Diário do Rabino

Congresso rabinico internacional

BS”D

O congresso Rabínico internacional é um encontro de rabinos, que acontece anualmente, em Nova York.

Entre as atividades desenvolvidas na convenção, estão workshops, além de Farbrengens e, claro, muitos estudos.

Escrevi um diário contando para vocês um pouquinho do que acontece lá. Espero que gostem.

Diário do Rabino 5772 – 2011.

 

Dia 20 de novembro de 2011

Hoje de manhã saí de São Paulo em direção ao congresso Rabínico internacional em Nova York. Minha esposa chorou e eu fiquei muito comovido. Entrei no avião e fui rezando direto até a Colômbia!

Chegando lá, rezei no aeroporto de Bogotá, coloquei minha bagagem no porta-bagagem, e foi aí que tudo começou:

Peguei o ônibus que nos tira do aeroporto, ele se chama opaim. Imaginei que a distância que ele percorre é pelo menos como a do aeroporto de Congonhas em S.Paulo até o Centro da cidade, mas depois de ter visto o prédio do aeroporto passar do meu lado cinco vezes, entendi que a distância não era tão grande assim!

Finalmente desci no ponto do ônibus e, Baruh Hashem, me virei muito bem no portunhol, e até consegui descobrir que ônibus vai para a feirinha de coisas típicas colombianas! Mas antes de chegar no segundo ponto, descobri que o meu portunhol não estava tão bom assim…

O motorista me pediu MIL E QUINHENTOS PESOS de passagem. Eu disse que não tinha tudo isso! Uma mulher no ônibus ficou com dó de mim e me deu mil e quinhentos pesos de presente (eu, que estava acostumado com o peso argentino, que naquela época ainda valia 50 centavos de real, me assustei quando fui cobrado, mas depois descobri que um real valia.. MIL pesos colombianos!

O ônibus me deixou no shopping mais luxuoso da cidade e eu que achava que o meu portunhol estava bom e tinha conseguido explicar para o motorista que eu precisava descer na feirinha de artesanato e coisas típicas colombianas…

O motorista me mostrou o outro lado da rua para voltar ao aeroporto. E assim foi que minha viagem para a Colômbia foi para o beleléu!

Dia 21 de novembro de 2011

Cheguei na segunda-feira de manhã em New York. Estava com a mala cheia de requeijão, paçoca, doce de leite, entre outros, para levar para uma brasileira que morava lá.

Eles tinham visto tudo pelo raio-X e, quando a mulher da imigração perguntou se eu estava trazendo alguma comida, eu respondi AMTALA BAT CARNABU que é o nome da mãe de Avraham Avinu, falar o nome dela é uma “simpatia” cabalística para invisibilidade, e, milagrosamente, ela deve ter entendido que eu não trouxe os requeijões, os potes de doce de leite, as paçoquinhas e a mala cheia de comida!

Ela não sabia que eu tinha essa frase preparada!

Simplesmente ela me esqueceu e continuou atendendo às centenas de pessoas que estavam na fila! A frase funcionou!

Enquanto isso, chegou um avião de Israel. Encontrei um velho amigo, diretor de uma escola em Tzfat, que me deu o mérito de pagar o táxi para o cemitério, antes que chegasse alguém que pegasse esse mérito para ele. E o que são 20 dólares para para um brasileiro na opinião dos israelenses!

Agradeci pelo mérito e paguei o táxi. Chegamos ao cemitério Montefiori. Ele foi rezar no túmulo do Rebe Anterior e eu fui procurar um cafezinho com biscoitinho. Depois, tirei os sapatos, peguei a minha lista de nomes e fui pedir para Hashem ajudar a todas essas pessoas no túmulo do Rebe Yossef Ytzhak, que está enterrado lá.

Em poucos minutos, os brasileiros que estavam lá me reconheceram e começamos a atualizar as fofocas em voz alta, até que todo o ambiente no cemitério ficou muito animado!

Todo mundo viu que os brasileiros tinham chegado e já não dava mais para curtir aquele ambiente ex-silencioso e fúnebre. O cemitério virou uma festa! Encontrei um brasileiro que mora em New York, outro que estava trabalhando lá. Até me esqueci que estava no cemitério!

Do cemitério, havia um ônibus gratuito até o 770 da Eastern Parkway, endereço do QG do movimento Chabad Lubavitch, em Nova York onde aconteceria o congresso.

Continuei conversando no ônibus, para o espanto dos americanos, que tentavam em vão manter um ambiente de volta de cemitério. Para mim, um Tzadik como o Rebe está sempre vivo entre nós e a energia e alegria dele nos inspira constantemente. Os americanos não sabiam que eu tinha chegado e que, dali pra frente, quem quisesse ficar triste teria de se esforçar muito…

Enfim, chegamos ao 770! Maravilha da natureza, centenas de judeus entrando e saindo, rezas e estudo de Torá, um verdadeiro paraíso terrestre!

Claro que encontrei muitos amigos e demos uma impressão errada, de que os brasileiros são muito barulhentos! UM brasileiro encontra UM amigo e centenas de pessoas param pra olhar!

Na sinagoga tem café com leite a vontade e biscoitos idem. Imediatamente, fizemos um piquenique e, depois de atualizar as fofocas, fui procurar a hospedagem do congresso.

Maravilha do mundo judaico, meninos da Yeshivá organizaram acomodações para os rabinos do mundo todo. Recebi um envelope de boas-vindas com o endereço e as chaves do apartamento onde iria ficar. Quartos grandes com quatro camas, bolo, café etc.

Eu era o único, por enquanto, mas a quantidade de docinhos de boas-vindas que tinha lá era para um exército. No mundo judaico pode faltar uma coisa ou outra, mas nunca comida! Decidi que vou começar o meu regime quando voltar ao Brasil!

Depois de encher a cara de docinhos, peguei um ônibus para Boro Park. Para o meu maior espanto, um grupo de judias ortodoxas, daquelas que vão todas equipadas com acessórios diversos, estavam conversando em português!

Durante a meia hora que levou entre Crown Hights e Boro Park fui me atualizando pelo que elas estavam conversando, e só antes de descer me despedi delas em português e agradeci pela informações. Não preciso contar para vocês a cara que elas me fizeram, mas pelo menos descobri onde encontrar as pechinchas!

Dia 22 de novembro de 2011

Aprendi rapidamente a usar o metrô. Subir e descer… Só não sabia exatamente se estava descendo no lugar certo. Para confirmar o que já estava para mim óbvio (que errei o bairro), tentava perguntar para um americano onde realmente estou e, na maioria dos casos, a resposta era a mesma: “Pergunte a um guarda”. Por sinal, quando me respondiam assim nunca havia nenhum guarda no local.

Mas, já que o objetivo da minha viagem é o congresso rabínico, vamos deixar a “delicadeza” do povo americano para ser usada com muito sucesso no Iraque e etc, e voltemos para o que importa.

Dia 23 de novembro

O congresso começou com um jantar maravilhoso, na qual eu repeti o frango o frango xadrez duas vezes (não vim para a América fazer regime quando tudo é do bom e do melhor e ainda de graça!!!)

Um rabino acabou de chegar e me trouxe uma carta muito importante para ler no Tziun (Túmulo do Rebe anterior de Chabad) e comprar vitaminas kasher para a mesma pessoa (lembrando que vitamina NÃO é remédio e, portanto, são aplicadas a elas as leis de kashrut).

Comemos, comemos, comemos e atualizamos todas as fofocas do Brasil. Encontrei amigos que estudaram comigo na Yeshivá de Kfar Chabad e que agora são grandes rabinos de cidades importantes de Israel, como o rav Eliahu Assulin, rabino de Hadera, que ministra cursos de Brit Milá (circuncisão)!

Meu maior orgulho foi ter encontrado o rabino Guili Hadad, da cidadezinha de Ilanit, que foi meu aluno. Outro aluno que me deu muito orgulho no congresso foi o rabino David Schneersohn, de Itamar, na Cisjordânia. O rav David foi meu aluno quando ele tinha três aninhos de idade e aprendeu a ler comigo. Hoje, ele tem uma escola de meninas em Itamar. A história dele saiu nos jornais de Israel e vai ser um tema por si só logo mais.

Repeti a sobremesa algumas vezes e fui para a Hahnassat Orhim, a hospedagem do congresso, o lugar onde iria dormir durante toda a minha estadia em New York.

A uma certa altura, percebi que era o único judeu na rua. Provavelmente a Hahnassat Orhim não gasta à toa o dinheiro da Tzedaká e o apartamento que eles alugaram está num lugar um pouco isolado.

Na porta do prédio tinha um grupinho muito mal-encarado conversando num vozeirão que até parecia eu conversando com os brasileiros dentro da sinagoga. Eles pensaram que eu não iria passar pelo meio deles!

O que eles não sabiam era que eu tinha a segulá cabalística para invisibilidade preparada! Quando eu cheguei bem perto deles eu falei ÄMTALA BAT KARNABU (a partir dessa hora eu passaria despercebido no meio deles) eles falaram “Good night to you too”. E eu já estava dentro do prédio, sem ninguém perceber!

Dia 24 de novembro

Esqueci a chave da entrada do prédio que não tinha porteiro e nem zelador. Não pude usar minha segulá cabalística para invisibilidade, tive de pedir por favor para o mesmo grupinho mal-encarado de ontem à noite me abrirem hoje a porta do prédio. Em 5 minutos já estava dentro do apartamento são e salvo com a ajuda dos jovens que, graças a D’us, sempre estão na rua à madrugada inteira!!!

Congresso Rabínico internacional 2014. ( 5775 )

Queridos amigos

Esse ano não tinha pensado em viajar para o congresso por motivos financeiros (graças a D’us , só eu sofro disso).

Então por um motivo que vi como sendo um convite Divino , minha aluna Rivka Hadassa me comprou a passagem. Quando o bom D’us traz uma coisa boa para alguém escolhe uma pessoa que merece ter esse mérito lá em cima para fazer por meio dela essa bondade. E assim a Verônica (Rivka Hadassa ) foi escolhida por Hashem para que eu participasse do congresso esse ano.

Saí de S. Paulo muito atordoado. Minha decisão (depois dos problemas que tive com o cartão da american express que não quiseram ter o mesmo mérito que teve a minha aluna Rivka Hadassa ) foi “economia total”. Não desperdiçar nem um centavo que não seja extremamente necessário !

 

A Viagem

Peguei o avião da uma da manhã. Sentei do lado da turbina e tinha deixado minhas tampinhas para o ouvido na mala. Virei de um lado pro outro na cadeira e não consegui dormir. A American Airlines não dá fone de ouvido, e o meu fone de ouvido.. . também estava dentro da mala….

