Sucot nas Sefirót

No calendário Judaico existem somente duas festas que são comemoradas durante uma semana inteira

As duas estão comemorando o mesmo acontecimento, mas dando ênfase a aspectos diferentes desse acontecimento.

As duas estão comemorando a mesma coisa mas em datas extremamente diferentes.

Essas festas são a festa de Sucot e a festa de Pessa’h que estão comemorando a saída do Egito, uma no começo do inverno e a outra no começo do verão.

A diferença entre elas é que em Pessa’h o Mandamento Divino é comer a Matzá, e quando você come a Matzá ela entra dentro de você.

O contrário disso acontece em Sucot, que é quando você entra no Mandamento Divino, ou seja, na Sucá.

Pessa’h é, portanto, a retificação de nosso espaço interior, enquanto que Sucot é a retificação de nosso espaço exterior.

Enquanto estamos na Sucá, ela nos rodeia por todos os seis lados representando as seis Sefirot do “Zeir Anpin”, a formação de Sefirót chamada de “pequena face” que são a Hessed, a Guevurá, a Tiferet, a Netza’h, a Hod e a Yessod

Nossa presença dentro da Sucá representa a Nukva que é a Mal’hut.

Essas sete Sefirót estão diretamente ligadas ao nosso comportamento independente do nosso intelecto.

Ou seja, nosso patriarca Avraham era o cúmulo da Hessed, da generosidade, enquanto seu filho, Itzhak, era o cúmulo da Guevurá, da rigidez, mesmo que no aspecto intelectual eles eram iguais.

Os sete dias nos quais moramos na Sucá são associados à ideia de aperfeiçoar o mundo, nosso espaço exterior.

Isto também se expressa por meio de 70 Korbanot que eram oferecidas no Templo de Jerusalém durante a festa de Sucot para levar bênçãos às 70 nações do mundo, 70 bois.

A retificação de nosso espaço exterior que ocorre ao longo da semana de Sucot acontece também por meio de mover as quatro espécies de plantas que são o Lulav que é a folha da tamareira, o Hadás, o Aravá, e o Etrog que é a cidra.

Fazemos uma Brahá sobre o Lulav e depois disso movemos esses Arbaat HaMinim três vezes para cada uma das seis direções do nosso universo físico.

Essas seis direções para onde movemos os Arbaat HaMinim são nosso Zeir Anpin, os seis lados do nosso espaço exterior

A posição onde nos encontramos e nela nos posicionamos é a nossa Mal’hut, nosso espaço interior.

O motivo de movermos os Arbaat HaMinim para os seis lados é para sincronizar as seis Sefirot do Ze’ir Anpin com a Mal’hut, trazendo a abundância de cima para baixo e materializando ela por meio da Mal’hut.

Essa materialização da fartura e abundância que as seis Sefirót do Zeir Anpin repassam para a Mal’hut e ela repassa para nós é comparada à uma mãe que depois de comer coisas que o nenê não teria como comer e em uma quantidade que ele não teria como suportar, ela transforma tudo em leitinho e dá de mamar para o nenê.

Ela consegue baixar para o nível do nenê toda aquela fartura que ele não teria como usufruir a não ser por meio dessa transformação feita pela mãe.

Sendo que nosso mundo é o mundo da ação e para que a fartura e abundância de cima desça para cá precisamos fazer uma ação e essa ação precisa ter uma ligação com o que queremos trazer de cima.

Vimos um exemplo disso nas dez pragas no Egito. Hashem (D’us) pediu para Moshe dar uma cajadada no rio Nilo. A cajadada é uma expressão de castigo e Moshe Rabeinu recusou dar essa cajadada para não expressar ingratidão castigando o rio Nilo que salvou sua vida. Hashem poderia então ter dito que o rio Nilo vai se transformar em sangue sem cajadada, sem ação material.

Mas não, Hashem pediu para Moshe pedir para Aharon para ele dar a cajadada. Ou seja, tem que haver uma ação no nosso mundo da ação para trazermos para cá o que precisamos de lá.

Por isso, diz o Ari Zal, devemos mover os Arbaat HaMinim na seguinte ordem:

Nos posicionamos para o lado oriente. Por meio do nosso posicionamento nos sincronizamos com a Sefirá chamada de Mal’hut.

