19 de Kislev
O hassidismo, cuja meta é o Trabalho Divino por meio da alegria,despertou enorme interesse pelo mundo afora, e conseguiu atrair seguidores em massa nas comunidades judaicas da Europa orientalMas conforme o movimento hassídico crescia e se difundia, surgiu um contra-movimento, que se opunha à própria existência do hassidismo, a seus ensinamentos e práticas.Esses opositores se auto denominaram “mitnaguedim” que em hebraico quer dizer “opositores”
Entre os eruditos da Torá na Lituânia, havia forte oposição à ideologia do Alter Rebe. Eles fizeram uma batalha feroz contra os hassidim.Esta batalha no começo consistiu em insultos, calúnias e banimentos, permaneceu, por um tempo, uma disputa interna entre as fileiras das partes concernentes, sem envolver as autoridades da época.Em dezenove de Kislev de 5533 o grande Maguid de Mezritch faleceu. Desde então, a batalha dos mitnagdim, os oponentes ao hassidismo tornou-se ainda mais intensa, com retaliações cada vez mais ásperas, banimentos e verdadeiras perseguições.

Esta situação causou uma grande preocupação entre os rabinos hassidicos e Rabi Mendel de Vitebsk, antigo discípulo do Maguid, e seu colega mais jovem, Rabi Shneur Zalman, nosso “Alter Rebe”, empreenderam uma viagem a Vilna.

Juntos, partiram para encontrar-se com o Gaon de Vilna, o líder dos mitnagdim que eram os opositores do hassidismo, com a intenção de explicar-lhe as doutrinas e ensinamentos do hassidismo. Mas o Gaon de Vilna foi inflexível em sua recusa a recebê-los.

Nem mesmo os apelos dos líderes comunitários de Vilna, que intervieram junto ao Gaon para que recebesse os dois emissários e colocasse, desta forma, um fim à disputa, conseguiram influenciá-lo, e o conflito continuou com total intensidade.

Rabi Mendel de Vitebsk e vários de seus colegas, especialmente os da Lituânia, como Rabi Yisrael de Polotsk, e Rabi Avraham de Kalisk, não conseguiam mais suportar as perseguições, e mudaram-se para a Terra Santa. Juntaram-se a eles algumas poucas centenas de famílias de hassidim.

O Alter Rebe também reuniu sua família, e junto com seus três irmãos e familiares, juntaram-se ao grupo, a fim de subirem à Terra Santa, mas ao chegarem a Mohilev-Podolsk, o Alter Rebe resolveu voltar para a Lituânia, e recebeu sobre si a tarefa de difundir os ensinamentos do Báal Shem Tov e do Maguid.

Ao voltar de Mohilev-Podolsk, o Rebe foi bem recebido em todas as comunidades, com grande entusiasmo e alegria.

Sua erudição em todas as categorias da sabedoria judaica foi elogiada até mesmo pelos rabinos que eram contra o hassidismo.

Chegando a Liozna, deu início à linha Chabad de chassidismo. Ao mesmo tempo, fundou uma yeshivá, onde juntou muitos jovens repassando à eles os ensinamentos do hassidismo à luz de seus comentários e explanações originais.

Os mitnaguedim renovaram sua batalha. Porém, devido ao desenvolvimento diário da comunidade hassídica, e a expansão mais intensa dos ensinamentos e práticas hassídicas em todas as comunidades, grandes e pequenas da Lituânia judaica, a oposição perdeu muito de sua força.

Passou-se um período de vinte anos, durante os quais o hassidismo de Chabad fez excelentes progressos, ao mesmo tempo em que os banimentos e perseguições diminuíram. Este status quo continuou até o falecimento do Gaon de Vilna, a mais forte personalidade do movimento contrário ao hassidismo.

Em 5558 (1798-9) o fogo da discórdia irrompeu novamente com ímpeto maior que o anterior, desta vez levando abertamente a calúnias e difamações.

