Yossef, cortes de cabelo são permitidos até a semana na qual Tish’á Beav realmente cai.
Costuma-se não falar a bênção Shehecheyanu nesse período. Dessa maneira, não vestimos roupas novas ou comemos frutas que ainda não tenham sido comidas nessa estação, para que não tenhamos que falar Shehecheyanu.
Mas, quando confrontados com uma oportunidade de cumprir uma Mitzvá que passará – como por exemplo, uma circuncisão ou um pidyon haben – então é feita a bênção.
Assim também, se uma fruta nova estiver disponível nesse período de três semanas e talvez não esteja depois, podemos comer ela e falar Shehecheyanu.
Como é costumeiro permitir que seja dita a bênção no Shabat, é preferível guardar a nova fruta até o Shabat. Uma mulher grávida que tenha vontade de comer a fruta, porém, ou uma pessoa doente que necessita dela para sua saúde, pode recitar Shehecheyanu durante as três semanas.
Costuma-se ser ainda mais cuidadoso que o normal ao se evitar situações perigosas. Pessoas devotas separam um período de tempo para reflexão e luto pela destruição de ambos os Templos. Em algumas comunidades costuma-se recitar o Ticun Chatsot mesmo ao meio dia.
Reflexições sobre o mês de Tamuz
Há alguns fatos que ocorreram nessa data e que merecem ser citados.
- O dia 17 de Tamuz é um dia de jejum em lembrança à cinco tragédias que assolaram o povo judeu em diversas épocas de sua história. O primeiro desses foi o fato de Moshê ter quebrado as Tábuas da Lei. Nas preces de Selichot, rezadas nesse dia, há menção à quebra das Tábuas, sem referência ao motivo (o bezerro de ouro). Isto porque a milagrosa escrita Divina gravada nas Tábuas nunca mais foi recuperada. Foi perdida para sempre essa forte revelação Divina cujas letras estavam gravadas de fora a fora, de forma legível sob qualquer ângulo e cuja mensagem podia ser claramente transmitida, sem qualquer possibilidade de distorção.
- O número 21 (soma dos dias das Três Semanas) forma a palavra hebraica Ach, que significa apenas; 17 (de Tamuz) tem o valor numérico da palavra hebraica Tov, bem. Ambas iniciam um versículo que diz: “Ach tov Leyisrael”, “Apenas o bem para Israel”. Isto mostra que, de modo mais profundo, os acontecimentos desagradáveis das Três Semanas, na realidade, levarão somente a coisas boas.
- Número três, no judaísmo, representa perfeição e eternidade. E assim está escrito: “A corda tríplice não se desmanchará facilmente”. De fato, esse número é recorrente: há três Patriarcas, três Festas de Peregrinação, a Lei Escrita é composta de três partes (Torá, Neviim e Ketuvim), entregue no terceiro mês após a saída do Egito, ao povo judeu formado por três grupos (Cohen, Levi e Yisrael) etc.
- Se o número três é tão significativo, por que então tantas tragédias recaíram sobre o povo judeu durante as Três Semanas? A resposta é que todo esse sofrimento são etapas que levam à Era Messiânica. Isto é aludido ao fato de os dois jejuns, 17 de Tamuz e 9 de Av, sempre coincidirem com o mesmo dia da semana do Sêder de Pêssach, quando comemoramos a saída do Egito e nossa libertação.
AV
Hey Av Yohrtzeit do Ari Zal
Rabi Yitzchak Luria (1534-1572), conhecido como o Arizal, foi um dos cabalistas mais proeminente de todos os tempos, cujos ensinamentos e modo de vida deixaram uma marca indelével sobre o misticismo e a prática judaica.
1 – Seu Nome é Único
Seu nome hebraico era Yitzchak (Isaac) filho de Shlomo, um descendente da importante família askenazita Luria.
Embora eruditos seculares possam se referir a ele simplesmente como Luria, entre os judeus ele é conhecido como o ARI ou o ARIzal.
Além de significar “leão”, ARI é um acrônimo para “Eloki “Divino” Rabi Yitzchak”; ZaL é um acrônimo para zichrono liverachá, [possa] sua memória [ser] para bênção.”
Às vezes, ele é também mencionado como ARI Hakadosh, “o sagrado ARI” ou ARIZaL Hachai, o “ARIZal vivo.”
2 – Ele Era Apenas Metade Askenazi
Às vezes, o ARI é mencionado como Rabi Yitzchak Ashkenazi, Seu pai, Shlomo Luria, era descendente de Rashi e muitos outros rabinos askenazitas.
Porém ele faleceu quando seu filho Yitzchak tinha oito anos de idade, e o menino foi criado pelo tio materno sefaradita, Rabi Mordechai Francis de Alexandria.
No decorrer da sua vida, muitos de seus mentores, colegas e estudantes eram sefaraditas que falavam ladino, refugiados da perseguição cristã na Península Ibérica e seus descendentes.
3 – Ele Estudou Com os Grandes Sábios do Egito
No Egito, ele estudou com Rabino Betzalel Ashkenazi, o autor do Shita Mikubetzet, e o Rabino David ibn Zimra, nascido na Espanha, conhecido como o RaDBaZ. Porém, muito de seu estudo foi feito sozinho, na solidão, nas dunas do Rio Nilo.
4 – Ele Aparentemente se Envolvia em Comércio
Documentos da sua época no Egito, que foram fortuitamente preservados na Gueniza do Cairo, indicam que ele se envolvia em comércio, lidando com temperos e trigo (e talvez com outras mercadorias) Isso é consistente com o ditado de que uma pessoa deveria ganhar a vida pelo “trabalho de [suas] mãos,” em vez de aceitar um estipêndio de um erudito.
5 – Ele Patrocinou a Escola Safed de Misticismo
Em 1570, ao retornar para a Terra Santa com sua esposa (que era a filha de seu tio, Mordechai), e suas duas filhas, ele se instalou em Safed, onde uma comunidade de sábios de Torá espanhóis tinha se reunido.
Ali ele estudou brevemente com o mestre cabalista, Rabino Moshe de Cordovero, conhecido como o RaMaK, Após o falecimento do RaMaK, seus alunos aceitaram o ARI como professor e guia, em parte porque o Arizal era tão espiritualmente ligado que ele via um pilar de fogo seguindo o esquife de RaMaK.
6 – Temos Poucos dos Seus Escritos
Há muitos poucos escritos preservados feitos pelo próprio ARI. Aquilo que foi preservado inclui hinos aramaicos para cada uma das três refeições do Shabat e uma abordagem sobre as leis de sacrifícios.
Porém, muitos ensinamentos seus foram cuidadosamente transcritos pelo seu fiel aluno, Rabino Chaim Vital. Esses ensinamentos, publicados sob diversos títulos, são conhecidos coletivamente (talvez incorretamente) como Kitvei HaARIZaL, “os escritos do ARIZaL.”
7 – O Serviço da Noite de Sexta-Feira Pode Ser Rastreado a Ele e Seus Alunos
Mesmo antes da chegada do ARI, os judeus de Safed faziam um serviço especial para dar as boas vindas ao Shabat na tarde de sexta-feira.