Vamos mover os Arbaat HaMinim três vezes para cada lado. Essas três vezes estão sincronizadas com as primeiras três Sefirót que são as raízes. Essas Sefirót são chamadas se Sefirót intelectuais e são a Ho’hmá, a Biná e a Daat

1- Movemos os Arbaat HaMinim três vezes para o lado da Hessed, que no nosso corpo é representada pelo lado direito e no mapa é representada pelo lado sul

2- Depois disso movemos os Arbaat HaMinim três vezes para o lado da Guevurá, que no nosso corpo é representada pelo lado esquerdo e no mapa é representada pelo lado Norte

3 – Depois movemos os Arbaat HaMinim três veze para o lado da Tiferet que é representado pelo centro do nosso corpo e no mapa é representada pelo lado Leste que é o lado oriente.

E sendo que desde o começo já estávamos posicionados na direção Leste, movemos os Arbaat HaMinim para frente

4- Depois movemos os Arbaat HaMinim três vezes para o lado da Netza’h representado pelo lado de cima.

5 – Depois movemos os Arbaat HaMinim três vezes para o lado Hod representado pelo lado de baixo, mas sem virar o Lulav de cabeça para baixo

6 – No último movimento movemos os Arbaat HaMinim três vezes para o lado Yessod representado pelo lado oeste. Sendo que estamos posicionados para o lado oriente que é o lado Leste, então não nos movemos para trás, continuamos direcionados para o lado oriente mas viramos o Lulav para trás

O tempo todo ficamos posicionados para o lado oriente e só movemos os Arbaat HaMinim para todos os lados mas não nos viramos junto com eles

O fato de ficarmos parados posicionados para o oriente é a nossa sincronização com a Mal’hut

Sete convidados místicos em todas as Sucot

O Zohar nos conta que em cada um dos dias da festa de Sucot recebemos um convidado especial do mundo superior. Esses convidados especiais são chamados de Uzhpizin que em aramaico quer dizer hóspedes

O Rebe nos ensinou que todos os Ushpizin vêm todos os dias à nossa Sucá, porém há sempre o convidado especial do dia e um Rebe do mundo superior que o acompanha.

Os Uzhpizin do primeiro dia são Avraham Avinu e o Baal Shem Tov

O tema mais destacado, tanto em Avraham Avinu quanto no Baal Shem Tov, é guemilut chassadim – bondade.

Todos sabemos o quanto Avraham tinha a casa aberta a todos.

Há também muitas histórias sobre o Baal Shem Tov, mostrando o quanto ele se preocupava com cada pessoa, tanto material como espiritualmente.

Os Uzhpizin do segundo dia são Yitzhak Avinu e o Maguid de Mezrich

Yitzhak nunca saiu de Israel; o Maguid, durante sua liderança, não deixou Mezeritch (as pessoas iam até ele).

Os dois conseguiram, neste mundo, no próprio local onde estavam, revelar algo acima do mundo.

Este é um trabalho feito de forma milagrosa, acima da natureza, e junto com isso eleva a forma natural do mundo.

É como a alegria que rompe as barreiras da natureza, e consegue trazer D’us a este mundo.

Os Uzhpizin do terceiro dia são Yaakov Avinu e Alter Rebe

Há uma ligação muito forte entre eles, a Torá. Após Avraham, bondade; Yitzhak, serviço a Hashem.

Quando chega Yaakov, o assunto é Torá. “Yaakov… Yoshev Ohalim” – senta nas tendas (estuda Torá).

O nome do Admor Hazaken é Shneior Zalman.

Shneior – duas luzes, luz da parte revelada da Torá e luz da Hassidut (Torá escrita e Torá oral) como é conhecido o autor do Shul’han Aru’h e do Tanya.

Ele traz no seu segundo nome Zalman, que tem as mesmas letras de lazman – tempo, trazendo a Torá para o tempo e espaço do mundo.

Os Uzhpizin do quarto dia são Moshe Rabeinu e o Miteler Rebe

Moshê Rabeinu trouxe a Torá completa para os yehudim. Assim também, o Admor Haemtzaí revelou a Torá da Hassidut em abundância, de forma que trouxe a compleição da Torá Hahassidut.

Há também diferenças entre eles:

Consta no Talmud que Moshê era um homem rico. Já o Admor Haemtzaí viveu numa época muito pobre.

Está escrito no Pirkêi Avot – Ética dos Pais – “Hamekayem Et Hatora meoni, Sofo Lekayem Meosher” – aquele que cumpre a Torá na pobreza acabará cumprindo a mesma com riqueza.

Os Uzhpizin do quinto dia são Aharon HaCohen e o Tzema’h Tzedek

A peculiaridade do Tzema’h Tzedek em comparação aos Rebeim que o antecedem é a aproximação e a união entre todos os movimentos judaicos, principalmente nos grandes do povo de Israel, fazendo com que eles se comportassem na prática em forma de união.