Não tinha como ouvir uma musiquinha. As turbinas funcionaram bem o caminho inteiro (se tivesse dado alguma falha em alguma parte da noite eu já teria percebido) . De manhã, depois dessa linda noite encantada pegamos uma filha quilométrica na PF americana. Do outro lado do enorme saguão de entrada , para quem tinha passaporte americano ou europeu a fila estava vazia. Do meu lado na fila quilométrica estava o dono de uma construtora (pena que não era judeu). Ele comentou que os americanos querem o nosso dinheiro e as lojas de Manhattan estão esperando toda essa fila quilométrica, mas por outro lado não nos deixam morar nos EUA. Discriminação ! Alegou ele. Falei para ele não se preocupar, e como consolo disse a ele :- imagina se fora o fato de você ser brasileiro você também fosse judeu!!!!

Economia total

Saímos. Dois graus de temperatura, todo mundo foi para os táxis e eu… Fiquei esperando o ônibus. Graças a D’us não estava sozinho, o ponto estava cheio de argentinos.

Graças a D’us um argentino me ajudou e….. Depois de algumas tentativas subindo e descendo com toda a bagagem do ônibus descobrimos que tínhamos que pegar o air-train que é um metrô suspenso até a estação do metrô.

Para a minha alegria o ônibus foi de graça e o Air-Trein também. Mal sabia eu que esse Air-Trein é pago na saída……. e custa cinco dólares! No Air-Trein conheci um casal de brasileiros que me reconheceram do avião e também estavam tentando economizar o dinheiro do táxi e chegar ao Broklyn de metrô.

A mulher até tinha um mapinha de onde subir e onde descer. Eles alugaram um apartamento baratinho no Broklyn sem saber que naquela região existem bairros inteiros “ligeiramente” mal frequentados…….. Já comecei a entender que de vez em quando o barato sai caro….

O Air-Trein chegou à estação do metrô (e lá você paga os cinco dólares para sair e compra o bilhete do metrô). O casal de brasileiros tinha um passo a passo para ir trocando de metrô até eles me falarem um lugar que de lá eu tinha que trocar de metrô para chegar em Boro Park e de lá pegar um ônibus para Monsey.

Como de costume eu me perdi, fui para Manhattan e voltei sem descer do metrô até que entrou um judeu religioso em alguma estação e perguntei a ele como chegar em Boro Park.

Como de costume passei a estação que precisava mas consegui voltar, e a uma da tarde cheguei em Boro Park à uma da tarde depois de fazer um “City Tour” de quatro horas por baixo da terra!!!

Finalmente consegui descer em Boro Park. Andei um monte com as malas no meio da chuva até conseguir chegar no ponto do ônibus de Monsey. Um velhinho (acho que era Eliahu Hanavi ) perguntou se eu preciso de alguma coisa (na América onde as pessoas não se olham na cara, só pode ter sido Eliahu Hanavi ) .

Disse a ele que estou esperando o ônibus para Monsey (na chuva) .Ele ligou para o filho dele que ligou para a companhia e descobriu que ainda iria levar uma hora para o ônibus chegar……. Agradeci de todo o coração e corri para procurar uma sinagoga para escapar da chuva. Finalmente o ônibus chegou!!!

Geração Gueulá

Um dos sinais que a Guemará nos revela para sabermos que Mashia’h está chegando é: “os jovens vão fazer os velhos passarem vergonha”.

A Guemará deu esse sinal em uma época em que idade significava experiência e autoridade , e todos queriam parecer mais velhos (até as mulheres).

Rabi Eliézer ben Azaria tinha dezoito anos quando se tornou o presidente do Sanhedrin. Aconteceu para ele um grande milagre: sua barba ficou branca e ele ficou com uma aparência de setenta anos e isso despertou em todos o respeito por ele.

Hoje em dia quem iria querer um milagre desses? Todo mundo quer parecer mais jovem e isso é um dos sinais de que Mashiach está para chegar.

Nenhum jovem pinta a barba de branco para parecer mais velho, mas os mais velhos tentam esconder a idade de mil e uma formas.

E assim comecei a minha viajem para o congresso rabínico internacional na fila da American Airlines. Me chamaram para o embarque preferencial!

Tentei explicar que a cada ano que passa a Alma fica mais jovem e refinada, e que a Alma é o principal e o corpo é só acessório e portanto sou uma pessoa jovem com uma roupa velha e rasgada, mas não adiantou nada. Bem vindo à América!

Chegando no aeroporto em New York preferi usar o dinheiro que gastaria com o táxi para outras prioridades e peguei um “Airtrain” no aeroporto com conexão para o metrô por sete dólares.

Só um problema, para conseguir chegar à Crown Hights onde aconteceria o congresso sem fazer um city tour por baixo da terra como fiz da vez passada precisava de informações exatas. Outro sinal de que Mashia’h está chegando é de que antes da Gueulá “a arrogância cresce”, e os americanos são diplomados e pós graduados nesse sinal.

Depois de perguntar para alguns adultos e ouvir respostas tipo :- “se você não sabia como ir porque pegou esse trem”, ou :-“volta para o aeroporto e pega um táxi”, resolvi engolir o meu orgulho e perguntei no metrô para uma pré adolescente como faço para chegar à Crown hights. Ela me explicou tão bonitinho que fiquei até com vergonha de tão simples que era!

Chegando no 770 comprei um chip americano na porta da sinagoga e tentei baixar o mapa do metrô…De novo tive que pedir ajuda à uma criança, dessa vez de uns onze anos. Cheguei à conclusão de que sou um exemplo vivo de que Mashia’h está na porta!

O congresso começou! Jovens rabinos davam palestras dificílimas sobre assuntos importantíssimos com a maior facilidade e eu tentando anotar tudo…. com medo do professor….. de verdade Mashia’h está chegando!

Em um Workshop pediram para eu falar sobre o meu trabalho no Brasil. Falei sobre a importância de preparar o nosso país para receber o Mashia’h e contei sobre os sinais da Gueulá.

Os americanos já cumpriram o sinal da “arrogância” em abundância, os jovens já me fazem passar vergonha pelo fato de estarem muito mais atualizados do que eu, mas tem um sinal que o Brasil ganha de todos!

Está escrito que antes do Mashiach chegar existirão rios que vão se movimentar como óleo e não vão conseguir pescar neles nem um peixe para um doente.

Contei para eles sobre o rio Tietê…… Mesmo que esses sinais estão em uma classificação de profecia negativa que não precisaria acontecer integralmente devido à bondade Divina, no Brasil esse sinal aconteceu detalhadamente, e até mais do que precisava (capricho brasileiro).

A Guemará nos conta que antes de Mashia’h chegar a situação econômica não vai ser boa, os preços vão subir e etc. Outro sinal da Gueulá em que nós brasileiros nos destacamos no mundo!

Na minha primeira noite em New York fui novamente super bem recebido pela Rabanit brasileira Naty Esther casada com o rabino russo Zeev Kurshnirsky que estão fazendo um trabalho maravilhoso com judeus russos em Staten Island. Quando o congresso começou tive que voltar para o Brooklyn, Crown hights e fiquei hospedado na Hachnassat Orchim do Kinus.

Éramos oito rabinos em cada quarto e encontrei amigos que estudaram comigo na Yeshivá de Kfar Chabad em 1978. Em um dos quatro beliches no quarto aonde fiquei chegou um rabino brasileiro conceituado que eu tinha certeza que ele iria ficar em um hotel. Mais uma prova de que nesse sinal de crise econômica antes da Gueulá somos número 1! (em alguma coisa o Brasil tem que ser número 1).

No “Melave Malka” de 770 , a sinagoga do Rebe, o porta voz do consulado Israelense foi convidado para falar. As palavras dele me lembraram outro sinal da Gueulá. Que antes do Mashia’h chegar haverão muitos focos de guerra no mundo.

Pelo que estou entendendo esse sinal infelizmente está acontecendo integralmente no oriente médio aonde se encontra Israel, e pelas palavras do porta voz do consulado muita coisa em Israel está “pegando fogo”. Mas sabemos que depois desses sinais chega a Gueulá, e o Rebe deixou claro que o principal trabalho da nossa geração é receber o Mashia’h. Então, vamos nos preparar!

Congresso Rabínico Internacional 5776 (2015)

Diário do Rabino,  20 de heshvan 5776 – 02/11/2015

Bom dia gente linda !

Comecei ontem à noite minha viajem para o congresso rabínico internacional.

Estou escrevendo para vocês de dentro de um avião da Delta, uma empresa aérea famosa, dos Estados Unidos que é um país de primeiro mundo, para contar à todos uma boa notícia :-Vocês são bem melhores do que eles!

Lembrando à todos de que o segredo do sucesso consiste em se fazer mais do que o que precisa ser feito. E em fazer o seu melhor em menos tempo com menos recursos e com mais qualidade! Esse é o segredo do sucesso!

Vi com meus próprios olhos (para ser mais preciso, senti com a minha própria barriga) qual é a consequência de se fazer somente o que precisa ser feito.

Cheguei ontem ao aeroporto de Guarulhos. No check-in confirmamos pela quinta vez o pedido de comida Kasher. Rezei Min’há na frente de todo mundo, rezei Arvit no portão de embarque, todo mundo estava vendo que eu fazia a diferença.

A kipá, o Tzitzit, as rezas ! As pessoas olhavam! Uma criança perguntou porque eu tenho essa barba tão grande, desenrolei a barba e mostrei à ele que era muito maior do que ele pensava, a criança ficou maravilhada!

Entrei no avião. Os mais cultos sabiam que eu era judeu, mas mesmo quem não sabia o que eu era estava vendo que eu tinha um diferencial (e consequentemente teria encomendado uma comida diferente).

Um senhor pegou o meu lugar. Tentei explicar que ele errou o assento mas ele não me entendeu (talvez por motivo de aquela poltrona ter TV e a da frente que estava vazia não ter). Ele era como todos que estavam lá, não tinha nenhum diferencial .

Depois de eu não ter querido discutir com ele, sentei na poltrona da frente que estava livre. Quando distribuíram a janta, a minha estava faltando. A aeromoça se lembrou de que alguém tinha encomendado comida Kasher no avião. Perguntou aos comissários aonde estava.

O comissário de bordo que só tinha feito o que precisava fazer, tinha dado a comida Kasher para a pessoa que tinha sentado no meu lugar sendo que a comida Kasher veio com o número do meu assento , mesmo me vendo na poltrona da frente e entendendo que eu era judeu e aquela comida era Kasher, não se deu ao trabalho de nos perguntar nada, não fez nada mais do que o que precisava fazer.

Consequência, a aeromoça não sabia o que fazer. Todos pediram desculpas em nome da empresa , me trouxeram frutas, passaram um vexame profissional, tudo isso porque alguém não tinha feito nada mais do que a obrigação !

A aeromoça não sabia onde enfiar a cara. Esse é o segredo do sucesso, nunca fazer só o que precisa ser feito mas sempre fazer mais! Nem preciso dizer que ás 7:45 do Brasil, antes de trazer o café da manhã de todos, trouxeram o meu kosher breakfast, vinte minutos antes de trazer para os outros,e ainda pedindo novamente desculpas por ontem!

O final da história foi o mais engraçado, a pessoa que comeu a minha comida entendeu o que estava acontecendo e disse que a comida Kasher é muito boa e que agora ele sempre vai recomendar Kasher para todos!

Diário do Rabino, 21 de heshvan 5776 – 03/11/2015

Cheguei na América!