Na verdade, o hino Lecha Dodi foi composto por Rabino Shlomo Alkabetz que morava em Safed na mesma época do Ari. Toda semana, o Ari e seus alunos saíam da cidade, e, encarando o sol, eles recitavam os Salmos, o que desde então tinha se tornado padrão em toda sinagoga ao redor do mundo.
8 – Ele Morou em Safed Por Apenas Dois Anos
O ARI morou em Safed por apenas dois anos, e os volumosos ensinamentos que temos dele foram todos transmitidos durante aquele breve período. Porém sua influência era tão forte que seu nome está inextricavelmente ligado à cidade e suas tradições cabalísticas.
9 – Duas Sinagogas Receberam Seu Nome
No bairro judaico de Safed, há duas sinagogas com seu nome, uma das quais segue a tradição askenazi, e a outra o costume sefaradi.
Localizada no centro do bairro, a sinagoga askenazi (que na verdade foi construída por Sefaradim) é mencionada como tendo sido construída no mesmo local onde o ARI e seus alunos davam as boas vindas ao Shabat. É conhecida pela sua arquitetura única, incluindo uma Arca Sagrada colorida e esculpida.
A sinagoga sefaradi veio antes do ARI, e era originalmente conhecida como a Sinagoga do Profeta Eliyahu.
Acredita-se que seja ali que o grande mestre realmente estudava e rezava. Localizada à beira da Antiga Safed, tem vista para o cemitério histórico.
Ambas as sinagogas foram muito danificadas pelos vários terremotos que abalaram a área, e as duas foram extensivamente renovadas.
10 – Ele Ensinava a Doutrina das Centelhas Ocultas
Baseado no Zohar e outras antigas obras cabalísticas, o ARI expunha e provia linguagem para descrever trabalhos interiores do universo, descrevendo o processo através do qual um D’us Infinito cria espaço e traz à vida uma existência finita e opaca.
Segundo o ARI, há grande propósito para nossas vidas. Dentro de todo ser está uma centelha Divina esperando para ser elevada usando aquele item para o bem. Na escala macro, também, o universo está ansiando para ser elevado e purificado através da humanidade e sua união com sua fonte Divina.
11 – Ele Revolucionou o Conceito de Tzimtzum (Contração Divina)
A ideia de que o relacionamento de D’us com o mundo é mediado através de algum tipo de auto-contração tem uma longa história no pensamento judaico, voltando até o Midrash.
Mesmo assim, a maneira que o ARI explicava essa ideia foi sem precedentes e revolucionária. A transição da infinidade Divina à possibilidade de um cosmos finito não pode acontecer gradualmente, em passos incrementados, mas D’us “contraiu a Si mesmo e espalhou Sua luz abundante… completamente,” deixando “um lugar vago e vazio” no qual o processo de criação se desenvolve.
A narrativa do ARI, fortemente visual, dramática e dinâmica de Tzimtzum transformou-a numa das principais ideias da moderna Cabalá, cujo significado tem sido estudado, debatido e reinterpretado não apenas pelos rabinos e eruditos, mas também por filósofos, artistas e escritores muito além da comunidade judaica.
12 – Ele Revelou o Ritmo Interior da Prática e Erudição Judaica
Conforme ensinado pelo ARI, baseado no Zohar, toda mitsvá, toda palavra de prece, e toda linha da Torá é repleta com camada após camada de significado. Todo ato, mesmo que mundano, tem significado que devemos descobrir, examinar, e celebrar. Nessa maneira, a observância da mitsvá é uma experiência viva, vibrante e espiritual.
13 – Ele Identificou Muitos dos Túmulos na Galiléia
A região da Galiléia ao norte de Israel, local de Safed, Tivéria e várias outras antigas cidades judaicas, é dotada com os locais de descanso de muitos sábios talmúdicos. Muitos desses locais têm sido obscurecidos pelas areias do tempo, somente para serem redescobertos pela visão sagrada do ARI.
14 – Ele Faleceu em 5 de Av
O ARI faleceu no quinto dia do mês de Av de 1572, aos 38 anos. Em sua vida breve, ele revolucionou a vida judaica, catalisando um renascimento espiritual que estimulou o movimento chassídico e elevou para sempre a vida e a espiritualidade judaicas.
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O Beit Hamikdash
O Beit HaMikdash tinha duas qualidades opostas – espaço e não-espaço – ao mesmo tempo. Nossos Sábios declaram que “o local da Arca não fazia parte das medidas do Santo dos Santos”.
O Santo dos Santos media vinte amot quadrados, e a Arca em si, que ficava no centro do Santo dos Santos, media 2 ½ amot por 1 ½ cúbito. No entanto, fosse qual fosse a maneira que alguém a medisse, a distância entre a parede da Arca e a parede do Santo dos Santos era de 10 amot.
Essa maravilha ocorria no Beit HaMikdash porque o Templo estava no nível espiritual do Mundo Vindouro, quando o espaço será transcendido, pois a existência do mundo material será então vista como realmente é – um fluxo externo da Luz Divina dentro dele.
(Sefer HaMaamarim 5643, pág. 103)
O Serviço do Homem e a Revelação da She’hiná
Duas coisas principais ficaram conhecidas como resultado da Akeidah (Amarração) de YItzhak sobre o altar, como é explicado por Maimônides em seu Guia (III, cap. 24):
A primeira está ligada ao serviço do homem. Pela sua disposição em cumprir a vontade de D’us, Avraham nos ensina a que ponto podem chegar o amor e reverência a D’us.
A segunda envolve a revelação da She’hiná, a Presença Divina.
A Akeidah prova a verdade da profecia, pois Avraham foi ordenado numa visão profética a sacrificar seu filho. Se ele tivesse a menor sombra de dúvida sobre a verdade de sua experiência profética, não teria encontrado em sua alma a força para cumprir este ato enorme.
A Akeidah ocorreu no lugar sobre o qual o Beit HaMikdash mais tarde seria construído. Os dois aspectos acima mencionados são semelhantes às duas formas básicas de serviço encontradas no Beit HaMikdash – o serviço do povo judeu através das oferendas, e a revelação da Divina Presença no Templo.
(Likutei Sichot vol. 30, ag. 73)
Dentro de Todo e Cada Um
Quando o Eterno, bendito seja, nos ordenou “Façam para Mim um Mikdash, e Eu habitarei dentre eles” (Shemot 25:8), o resultado foi a construção no coração de todo judeu presente, e também no coração de todo judeu que nasceria no futuro, de um Beit HaMikdash microcósmico.
Quando um judeu entrava no Templo, então o Beit HaMikdash macrocósmico era refletido e revelado no Beit HaMikdash microcósmico.
(Sefer Hasichot 5696 pág. 297)
A Diferença entre o Mishcan e o Beit HaMikdash
O Mishcan (Tabernáculo) foi construído com materiais provenientes dos reinos animal, vegetal e inanimado. A tenda externa foi feita de peles de animais, as estacas que formavam as paredes eram feitas de madeira, e os soquetes de prata nos quais as vigas de madeira eram colocadas, bem como o piso de terra, eram de matéria inanimada.