O Aharon Hacohen é conhecido como “Ohev Shalom, Verodef Shalom, ohev et habriot umerarvan latorá” – “Ama a paz, persegue a paz, ama as criaturas e as aproxima da Torá.”

Os Uzhpizin do sexto dia são Yossef HaTsadik e o Rebe Maharash

O Rebe Maharash é famoso pelo seu lema “Le’hat’hila Ariber” – “De princípio por cima”.

O mundo diz que quando há um obstáculo, a pessoa tenta passar por baixo, porém eu digo, assim disse o Rebe Maharash, desde o princípio, vá por cima.

Um judeu precisa saber que antes de mais nada o mundo, a Torá tem uma ordem, mas a Hassidut nos mostra que está acima do sistema, acima da ordem, e começamos por aí.

Assim é Yossef, cujo nome tem o significado de hossafá – aumento. Não estamos falando da forma natural; seu nome já indica acréscimo. No nascimento, sua mãe já estava pedindo outro filho.

Os Uzhpizin do sétimo dia são David HaMele’h e o Rebe Rashab

O ponto de ligação entre os dois visitantes deste dia é shalom – paz. O primeiro nome do Rebe Rashab é Shalom.

David HaMele’h no início de seu reinado passou por guerras, porém depois houve momentos de paz. Foi David HaMele’h que trouxe a tranquilidade dos dias de Shlomo HaMele’h.

Os Uzhpizin do oitavo dia são Shlomo HaMele’h e o Rebe Rayats

A conexão entre eles é que Shlomo HaMele’h trabalhou em três frentes:

Construiu o Bet Hamikdash.

Trouxe paz para todo o povo.

Refinou o mundo, pois o mundo inteiro vinha ouvir sua sabedoria.

O Rebe Anterior também trabalhou em três frentes:

Fixou o estudo da Hassidut entre os hassidim (Foi o primeiro diretor da Yeshivá Tomchei Temimim).

Esforçou-se para que a hassidut fosse traduzida em todos idiomas.

Enviou shluchim (emissários) para o mundo inteiro, com o propósito de divulgar a Hassidut.

Não se pode celebrar uma ocasião sozinho, seja um aniversário seja um casamento. Celebramos rodeados de outras pessoas. Por essa razão é costume receber, com alegria, convidados à nossa Sucá. A celebração da festividade, cujo nome é “Época da nossa alegria”, requer que compartilhemos essa alegria com outros.

Nos sete dias de Sucot, além de convidar amigos para nossa Sucá e, assim, celebrar refeições festivas em boa companhia, temos o costume, segundo a tradição Cabalista, de também receber sete convidados místicos, os – “os Sete Pastores” – que personificam as sete Sefirot da emoção. E eles são Avraham, Itzhak, Yaacov, Moshé, Aharon, Yossef e David.

O Zohar, obra central da Cabalá, diz: “Quando um homem senta na Sucá na sombra da fé, a She’hiná (a Presença Divina) abre suas asas sobre ele – e Avraham e cinco homens justos, sendo David um deles, estabelecem sua morada a seu lado. O homem deve alegrar-se cada dia da festa acompanhado desses homens que lhe fazem companhia”. (Zohar, Emor 103a).

Esses convidados elevados vêm alimentar-nos de espiritualidade, cada um deles compartilhando a qualidade que lhe é única. De nosso lado, não há hospitalidade maior do que lhes possamos oferecer do que tomá-los como exemplo.

A festa de Sucot é a “época da nossa alegria”, pois nós, seres humanos, não costumamos celebrar sozinhos. D’us também se junta à celebração e Se regozija conosco, Suas criaturas. Como escreveu o Rabi Shneur Zalman de Liadi, o Baal HaTanya: “Sucot é chamada de ‘época de nosso júbilo’ – o júbilo de D’us com Israel e o júbilo de Israel com D’us. Ambas as situações se fundem em uma única celebração harmoniosa dos Céus com a Terra”.

E essa alegria nos une a D’us e a outros seres. E, como, na verdade, a alegria não pode ser celebrada quando estamos sós, somos obrigados a convidar amigos – terrestres e celestiais – para conosco habitar na Sucá.

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Aperfeiçoando nossas sete Sefirot emocionais

Os Mandamentos Divinos de Sucot estão associados às sete Sefirot emocionais. Como isso se aplica ao nosso dia a dia.

A festa de Sucot se inicia apenas duas semanas após Rosh Hashaná, o Ano Novo judaico. A Cabalá de Sucot nos ensina que se queremos ter um ano positivo, produtivo e pleno precisamos nos empenhar para aperfeiçoar nossas sete Sefirot emocionais.