Quando um judeu diz América, a intenção é Estados Unidos. Com esse nome esse país sempre foi conhecido pelos judeus da Europa oriental que sempre sonharam morar nele.

Na América todo mundo se sente importante, a síndrome do Super Herói! Um faxineiro com uma vassoura na mão já é uma barreira intransponível. Imagina uma mocinha caixa de supermercado então, a “toda poderosa”, você só consegue sair do supermercado se ela liberar!

E daí pra diante . Alguém te cumprimentar de volta? Certeza que não, pelo menos não em New York.

Passei pelos “Super Simpáticos” guardas do aeroporto, te recebem tão bem que tira toda a vontade de voltar o ano que vem. Logo que saí no desembarque, pessoas me perguntaram para onde vou, “taxistas extra oficiais”. Respondi que ia lá pertinho, então eles dizem vamos, e já querem pegar a sua mala. Eu digo desesperado :- Só vou se você me falar o preço antes! 45 dólares, eles me respondem. Na minha cabeça isso já vira duzentos reais.

Não, digo eu, e vou procurar outra solução. Um amigo de muitos anos, Jonathan De Siqueira me deu trezentos dólares antes de Sucot. Guardei com cuidado e agradeci à ele antes dessa viagem avisando que vou levar esse dinheiro comigo para a viagem.

Me lembrei de uma Halahá no Rambam que os rabinos são comparados aos reis de Israel. É permitido ao rei receber o imposto do povo, mas junto com isso o rei não pode ter muitos cavalos. Ou seja, o fato de alguém ter me dado esse dinheiro não quer dizer que posso usá-lo para desnecessidades e pegar o táxi do aeroporto com uma mala vazia dentro da outra o que para mim é uma desnecessidade !

Optei pela solução mais econômica e que também recomendo à todos que chegam aqui com uma mala vazia dentro da outra, ou seja,recomendo à nós judeus que chegamos aqui na América com as malas vazias e voltamos para o Brasil com elas cheias, principalmente de compra de produtos Kasher no supermercado que são muito mais baratos nos Estados Unidos.

Comprei dentro do aeroporto um bilhete do ônibus que leva você e as malas para Manhattan por 17 dólares. Esperamos quinze minutos dentro do aeroporto. Quando o ônibus chegou, a mulher que nos vendeu o bilhete nos acompanhou . Amei ! Recomendo super.

Sentei na primeira cadeira para ver melhor a paisagem . No meio do caminho meu chapéu caiu nos degraus do ônibus. No primeiro farol vermelho o motorista parou, pegou o meu chapéu, entregou ele na minha mão com um sorriso de ponta a ponta desmontando em um minuto toda a minha teoria bem estruturada de que os americanos são uns antipáticos , fiquei até com vergonha.

O ônibus nos deixou na famosa estação Penn Station em Manhattan onde tem uma grande loja da Apple . Subi na loja para usar o Wi-Fi deles (que lá é de graça) para ligar para a família, responder mensagens e ler parte dos 722 e-mails não lidos que ainda sobreviveram à faxina diária na caixa de entrada. Estava usando o meu tablet que para mim serve como:

1-Biblioteca com 55.000 livros em hebraico

2- Banco

3- correio

4- máquina fotográfica

5- Editora

6- Central de comunicação com os alunos

7- Central de divulgação

8- Sidur (livro de Rezas)

9-Tehilim

E mais mil e uma utilidades. Minha esposa diz que o tablet é a minha amante.

Me lembrei que esqueci o carregador no Brasil. Já estava lá mesmo, comprei um carregador com o fio. $19 o carregador e $19 o fio!

Quando voltei a pensar em reais, ou seja,”caí na real”, vi que tinha gasto 150 reais só para comprar o carregador com o fio!

Então caí na real de que moro no país do real e só consigo sobreviver porque D’us me ajuda de uma maneira “SURREAL”.

Baixei no tablet alguns aplicativos de mapas do metrô de New York e assim o meu tablet se tornou um guia turístico também. Só esqueci o principal, verificar onde era a estação do metrô mais próxima a mim. Rodei com aquela mala enorme pelas ruas de Manhattan procurando a estação.

Quem me via pensava que eu estava entrando ou saindo de um daqueles hotéis carésimos , ninguém imaginava que eu estava economizando um pouquinho e ainda fazendo teshuvá de ter comprado um carregador de tablet. Aprendi com isso a nunca mais julgar alguém pelas aparências. Finalmente depois de meia hora fazendo um “City tour” nas ruas de Manhattan com aquela mala enorme encontrei uma estação do metrô.

Mal sabia eu que agora iria começar o meu grande “City Tour”. Iria conhecer New York City inteira, mas…….por baixo da terra!

Quando um americano te dá uma informação ele só te dá a primeira parte e com um olhar sério que não te dá a liberdade de perguntar mais nada. Respostas como :- não é aqui, ou :- não é esse trem, são comuns, mas eles não se dão ao trabalho de te explicar onde é ou que trem é.

Pior ainda é quando perguntei para indianos pensando que eram mexicanos e iriam me explicar em espanhol, pelo menos três me falaram, :- é por aqui mas acho que você não vai conseguir chegar lá…….descobri porque a Índia não progride…!

A sinalização no metrô é péssima, fui assim de linha verde para vermelha,para amarela, de linha em linha até que em uma das estações em uma loja um hindu me deu uma informação errada e um árabe foi atrás de mim e me explicou como chegar ao metrô linha 3 vermelha que chega à Crown Hights, meu destino.

Quando D’us quer fazer um milagre para alguém Ele nos mostra que Ele dirige o mundo, e assim vi que a única pessoa que poderia me prejudicar foi a única que me ajudou, ou seja, o mundo é dirigido por Hashem!

Amanhã tem continuação…..
Rabino Gloiber
Sempre correndo em New York mas nunca deixando de pensar em você.🥰

Diário do Rabino, 22 de heshvan 5776 – 04/11/2015

Finalmente cheguei a Crown Hights

Fui para o 770 (a sinagoga do Rebe) rezar, agradecer Hashem e pedir por todos vocês! Na porta tinha alguém vendendo chip americano para celular. Quando fui pagar ele me pediu 25 dólares. Quando eu disse à ele que todo mundo pagou quinze e perguntei porque só eu deveria pagar $25 ele me perguntou :-de onde você é? :- do Brasil, respondi ! Ah, isso era um desconto para Israelenses, coitados, moram em um país pobre, o Shekel está baixo…… Conclusão, nós brasileiros perdemos o dinheiro mas não perdemos a fama! Da próxima vez falo que vim da Angola !

Graças a D’us tinha me cadastrado no programa de hospedagem do congresso. Cheguei tranquilo sabendo que já tinha onde dormir e fui ao endereço especificado no cadastro. Um jovem que estava lá, me recebeu muito bem e me avisou que a data de abertura da hospedagem seria somente amanhã, hoje estão fazendo uma limpeza “básica”, disse ele, e ele não tem autoridade para fazer exceções, nenhuma entrada é liberada. :- “Oh my G-od, help me!

Sabia que Hashem iria me ajudar. Rezei, pensei em algumas formas de “como” Hashem poderia me ajudar mas no fim deixei para Ele em aberto, caso Ele tivesse alguma opção que nem eu tivesse pensado nela…..(Estou brincando né, eu não tinha a mínima idéia do que fazer e mesmo se tivesse…).

Aquela manhã uma Rebetzin brasileira de New York,  Esther Harari Kushnirsky , tinha feito um comentário sobre a minha viajem e perguntou se eu preciso de alguma coisa. Imediatamente mandei uma mensagem para ela com um grande SIM!

Simplesmente não tenho onde dormir à noite, e perguntei como chegar lá, mesmo sabendo que isso para mim significaria mais um City Tour por baixo da terra e vai saber por quanto tempo.

Por incrível que pareça ela estava vindo para Crown Hights para uma reunião da escola das crianças. Tive carona de ida e volta, dormi em um lugar maravilhoso e já avisei ela que na proxima vez trago minha esposa e minha filha, já que agora temos onde ficar 😂.

E o mais importante, sendo que o Rebe diz que quando dois judeus se encontram tem que sair uma coisa boa para um terceiro judeu, sendo que a Rabanit Esther e o marido tem uma instituição de estudos judaicos em russo aqui em New York, fizemos um acordo que a partir de agora o rabino Zeev Kushnirsky e sua esposa a Rabanit Esther vão trabalhar com a nossa instituição em relação à qualquer assunto que envolva a comunidade judaica de origem russa.

Conclusão :- Sempre depois de uma grande descida vem uma grande subida. Quando Hashem fecha uma porta ao mesmo tempo abre muitas, mesmo que de vez em quando estamos tão focados na porta que se fechou que não temos tempo de ver as muitas que se abriram.

Os rabinos que vão chegando para o congresso aproveitam que estão em New York para comprar eletro eletrônicos barato. Depois da reza a conversa se transformou em um grande debate sobre esse assunto, todo mundo querendo dicas aonde comprar eletro eletrônicos mais barato.

Para nós, judeus brasileiros, a coisa mais cara e preciosa no nosso país é comida Kasher! E lá fui eu procurando dicas de compra de supermercado! Olhavam para mim como se eu tivesse aterrisado da lua (ou ainda estivesse na lua) vem até a América para fazer uma compra de supermercado? Ninguém aqui consegue imaginar como é a vida de um judeu no Brasil!

Descobri um supermercado em Boro Park chamado Kollel na rua 39, tudo Kasher e muito barato. Peguei o metrô. Como de costume desci na estação errada e andei um monte, mas no final encontrei o lugar. Paraíso terrestre, barras de chocolate por um $1.25 etc etc etc.

Fui fotografando e mandando para minha esposa, Braha, por WhatsApp. Verdadeiro paraíso . Fiquei passeando dentro do supermercado, contemplando os produtos. Ninguém entendia o que tinha de tão maravilhoso em estar em um supermercado !

Um turista admirando contemplando e fotografando biscoitos e balas…….ninguém entende um judeu brasileiro!

Fiz uma compra de $150 dólares, ou seja, nossas compras no exterior! Saí de lá tão entusiasmado que nem vi que estava indo com toda aquela mala para a direção contrária. Andei, andei, andei, e quando me toquei já estava bem longe.

Voltei todo aquele caminho até chegar novamente à porta do supermercado. Uma velhinha precisava de ajuda e os funcionários (todos mexicanos) não estavam nem aí. Deixei a minha mala e ajudei ela a descer do carro e pegar o carrinho de feira no porta malas. Ela devia ter uns 90 anos mas não queria parar, graças a D’eus. :- Eu sempre fiz as compras para a minha casa, o dia que eu parar eu morro, disse ela. :- não se preocupe, respondi, Hashem está cuidando bem de você, fez um brasileiro voltar seis quarteirões com uma mala cheia só pra te ajudar, vai continuar te ajudando!

Nos despedimos, errei o caminho de novo e dessa vez nem velhinha para ajudar encontrei. Andei uma hora e meia até encontrar o metrô. A escadaria era enorme. Um jovem chinês me ofereceu ajuda, o que não é usual.