O Beit HaMikdash (o Templo), porém, era feito quase exclusivamente de matéria inanimada – pedra e terra.
A explicação é a seguinte: o Mishcan eram uma morada temporária para a Presença Divina neste mundo. Portanto, refletia a estrutura da ordem física – a cadeia do ser do mais alto ao mais baixo; do animal ao vegetal, então para objetos inanimados.
O Beit HaMikdash, em contraste, era uma morada permanente para a Presença Divina neste mundo. Portanto reflete a estrutura do ser no Mundo Vindouro, quando a espiritualidade do inanimado vai superar aquela do reino vegetal e do animal.
(Torah Or, Bereshit, pág. 43c)
Não É Um Lugar Comum
Sobre a localização do Beit HaMikdash, Yaakov Avinu comentou: “D’us (Havaye) certamente está neste lugar, e eu não sabia disso.” (Bereshit 28:16-17)
Unkelus traduz as palavras: “Quão impressionante é este local” em aramaico como: Este não é um lugar comum”.
O mundo terreno em geral pode ser considerado como “um lugar comum” porque foi criado através dos Dez Pronunciamentos. No entanto, o local onde ficava o Beit HaMikdash não pode ser considerado como uma faixa comum de terra, contígua a, e comparável, ao restante da criação. O mundo foi criado através dos Dez Pronunciamentos, e cada um deles começa com as palavras: “E Elokim disse…” O Nome Elokim significa uma restrição da Divindade, resultando na multiplicidade da criação. Este Nome portanto é igual em valor numérico à palavra hatevah – natureza.
A área sobre a qual o Beit HaMikdash ficava, porém, está associada com o Nome Inefável, o Tetragrama (conhecido como Havaye na terminologia chassídica), como disse Yaakov: “D’us (Havaye) certamente está neste local.”
(Kuntres Shabat Nachamu, 5750)
Um Mundo Diferente
Dentro do Beit HaMikdash, era possível sentir e reconhecer a Divindade de maneira visível, como declaram nossos Sábios : “Ia-se para ver [D’us] e para ser visto [por D’us].”
Como resultado, o Beit HaMikdash estava num plano completamente diferente de existência. Quem entrasse no Beit HaMikdash sentia a Divindade como algo que era auto-evidente, não como algo que se tinha de procurar. Além disso, a pessoa não sentia a própria existência.
(B’sha’ah Shehikdimu 5672, pág. 935)
Tisha B´av
Tishá BeAv na história Judaica
Em nove de Av do ano judaico de 2449 (1312 AEC), a geração de judeus que tinha saído do Egito 16 meses antes sob a liderança de Moshe, foi condenada a morrer no deserto e a entrada na Terra de Israel foi adiada por 40 anos.
Esta é a primeira das cinco tragédias nacionais que ocorreram em 9 de Av relatadas pelo Talmud (Taanit 4:6), devido às quais o dia foi designado como dia de jejum.
As outras quatro foram:
A destruição dos dois Templos
A queda de Beitar
A destruição de Jerusalém.
A destruição dos Templos Sagrados
Tanto o Primeiro quanto o segundo Beit HaMikdash foram destruídos em 9 de Av:
O Primeiro pelos babilônios em 3338 (423 AEC) e o segundo pelos romanos em 3829 (69 EC).
A destruição dos Templos representa a maior tragédia na História Judaica, pois assinala nossa descida à galut, nosso exílio físico e afastamento espiritual no qual nos encontramos hoje.
Assim, a Destruição é pranteada como uma tragédia que afeta nossa vida hoje, 2000 anos depois, não menos que a própria geração que a viveu em primeira mão.
Porém, o Nove de Av também é um dia de esperança.
O Talmud relata que Mashia’h (“O Ungido” – o Messias), nasceu no mesmo momento em que o Templo foi incendiado e o Galut começou.
Isso está de acordo com os ensinamentos de Nossos Sábios, que: “Em toda geração nasce um descendente de Yehuda que é digno de se tornar o Mashiach de Israel”
E quando chegar a hora, D’us se revelará a ele e o enviará, e então o espírito de Mashia’h, que está oculto em segredo no Alto, se manifestará nele” (Hatam Sofer).
Queda de Betar (133 EC)
Betar, a última fortaleza na heróica rebelião de Bar Kohva, caiu para os romanos a 9 de Av de 3893 (133 EC), após um cerco de 3 anos.
Aproximadamente 580.000 judeus morreram de fome ou pela espada, incluindo Bar Kochba, líder da rebelião.
Expulsão dos judeus da Inglaterra (1290)
Os judeus da Inglaterra foram expulsos pelo Rei Edward I nesta data em 1290.
Expulsão dos judeus da Espanha (1492)
Os judeus da Espanha foram expulsos pelo Rei Fernando e pela Rainha Isabel a 9 de Av de 1492, dando fim a muitos séculos de florescente vida judaica naquele país.
Que esses dias sejam transformardos em dias de alegria, o Beit HaMikdash, (o Templo Sagrado de Jerusalém) seja reconstruído e todos nós nos reunirmos na Terra Santa, com a chegada de Mashia’h, breve em nosso dias!
Santificação da Lua
Uma vez por mês, quando a lua aumenta no céu, falamos uma bênção especial chamada Kidush Levaná, “a santificação da lua”, louvando o Criador pela Sua obra maravilhosa a que chamamos astronomia.
Kidush Levaná é lida após o anoitecer, geralmente na noite do sábado. A bênção é concluída com canções e danças, porque nossa nação é comparada à lua, que aumenta e diminui, como temos feito no decorrer da história.
Quando abençoamos a lua, renovamos nossa confiança de que muito em breve, a luz da presença de D’us preencherá toda a terra e nosso povo será redimido do exílio.
Embora Kidush Levaná possa ser lido até três dias antes do renascimento da lua, a Cabalá nos diz que é melhor esperar uma semana inteira, até o sétimo dia do mês.
Quando se passaram 15 dias, a lua começa a diminuir novamente e já não podemos mais falar o Kidush levaná
O mês de Av
Quando começa o mês de Av, limitamos ainda mais nosso júbilo, a ponto de evitar qualquer coisa que possa nos alegrar. Assim, não plantamos árvores destinadas a dar sombra, ou somente pela sua beleza. Da mesma forma, não empreendemos qualquer construção ou projetos para reforma da casa apenas pelo luxo, como redecorar ou pintar a residência. Entretanto, se a pessoa não tem onde morar, pode construir uma casa neste período.
É proibido comprar, costurar, tecer ou tricotar novas roupas – mesmo se a pessoa pretende usar esta roupa somente após Nove de Av. Não se pode nem mesmo comprar uma roupa usada, se a compra for feita por causa de sua beleza. A proibição de adquirir uma roupa nova é mais rigorosa que vestir algo novo que foi comprado previamente.