O Alter Rebe se tornou o alvo principal de todas as acusações. Isto devido à posição do Rebe como indivíduo excepcional do mundo hassídico de sua época e que, graças às suas extraordinárias habilidades de organização, obteve êxito em levantar a importância e representatividade de seu movimento a níveis muito elevados.

Também havia uma causa mais específica para que o Rebe se destacasse, a publicação e divulgação do seu livro, o Tanya.

Rabi Shneur Zalman escreveu muitas obras, das quais as mais famosas são:
Shul’han Aru’h, uma revisão atualizada do Código da lei judaica
Torá Or, ensinamentos sobre os livros de Bereshit, Shemot e Ester.

Likutei Torá, ensinamentos sobre os livros de Vayikrá, Bamidbar, Devarim e Shir Hashirim.
Biurei HaZôhar, ensinamentos sobre o Zôhar.

Mas o mais importante dos seus livros foi o livro popularmente chamado pelo nome de Tanya. O nome original desse livro é Likutei Amarim, também conhecido como Sêfer Shel Beinonim , o “Livro dos Intermediários”, contém os fundamentos dos ensinamentos do hassidismo.

Obra Prima por seu sistema metodológico e composição únicos, seu estilo lúcido, claro, e atraente; e a concisão que indica quão cuidadosamente cada palavra e letra foram criteriosamente ponderadas e escolhidas.

O livro, em sua presente edição, está dividido em cinco partes:
“Likutei Amarim” contendo 53 capítulos que de acordo com a tradição hassídica são 53 por causa das 53 parshiyot da Torá.

“Portal da Unicidade e da Fé,” contendo prefácio e doze capítulos.
“Igueret Hateshuvá” contendo doze capítulos.
“Igueret Hakodesh” com trinta e duas seções.
“Kuntras Aharon”.

Em 5558 o Gaon de Vilna faleceu e indivíduos de mente perversa tiraram proveito desta triste ocasião, utilizando o falecimento do Gaon como pretexto para renovar a batalha contra os hassidim. Formaram um comitê especial para liderar a contenda.

Os membros deste comitê perceberam por experiências passadas que os métodos de calúnia e difamação seriam ineficazes, enquanto os hassidim já eram conhecidos como judeus honestos e pios, de disposição sincera e caridosa.

Por conseguinte, decidiu-se utilizar uma tática mais promissora de calúnias junto às autoridades, não apenas com o conselho local em várias cidades da Lituânia, mas também, e principalmente, com o governo central em Petersburgo, a capital da Rússia Czarista. Conseguiram isto distorcendo os ensinamentos e atividades hassídicas.

O Alter Rebe fundou o Colel Chabad, uma instituição que arrecadava fundos para distribuir aos necessitados na Terra Santa. Como a Terra Santa estava então sob controle da Turquia, que naquela época mantinha relações hostis com a Rússia, os mitnagdim acusaram o Rebe de traição à pátria, por enviar fundos a um país inimigo.

Simultaneamente, acrescentaram que em seus discursos públicos o Rebe declarava que o conceito de Mal’hut – “soberania”, não representava nada por si só; o atributo de Mal’hut (reinado) é o último e menos importante das Sefirot; em resumo, o conceito mais inferior.

Este era o cerne das acusações, apesar de também haver algumas acusações e denúncias menos graves.
Ao mesmo tempo, aconselharam o governo a lidar com o assunto de maneira pessoal e direta, desconsiderando qualquer possível intervenção das autoridades locais; e deter e transferir o Rebe para Petersburgo.

Os denunciantes presumiram que através desses métodos conseguiriam finalmente se livrar do líder hassídico, e com ele, pouco a pouco também de todo o movimento chassídico.
Em Rosh Hashaná do ano 5559, os chassidim, observando o Rebe durante as rezas, pressentiram uma profunda tristeza no ar.