Eu ajudei a velhinha, Hashem está me ajudando. Dessa vez voltei certinho sem me perder, o que também não era usual. Me lembrei da velhinha de novo. Chegando em Crown Hights um árabe me ofereceu ajuda, mais uma coisa que na América não é usual.

Vi que Hashem estava me ajudando. Me lembrei que estudei uma vez que do jeito que você se comporta com os outros Hashem se comporta com você. Agora vi isso na prática!

Cheguei na hospedagem do congresso. Acho que quando me cadastrei esqueci de colocar nas observações os meus 57 aninhos da época (hoje já é um “pouquinho” mais). Devo ter pensado mais na minha Alma que sou eu de verdade, do que no meu corpo de 57 aninhos que é uma simples vestimenta. Cada ano que passa a alma fica mais refinada e reluzente, cada vez mais jovem enquanto o corpo se torna uma roupa gasta.

Me colocaram na parte de cima de uma beliche que não tinha nem escada. Todos lá eram Israelenses, eu era o único brasileiro. Já era meia noite e meia, o fuso horário deles era de seis horas mais tarde, todos já estavam dormindo e eu tentando fazer o possível e o impossível para conseguir subir naquela cama.

No final Hashem me ajudou, e no lugar de eu conseguir subir no colchão, o colchão conseguiu descer para mim! Acho que ele não tem esses 57 aninhos como eu, para ele foi mais fácil cair encima de mim do que eu subir encima dele (Se alguém acha que algum Israelenses acorda com colchão caindo, sem sirene nem nada, está enganado).

No fim levei o colchão para a sinagoga da hospedagem e no lugar do quarto com oito pessoas tive o meu quarto particular (pelo segundo dia) Conclusão, depois de uma grande descida tem uma grande subida!

Diário do Rabino, 23 de heshvan 5776 – 05/11/2015

Hoje acordei feliz e fui para o Mikve. No caminho encontrei velhos amigos que estudaram comigo na yeshivá em Israel, um deles eu não tinha visto trinta e nove anos! Lembrei o nome de cada um e cada um se lembrou o meu nome, ficamos emocionados.

Até no Mikve alguém reconheceu a minha voz depois de trinta anos (o que não é nada difícil porque eu continuo com a mesma voz meio fanha de sempre, narizinho libanês, alguma coisa eu tinha que herdar da minha mãe). Fomos rezar na sinagoga do Rebe, o 770. Lá também encontrei velhos amigos e atualizamos as fofocas (Na verdade quem fofoca é mulher, homem não fofoca, homem faz importantes observações).

O congresso começou!

Entramos em uma fila para receber o crachá com o nosso nome e a palavra “Shliach” que quer dizer emissário. A centenas de anos cada aluno do Baal Shem Tov se responsabilizou em divulgar as fontes do judaísmo em uma região da Europa. O Rebe Yossef Ytzhak ultrapassou as fronteiras da Europa e mandou seus emissários para o norte da África.

O Rebe Menachem Mendel (o Rebe de Lubavitch) ultrapassou todas as fronteiras e mandou seus emissários para o mundo inteiro! Isso é um Shliach, um emissário responsável por uma região, e esses emissários somos nós!

Não precisa dizer que depois de receber o meu crachá, vesti ele com muito orgulho e….corri para o metrô…….Ainda ouvi um pai falando para o filho :- Olha, esse é um emissário do Rebe. O bairro inteiro está orgulhoso da nossa presença.

Mas eu não tinha tempo para andar devagar e ver como todos olham para o meu crachá com respeito, tinha uma coisa muito importante para fazer, ou seja, a listinha de compras da minha mulher!

Corri para a Atlantic Avenue, liguei para a Braha quatro cinco vezes até descobrir uma loja chamada Target onde se compra um baby wipe por um dólar. Quando você vê lá o preço das fraldinhas entende porque todo político brasileiro tem conta na Suíça, e também se conscientiza de que foi roubado sempre que comprou fraldinhas no Brasil!

Fui com o meu crachá achando que estava bombando. Para a minha surpresa quando chego na Target só ouvia falar em hebraico e para onde olhava via alguém com um crachá como o meu. Agora entendi, os rabinos de Israel vieram com listinhas também e lá em Israel também se sabe onde são as lojas mais baratas de New York!

O tempo estava curto, voltei rápido para Crown Hights. O congresso abriu oficialmente com um show ao vivo de Avraham Fried e a entrega de um novo Sefer Torá para a sinagoga do Rebe. Dançamos com o Sefer Torá no meio da avenida principal, Eastern Parkway com um trio elétrico especial para entrega de Sefer Torá. A polícia parou a avenida para passarmos e a cidade inteira ficou sabendo que começou o congresso rabínico internacional!

Depois da festa tivemos um workshop com o rabino da Bolívia. Ele contou como é difícil ser um rabino em um país como a Bolívia, ensinar a ser honesto quando o exemplo de cima é a desonestidade, construir uma sinagoga com o dinheiro desvalorizando a cada dia, fazer projetos comunitários com doadores cortando doações a cada trepidação da economia do país . :- Um momento, disse eu, conheço essa história de algum lugar! No fim perguntei à ele :- você tem certeza que não mora no Brasil?

A Rabanit Esther Harari Kushnirsky tinha me convidado para dormir na casa dela, mas não precisei porque a coordenação da hospedagem do congresso me chamou na hora de recebermos os crachás, pediram desculpas por ter me colocado na parte de cima da beliche mas disseram que no ano passado eu estava na parte de cima e não reclamei!

Disse para eles que no ano passado tinha escada para subir na cama de cima e esse ano não. Eles novamente pediram desculpas e me deram o número de uma cama de baixo. Chegaram rabinos da França, muito cansados devido a diferença de fuso horário. Um deles viu aquela caminha bonitinha e arrumadinha, com uma aparência de “ninguém dormiu aqui antes” e não deve ter pensado duas vezes. Cheguei no meu quarto à meia noite e…… A única cama livre era a de cima da beliche sem escada.

Entendi que deve ser algum assunto espiritual, por mais que eu tente dormir em outro lugar acabo sempre voltando para esse. Chegou o jovem coordenador para fazer uma vistoria. Colocaram na entrada da casa um frigobar com leite, um boiler com água quente, café, açúcar, adoçante, tudo em ordem.

O único problema da hospedagem era a minha cama. Ele não pensou duas vezes, teve uma idéia sensacional! Trouxe uma cadeira de plástico, e lá vou eu com meus cinquenta e sete aninhos e 129.99 quilinhos escalando a beliche em cima de uma cadeira de plástico…..

Dormi como uma criança (não sei se posso dizer o mesmo em relação ao rabino que dormiu na cama embaixo da minha). Acordei feliz, vi que estava com medo à toa. Aprendi com isso que com um pouquinho de persistência e muita ajuda de Hashem dá para resolver qualquer problema.

Desci para fazer um cafezinho na entrada da casa e vi um grande Rabino de S.Paulo acordado com uma cara de quem não dormiu a noite inteira. O que aconteceu? Perguntei. Alguém roncou no meu quarto a noite inteira e não consegui dormir, respondeu ele.

Aprendi mais uma coisa: Esse mundo não é o paraíso, as dificuldades são inevitáveis. Sempre temos que agradecer a D’us por cuidar bem de nós porque sempre poderia ter sido pior!

Diário do Rabino, 24 de heshvan 5776 – 06/11/2015

Acordei super feliz, pulei da beliche como se nada tivesse acontecido (o problema é só subir), e fui para o Mikve. Estava indo rezar no 770 quando chegou um grande ônibus preto e parou na porta da sinagoga. Alguém desceu fazendo uma chamada à todos os participantes do congresso para entrarem nos ônibus pretos .

Tinha um monte de ônibus desses chegando e saindo. Subimos, ninguém sabia para onde iriam nos levar. Depois de muito tempo, chegamos à uma região de armazéns enormes e o ônibus parou na frente de um desses armazéns.Nos pediram para descer e entrar lá.

O lugar, pelo seu tamanho e formato me lembrou muito uma estação de trem bem antiga e desativada. A diretoria do congresso finalmente encontrou um lugar propício para as palestras. Não tinham lojas naquela rua, uma região totalmente isolada, não tinha pra onde fugir…seríamos obrigados a participar das palestras!

Entramos! Na porta, seguranças de elite verificavam se a foto do crachá combinava com a nossa cara (e eu que tantos anos não atualizei a minha foto… (E para que atualizar a foto? Para mostrar que a barba ficou mais branca?).

Passamos pela enorme e rigorosa segurança até entrarmos em um hangar enorme com mesas e cadeiras para mais de duas mil pessoas. Nos quatro cantos haviam tendas brancas enormes. (Fotografei tudo o que vi e postei para vocês no Facebook da nossa instituição)

Nos foi servido naquelas mesas um café da manhã com tudo de bom possível e imaginável, hotel de cinco estrelas! Depois desse “humilde cafezinho” escolhemos as palestras adequadas à nossas dificuldades.

Eu escolhi uma palestra sobre arrecadação de fundos que por muitos anos tem sido o ponto mais fraco da nossa instituição. Sentei na primeira fileira para não perder uma palavra.A palestra começou.

:-Alguém aqui é extremamente tímido? perguntou o palestrante. Levantei a mão. Alguém aqui costuma adiar com frequência reuniões com doadores? Perguntou o palestrante. De novo levantei a mão. E assim foi, ele perguntava e eu levantava a mão, até que a cada pergunta dele todo mundo já olhava para mim como se esse fosse um diálogo particular entre nós dois .

No fim ele explicou toda essa Tzedakafobia de acordo com a psicologia. Cheguei a conclusão que para mim ter sucesso em arrecadação de fundos vou ter que reprogramar todo o software da minha personalidade. Sendo que esse tema de arrecadação tinha sido classificado como psicologia, o próximo palestrante também falaria sobre psicologia.

A palestra começa, o palestrante, grande psicólogo judeu americano nos conta que o nosso povo desenvolveu um pessimismo cultural devido à nossa história cheia de guerras e perseguições.

Disse que sendo o nosso povo um povo pessimista por natureza temos mais propensão à depressão do que outros povos. Falou muito sobre a síndrome de burnout etc etc etc.

Adormeci no meio da palestra. Sonhei, mordi o lábio no meio do sonho e acordei assustado. No fim da palestra fiquei na fila de espera para fazer perguntas, não sabia o que perguntar mas era só pra ele se sentir requisitado e esquecer que eu dormi a palestra inteira.

Paralelamente ao congresso tínhamos uma turma de rabinos que fizeram um upgrade, me lembrei da agenda paralela e escapei antes de chegar a minha vêz de fazer a pergunta.

Depois do almoço peguei o ônibus preto de volta pra Crown Hights para receber o meu diploma. Graças à D’us passei nas provas com mais de nove mesmo que com sete já daria para passar. Aquele friozinho na barriga só de pensar que agora eu vou ter um diploma assinado pelos dois rabinos chefes de Israel e pelos tribunais rabinicos dos Estados Unidos e Canadá , graças a D’us passei nas provas e viajei para New York para receber esse diploma, daqui pra frente viro turista.