Deve-se assinalar, entretanto, que estas restrições referem-se apenas a situações onde nenhuma mitsvá esteja envolvida. Com a finalidade de cumprir um mandamento – como por exemplo, adquirir roupa nova para uma noiva ou noivo, ou construir uma casa para eles – estas coisas são permitidas. Se houver motivo para temer que o preço da roupa subirá após Nove de Av, pode-se comprar quaisquer roupas que desejar, mas não se deve usá-las até depois de Nove de Av.
A partir de Rosh hôdesh Av não se pode lavar roupas, mesmo se forem ser usadas até depois de Nove de Av. Se restar apenas uma muda de roupas, porém, estas podem ser lavadas após Rosh hôdesh, até a semana que inclui Nove de Av.
Uma pessoa que transpire profusamente e precise mudar a camisa diariamente deveria preparar uma certa quantidade de camisas, e vestir cada uma delas por alguns instantes antes de Rosh hôdesh. Poderá então usá-las durante a semana em que cair Nove de Av.
Além da proibição de terem o cabelo cortado, os adultos também estão proibidos de cortar o cabelo das crianças, começando a 17 de Tamuz, e de lavar as roupas dos filhos a partir de Rosh hôdesh Av. As roupas de bebês, entretanto, podem ser lavadas – mesmo durante a semana em que cai o Nove de Av. Se possível, não se deve lavar grandes quantidades, e não se deve fazê-lo publicamente.
É proibido calçar sapatos novos a partir de Rosh hôdesh. Entretanto, calçados adquiridos especialmente para o Nove de Av – como por exemplo, feitos de lona ou borracha – podem ser usados mesmo se forem novos.
Pode-se realizar um noivado durante este período, mas não é permitido realizar uma celebração com refeição festiva.
A partir de Rosh hôdesh até depois de Nove de Av é proibido comer carne ou beber vinho, pois durante este período os sacrifícios e libações no Templo Sagrado cessaram. Pelo costume, esta proibição expandiu-se para incluir alimentos cozidos com carne. Entretanto, pode-se ingerir alimentos que foram preparados numa panela de carne. O costume sefaradi é manter este rigor apenas na semana que inclui Nove de Av. Em uma refeição festiva servida por ocasião de uma circuncisão, pidyon haben, bar mitsvá, ou na conclusão do estudo de um tratado talmúdico, etc. – pode-se comer carne e beber vinho.
Começando em Rosh hôdesh, é costumeiro para os abatedores rituais deixar as facas de lado. Durante este período, são abatidos animais somente para pessoas doentes, ou para uso em uma refeição festiva.
Costuma-se não usar vinho, mas cerveja, para o serviço de Havdalá.
Começando em Rosh hôdesh Av [segundo o costume sefaradi, começando com a semana que inclui Nove de Av], não se pode banhar o corpo inteiro – nem mesmo em água fria. Não nos banhamos em piscina, rio, ou mar. Entretanto, se Rosh hôdesh cair numa sexta-feira, pode-se banhar em água morna em honra ao Shabat.
A proibição acima refere-se especificamente a banhar-se por prazer. Quem precisar banhar-se por razões de saúde – como uma pessoa que recebeu ordens do médico para banhar-se – ou um operário cujo trabalho o faça ficar sujo, pode fazê-lo durante este período.
Na sexta-feira antes de Shabat hazon – o Shabat imediatamente anterior a Nove de Av – é proibido lavar o corpo inteiro, mesmo em água fria. Pode-se lavar o rosto, as mãos e os pés em água fria. Quem costuma se lavar antes do Shabat com água quente pode usá-la também nesta sexta-feira, mas apenas para lavar o rosto, as mãos e os pés.
Quem costuma imergir num micvê na sexta-feira, pode fazê-lo na sexta-feira do Shabat hazon também. Entretanto, alguém que apenas ocasionalmente imerge às sextas-feiras, não deve fazê-lo nesta sexta-feira.
Shabat hazon
O Shabat que precede Nove de Av é chamado Shabat Chazon, pois a Haftará lida neste Shabat é extraída do primeiro capítulo de Yeshayahu, que começa com as palavras Chazon Yeshayahu. Esta haftará é a última das três leituras dos Profetas que falam das calamidades que se abateram sobre Israel, e que são lidas antes de Nove de Av. Costuma-se chamar o líder da congregação para ler a haftará de Chazon.
O versículo – Como posso suportar sozinho o trabalho que me dais, a vossa carga e a vossa contenda (Devarim 1:12), encontrado na porção semanal da Torá lida neste Shabat, é costumeiramente cantado com a lamentosa melodia do cântico de Meguilat Eihá. Em algumas comunidades, esta melodia também é usada para entoar a haftará inteira; em outras comunidades, esta melodia é usada apenas para os versículos de admoestação dentro da haftará.
Pode-se comer carne e beber vinho em todas as três refeições no Shabat Chazon, mesmo se coincidir com o próprio Nove de Av [neste caso o jejum é adiado até o dia seguinte]. Entretanto, seudá shelishit – a terceira refeição do Shabat – não deveria ser estendida até a noite, como é habitual nos outros Shabatot. Ao contrário, a refeição deve ser encerrada antes do pôr-do-sol.
Quando Shabat Chazon cai no dia que antecede Nove de Av, a Havdalá inteira não é recitada na conclusão do Shabat, ou seja, não recitamos a bênção sobre o vinho ou sobre especiarias. Ao contrário, apenas a bênção sobre a criação do fogo [borê meorê haesh] é feita. No encerramento de Nove de Av, são recitadas as bênçãos sobre o vinho e a bênção que diferencia entre o sagrado e o secular [hamavdil ben côdesh lechol]. Mulheres que não rezam Ma’ariv devem recitar Baruch hamavdil ben côdesh lechol no sábado à noite, antes de fazer qualquer serviço.
AS LEIS DE 9 de AV:
Há cinco coisas proibidas em Nove de Av: comer e beber, lavar-se, untar-se com óleo, vestir sapatos de couro e coabitar.
Não há diferença entre a noite (da véspera) e o dia de Nove de Av. Pode-se comer sómente antes do pôr-do-sol na véspera de Nove de Av; o crepúsculo é considerado como noite, e alimentar-se é proibido.
Todos devem jejuar em Nove de Av, incluindo mulheres grávidas e mães em fase de amamentação. Quem estiver doente, porém, pode comer, mesmo se sua doença não lhe ameaça a vida. Entretanto, uma pessoa doente deve abster-se de comer iguarias e deveria ingerir somente o que for absolutamente necessário para seu bem-estar físico.
Se Nove de Av cai num domingo e uma pessoa doente precisa comer durante o jejum, deve recitar Havdalá antes de comer [pois Havdalá não é recitado na noite anterior por causa de Nove de Av].
A pessoa não pode enxagüar a boca em Nove de Av, até o fim do jejum.