Perceberam o mesmo em Sim’hat Torá seguinte, particularmente durante as Hakafot, na hora da leitura da Torá – (em geral, o próprio Rebe era o lia a Torá), e também no conteúdo dos ensinamentos que o Rebe repassou naquele dia, falando sobre o versículo “Assim foi demonstrado, a fim de que se saiba que o Eterno é D’us!” e interpretou-o dessa forma: “Você, que é a Verdadeira Essência, o Infinito (En Sof) – mostrou como a pessoa deve se quebrar, a fim de que todos vejam que o Eterno é D’us, e que não há outro senão Ele.”
As falsas acusações renderam frutos. Durante Chol Hamoed (dias intermediários) de Sucot (do mesmo ano), um oficial acompanhado de um grupo de soldados armados chegou a Liozna, com ordens de prender o Alter Rebe e levá-lo a Petersburgo.

O Rebe quis ponderar a situação sem interferência, e deixou a casa pela porta dos fundos a fim de meditar no campo.

O oficial, em contrapartida, considerando as circunstâncias, não quis perturbar a alegria da festa. Por isso, saiu da cidade, deixando, contudo, alguns agentes no local.

Nesse ínterim, o Rebe decidira sobre uma linha de ação, caso os soldados voltassem para prendê-lo.
O Rebe anterior de Chabad, Rabi Yossef Yitzhak, disse certa vez que o Rebe discutiu o assunto primeiro com seu hassid Rabi Shemuel Munkes, e só então decidiu se entregar, quando necessário.

As Festas de Shemini Atzeret e Sim’hat Torá terminaram. Os chassidim estavam, compreensivelmente amargurados e agitados.

Em Isru Chag, o dia imediatamente seguinte às Festas (que naquele ano caiu numa quinta-feira), as notícias do ocorrido já haviam se espalhado, e eram conhecidas nas comunidades próximas de Vitebsk, Rudnia, Kalisk, Liadi, Yanovitch, Dubrovna e outras.

O Rebe, uma pessoa estritamente ordeira e organizador excepcional, levantou-se cedo naquele dia de Isru hag, para escrever uma carta para todos seus hassidim, pedindo para serem fortes em sua fé e confiança em D’us e no mérito de seus santos mestres, enquanto tomava sobre si todo o sofrimento que estivesse por sobrevir.

Continuou, dizendo que finalmente compreendera as alusões que lhe foram dadas por seu mestre, o Maguid de Mezritch, de que iria sofrer e passar por tempos difíceis.

Pediu ainda mais rígida e severamente a seus hassidim para que permanecessem calmos, e se comportassem de maneira tolerante com os mitnagdim, a despeito do desenrolar dos fatos.

O Rebe ordenou aos hassidim mais velhos que zelassem cuidadosamente pelos mais jovens; e aos jovens, para que obedecessem os mais velhos.

A carta foi imediatamente copiada, e mensageiros especiais enviados para entregá-la a todos os hassidim de Chabad nas cidades próximas e longínquas.

Tarde, naquela noite, ouviu-se que os soldados haviam voltado a Liozna para prender o Rebe. O oficial comandante ordenou que o Rebe fosse levado pelo “Black Mary,” uma carruagem negra que era sempre usada para os acusados de traição.

Sob rígida guarda de soldados fortemente armados, a carruagem partiu para Petersburgo, a caminho de Vitebsk e Nevel.

A atitude calma do Rebe era extraordinária. De fato, pode-se aprender com isso a verdadeira resolução sobre-humana e abnegada deste responsável líder e guia, com o intento de pavimentar o caminho para os sagrados princípios do hassidismo, tornando-o uma senda acessível a todos.

Na manhã seguinte, uma sexta-feira, seis horas antes do acender das velas de Shabat, o Rebe pediu ao oficial encarregado para parar a carruagem até o final do Shabat.

Quando o oficial recusou-se a interromper a jornada, os eixos da carruagem quebraram. Foram trazidas pessoas da aldeia próxima para ajudar a consertar os eixos.

Mas então, assim que a carruagem estava consertada, um dos cavalos sucumbiu de repente. Trouxeram outro cavalo, mas, estranhamente, os animais agora não conseguiam mover a carruagem.