Nos reunimos em um “petit comitê” com o tribunal rabínico da central Chabad internacional. Os organizadores do evento pediram para fazer uma foto da formatura. Cada um foi chamado pelo nome e aplaudido.

Subimos com os nossos diplomas para tirar a foto, a maioria de nós já com barba branca, mas sempre estudando e se aperfeiçoando, e sempre com aquele mesmo friozinho na barriga quando passamos nas provas como se fosse a primeira vez!

Comecei a suar, o coração bateu mais rápido, senti o que somos de verdade, somos Almas Divinas e nosso corpo é simplesmente uma roupa. A alma está cada vez mais jovem e reluzente mesmo em um corpo velho e gasto.

Sempre que fazemos um novo estudo sentimos aquele friozinho na barriga como se essa fosse a nossa primeira formatura.

Saímos felizes com o diploma na mão, fui jantar no congresso, e de novo encontro amigos que não tinha visto vinte anos, graças a D’us se tornaram grandes rabinos, e um deles fez um workshop usando como exemplo histórias das minhas aventuras de vinte anos atrás, ninguém se esqueceu de mim!

Terminamos a janta, alguém anunciou que todos os que tem crachá podem ganhar agora $100 dólares de um milionário de Crown Hights que vai dar cem dólares para cada emissário do Rebe entre nove horas e dez e meia.

Corremos para lá, e quando chegamos à casa dele já tinha uma fila enorme esperando. Na fila começamos a conversar, disse que era do Brasil.

:-Brasileiro? Exclamaram, Você deveria estar distribuindo dinheiro!

É isso que eu falei, perdemos o dinheiro mas não perdemos a fama de sermos grandes milionários! Talvez não sejamos mais ricos materialmente, mas espiritualmente nos tornamos cada vez mais milionários!

Rabino Gloiber Sempre correndo

mas sempre rezando por você!

26 de Cheshvan 5776 – 08/11/2015

O Shabat estava uma maravilha. De noite rezamos no 770 com centenas de crianças, filhos de emissários do Rebe que vieram com seus pais para o congresso e foi organizado para eles tipo uma “colônia de férias”.

Parte da programação dessa colônia era a reza de Kabalat Shabat (recebimento do Shabat) no 770 onde eles eram a parte principal. Depois dessa linda Tefilá fui jantar na casa de uma amiga da Braha que se chama Tamar Lucki , uma família que todo Shabat convida muitos jovens de Israel que estudam aqui na yeshivá.

A casa é pequena mas tem tanto lugar no coração que você se perde dentro dela ! Cada jovem que entra diz Shabat Shalom para a dona da casa e chama ela de “mami” !

Terminaram os lugares? mãe e filha tiram mesas dobráveis dos vãozinhos entre a estante de livros e a parede, e milagrosamente novamente tem lugar para todo mundo! O genro faz o Kidush, a alegria é intensa.

Tentei contar para os jovens um assunto da Parashá, mas todos queriam uma coisa mais “picante”, então contei para eles o lado oculto da Parashá. Todos ficaram de boca aberta ouvindo a Parashá do jeito que ela aparece no Zohar e nos livros do Ari Za”l. Pediram para mim voltar toda semana……. (Eu queeeeeeeeeero!!!)

De manhã rezamos no 770. Tinha tanta gente lá que se alguém caísse no chão continuaria em pé, ou seja, não tinha como se mexer. Fomos almoçar no enorme salão da escola Ohalei Torá .

Velhos amigos me descobriram e atualizamos as fofocas, quero dizer ” trocamos importantes informações”. (Como contei para vocês antes, quem fofoca é mulher, homem compartilha importantes informações).

De noite teve o “Melave Malca” no 770. Melave Malca quer dizer acompanhando a rainha,ou seja, festa de despedida para o Shabat que terminou . Uma pessoa tocava e dois grupos de cantores cantavam, um estilo lindo de música judaica antiga, rabinos e doadores falaram, todos elogiaram o nosso trabalho e disseram que não somos nós que viemos carregar as nossas baterias aqui em Crown Hights, bairro no Brooklyn que serve como quartel general internacional do movimento Chabad, mas é Crown Hights que carrega a baterias com a nossa presença! Continuamos fazendo bagunça noite à dentro e fomos dormir às duas da manhã!

Hoje de manhã acordamos cedo para fazer a foto do grupo que participou da congresso. Éramos simplesmente cinco mil rabinos do mundo inteiro. Levou três horas para nos organizarmos.

Trouxeram um drone (pequeno elicoptero) para nos fotografar. Quando saímos, as crianças tomaram os nossos lugares para a foto e em pouco tempo estavam organizados. Aprendi uma coisa, ficar velho não quer dizer “crescer”, as crianças demostraram que cresceram muito mais do que nós, bagunceiros de 57 aninhos!

29 de Cheshvan 5776 – 11/011/2015

O congresso terminou com um lindo banquete.

Novamente fomos dormir bem tarde e acordamos bem cedo, abriram para nós a sala do Rebe, fomos aos túmulos para nos despedir e fazer os últimos pedidos, compramos as últimas coisinhas e fomos procurar um táxi.

Éramos , milhares de rabinos voltando para centenas de lugares, todos os táxis de New York correndo para Crown Hights, congestionamentos, atrasos, mas finalmente chegamos ao aeroporto.

Com cinco dólares dá para pegar um carrinho para levar as malas para dentro e esperar em uma fila kilométrica, ou com os mesmo cinco dólares (mas de caixinha) você faz um check-in na calçada da entrada do aeroporto e sai de lá com o cartão de embarque na mão dando um tchauzinho para a enorme fila do lado de dentro que não sabem que dá para fazer esse check-in lá fora.

Eu também não sabia , só agora descobri isso , depois de tantos anos viajando para o congresso. Cheguei ao portão de embarque, rezei lá Minchá e Arvit e subi no avião. Dessa vez a aeromoça veio para mim com toda a lista de quem encomendou comida Kasher e perguntou o nome de cada um.

Muitos brasileiros estavam voltando e conversando sobre um mesmo assunto, que agora uma viagem para a América é uma viagem de passeio mas não de compras. É que eles não compararam os preços da comida Kasher. Para nós judeus brasileiros uma viagem de qualquer motivo para a América é sempre um motivo para encher a mala de compra de supermercado!

Uma aluna, (Tzadeket diplomada), Kattya Varas Tapia ,trouxe a minha esposa e a minha filha para me receber no aeroporto. Quando saí, minha filha veio correndo para mim e senti a alegria de voltar para casa e se recebido tão calorosamente pela minha família e aluna depois de uma semana de estudos intensivos, trazendo para o Brasil uma grande bagagem espiritual para distribuir para todos o ano inteiro.

Entramos nos congestionamentos da cidade. Me lembrei de tudo que estudei, agradeci à Hashem por ter me dado esse mérito de poder trazer para vocês toda essa bagagem espiritual.

Um princípio da fé judaica é que o Mashia’h vai chegar e resolver todos os problemas de Israel e do mundo. Isso é a profecia de que não temos como resolver sozinhos esses problemas. O Rebe disse explicitamente que nós somos a geração que vai receber o Mashia’h.

Quanto mais esse momento se aproxima mais os problemas se tornam insolúveis e mais nos conscientizamos da necessidade imediata da Gueulá.

Os profetas disseram que quando Mashia’h chegar o mundo ficará repleto do conhecimento Divino, haverá muita fartura paz e tranquilidade. Daqui aprendemos que antes da Gueulá não haverá nem fartura, nem paz, nem tranquilidade com um “pequeno” acompanhamento de ignorância em relação ao conhecimento Divino.

No Brasil isso não é simplesmente uma fé na profecia, mas já vemos isso com nossos próprios olhos. Aqui essas profecias já desceram para o mundo da realidade, por isso o principal da nossa Shlichut é preparar o mundo para a Gueulá que já está para acontecer.

Muito obrigado à todos que acompanharam a minha viajem, que Hashem dê à todos vocês e à toda a sua família muito sucesso,muita saúde,muito dinheiro e felicidades judaicas de toda a família.

Rabino Gloiber Sempre correndo

Mas sempre rezando por você

A Sala do rebe

Os Tzadikim sempre estão pedindo por nós, não precisamos nos preocupar com mais nada!!!

 

   

 

   

Rezando no Minian do Rebe Em 770, ficou o antigo costume da sinagoga de abrir o caminho para o Rebe

Começaram os workshops do congresso, colocaram a gente em um lugar que não dá para escapar, vamos ficar aqui o dia inteiro…

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Diário do rabino 5783 – 2023

Esse ano não fui ao congresso por causa do Bar Mitzvá do meu neto Moshe que iria acontecer em New York no Rosh Hodesh Adar.

Viajamos para New York com aquele friozinho na barriga. Fomos de American Airlines, a empresa aérea americana oficial.

Os americanos representam o “primeiro mundo”, o extremo do desenvolvimento, mas desde o começo da viagem já começamos a sentir o “aperto” desse “desenvolvimento”. O aperto do “Galut Edom” , desse nosso exílio entre os “Bnei Essav”, os povos “desenvolvidos”

A cada dez anos tenho a oportunidade de fazer uma reflexão usando o gráfico dos últimos dez anos desse “desenvolvimento” e vendo se esse “desenvolvimento” está nos levando para um mundo melhor ou….

Em 2011 vim para New York com um avião da Colômbia. A equipe do avião era montada por pessoas muito meigas e atenciosas, e dava para ver que a maior preocupação delas era você. A preocupação de te dar a oportunidade de passar essas horas que você tem que passar dentro do avião da maneira mais agradável que eles poderiam te proporcionar.

Agora em 2023 vim para cá com a empresa aérea mais desenvolvida do país mais desenvolvido do mundo e constatei que:

A equipe do avião era montada por pessoas muito frias e prepotentes e dava para ver que a maior preocupação delas era a de mostrar para você que eles sabiam o que era permitido fazer dentro do avião e que você não sabia, e com certeza isso despertaria em você um grande temor e reverência por eles fazendo eles se sentirem pessoas realmente importantes.

As novas medidas do avião também demonstravam que a maior preocupação do mundo “desenvolvido” não era a de como você vai conseguir passar uma noite tentando dormir no avião, mas ao contrário, como eles vão conseguir ganhar mais dinheiro, independente do fato de que isso vai te trazer um aperto maior.

O espaço entre os bancos ficou menor, consequentemente o número de bancos no avião aumentou e a fila do toalete também!

Encontrei no avião um Rabino vizinho. Tanto a sinagoga dele quanto o lugar onde ele mora ficam a dois quarteirões da minha casa, e eu não sabia que ele iria viajar, e ainda no mesmo avião e para o mesmo lugar! Mais uma importante característica do “mundo desenvolvido”!

Perguntei a ele se ele queria “rachar” um táxi com a gente, e ele me deu uma superdica de alugar um carro, o que no nosso caso custaria bem menos do que o táxi. E ainda mais, alugando o carro pelo internet antes da viagem faria o preço ficar muito menor, e foi isso que ele fez.