Lavar-se por prazer é proibido, tanto em água quente quanto fria. Entretanto, se as mãos estão sujas, pode lavá-las. Pode também lavar as mãos após levantar-se pela manhã como faz todos os dias, bem como após usar o banheiro. Entretanto, não pode lavar a mão inteira, mas apenas os dedos. Com os dedos ainda úmidos, pode lavar os olhos com eles. Se os olhos estão sujos, pode enxagüá-los como faz normalmente.
Se a pessoa estiver cozinhando e preparando comida, pode lavar os alimentos, pois a intenção não é lavar as mãos.
A proibição de calçar sapatos aplica-se àqueles de couro. Sapatos feitos de lona ou borracha podem ser usados. Porém, se são cobertos de couro ou se têm solas de couro, não podem ser usados. Se alguém está caminhando em local repleto de espinhos ou numa área povoada de não-judeus [onde sua aparência poderia ser ridicularizada], pode calçar sapatos normais nestes locais.
É permitido banhar um bebê e aplicar óleo em sua pele, da maneira que normalmente é feito.
Todas as proibições acima mencionadas se aplicam a partir do pôr-do-sol na véspera de Nove de Av até o final do jejum.
Como se explicou acima, o estudo de Torá é proibido em Nove de Av porque o estudo de Torá traz alegria à pessoa. Entretanto, pode-se estudar o terceiro capítulo do tratado Mo’ed Catan, que fala das leis de luto e excomunhão. Pode-se também estudar o Midrash do Livro de Echá; Echá com seus comentários, e Iyov com seus comentários, pois estas obras despertam um sentimento de tristeza no leitor. Pode-se também estudar os capítulos de admoestação e calamidades registradas em Yirmiyahu; entretanto, deve-se ter o cuidado de pular aqueles versículos que falam de consolação. A pessoa pode também estudar os trechos do Talmud sobre a Destruição, registrada no Tratado Guitin.
Não se deve cumprimentar um amigo e perguntar como vai em Nove de Av, e não se deve nem dizer “bom dia.” Se alguém for cumprimentado, porém, pode responder para não ofender os sentimentos, mas em um tom de voz baixo. É proibido também enviar presentes em Nove de Av.
Em Nove de Av, é costume abster-se de fazer qualquer trabalho que deva ser feito em um período longo de tempo, pois empenhar-se nesse tipo de atividade distrai a pessoa de sentir tristeza. Deve evitar este tipo de serviço na noite da véspera de Nove de Av, e até o meio-dia de Nove de Av. Após meio-dia, este tipo de trabalho não é habitualmente proibido, mas mesmo assim é recomendável que a pessoa seja severa consigo mesma e evite este trabalho até que termine o jejum.
Da noite de Nove de Av até meio-dia, deve-se sentar no chão ou sobre um banquinho com altura não maior que três larguras de mão.
Deve-se evitar andar pelas ruas ou ir ao mercado, para não conversar à toa e assim distrair-se do sentimento de luto. Deve-se certamente evitar atividades que possam levar à leviandade.
Alguns seguem o costume de não dormir em uma cama em Nove de Av; em vez disso, dormem em colchões colocados no chão. Em qualquer dos casos, a pessoa deve variar seus hábitos de dormir; por exemplo, se costuma dormir com dois travesseiros, deve usar apenas um. Algumas pessoas colocam uma pedra sob o travesseiro ou colchão, como forma de relembrar a Destruição do Templo.
É costume iniciar somente após meio-dia o preparo dos alimentos que serão comidos quando terminar o jejum.
Não se deve cheirar perfumes ou especiarias em Nove de Av, nem fumar em público.
Não se deve vestir roupas bonitas em Nove de Av, mesmo que a roupa não seja nova.
Muitos têm o costume de lavar o chão e limpar a casa após meio-dia em Nove de Av, em antecipação da Redenção que aguardamos. Além disso, é uma tradição que o Mashiach nascerá em Nove de Av.
Costuma-se dizer que a pessoa que come ou bebe em Nove de Av sem ter de fazê-lo por razões de saúde não merecerá ver o júbilo de Jerusalém. E quem prantear sobre Jerusalém merecerá ver sua felicidade, como promete o versículo (Yeshayahu 66:10): “Rejubile-se grandemente com ela, todos que por ela pranteiam.
Quando Tsh B”AV cai no Shabat
Este shabat deve se ter muita alegria, mais do que o normal.
- Deve se andar com sapatos de couro neste Shabat, mesmo quem não costuma faze-lo sempre. Como também roupas de Shabat normais lavadas.
- É proibido ter relações maritais neste Shabat, salvo se for a noite do micve.
- Marido e mulher não devem dormir na mesma cama, nem shabat e nem motsaei shabat, e devem evitar beijos e abraços. Demais harchacot não precisa rigorar.
- Shabat a tarde, após chatsot (em S Paulo 12:12), não se estuda Torá além do permitido em tisha beav
- Não se recita o Pirkei Avot neste Shabat.
- Chitas e Rambam deve ser feito antes do meio dia, como também as leis do Beit Hamicdash. Quem não o fez antes do meio dia pode, em último caso, pode fazê-lo depois.
- Pode se fazer um farbrenguen neste Shabat até o fim do dia.
- A refeição final – seudat hamafseket – deve ser feita com chalá e carne. Pode se comer também peixe.
- Deve se terminar de comer até o por do sol (em S Paulo 17:48). Como também lavar a boca, as mãos ou qualquer parte do corpo somente até este horário.
- Pode (e deve) ficar com sapato de couro e sentar normalmente em cadeiras altas até a saída de Shabat.
- Após o horário da saída de Shabat (em S Paulo as 18:23) deve-se recitar a benção hamavdil bein kodesh lekodeh, e então retirar os sapatos de couro, e não mais sentar em cadeiras normais.
- Deve-se então acender a vela de havdalá em casa e recitar a bracha de Bore Meorei Haesh (na sinagoga se faz esta bracha após maariv). Quem não fizer a bracha nesta noite não poderá fazer no dia seguinte.
- Não se recita nesta noite a Brachá de Borei minei bessamim.
- Mulheres ou homens que não vão jejuar por motivo de saúde, devem recitar a havdala completa, dando o copo de vinho para uma criança beber. Se não tiver criança pode beber normalmente. Não se faz havdala somente para crianças, sendo que elas irão ouvir no dia seguinte dos adultos.
- Não se fala vaiten lecha nesta noite nem no dia seguinte.
- Não se recita Vihi Noam em maariv, somente veata kadosh.
Fonte: Pt.Chabad.com
Nosso primeiro Beit Hamikdash, nosso Primeiro Templo, foi destruído por causa de três tipos de atrocidades que eram comuns naquela época:
1- Avodá Zará que quer dizer idolatria.
2- Guilui Araiot quer dizer relações sexuais ilícitas, como por exemplo: adultério, incesto e relações sexuais com animais
3- Shif’hut damim que quer dizer derramamento de sangue, ou seja, abortos e assassinatos.
Na época do nosso segundo Beit Hamikdash, nosso Segundo Templo, as pessoas estudavam Torá, cumpriam as Mitzvót e faziam atos de bondade, então por que o Segundo Templo foi destruído?