Como já vimos, estas não são nem boas nem ruins. Dependendo de como são utilizadas, podem servir a propósitos positivos e sagrados, ou negativos e profanos.

Os sete Ushpitzin visitam nossa Sucá para nos dar o poder de usar positivamente a respectiva Sefirá que cada um deles personifica.

A Hessed pode ser o maior de todos os atributos quando nos leva a sermos mais amorosos e generosos, nos forçando a dar de nós mesmos, a contribuir para o mundo e a ajudar àqueles que estão necessitados, a servir a D’us com amor e entusiasmo, a amar ao próximo como a si mesmo e aproximar os corações.

Mas infelizmente esta Sefirá também pode ser utilizada de maneira destrutiva como no caso de Ishmael que era a Hessed do lado impuro como acontece hoje em relação ao Irã que são os descendentes de Ishmael e distribuem gratuitamente armamentos para todos os nossos inimigos.

A Hessed pode até ser mal utilizada no relacionamento da pessoa com D’us. A atitude de quem diz “Amo D’us e D’us tem que me amar em troca e, portanto, posso fazer o que quiser e D’us me entenderá” é uma expressão da Hessed do lado impuro

A Sefirá de Guevurá é essencial à vida: é o que nos dá um sentido de auto-preservação. Por exemplo, é Guevurá, a emoção do comedimento e medo, o que nos impede de colocar a mão no fogo. É também Guevurá o que nos permite agir de maneira mais centrada, organizada e disciplinada.

Mas Guevurá também pode ser empregada de maneira destrutiva se manifestando através de atos de egoísmo, hostilidade e violência, como no caso do pai que não ajuda seus filhos porque acredita que “eles têm que aprender a cuidar de si próprios”.

A Sefirá chamada de Tiferet é beleza, harmonia e paz, ela leva os pais a educarem seus filhos com equilíbrio, sem faltar com respeito em relação à eles. Tiferet é compaixão: significa agir de forma equilibrada e fazer o que for melhor para o outro.

Mas a Tiferet também pode ser usada de forma errada se tornando compaixão com a maldade tentando entendê-la ou tolerando o mal e permitindo que seja disseminado

A quarta Sefirá, Netza’h, é um ingrediente imprescindível para o sucesso. É o que nos impele a realizar algo com nossa vida. Para concretizar nossas intenções, precisamos ter ambição e força de vontade. “Uma vontade férrea não garante o sucesso, mas a falta dela garante o fracasso”.

Para ter sucesso em nossas empreitadas, precisamos empregar Netza’h para vencer os obstáculos e qualquer oposição que possa surgir.

Mas a Netza’h também pode ser a Netza’h do lado impuro quando ela leva a pessoa a usar qualquer meio para justificar seus fins, pisando nos outros e não tendo por eles qualquer consideração

A quinta Sefirá, a Hod, está ligada ao reconhecimento de que tudo o que fazemos é somente porque Hashem nos deu a energia para fazer isso, e não pelo nosso próprio esforço, e esse pensamento nos traz humildade.

Assim como Netza’h, ela é um instrumento necessário para o sucesso tanto para as relações profissionais quanto pessoais. Para ter condições de trabalhar em equipe precisamos despertar a Hid dentro de nós.

O lado impuro da Hod é quando a pessoa começa a pensar “Quem sou eu para cumprir os Mandamentos Divinos” “Quem sou eu para que Hashem (D’us) se relacione aos meus pedidos”.

A sexta Sefirá, a Yessod. A Yessod está ligada ao carisma que cada um de nós possui, e quando desenvolvemos essa Sefirá que se encontra dentro de nós e
é ligada ao nosso relacionamento tanto com Hashem quanto com as pessoas à nossa volta, marido e mulher vivem em harmonia e os membros da família se unem.

A Yessod do lado impuro é quando a pessoa usa seu carisma e charme para enganar, manipular os outros e constituir relacionamentos proibidos.

A sétima Sefirá, Mal’hut, Realeza, é uma Sefirá que não tem nada de exclusivamente seu e é uma qualidade geralmente encontrada em grandes líderes. A Guemará nos conta que um líder é um servo de seus liderados, ou seja, não vive para si próprio mas vive para eles. Essa é a definição de um rei verdadeiro e justo, tudo o que ele possui pertence ao seu povo e deve ser usado em benefício deles. O Rei David simboliza esta Sefirá por ter escrito os Tehilim, que são palavras sagradas e que transmitem fé, força e conforto a quem os lê.