Isto foi o suficiente para o oficial compreender que estava enfrentando um assunto espiritual.
Aproximou-se do Rebe e propôs que viajassem pelo menos até a aldeia mais próxima, porém o Rebe recusou-se a seguir viagem, porém concordou em dirigir-se ao campo adjacente à estrada. Lá, passou o Shabat.

Tudo isso aconteceu a cerca de duas milhas do assentamento de Seliba-Rudnia, perto da cidade de Nevel, na província de Vitebsk. Os hassidim de Nevel sabiam qual era o local exato onde o Rebe passou o Shabat.
O velho hassid Rabi Michael de Nevel costumava contar que conhecia pessoalmente hassidim que poderiam indicar o local, e foi vê-lo com os próprios olhos.

Descreveu como, ao longo do caminho inteiro dos dois lados da estrada, jaziam árvores velhas e mortas. Contudo, no local onde estacionaram a carruagem e o Rebe guardara o Shabat, havia uma maravilhosa árvore alta, ereta e adornada com galhos em profusão.

Sempre que Rabi Mihael descrevia esta cena em detalhes, envolvia-se completamente pelo seu relato, e o fazia com espírito emocionado, revelando sua própria grandeza e inspiração.

A inspiração da visão do local, e mais tarde da lembrança da árvore, era obviamente mais intensa que a inspiração que muitos possuem, mesmo em assuntos de Avodá

 

O Tanya é conhecido como o Shulchan Aru’h da hassidut Chabad. Correspondendo ao Shul’han Aru’h, o Tanya também é dividido em quatro partes:
A primeira seção do Tanya, Likutei Amarim, “Coletânea de Ensinamentos”, corresponde à primeira parte do Shulchan Aru’h, Orach Chaim.
A segunda seção, Sha’ar ha’Yihud ve;ha-Emunah, “O Portal da Unidade e da fé” – corresponde à segunda seção do Shul’han Aru’h, Yoreh De’ah.
A terceira seção do Tanya, Iguêret ha’Teshuvá, “Carta de Arrependimento” – é comparada a Even ha-Ezer, e a quarta parte do Tania, Iguêret ha-Kôdesh, “Carta Sagrada”, é conhecida como a hoshen Mishpat dos ensinamentos hassídicos.
A orientação para o trabalho diário de um judeu ao Todo Poderoso, trabalho este cheio por amor e reverência a D’us, é o tema central de Likutei Amarim.
Nos cinqüenta e três capítulos que compreendem esta seção do Tanya, Rabi Shneur Zalman sistematiza os conselhos que tinha dado a seus inúmeros discípulos e seguidores no decorrer dos anos.
Aqui, revelada ante nossos olhos, está uma maravilhosa tapeçaria de idéias sobre o mundo e sua natureza, sobre o judeu e a composição de sua alma, e sobre o elevado status das mitsvot da Torá e seu relacionamento com o mundo físico.
O conteúdo da seção seguinte do Tanya é sugerido por seu nome, Sha’ar ha’Yihud veha-Emunah, “O Portal da Unidade e da fé”.
Em seus doze capítulos, aprendemos sobre a fé como é compreendida no pensamento hassídico. Aprendemos sobre o Criador e Seu mundo, e como o Eterno, Bendito seja, cria Suas criaturas, e como Ele continuamente as sustém.
Aprendemos como a existência de todos os seres criados é anulada em relação a Ele.
Nos doze capítulos de Iguêret ha’Teshuvá, bem como o aprendizado sobre os princípios fundamentais do arrependimento, que são expressos no abandono do caminho do pecado, aprendemos também sobre como um homem pode retificar os danos que suas ações negativas causaram.
Os trinta e dois capítulos de Iguêret ha’Kôdesh discutem assuntos relacionados ao serviço do homem a D’us por meio do estudo da Torá, prece, caridade e ética. Kuntres Acharon, o “Tratado Definitivo”, com o qual se encerra o Tanya, é uma análise penetrante dos conceitos cabalísticos que foram mencionados na primeira seção do Tanya, Likutei Amarim.
A Torá Escrita
Em geral, o Tanya é considerado como a “Lei Escrita” da filosofia chassídica. O motivo para isso não é somente porque cada expressão é absolutamente precisa em seu significado, mas também porque cada palavra, e até mesmo cada letra, foi cuidadosamente pesada e considerada antes de ser escrita.
Está registrado que Rabi Shneur Zalman certa vez disse a seu irmão, que o encontrou à escrivaninha, profundamente mergulhado em reflexão: “Esta é a terceira semana consecutiva que estou analisando esta palavra específica, debatendo se coloco ou não um ‘e’ antes dela!”
O Tanya foi escrito para todo judeu, e é considerado o pão de cada dia para um chassid. O Rebe Anterior, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn, que sua alma descanse no Gan Eden, lembrou que certa vez quando seu pai começou a estudar o Tanya com ele, explicou: “O Tanya é como o Chumash, os cinco livros da Torá. Todo judeu, do mais notável até o mais simples – todos eles aprendem Chumash, e cada um tenta entender aquilo que pode. Mas na verdade, ninguém entende por completo, e quanto maior a pessoa, mais sabe o quanto está longe do entendimento.”
Rabi Hillel de Paritsh, um dos mais notáveis discípulos do autor, declarou: “Ao ensinar o alfabeto a uma criança de três anos, se a pessoa ensinar a partir do Tanya, com certeza ele não será um ateu. E um devoto total…? Certamente!”Além de suas profundezas intelectuais, deve-se enfatizar os outros maravilhosos benefícios do Tanya, que se expressam tanto em assuntos espirituais quanto materiais.Quem reza pedindo para ter filhos será abençoado, se estabelecer horários regulares para o estudo do Tanya; ler este livro é benéfico para fortalecer os olhos; aprender o Tanya de cor purifica a atmosfera espiritual do mundo, retifica os pecados da juventude, fortalece a memória e impede que se tenha dúvidas nos assuntos da fé.