Porque causa do ódio gratuito, uma coisa que era comum naquela época.
Isso vem para ensinar que odiar alguém sem um enorme motivo que justifique isso, é equivalente às três transgressões mais graves da Torá, transgressões que estão no nível de gravidade de “morrer mas não fazer”: idolatria, relações sexuais ilícitas e derramamento de sangue.
Na época do primeiro Beit Hamikdash também havia desunião e ódio, mas não era na mesma proporção do que ocorreu durante o período do Segundo Templo. Mas se houvesse união, o Primeiro Templo não teria sido destruído.
A Guemará nos conta que outro motivo para a destruição do segundo Beit Hamikdash foi porque eles não faziam uma bênção antes de estudar Torá.
Nesse caso não se trata da própria bênção, mas sim do que ela representa.
Se alguém aprende Torá como uma busca acadêmica, ou como “a sabedoria do povo judeu”, está faltando o componente chave fundamental; que a Torá é a sabedoria Divina dada ao povo judeu.
Se os judeus daquela geração tivessem se lembrado da Divindade da Torá, aprender a Torá teria despertado seu amor por D’us e os impedido de transgredir esses pecados fundamentais, que são pecados entre o homem e D’us.
Outro motivo para a destruição do segundo Beit Hamikdash foi por que eles governaram de acordo com a lei “ao pé da letra”, e isso também é visto como resultado de ódio infundado.
Porque os juízes devem sempre estar dispostos a encontrar um meio-termo e ir além da severidade da lei, e isso eles não estavam dispostos a fazer por causa do ódio gratuito que eles tinham por qualquer pessoa que viesse para um julgamento e sempre davam a pena máxima e não entravam em acordos.
Amor gratuito
Para corrigir algo, você precisa chegar à raiz do problema. Portanto, se a razão principal para a destruição do Beit Hamikdash foi o ódio gratuito, então, para consertar isso e receber o nosso Terceiro Beit Hamikdash, precisamos trabalhar para amar incondicionalmente.
A Guemará deixa claro que os judeus praticaram atos de bondade durante o período do Segundo Templo e mesmo assim não havia amor.
Amar não significa apenas “praticar atos de bondade” mas também despertar verdadeiros sentimentos de amor pelo próximo.
Isso é feito focalizando a alma divina que todos nós compartilhamos, ao invés de focalizar nas superficialidades que nos dividem.
Por meio do amor gratuito conseguiremos remover pela raiz a causa deste nosso último exílio e nesse mérito receberemos nosso terceiro e eterno Beit Hamikdash rapidamente em nossos dias!
Os dias estão chegando.
O Zohar nos traz um conceito chamado de Ketz hayamim, o extremo dos dias, se referindo ao extremo do mal, e Ketz hayamin, o extremo da direita, se referindo ao extremo das Sefirót que é a Mal’hut representando nesse caso o extremo do bem.
Explica o Rebe que antes da redenção final, durante o período chamado de “calcanhares do Mashiah” que é o período no qual estamos vivendo, o mal aumenta no mundo em forma de disputas entre judeus e também entre não judeus.
Isso entre outros sinais negativos que acontecem nessa época e que não aconteceram em épocas anteriores. Sinais para sabermos que estamos próximos à nossa Gueulá, à nossa redenção final.
Por outro lado o bem também aumenta, novas formas de estudar a Torá são reveladas e ações de caridade e bondade são feitas em uma escala sem precedentes.
Como podemos entender essa tão grande contradição no comportamento das pessoas da nossa época?
Em relação ao povo de Israel, e em particular agora que estamos no final do nosso exílio, depois de termos passado por todas as previsões em relação aos prazos finais dele incluindo a condição de fazer “Teshuvá” antes da Gueulá, da redenção final.
Como atestou o Rebe Yossef Yitzhak, o Rebe de Lubavitch anterior, que também esse requisito nosso povo já cumpriu. E com tudo isso esperamos todo dia pela nossa verdadeira e completa redenção final, e ela ainda não chegou!
A palavra “Ketz”, é traduzida como “extremo”, mas também pode ser traduzida como “final”. Assim também a ligação entre o conceito de “Ketz” e a nossa redenção é dupla.
“Ketz” se refere ao extremo final da escuridão do nosso exílio, “final dos dias” final do nosso exílio, e junto a isso, a palavra “Ketz” também está se referindo à uma nova era, a era da Gueulá. “Ketz hayamin, o extremo do bem.
E assim nos conta o Zohar que a palavra Ketz pode estar representando o extremo do bem, e ao contrário, pode também estar representando o extremo do mal.
Esses dois extremos, sendo um o extremo da direita que representa a Hessed, a bondade, e o outro que é o extremo da esquerda que representa a Guevura, a rigidez, são os dois caminhos que temos à nossa frente nesse mundo.
O extremo da direita que é o extremo do bem é citado no final do livro do profeta Daniel, e o extremo da esquerda é citado no livro de Yov (Jó), quando diz que Hashem D’us colocou um final para a escuridão.
Também em relação a Yossef, quando a Torá usa a palavra “Ketz” se referindo ao final dos dois últimos anos que Yossef estava na cadeia encontramos esses dois significados.
Por um lado o versículo está se referindo ao final da “estadia” de Yossef na prisão, e por outro se referindo ao começo da “redenção” de Yossef que se torna o vice rei do Egito.
Esses dois conceitos, mesmo aparecendo juntos, representam duas coisas totalmente opostas, como nos conta o Tzema’h Tzedek que foi o terceiro Rebe de Lubavitch no seu livro chamado de “explicações sobre o Zohar”:
Diz o Tzema’h Tzedek que “Ketz hayamim representa a parte final da “Klipá”, o extremo do lado ruim, indicando o fortalecimento do lado ruim antes de ele desaparecer totalmente. Ou seja, o “extremo de baixo” do lado “esquerdo”, o mal em sua maior intensidade. Enquanto que “Ketz hayamin” representa o supremo bem da Gueulá, da nossa redenção final.
Se trata de dois opostos que chegam ao mesmo tempo. Com o começo do brilho da luz da Gueulá, “Ketz hayamin”, começa também o fortalecimento do mal ao encontro do seu final definitivo. “Ketz hayamim”, a extrema intensidade do mal.
A ligação entre esses dois opostos se encontra em muitas citações dos nossos Sábios, como por exemplo no final do tratado de Sotá que nos conta sobre a depravação que acontece no mundo na época que antecede a Gueulá, e isso vemos hoje com os nossos próprios olhos.
Essas citações aparecem também em algumas partes do tratado de Sanedrin, como por exemplo: “o filho de David não chegará a não ser em uma geração que seja totalmente boa ou totalmente ruim”, nos indicando que a geração da Gueulá vai ser caracterizada por esses dois extremos. Diz o Rebe que eles acontecem simultaneamente.
E qual é realmente a ligação entre esses dois “extremos”?
A separação entre o bem e o mal
O principal problema causado pelo primeiro homem quando ele fez a primeira transgressão foi a mistura entre o bem e o mal. Ele causou a indefinição entre os limites da “luz” e da “escuridão”.