Já não dava mais para alugar o carro antes da viagem, sendo que por causa do “desenvolvimento” só fiquei sabendo que ele iria viajar e me dar essa dica quando nos encontramos acidentalmente dentro do avião. Fomos tentar alugar um carro pelo menos para chegar ao túmulo da Rabanit e rezar lá bem forte por todos vocês!

E também rezar forte para que Hashem (D’us) nos traga imediatamente a Gueulá, nossa redenção final, e nos tire imediatamente desse “desenvolvimento”!

Chegamos em New York depois de uma noite bem apertadinha dentro das novas medidas dos aviões mais “desenvolvidos” com aquela equipe “simpática” daquelas pessoas tão “desenvolvidas”.

O avião aterrisou e todos bateram palmas! Essa era a prova de que quase todos os passageiros eram brasileiros!

Mas daqui a pouquinho teríamos que passar pela polícia federal americana, e se os americanos em geral já são um povo frio e mega prepotente, imagina alguém que fora isso ainda tem vocação policial!

Sempre que venho para o congresso rabínico internacional essa é a parte mais difícil. Me fazem perguntas sutis porque para eles eu sou suspeito de ter vindo morar definitivamente no “primeiro mundo”. Se eu erro uma resposta estou correndo o risco de ser deportado e nunca mais poder vir para o congresso.

Sempre que chego aqui mostro para eles o convite do congresso e consigo provar que tenho mais o que fazer na vida do que morar no “primeiro mundo”. Dessa vez estou chegando na América sem necessidade, sem congresso, e ainda com esposa e filha.

Mais do que isso para provar que queremos fazer uma imigração ilegal? Sim! Se eu dissesse para eles que meu genro e meu neto estão vindo para cá também e toda a família vai se reunir aqui em New York!

Chegamos à fila da imigração. Funcionários gritando estupidamente para todos os lados enquanto todos os que estavam a bordo do nosso avião estavam olhando entusiasmados para todos os lados da porta de entrada ao “primeiro mundo”!

Uma funcionária deu um grito na nossa direção e nos encaminhou para um dos guichês. Olhei para quem estava nele e não acreditei… Uma policial muçulmana religiosa de lenço na cabeça até embaixo do queixo, e no colete a prova de balas dela estava escrito um sobrenome árabe tradicional.

Agora estávamos perdidos de verdade! Chegando na América com esposa e filha e sem motivo, e teria que passar pelo interrogatório de uma policial muçulmana religiosa que sabia exatamente quem estava na frente dela, sendo que no computador aparecia que a minha profissão era Rabino e que eu sempre venho na mesma data para o congresso Rabínico internacional, data que não é a que estou aqui e agora!

Ela pediu nossos passaportes, digitou nossos nomes e me perguntou:- Are you a Rabbi? (você é um Rabino?). :- Sim, respondi à ela.

Ela olhou para mim com toda a reverência e disse:- Uau!

Depois ela perguntou onde vamos ficar e quanto dinheiro trouxemos. Demos à ela o endereço da Rabanit Esthy de Staten Island e disse à ela que trouxe comigo quinhentos dólares, mas que se precisar de mais ela não precisa se preocupar, estamos entre judeus! Ela deu um sorriso de ponta a ponta dizendo:- Bem vindos a América!

Ela tinha entendido perfeitamente o que eu quis dizer! Chegamos ao lugar mais materialista do mundo material! Ela também conhecia isso muito bem!

Depois que ela nos liberou, olhei para cima e disse:- Hashem, você só queria me mostrar novamente que é você que dirige o mundo! Mais uma vez!

Uma regra importante no judaísmo é a de que quando você vai fazer uma coisa boa, o “outro lado” tenta atrapalhar.

Ou seja, para aumentar nossos méritos lá em cima, os obstáculos ficam absurdamente maiores. Ficam tão grandes, proporcionalmente a coisa boa que você está tentando fazer.

Se isso não acontecer, começamos a suspeitar que se o outro lado não está tentando atrapalhar, pode ser que o motivo para isso é o de que o que estamos fazendo não é tão importante assim.

Nossos passaportes foram carimbados, e logo que fomos pegar as nossas malas cheias de requeijão e doces de leite que a minha esposa trouxe para a Rabanit Esthy, lá estava o cachorrinho da polícia federal cheirando as malas. E quando ele cheirava alguma coisa importante começava a latir e dificultar a vida daquela pessoa.

Assim também é o “cachorro espiritual”, o anjo do mal que recebe sua vitalidade do lado bom, mas “pelas costas”, como nos conta o Zohar por meio de um exemplo:

Um rei bom e piedoso contratou uma mulher “prostituta” para tentar seduzir o príncipe. Se o príncipe não se deixasse seduzir, o amor incondicional que o seu pai já tinha sobre ele aumentaria muito mais.

Ou seja, o motivo que o Rei contratou a prostituta foi para ela se tornar um obstáculo a ser ultrapassado pelo príncipe para aumentar os méritos dele com o seu pai.

Mas sendo que a”prostituta” foi contratada, ela precisa de um salário, e o Rei não quer olhar para aquela criatura tão ruim que já destruiu tantas famílias.

Então quando ela vem receber seu salário, o rei joga o dinheiro dela pelas costas e ela tem que se rebaixar e pegar esse dinheiro do chão sem poder ver a face do Rei.

O Zohar nos traz esse exemplo em relação ao “lado impuro que é chamado pelo Zohar de a “sitra áhara”, o “outro lado”.

Diferente das religiões do mundo que sempre tem desde o começo um deus do bem e um deus do mal eternamente lutando entre si, cada um com seu reino bem definido e limitado, determinando desde o começo que o número de deuses dessa religião é a partir de dois

Na nossa religião que é a original, que não foi deturpada pela fusão com a mitologia romana como no caso do cristianismo que tem deus e diabo lutando eternamente entre si fazendo com que desde o princípio ela já não seja um monoteísmo

No Judaísmo o lado ruim recebe sua vitalidade de Hashem. Uma cota mínima de vitalidade e em um aspecto de “pelas costas”, e isso somente pelo motivo de eles ter que ser um obstáculo na nossa vida para aumentar o nosso mérito lá em cima.

Ou seja, não só que o “outro lado” não tem vida própria mas recebe sua vitalidade “pelas costas”, como também essa vitalidade é repassada somente até a Gueulá, quando Hashem vai fazer desaparecer todo esse lado espiritual impuro da face da terra

Depois de pegarmos as malas descobri que, não só que o lado impuro ainda não desapareceu da face da terra, mas que também provavelmente o que estamos fazendo aqui deve ser muito muito importante porque ele está se esforçando demais para nós atrapalhar

Logo depois de pegarmos as malas nos lembramos da dica atrasada do rabino que encontrei no avião, que nos deu a dica de no lugar de pegarmos um Uber sairia mais barato alugar um carro por um dia.

Pegamos o Airtrain que é o trenzinho do aeroporto ao metrô. Estavamos carregando todas as malas, e uma das estações do Airtrain era o lugar onde alugavam os carros.

Nossa situação era de, depois de ter passado uma noite no aperto do banco do avião do “primeiro mundo”, chegarmos às lojas de aluguel de carro para passarmos mais alguns apertos…

No meu inglês muito travado, consegui perguntar à um guarda qual era a loja mais barata, e ele me deu à dica.

Entrando lá tivemos que esperar um tempão enquanto um único atendente atendia todas as outras pessoas.

O atendimento era devagar e perdemos muito tempo lá. Quando chegou a minha vez e disse que eu quero o carro mais barato por um dia ele me disse que iria custar 35 dólares.

O preço final estava 105. Achei que ele tinha errado mas ele me explicou que nos estados unidos o preço final é sempre mais do que o dobro do preço apresentado no início porque os impostos e taxas são acrescentados somente quando você “recebe a conta”.

Tentei pagar a vista e ele não aceitou. Disse à ele que precisaria usar o wi-fi da empresa para liberar essa quantia no cartão de crédito e ele disse que a empresa não libera o wi-fi aos seus clientes.

Perguntei por que um barzinho libera o wi-fi para atrair clientes para tomar um cafezinho, e uma empresa de aluguel de carros abre mão de 105 dólares para não deixar o cliente usar o wi-fi ?

E ainda mais, aqui é uma lojinha de aluguel de carros em um aeroporto internacional, e eles estão sabendo que seus clientes estão chegando de outros países e por causa disso não tem internet no telefone.

Como um bom americano ele me disse um seco “não” e perdeu o cliente por causa de uma besteirinha

Fui para o concorrente, para a loja ao lado da dele. Novamente esperei um tempão, novamente tudo era devagar, fora o preço que era maior. Novamente não aceitaram pagamento a vista, não deixaram usar o wi-fi para eu poder liberar o meu cartão de crédito para usar fora do Brasil, também me disseram secamente um grande “não”!

Fui para a terceira loja. Esperei um tempão, tudo era devagar, o preço era maior, não aceitaram pagamento a vista, não deixaram usar o wi-fi para eu poder liberar o meu cartão de crédito para usar fora do Brasil, me disseram um grande “não” e minha esposa e minha filha já estavam sofrendo.

Estava com dois cartões. Resolvi usá-los para ver se um milagre acontece. Meu cartão oficial não passou. O segundo cartão era de uma conta antiga que há tempos não usava mais.

Esse cartão já estava fora de uso fazia tempo e levei ele comigo só para não deixar em casa enquanto estamos viajando.

Tentei a primeira vez e a senha estava errada, a segunda veze e a senha estava errada. Perguntei para a minha esposa e ela não se lembrava da senha.

Por milagre me lembrei que tinha escrito a senha do cartão no contato da pessoa que tinha pedido para eu abrir essa conta para ajuda-la na época. O telefone dela já não estava mais lá, mas o nome dela e a senha estava lá. Milagre sobrenatural 🙏

Digitei a senha e o cartão foi autorizado pela empresa! Recebemos a chave, colocamos todas as malas no carro e nos lembramos de que sem o GPS não chegaríamos aos lugares que precisaríamos chegar.

Perguntei no escritório da agência e a mulher me disse que eu pedi o carro mais barato, e o carro mais barato não tem GPS.

Deixamos as malas no carro e pegamos novamente o Airtrain para o desembarque do aeroporto. Chegando lá encontramos uma máquina que vendia cartão de telefone público e chip de internet. Comprei o chip por vinte dólares e ele só durou aquele dia! Bem vindos ao primeiro mundo!

Finalmente depois de tantas horas perdidas conseguimos sair do aeroporto. Em primeiro lugar fomos ao cemitério, ao túmulo da Rabanit Haya Mushka, é o lugar que eu sempre faço os meus pedidos.

Da mesma maneira que o tribunal Divino ouve as delações feitas contra nós pelos anjos da “Sitra Áhara” , eles são obrigados a ouvir os pedidos que os Tzadikim pedem à nosso favor. Assim todo ano eu falo Tehilim para Hashem no túmulo da Rabanit Haya Mushka e peço para Hashem (D’us) que no mérito dessa Tzadeket ele me dê uns descontos maiores nos obstáculos. Ou seja, diminua a quantidade e intensidade dos obstáculos que temos que ultrapassar.