A Página Título

O Tanya se inicia com a página título da primeira seção do livro, Likutei Amarim, “Coletânea de Ensinamentos”. A página título da obra não é apenas um prelúdio ao seu conteúdo – ela, também, é considerada uma parte integral dos ensinamentos do Tanya. O ilustre neto do autor, o Tzemach Tsedec, explicou longamente a página título, palavra por palavra, a seu filho, Rabi Shmuel, mais conhecido como o Maharash. Por sua vez, quando Rabi Shmuel começou a estudar o Tanya com seu filho, que se tornaria o Rebe Rashab, ele explicou as intenções do autor na página título, a respeito do serviço do homem a D’us.

Quando Rabi Shneur Zalman escreveu a página título, ali encerrou o conteúdo e a essência de todo o livro. Aqui, aprendemos sobre o título da obra, sobre as fontes das quais o material foi coletado, e sobre um princípio fundamental – que a obra é relevante para cada judeu.

É geralmente aceito nas Escrituras que o nome de uma pessoa ou local é indicativo da natureza de sua existência, seu caráter ou sua composição. Se o objeto à nossa frente pode ser visto sob vários ângulos diferentes, adquire diversos nomes. Portanto, Rabi Shneur Zalman chama a primeira parte de sua obra por dois nomes: “Likutei Amarim (Coletânea de Ensinamentos), que é intitulado Sefer shel Benonim.”

Coletânea de Conselhos

A primeira parte do título, Likutei Amarim, expressa a natureza prática dessa obra. Da mesma maneira que autoridades publicam responsa – soluções para problemas que surgiram em assuntos relacionados à A Lei Judaica – assim também a primeira parte do Tanya é uma coleção de soluções para problemas no serviço de D’us – conselhos que Rabi Shneur Zalman ofereceu durante muitos anos a milhares de seus discípulos que abriam o coração para ele. Assim, o título escolhido pelo autor retrata com maestria sua intenção – “responder com palavras de verdade àqueles que buscam seu conselho” como declara o verso em Mishlê (22:21). (Veja no comentário de Rashi).