Mesmo no início da criação havia uma realidade de ‘mal’ no mundo como consequência da quebra dos receptáculos do mundo de Tohu, mas esse mal estava separado e isolado, sem nenhum contato e ligação com o lado bom, com o lado puro.
Em tal situação, o mal estava claramente definido e as criaturas não cometeriam um erro seguindo algo que é claramente visto como mal, visto como uma coisa negativa.
O que levou ao fortalecimento do mal e da impureza foi o pecado da árvore do conhecimento que misturou os conceitos e criou uma situação em que não há bem sem mal e não há mal sem bem.
Em tal situação, quando não há uma definição clara de quem é bom e de quem é ruim, o mal engana, prevalece e domina. Além disso, o mal entrelaçado na realidade do bem o impede de atingir sua perfeição.
O papel da redenção é acabar com essa mistura e confusão, e criar limites claros e definidos para a realidade do mal como última etapa antes de ele desaparecer totalmente.
Quando a verdade for revelada com a chegada da redenção, o mal será visto em seu verdadeiro estado. A mentira por si só “não tem pernas”, a única coisa que permite a existência da mentira e do engano, é um pouquinho de verdade que existe nela. Quando essa centelha do bem que existe no mal é removida, o mal perde toda a sua capacidade de existência, e então retorna às suas dimensões originais e verdadeiras.
E assim escreveu Rabi Shneior Zalman que foi nosso primeiro Rebe, “O trabalho do Mashiah vai ser o de separar entre o bem e o mal. Portanto, a preparação do mundo para a redenção é a de se separar totalmente do mal causando com que o bem e o mal se tornem claramente separados e isolados um do outro.
Dessa forma há até uma vantagem na situação trágica que previram nossos Sábios em relação aos acontecimentos que antecedem a nossa redenção final, situação em que o mal predomina completamente.
Por que dessa forma ele se torna totalmente visível, claro e definido, e está mais exposto ao seu final do que em uma situação na qual o mal está menos forte por estar misturado com o bem.
Por isso dizem nossos Sábios no tratado de Sanedrin que na geração que antecede a Gueulá os governos se tornarão totalmente corruptos, indicando que o mal que se encontra no mundo se tornará cada vez mais “reconhecível” e a verdade de que qualquer governo que não se comporta de acordo com o “governo Divino” é uma “corrupção absoluta” estará claramente visível.
A verdadeira crença na unidade de D’us é encontrada apenas entre os judeus. Esta é a preparação para a redenção, quando todos conhecerão a pura verdade e seguirão a verdadeira fé que o nosso povo representa.
Essa também é a explicação para o que disseram nossos Sábios que Mashiah chegará em uma geração totalmente boa ou totalmente ruim. A redenção, conforme mencionado, virá quando o trabalho de diferenciar o bem do mal for concluído. Nosso trabalho é separar o mal que se misturou com o bem e estabelecer limites claros entre o que é bom e o que é ruim.
Enquanto o bem e o mal estiverem misturados, a redenção completa não pode vir. Mas virá quando uma das duas possibilidades ocorrer: ou nos refinamos causando com que o nosso lado ruim gradativamente nos deixe, ou, D’us nos livre, o lado ruim nos domina por não encontrar em nós uma resistência compatível com a sua intensidade.
O Rebe nos contou que nos nossos tempos, coisas assustadoras estão acontecendo no mundo, tanto para o bem quanto para o mal.
A começar pela questão da disputas – hoje em dia vemos disputas até entre tais judeus que nunca foi possível supor que haveria uma disputa entre eles. Isso causou para eles uma real mudança de perfil, e eles até tentaram disfarçar isso dizendo que tinham entrado nessas discussões por motivos religiosos e etc…
E por outro lado, em relação as coisas boas, em nossos tempos vemos atos de bondade e amor ao próximo tão grandes que não imaginávamos antes que isso poderia um dia se tornar uma realidade.
Doações para a caridade em tão grande proporção, dedicação tão grande em benefício de outros judeus.
Temos histórias de gerações passadas, e em todas as gerações houve caridade e benevolência entre os judeus, mas nunca tínhamos alcançado níveis tão altos em relação à Tzedaká, em relação a caridade.
E também em relação ao estudo e ensino da Torá, justamente nas gerações mais recentes conseguimos revelar por meio do intenso estudo da Torá assuntos profundos que ninguém imaginou que poderiam ser decifrados e não vemos esses assuntos nos livros das gerações anteriores. Também a forma de ensinar e aprender em nossos tempos é especial, uma nova forma de estudar.
Mas a mudança é tanto para o bem, quanto vice-versa. Entre os sinais que mencionamos sobre o período da redenção, a questão de “países que se provocam” também aconteceu no passado, mas hoje em dia a situação nesta categoria é de uma forma que não se imaginava, com uma crueldade desproporcional, como vemos acontecer na prática em muitos países nesses dias mesmo e que não existia nas gerações anteriores, e ninguém está se importando muito com isso.
Sendo que a nossa Torá é uma Torá “luz”, tudo tem uma resposta na Torá e de forma clara e esclarecedora. E se assim for, a explicação para esta situação alarmante também deve estar na Torá. E em relação a nós, não há necessidade de pesquisar muito, porque a Guemará fala abertamente sobre esse assunto
De acordo com todos os sinais que foram ditos no final do Tratado Sota, nosso tempo está próximo do ‘final dos dias’, tão próximo que não existe mais próximo do que isso, porque nunca houve uma existência real de todos os sinais como nestes dias.
E em relação ao ‘final dos dias’, tempo em que se aplicarão muitas mudanças no mundo até a grande mudança concernente ao mundo inteiro que será a redenção final, está explícito no final do livro do profeta Daniel: “Muitos se definirão, se purificarão e se retificarão, e os maus farão maldades”. Termina o profeta Daniel com as palavras: “e os sábios entenderão do que se trata
Ou seja, há coisas que até o final dos tempos existem na realidade, mas não estão claras. Ou que se tornaram claras, mas ainda estão misturadas com outras coisas e ainda não se separaram delas e por isso ainda não são totalmente reconhecíveis. Ou que já são reconhecíveis mas não de maneira claramente explícita.
Mas, quando chegarem muito perto do final dos dias, e este é um dos principais sinais de que já estamos na etapa em que isso vai começar a acontecer, vai se cumprir a profecia do profeta Daniel de que “Muitos se definirão, se purificarão e se retificarão, e os maus farão maldades”.
Ou seja, não se trata de algo que vai acontecer para um grupo pequeno de pessoas, mas como diz o profeta Daniel, Muitos se definirão, se purificarão e se retificarão, se trata do mundo inteiro. E conclui que “os sábios entenderão”. Ou seja, para entender porque isso está acontecendo é preciso ser um sábio, mas para ver que isso está acontecendo, qualquer um pode ver.
O Rebe nos explicou por que existe a necessidade de o bem e o mal se revelarem separadamente em sua maior potência antes da Gueulá, como o mundo inteiro está vendo isso acontecer diariamente.