Lá eu rezo por todos os Amigos da ONG, vocês que são a minha comunidade. Entre os amigos da ONG coloco os nomes das minhas filhas, dos meus netos, o nome da minha esposa, dos meus genros, e o meu próprio nome. E assim faço a minha Tefilá sempre que venho aqui.

Mas por incrível que pareça chegamos lá sem saber que esse dia era o dia do Yhortzeit dela. O dia em que ela vem pessoalmente para esse mundo visitar seu túmulo e dar uma benção especial para todos os que estão lá.

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Chegamos ao cemitério Montefiore no bairro de Queens em New York. Lá se encontram os túmulos do Rebe anterior, Rabi Yossef Ytzhak de Lubavitch e sua filha Haya Mushka, esposa do nosso Rebe Menahem Mendel Schneerson

Minha filha e minha esposa foram rezar, e eu fui em primeiro lugar procurar o “toilette” sendo que nossos Sábios deixaram claro que não devemos rezar se precisamos nos desfazer dessas nossas “desnecessidades”.

Ou seja, não vamos “fazer as necessidades” mas vamos nos “desfazer das “desnecessidades”

Nossos Sábios na Guemará nos contam que sempre devemos rezar para encontrar o que necessitamos, e uma das sugestões que eles nos dão é para rezarmos para encontrar um banheiro na hora da necessidade.

Ou seja, na hora que for necessário se desfazer do que não é mais necessário 😉

Nunca entendi essa sugestão, e por isso esqueci de rezar para isso e sempre achei que estava rezando por coisas mais importantes, até ter passado a noite da viagem no avião do “primeiro mundo” que sempre leva centenas de pessoas mas que tem somente quatro banheiros a disposição.

É o suficiente uma mulher resolver se arrumar dentro do “toilette” para surgir uma fila na porta. É claro que em um lugar desses ninguém vai pensar em se desfazer das coisas que levam mais tempo para nos deixar…

Chegando no cemitério Montefiore descobrimos que por causa do Yhortzeit da Rabanit Haya Mushka e o final do congresso das esposas dos rabinos que vieram quase todas rezar no túmulo da Rabanit, todos os banheiros do local se tornaram banheiros femininos…

Me avisaram que os homens estavam rezando em um “Caravan” que tinha um banheiro dentro. Chegando lá vi que era dentro mesmo… Um micro toilette dentro de uma micro Sinagoga…Não tinha como fazer nada demorado lá!

Comecei a entender por que nossos Sábios pediram para rezar antecipadamente por esses assuntos….

Fui para o Mikve. Para entrar lá havia uma máquina que não dava troco e a taxa de entrada era três dólares. Consegui achar três dólares em um dos meus inúmeros bolsos sempre cheios de coisas que eu nunca uso….

Entrando no Mikve constatei que o faxineiro que era paraguaio e com certeza não entendia qual é o motivo de os judeus irem para o Mikve, transformou um dos banheiros em depósito.

Ou seja, fora uma sala que ele tinha para os materiais de limpeza, ele fechou um dos banheiros para depósito e sobrou só um que era tão pequeno que se você fizesse nele um número 2 não conseguiria respirar.

Voltei para a Sinagoga do Caravan….

Entendi que quando nossos Sábios dão uma sugestão, devemos colocá-la na prática imediatamente mesmo sem saber o motivo….

Depois de muitos sofrimentos consegui resolver o problema mas saí dessa história traumatizado….

Aprendi a lição, e agora comecei a incluir na minha reza do dia a dia essas coisas aparentemente tão pequenas que antes achava totalmente desnecessárias e achava que seria ridículo rezar por elas…

Moral da história:

Não peça nas suas rezas somente as coisas grandes pensando que as coisas pequenas você consegue resolver sozinho, peça pelas coisas pequenas também 🥰

Nossos Sábios nos contam que no Tehilim 32 versículo 6 está escrito que devemos rezar antecipadamente por coisas que podemos vir precisar.

Ou seja, rezar antecipadamente por coisas que na hora da necessidade não conseguiremos rezar por elas com tanta alegria como na na hora em que ainda não precisamos delas, e quando rezamos por desespero essa reza não tem o mesmo efeito que teria se tivéssemos rezado com alegria.

Dizem nossos Sábios que uma dessas coisas é encontrar um banheiro na hora que for necessário.

Geralmente imaginamos que devemos rezar pelos problemas grandes que não temos como resolvê-los, mas rezar por uma coisa tão pequena?

E aí é que se encontra o nosso erro de avaliação, as vezes nos achamos que uma coisa é insignificante até precisarmos dela realmente, e aí descobrimos o quão ela é importante!

Um banheiro no país mais desenvolvido do mundo é sempre um lugar pequenininho e sem janela, e você está arriscado a desmaiar por causa do cheiro que você não imaginava que possuia também.

Dizem nossos Sábios que as vezes uma pessoa sente atração por alguém que é proibido para ela, e que nessa hora essa pessoa deve meditar sobre o que aquele amor proibido tem dentro do intestino.

Não só que entendi esse assunto perfeitamente, mas também se tivesse me sobrado algum amor próprio teria desaparecido assim também!

E essa é a mentalidade do país altamente desenvolvido, eles tentam economizar ao máximo nas medidas e nas janelas do banheiro que você fica o dia inteiro com saudades do país menos desenvolvido mas mais humano!

Fomos do cemitério Montefiore para Staten Island onde fomos recebidos de braços abertos pela Rabanit Esthy e sua família.

Consegui recuperar o sono perdido mas tínhamos que devolver o carro alugado no aeroporto.

Diferente do Brasil que você pode devolver o carro em qualquer agência da empresa em que você alugou, aqui, se você alugou um carro no aeroporto você tem que voltar ao aeroporto para devolvê-lo a não ser que queira pagar uma taxa que não vale a pena para ninguém.

Tinha comprado um chip de internet por vinte dólares no aeroporto e comecei a apelidar tudo que não funciona, incluindo esse chip, “produtos do primeiro mundo”.

Ou seja, se alguma coisa custou muito caro e não serve para nada eu já estou chamando ele de “fruto do desenvolvimento”!

E assim tivemos que usar o internet da Rabanit Esthy para baixar um mapa de New York “OFF LINE” para chegar até o aeroporto, devolver o carro e pegar o metrô.

Vai aí a dica:

Se você vem para o primeiro mundo, baixe todos os mapas dele “off line” aí no terceiro mundo porque aqui no primeiro mundo você não vai conseguir baixar para a hora que você precisar. Mais uma coisa para rezar para a hora que você vai precisar, rezar para encontrar uma rede wifi aberta!

O aeroporto de New York é enorme, tínhamos que encher o tanque do carro antes de devolvê-lo e isso precisava ser outro do aeroporto. Encontramos um posto.

Aqui no país desenvolvido você é o próprio frentista que abastece o seu carro. Primeiro você tem que colocar o cartão de crédito na bomba de gasolina e depois começar a abastecer. Nosso cartão de crédito não funcionou na bomba de gasolina e eu fui procurar alguém para pagar a vista. Encontrei uma responsável pelo posto.

Começamos a “negociação”. Tentei convencê-la a vir ver o que estava acontecendo com o carro que aluguei, que não sei para quem eu tenho que pagar antecipadamente para encher o tanque dele. Ela conseguiu me convencer de que ela não vai fazer isso. Depois de muito tempo ela concordou em vir me ensinar como fazer?

Expliquei que a máquina não aceita o meu cartão. Ela concordou que eu pagasse cinquenta dólares, ela iria me ensinar como abastecer o carro sozinho e eu receberia o troco se não precisasse abastecer todos os cinquenta dólares.

Voltamos para o “escritório” dessa grande “autoridade”, paguei os cinquenta dólares e recebi um recibo, voltei para o carro e consegui colocar na prática minha nova profissão de frentista. Pelo menos economizaria a gorgeta que nesse caso eu poderia dar à mim próprio!

Consegui começar a abastecer o carro. Depois de onze dólares a máquina parou automaticamente. Voltei para o “escritório” da “autoridade” para receber os meus 39 dólares de troco.

Dei para ela um dólar para facilitar o troco e ela ficou comovida. Começou a falar comigo em espanhol e ficou com lágrimas nos olhos. Aqui isso não é usual, disse ela, alguém querendo ajudar alguém. Agora comecei a entender o conceito judaico de “um Tzadik em Sodoma”. Bem vindos ao mundo desenvolvido!

Devolvemos o carro no aeroporto, pegamos o Airtrain até o metrô estação Jamaica que é a fusão entre o Airtrain do aeroporto e o metrô.

Para entrar no metrô precisava pagar oito reais por pessoa. Qualquer metrô em qualquer lugar de New York custa $ 2,75 e você muda de trajeto quantas vezes quiser todo o tempo que ainda não saiu da estação, mas para entrar ou sair do Airtrain para o metrô o preço sobe para $ 8,00.

Um funcionário do metrô estava explicando como comprar e carregar o bilhete na máquina, sendo que o guichê não vende e nem carrega bilhetes, e também não troca o dinheiro para você. Se você chegou lá com $100,00 vai precisar da ajuda dos outros passageiros para trocar o dinheiro.

Coloquei vinte dólares na máquina e o funcionário me disse que isso não era o suficiente para três pessoas. Pedi para ele me trocar $100,00 e ele me respondeu que essa não era sua função, mas a função dele era somente a de explicar, incluindo a explicação de que a função dele é somente a de dar explicações e não a de trocar dinheiro!

Então, sendo que a função dele era somente a de explicar, pedi para ele me explicar como eu entro no metrô com a minha esposa e a nossa filha, com um bilhete de vinte dólares, sendo que para entrar do Airtrain para o metrô iria custar oito dólares por pessoa!

Ele não conseguiu explicar, mas abriu o portãozinho para a Rifki passar de graça. Agradeci do fundo do coração, e disse à ele que uma boa ação tem muito mais valor do que uma boa explicação.

Ele deu um sorriso de ponta a ponta e se espantou com o próprio sorriso, sendo que aqui no “primeiro mundo” dar um sorriso não é uma coisa usual.

Pegamos o metrô até o Crown Heights que é o bairro onde se encontra o 770 Eastern Parkway que é a Sinagoga do Rebe de Lubavitch.

Eu entrei na Sinagoga pelo lado dos homens, que nessa Sinagoga fica no lado de baixo, e minha esposa e minha filha entraram pelo lado de cima que é o lado das mulheres.

As Sinagogas da Europa sempre foram construídas assim, as mulheres em cima e os homens em baixo, mas nunca ninguém reclamou de discriminação. Ao contrário, conhecemos bem o nosso lugar, e se nos colocássemos lá em cima estaríamos um pouco deslocados.

E quando digo que conhecemos bem o nosso lugar, estamos nos referindo à toda a estrutura da parte de baixo da Sinagoga incluindo os equipamentos de chá e café, e o principal: uma plataforma cheia de bolos, biscoitos, e etc.