Claramente, esta obra não foi publicada para aumentar a fama do autor, pois ele deu-lhe o título despretensioso de “Coletânea de Ensinamentos”, alegando que ele tinha meramente juntado e coletado os ensinamentos de outros. Ao contrário, sua intenção era beneficiar os membros de sua própria geração, e as gerações vindouras.

A segunda parte do título, Sefer shel Benonim, expressa a meta desta obra – ajudar uma pessoa a tornar-se um benoni, a pessoa “intermediária”. Segundo o Tanya, uma pessoa é descrita segundo os poderes de sua alma interior, não segundo seu comportamento exterior e suas ações. O nível de um tsadic, alguém perfeitamente justo, é extremamente elevado, e não pode ser exigido de todos. De modo oposto, “o nível de benoni pode ser atingido por qualquer pessoa, e todos deveriam se esforçar para atingi-lo.” O Tanya possibilita a cada pessoa tornar-se um benoni, e a orienta rumo a este objetivo. Este é o âmago da expressão freqüentemente usada pelos chassidim: “Oh, ser pelo menos um benoni.”

Característico de sua grande humildade, Rabi Shneur Zalman declara que o livro à frente do leitor é “coletado de livros sagrados, e de mestres com inspiração celestial” – como se não houvesse nada de novo em seus ensinamentos, somente aquilo que foi reunido e extraído de outras fontes. O termo, “livros sagrados”, refere-se especificamente às obras do Rambam, aos escritos do Maharal de Praga, e ao Shelah – Shenei Luchot ha’Berit – de Rabi Isaiah Hurwitz. Os professores de “inspiração celestial” a que o autor se refere são principalmente o Báal Shem Tov, o Maguid de Mezeritch e Rabi Menachem Mendel de Vitebsk, de quem Rabi Shneur Zalman foi colega e aluno.

“Pois está perto de você”

Rabi Shneur Zalman apoiou toda a obra no versículo “Pois isso está muito perto de você” (Devarim 30:14). O autor nos guia ao longo de uma larga trilha no serviço de D’us, de uma forma que Torá e mitsvot não são difíceis de cumprir, nem distantes da pessoa. Ao contrário, são amadas por ela e próximas do seu coração. Obviamente, nem todas as pessoas são feitas do mesmo molde. No entanto, o Tanya fala para cada um – para a pessoa comum, para aquela cuja conduta passada não era desejável, e também para aquela que já atingiu um nível espiritual elevado.

O autor enfatiza que explicará com clareza “como está muito próximo de você, em um longo e curto caminho.” Rabi Shneur Zalman nos mostra dois caminhos no serviço Divino. Um, o “caminho curto”, é especificamente para aqueles cuja compreensão no conhecimento de D’us é limitada. Para eles, o autor oferece o despertar do amor natural, latente, que está enterrado no coração de todo judeu. O segundo, “caminho longo”, oferece uma trilha para servir a D’us com amor e reverência, que são conseguidas por extenuantes esforços intelectuais e muita meditação sobre a grandeza do abençoado Infinito Criador.

Os Chassidim explicam que ao definir o Tanya como “um caminho curto e longo”, a metodologia de Chassidut Chabad cobre uma vasta área de assuntos que, além do conhecimento em si, exigem grande esforço pessoal e serviço árduo. Embora o caminho sugerido por Rabi Shneur Zalman seja longo por si mesmo, mesmo assim é também um caminho curto, pois é o método mais eficaz de entrar no santuário interior.
Interessantemente, a obra foi publicada originalmente sob outro titulo: Likutei Amarim, “Coleção de Discursos” (Slavita, 1796). O ator se refere humildemente à sua obra prima como simplesmente uma seleção de trabalhos e ensinamentos de rabinos anteriores, descartando qualquer originalidade pelo seu trabalho. O subtítulo foi Sefer shel Beinonim, “Livro dos Intermediários,” indicando que o Tanya foi feito para o judeu médio, a pessoa intermediária cuja posição moral está entre o tsadic (jiusto) e o rashá (perverso).Porém o livro era simplesmente mencionado como o Tanya (“nós aprendemos”), que é a primeira palavra do texto. Na segunda vez que foi publicado (Zolkiew, 1798), foi feito sob o título principal Tanya, e Likutei Amarim como subtítulo.Por que o livro é mencionado como o Tanya? Como este titulo envolve a essência dessa obra sagrada? Para coisas mais complicadas, Tanya nem sequer parece a palavra adequada com a qual começa o texto.
A edição Slavita de 1796 ainda não é mencionada como Tanya em sua capa (crédito: chabadlibrary.org).
A edição Slavita de 1796 ainda não é mencionada como Tanya em sua capa (crédito: chabadlibrary.org).