O motivo para isso, diz o Rebe, é que cada um de nós tem forças ocultas que não poderiam ser refinadas porque não sabíamos da existência delas. Nessa situação todas as nossas forças ocultas se revelam, se tornam forças reveladas, e se existe nelas um lado ruim que precisa ser refinado.
Ou seja, excluído de nós que somos parte de D’us que é a essência do bem, imediatamente reconhecemos sua existência e o consertamos, ou o excluímos, ou direcionamos ele para o bem.
Não teríamos como retificar nossas forças ocultas se elas não se revelassem e portanto não saberíamos que elas existem. Porque afinal das contas somos obrigados a refinar o mal das nossas forças ocultas, e se elas continuassem ocultas estaríamos ocupados com outras coisas, mesmo sendo elas coisas boas, e não consertaríamos o que precisamos consertar.
E assim conseguimos entender que quando o profeta Daniel fala sobre essa época de refinamento ele está nos indicando o lado bom que ela nos traz, porque somente assim conseguimos descobrir o lado ruim das nossas forças ocultas e fazer nelas o reparo necessário.
O fato de a revelação das nossas forças ocultas acontecer somente agora nessa época está ligado aos dois “extremos”, Ketz hayamim e Ketz hayamin.
Porque à medida que nos aproximamos do “final dos tempos”, do final do nosso exílio, a escuridão no mundo se fortalece e aumenta cada vez mais. As forças negativas que até agora estavam ocultas se revelam, e por isso há necessidade de revelarmos forças superiores, por meio das quais você pode superar a escuridão e resistir.
E mais uma razão para isso: já que nos aproximamos do “Ketz Hayamin”, da nossa redenção final, começa a se materializar o fenômeno do fortalecimento do bem, que também se torna “claro” e se revela em toda a sua intensidade.
Uma das manifestações disso é a descoberta dos segredos da Torá, a Torá oculta, a categoria da Torá que é comparada ao azeite que se transforma em luz.
Por isso já começamos agora por meio do estudo da Hassidut a provar um pouquinho dos segredos da Torá oculta que o Mashiah vai nos revelar. A palavra Mashiah quer dizer ungido, como diz o Tehilim (89/21)
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Saindo dos apertos
Elul é o mês em que fazemos o checkup da saúde da nossa Alma!
Elul é o último mês do ano judaico e preparação para Rosh Hashaná, o Dia do Julgamento, que vem logo em seguida.
Elul é o mês do balanço da alma.
Um empresário ocasionalmente precisa calcular seu lucro e suas perdas, bem como fazer um balanço detalhado. Nós também precisamos conduzir uma auditoria anual do estado de nossa “empresa” espiritual.
Fora o nosso trabalho material que se transforma em trabalho Divino porque ele é o patrocínio do nosso trabalho Divino, o ano inteiro estamos envolvidos em obter mais um pouquinho de lucro espiritual estudando Torá, cumprindo as Mitzvót, rezando e fazendo boas ações.
No mês de Elul, fazemos um balanço geral de tudo que fizemos de bom no decorrer do ano.
Elul é a melhor época possível para esta contabilidade da Alma porque os Treze Atributos Divinos de Misericórdia se revelam neste mês.
Essa revelação é comparada à um rei que sai do seu palácio e vai para o campo se encontrar pessoalmente com as pessoas mais simples.
Por causa disso conseguimos encarar essa introspecção espiritual sem entrar no desespero. Pois, afinal, o Rei está com a gente no campo e só quer o nosso bem.
Um pré-requisito para esse balanço da Alma é a conscientização de que D’us é o dono do mundo e temos que nos comportar de acordo com as regras dele. D’us é o Rei e nós estamos aqui à serviço do Rei!
Fazendo um esforço sincero despertamos a força interior para fazermos nosso serviço real na prática e com muita alegria e entusiasmo!
Quanta Tzedaká, quanta caridade, fizemos esse ano? A Tzedaká traz uma proteção não apenas sobre o doador, mas sobre o povo judeu como um todo…
No mês de Elul costumamos todo dia escutar o Toque do Shofar. Somente na véspera de Rosh Hashaná não costumamos escutar o toque do Shofar para fazer um intervalo e mostrar a separação entre o costume Judaico e a Mitzvá da Torá
Começando com o primeiro dia de Elul, até (mas não incluindo) a manhã antes de Rosh Hashaná, é costume tocar o Shofar, (que geralmente é feito de um chifre de carneiro) após a prece matinal nos dias de semana.
O “chamado do shofar” desperta o nosso coração, como se estivéssemos ouvindo “já está na hora de acordar, de fazer um check up nas nossas ações e nos arrepender do que fizemos de errado”
Vamos falar mais Tehilim
A partir do primeiro dia de Rosh Chodesh Elul até, e incluindo Hoshana Raba, lemos duas vezes ao dia o Salmo 27. Este costume é baseado no comentário do midrash “O Eterno é minha luz…” em Rosh Hashaná” … minha salvação…” em Yom Kipur,” … Ele me ocultará em Sua tenda” em Sucot.
Tanto na tradição dos chassidim quanto na dos sefaradim esse Tehilim está incluído nas Rezas da manhã e da tarde ;
Seli’hot
A tradição dos Sefaradim é começar a falar Seli’hot imediatamente depois de Rosh Chodesh Elul.
O costume dos Hassidim e dos Ashkenazim em geral é de falar as seli’hot começando na noite de sábado da semana na qual cai Rosh Hashaná, desde que sejam deixados quatro dias antes de Rosh Hashaná.
Portanto, se Rosh Hashaná cair na segunda ou na terça-feira da semana, as selichot são iniciadas na noite de sábado da semana precedente
Tzedaká
Durante o mês de Elul, a caridade funciona como um escudo contra os maus decretos e prolonga a vida. Lança um manto de proteção não somente sobre o doador, mas sobre o povo judeu como um todo.
Quando uma pessoa domina seu instinto natural e dá mais Tzedaká do que precisaria dar, D’us também dá para ele mais do que ele mereceria receber.
Teshuvá, a volta para o rumo certo
Em primeiro lugar vamos todos juntos parar de fazer coisas erradas, tanto na prática quanto no pensamento.
Vamos consertar e organizar nosso comportamento atual. Tomar a decisão de fazer cada vez mais coisas boas no futuro, parar de fazer coisas ruins, e por final nos arrepender do que fizemos de errado no passado (pegando leve para não desenvolver uma depressão que seria considerado mais um pecado).
O mês de Elul é propício para o auto-balanço, e para o arrependimento nas três “vestes” da alma – pensamento, fala e ação.
O autoconhecimento é muito importante para o trabalho Divino. Assim como ignorar nossas falhas pode ser incapacitante, pior do que isso é quando esquecemos de nossas forças.
A pessoa deve conhecer-se bem, não só em relação à suas deficiências e fraquezas, mas principalmente em relação às próprias habilidades e talentos
Então, vamos fazer Teshuvá com muita alegria!
תם ולא נשלם