Uma plataforma onde muitas confeitarias do bairro fazem suas doações de produtos que estão no último minuto do prazo de validade, mas se você atrasa um minuto para pegar uma tortinha dessas já não sobrou mais nada.

Então, entrando no 770, na Sinagoga do Rebe, fui direto para o cafezinho, e também biscoitinho, tortinhas, etc, etc. Depois para o Mikve do outro lado da rua, e saindo do Mikve fui de volta para o cafezinho, biscoitinho, e finalmente para a Tefilá (a reza).

Sorte que colocaram as mulheres no lado de cima onde dá para entrar e rezar direto sem todas essas preocupações de cafezinho, biscoitinho, Mikve, mais um cafezinho, mais um biscoitinho…

Por isso dizem que as mulheres estão bem mais próximas de Hashem (D’us) do que os homens. Tanto pelo fato de a parte das mulheres na Sinagoga ser a parte de cima, quanto pelo fato de elas terem um acesso direto ao nosso Criador, sem terem que passar antes por cafezinho, cházinho, biscoitinhos, Mikve, cafezinho, etc, etc, etc…

Depois da reza levei minha esposa e minha filha para o café da manhã em uma lanchonete em frente a Sinagoga do Rebe, e depois disso fomos comprar adaptadores para que nossos carregadores de celular brasileiros pudessem entrar nas tomadas americanas.

Passeamos por esse bairro tão lindo e interminável. Precisávamos de um chip americano sendo que aquele que comprei no aeroporto não funcionou. Também precisava alugar um carro para receber meu genro e meu neto no aeroporto no outro dia.

Em frente a Sinagoga haviam muitos camelôs judeus religiosos vendendo artigos judaicos. Eram jovens israelenses que faziam um dinheirinho para sobreviver na América.

Perguntei a dois deles se eles conhecem algum judeu no bairro que possa nos alugar um carro e eles nos deram três contatos. Perguntei se alguém no bairro poderia vender para nós um chip americano e eles nos indicaram uma loja naquela mesma rua, Kingston Avenue.

Eles não sabiam exatamente o número da loja, mas me disseram que o sinal para encontrar essa loja é só olhar para dentro das lojas. A loja que tiver a aparência de ter sobrevivido um furacão naquele dia é aquela.

Atravessamos a rua e começamos a olhar para dentro das lojas. De repente vimos uma loja que por fora parecia quase uma loja normal, mas por dentro parecia ter passado pelos terremotos da Turquia e da Síria. Havia um judeu religioso sentado atrás de um balcão que servia como caixa.

Esperamos um tempão até ele nos atender. Explicamos que queríamos um número americano, e sendo que venho todo ano para o congresso Rabínico internacional gostaria de manter o número.

Ele começou a discutir e disse que ele me vende o chip americano agora, mas quando eu voltar para a América ele me vende outro.

Disse à ele que quero manter o número, e ele me respondeu com muita seriedade que eu não devo manter o meu número, mas todo ano devo comprar um número novo e usar para os dez dias que vou passar aqui.

Disse à ele que entendi que é mais barato fazer como ele está me recomendando, mas quero optar por ter o mesmo número o ano inteiro. Ele respondeu com uma voz muito autoritária que eu estava cometendo um erro.

Minha esposa pediu para sairmos da loja porque o volume da conversa já estava aumentando. Disse à ele que fiquei muito feliz em conhecê-lo e saímos rapidamente daquela loja.

Levamos a Rifki para comer um sushi. O dono era um judeu religioso e os funcionários chineses. Usamos o Wi-Fi da loja para tudo o que precisávamos fazer.

Minha esposa mandou um WhatsApp para a irmã do nosso querido Haim Aben Atar que foi meu aluno no Brasil quando tinha seis aninhos de idade, e ela disse que ele ainda morava aqui em New York e ainda vendia Chips de celular.

Ligamos para o nosso querido Haim, e ele pediu para nós nos encontrarmos com ele às sete da noite. Perguntei a ele sobre aqueles três contatos de carro para alugar e ele me recomendou um dos três.

Mandei um WhatsApp em hebraico para aquele contato, e a mulher que respondeu também em hebraico disse que eu preciso mandar para ela o pedido pelo telegram. Mandei um telegram para aquele mesmo número e ela me compartilhou um link no telegram para preencher o formulário para alugar o carro.

Às sete da noite chegamos até o final do bairro, lá mora nosso querido Haim, bem pertinho do único supermercado kasher que tem estacionamento na região.

Um lugar que conheço há 20 anos e que naquela época era um verdadeiro faroeste, agora valorizou. Se esse lugar se tornou um lugar normal, comecei a sentir esperança de que a Cracolândia, que é o apelido do bairro que fica ao lado do nosso em S.P., poderá um dia também deixar de ser um faroeste.

Haim nos atendeu na sacada do prédio, já ficou americano. Em poucos minutos ele vendeu para nós os dois Chips americanos, instalou no nosso telefone e me fez um número americano que se chama Google voice, um app do Google play americano. Vou ficar com esse número para sempre, mas por causa disso meu aparelho virou um telefone americano….

Depois disso comecei a sentir um frio no bolso. Coloquei a mão para ver o que era, e era exatamente o que eu tinha imaginado! Meu telefone ficou americano….

No supermercado já tive que usar o telefone direto como calculadora por causa da diferença entre o real e o dólar. Agora ele já tinha se tornado totalmente americano, frio e calculista!

O lado bom da coisa ruim é que agora todos vocês podem me ligar: +1(718)3365050

Consegui fechar o aluguel do carro. Recebi uma mensagem pelo telegram indicando o endereço onde se encontra o carro, algumas ruas de onde estávamos, fomos para lá. Na mensagem estava um link para desbloquear o carro.

Encontramos o carro estacionado na calçada em frente ao número da casa que aparecia na mensagem, clicamos no link de desbloqueio que aparecia na mensagem e o carro se abriu.

Na mensagem também constava que a chave estava na portinha do tanque de gasolina. Abri a portinha por meio de uma alavanca interna, e lá estava a chave, tudo muito misterioso e totalmente automático. Mas bem na hora certa, porque minha filha já estava dormindo em pé, e foi só entrar no carro para ela adormecer totalmente.

No outro dia fomos pegar meu genro e meu neto no aeroporto. Na pressa não prestei a atenção à um detalhe importante, por onde eles iriam sair? O aeroporto J.F.K. de New York é enorme, com muitos terminais de desembarque e tudo muito confuso.

Olhei rapidamente na foto da passagem que o meu genro me mandou e vi o terminal que ele iria embarcar em Israel, e que ele iria desembarcar no terminal 3, procurei o terminal 3 e ele não existia. Do terminal 2 pulava para o 4 e chegava até o 8. Ou seja, sete terminais de desembarque diferentes pulando o número 3.

Tinha visto na passagem do meu genro que eles iriam desembarcar no terminal 3, ficamos rodando quase uma hora procurando esse bendito terminal 3, mas ele simplesmente não existia.

No final estacionamos no terminal 8 e pegamos o Airtrain, vi que também no Airtrain não aparecia terminal 3, mas no final descobri que tudo isso era uma. Divina Providência sobrenatural. Mostrei para uma funcionária do aeroporto a passagem do meu genro e ela viu que o desembarque no terminal 3 era na escala que o avião dele fez em londres, mas depois o avião chegaria no terminal 4 em New York.

Olhei para cima e disse:- Hashem (D’us), você sempre fica brincando comigo. Imagina se tivesse terminal 3 em New York, eu não teria perguntado e estaria esperando no terminal errado! Meu genro e meu neto chegariam, teriam que pegar um táxi, e tudo isso terminaria em um grande prejuízo. Mas Você fez um milagre sobrenatural de não ter terminal 3 em New York, e assim tudo deu certo!

Mais uma vez Hashem me mostrando que nós somos a criança pequena segurando o volante do carro junto com o pai e achando que estamos dirigindo!

Chegamos no terminal 4, o avião já tinha aterrizado quinze minutos antes de chegarmos. O friozinho na barriga era intenso, eu perguntava para cada judeu religioso que saía do portão interno do terminal, se ele estava naquele avião.

Assim se passaram algumas horas. Fui perguntar várias vezes o que está acontecendo, mas no balcão de informações sempre diziam que a fila na imigração está congestionada e o guarda da porta de desembarque sempre me gritava que todos iriam sair por ali. Bem vindos ao “primeiro mundo”!

Finalmente eles saíram do portão do desembarque! Curti para eles, nos abraçamos, chorei, fiquei com medo de passar mal! Mas me lembrei de quanto esse aeroporto é confuso e que ainda teria que sair dele, e assim consegui me acalmar.

Mesmo sendo o cemitério judaico próximo ao aeroporto, já estava tarde e levei eles para o Crown Heights, o bairro do Rebe. Fomos para uma Pizzaria no bairro, e logo que pegamos a nossa pizza a pizzaria ficou cheia de brasileiros.

Uma família inteira que veio para o casamento do filho, outra família que nem tive tempo de perguntar o que eles estavam fazendo lá, e assim em poucos minutos só se ouvia na pizzaria gente falando em português.

Os funcionários eram todos latinos e o ambiente na pizzaria ficou muito alegre, nem parecia que estávamos no “primeiro mundo”.

Mandei uma mensagem para o misterioso dono do carro que aluguei e pedi para ele me alugar o carro por mais um dia, sendo que não tivemos tempo de ir rezar nos túmulos dos Tzadikim, ele concordou. Perguntei a ele como eu faço para pagar, e ele me escreveu que no dia seguinte ele iria me indicar exatamente como fazer isso!

Continua…..

7 Comments

  • Posted junho 24, 2013 11:29 pm
    by
    bete

    muito legal.

    • Posted junho 25, 2013 8:18 am
      by
      ongtora

      Shalom !!!
      Muito obrigado pelo seu comentário. Eu fiz o “Diário do Rabino ” este ano também mas sem querer apagou do iPad , vou tentar reescrevê-lo já que você gostou. Gostaria de saber mais sobre você e a sua trajetória no Judaísmo .
      Atenciosamente , Rabino Gloiber

      • Posted fevereiro 18, 2016 12:20 pm
        by
        Paulo B.

        SHALOM,
        Muito bom RABINO
        Minha irmã me recomendou e resolvi dar uma lida.
        Descobri que além do seu poder cabalistico da invisibilidade, Hashem lhe premiou com o dom da escrita e do bom humor.
        B’H

  • Posted julho 25, 2013 11:02 pm
    by
    Andreia

    Rav suas histórias são incríveis e muito bessimchá 😀 abraços Andreia!

  • Posted novembro 29, 2015 9:40 pm
    by
    Jaque

    Saudades do diário do Rabino.

  • Posted janeiro 23, 2017 10:32 am
    by
    Guilherme Henrique

    B”H.
    Muito bom.

  • Posted julho 18, 2017 2:17 pm
    by
    Néia

    B”H
    Amei esse Diário do Rabino, é tão detalhado e cheio de sentimentos que literalmente conseguimos ver cada cena…..
    Nos emociona, nos faz rir, nos faz pensar, nos faz aprender!
    Muito Bom!!!!

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