Todo aluno iniciante do Talmud aprende que quando o Talmud usa o termo Tanya, está introduzindo uma baraita, ou seja, um ensinamento dos Tanaim, os rabinos da era da Mishná. Esses sábios floresceram em Israel durante a era do Segundo Templo Sagrado de Jerusalém e até cerca de 200 anos depois.

O Tanya inicia com uma citação do Talmud:
Tanya [foi ensinado] (no final do terceiro capítulo do Tratado Nidá): Um juramento é administrado a ele [i.e., a alma antes do nascimento, avisando-o]: “Seja justo e não perverso; e mesmo se o mundo inteiro disser que você é justo, considere-se como se fosse perverso”

Mas se você abrir um Talmud em Nidá 30 b, vai encontrar que esse ensinamento é na verdade atribuído a Rabi Simlai, que viveu no Terceiro Século, após o período em que os Tanaim tinham terminado. Na verdade, quando o Talmud introduz este ensinamento, o faz com as palavras de Rabi Simlai, “Rabi Simlai ensinou”.

Embora haja raros manuscritos do Tratado Nidá onde este ensinamento é precedido com tanya e não atribuído a Rabi Simlai, esta não é a versão comumente aceita.

Parece como se Rabi Shneur Zalman escolheu especificamente iniciar sua obra com a palavra tanya, e ele destacou essa intenção introduzindo o ensinamento talmúdico numa maneira não comum. O terceiro Rebe de Lubavitch, Rabi Menachem Mendel, conhecido como o Tzemach Tzedek (e neto de Rabi Shneur Zalman), dá duas explicações sobre por que poderia ser assim.

Combatendo a Impureza
Essa edição Zolkiew de 1805 tem Tanya como o título principal na sua capa (crédito: chabadlibrary.org).
Essa edição Zolkiew de 1805 tem Tanya como o título principal na sua capa (crédito: chabadlibrary.org).

Ao explicar por que uma seção especial do Zohar, conhecida como a Idra Rabá (“A Grande Assembleia”) começa com a palavra tanya, Rabi Yitzchak Luria (o Arizal) explica que tanya é também o nome de uma força espiritual especialmente negativa. Esta força aborda eruditos de Torá tentando convencê-los de que “basta aprender os aspectos revelados da Torá, e não há necessidade de mergulhar na mística”. Porém, é especificamente através do aprendizado dos aspectos místicos mais profundos da Torá que se quebra esta força negativa.

Assim, Rabi Shneur Zalman estava indicando que ao aprender o Tanya, a pessoa pode quebrar esta força negativa e entender a importância de aprender os aspectos mais profundos da Torá.

Eitan: Mais Força a Você

O Zohar afirma que a palavra eitan, que significa “forte” ou “poderoso”, é um anagrama da palavra tanya.

Em sua obra Likutei Torá, Rabi Shneur Zalman escreve que todo judeu tem um nível chamado eitan, i.e., “poder”, que brota da essência da alma e nos dá a força para servir a D’us mesmo face à adversidade.

O Tzemach Tzedek explica que ao iniciar esta obra com a palavra tanya, Rabi Schneur Zalman estava sugerindo que através do estudo de Tanya, despertamos o eitan de nossas almas, fortalecendo-nos no nosso serviço ao nosso Criador.

 

“O Alter Rebe”

O “Nigun” (melodia) Arba Bavot, também conhecido como: a melodia do Alter Rebe, é um nigun sem palavras, o principal das dez melodias básicas de Chabad 

A melodia é considerada uma das melodias mais profundas e especiais do hassidismo em geral, e a melodia fundamental e principal do hassidismo Chabad.

A melodia tem quatro estrofes que por meio delas ascendemos espiritualmente aos mundos superiores de Atzilut, Briá, Yetzirá e Assiá .

Esta música foi composta pelo Rabi Shneior Zalman, o “Alter Rebe” , enquanto estudava com seu Rebe e professor, o Maguid de Mezritch. 

Por causa de suas virtudes especiais e significado espiritual, é costume entre os Hassidim de Chabad cantar essa melodia em ocasiões especiais, como nos dias de Yom Kipur e Sim’hat Torá, no último dia de Pessa’h e de Shavuot, em Purim, e principalmente no dia da redenção do Alter Rebe, Rabi Shneior Zalman, dia em que ele foi libertado da prisão de Peterburg na Rússia. 

Cantamos esse “nigun” em um casamento conduzindo os noivos para a Hupá. Também cantamos esse nigun em uma circuncisão, e em um Bar Mitzvá.

 

Nigun Dalet Bavot 
pelo marido da nossa querida Rabanit Nava Rifka 
https://youtube.com/@MikhoelPaisPianist
Rabi Israel Abuhatzeira

O grande Tzadik Rabi Israel Abuhatzeira que faleceu em 1984

Filho de ilustre família, Rabi Israel Abuhatzeira (1890-1984), conhecido como “Baba Sali”, nasceu em Tafillalt, Marrocos.

Desde muito jovem tornou-se famoso como sábio, fazedor de milagres e mestre cabalista.

Em 1964 mudou-se para a Terra Santa, estabelecendo-se no assentamento sul que ele tornaria famoso, Netivot.

Faleceu em 4 de Shevat de 1984. Seu túmulo em Netivot tornou-se um local sagrado, visitado anualmente por milhares de pessoas.

Rabino Matusof e o cabalista Baba Sali

Em 1950, o Rebe de Lubavitcher enviou o primeiro Shliach (emissário) ao Morrocos.

Seu nome era rabino Matusof e sua missão era criar muitas escolas e yeshivot em todo o país.

Ele viajava muito para visitar as comunidades e chegou à cidade onde o famoso cabalista Baba Sali morava.

Ele foi ao líder da comunidade e apresentou seu projeto. Este lhe disse que, nessa questão, o Baba Sali devia ser consultado.

Uma reunião foi organizada entre Rabino Matusof e Baba Sali. O Baba Sali ficou muito feliz com a ideia e deu suas bênçãos.

O Baba Sali apreciava muito os ensinamentos hassídicos de Chabad e disse: “Eu não vou dormir diariamente sem estudar o Tanya, pois é impossível ter o verdadeiro temor a D’us sem o estudo do Tanya”.

Céu e Terra

O livro do Tanya ensina a reconhecer que o mundo espiritual e o material coexistem.

Não são dois mundos separados, mas um só. Com esse entendimento, podemos perceber a proximidade que existe entre nós e D’us. D’us não se limita a certas áreas, mas está em todos os lugares, especialmente dentro de nós.

Os ensinamentos do Tanya dão uma mudança de paradigma na abordagem da vida, e aqui segue um exemplo.

Antes de aprender seus ensinamentos a pessoa pode pensar que o mundo inteiro está contra ela.

Seus concorrentes, chefe, governo, bancos e outros que desejam que ela falhe. Depois de compreender o Tanya, entenderá que o mundo inteiro está no controle de D’us, e tudo o que é necessário é confiar Nele.

Isso é algo difícil de ser obtido quando a pessoa acredita que há muitos fatores contra ela.

No entanto, quando a pessoa estuda Tanya sua confiança em D’us se fortalece, tornando-se muito mais forte.

Tão forte que, mesmo durante tempos desafiadores, estará confiante, como se já tivesse superado o desafio.