O Mal’hut do lado impuro se expressa quando os líderes se tornam corruptos e egoístas, interessados em promover a si próprios, adquirindo poder e riqueza e usando sua posição de liderança apenas em benefício próprio.

Mal’hut é também relacionada à capacidade de comunicação. O lado negativo de Mal’hut se manifesta por meio de comunicadores que empregam suas habilidades de oratória em propósitos egoístas, manipulativos e maldosos.

A Torá nos ensina que D’us criou o Universo através da fala, e isso sinaliza que também nós, que fomos criados à Sua “imagem”, temos, através de nossas palavras, o poder de modelar o mundo

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Interessar-se por toda a Humanidade

Durante a festa de Sucot, leem-se na sinagoga várias passagens dos escritos dos Profetas. Tais passagens, em especial as profecias de Ze’hariah e Ezequiel, falam-nos da transformação do mundo e seus povos, que ocorrerão no Final dos Tempos.

O mundo terá que passar por um Dia de Julgamento perante D’us. E, por fim, Ele Se revelará em toda a Sua majestade. E quando isso ocorrer, todos os povos do mundo reconhecerão Sua suprema soberania, e irão a Jerusalém, em peregrinação, para O reverenciar. Como está escrito: “Então, cada uma das nações, dentre as que invadiram Jerusalém, que sobreviver, subirá cada ano para adorar o Rei, o Eterno dos Exércitos, e celebrar a festa de Sucot” (Zechariah, 14:17). Assim, pois, Sucot, símbolo da proteção Divina sobre Israel, será especialmente reconhecido pelos povos do mundo, e eles serão recompensados por isso.

As celebrações de Sucot sempre tiveram um efeito profundo sobre todos os povos. As 70 oferendas levadas ao Templo Sagrado de Jerusalém durante essa festividade correspondiam e serviam de proteção aos 70 povos que descendiam dos filhos de Noé (que, aliás, constituem os povos atuais do mundo). O Povo de Israel levava aqueles sacrifícios como expiação por todos os demais povos, orando por seu bem-estar, bem como pela paz universal e harmonia entre toda a humanidade.

Hoje em dia, tais oferendas são recriadas por meio de nossas orações. Nossa alegria e os serviços religiosos ao longo da semana de Sucot continuam a ter, como em tempos antigos, um impacto cósmico no destino do mundo. Vemos, pois, que a Torá não se preocupa e protege apenas os judeus. A celebração de Sucot visa a atrair as bênçãos e a paz Divinas não apenas sobre o Povo Judeu, mas sobre todo o gênero humano.

 Reverência e amor a D’us

Os místicos judeus ensinam que tudo o que podemos conseguir, com reverência, em Rosh Hashaná e Yom Kipur, pode ser conseguido em Sucot e Shemini Atseret/Simchat Torá com alegria.

Na primeira metade do mês de Tishrei, mês de Rosh Hashaná e de Yom Kipur, cabe-nos vivenciar D’us como nosso Rei e Juiz – única Autoridade Absoluta sobre nós e nossa vida. Mas não basta cumprir as leis de Rosh Hashaná e Yom Kipur: falta a esses dias sagrados um elemento de intimidade, de amor e, mais importante, de comunhão com o Divino. Por essa razão, o mês de Tishrei nos dá as festas de nosso júbilo: Sucot e Shemini Atzeret/Simchat Torá. Como ensina a Cabalá, assim como os pássaros precisam de asas para voar, nós, judeus, necessitamos de amor e reverência a D’us para nos elevarmos, espiritualmente.

Há muitos judeus que somente cumprem os mandamentos da Torá por reverência ou temor a D’us. Vão à sinagoga em Rosh Hashaná e Yom Kipur – não por um desejo íntimo de o fazer, mas porque temem que, não o fazendo, serão punidos, de alguma forma, pelos Céus. Para eles, os mandamentos da Torá são um ônus e D’us, um Ser temível. São pessoas que rezam, até efusivamente, em Rosh Hashaná e Yom Kipur, apenas por buscarem a autopreservação. E essas pessoas que apenas reverenciam ou temem a D’us, via de regra não apreciam as ocasiões felizes do Judaísmo, como a festa de Sucot, pois não têm muito amor a D’us. Ainda que sejamos ordenados a venerar o Altíssimo, o relacionamento com o Divino quando destituído de amor é apenas limitado – em geral não sobrevive nem aumenta. Ademais, quem reverencia D’us sem O amar – quem apenas O teme e respeita – demonstra que não entende, plenamente, a essência e propósito fundamental da Torá e seus mandamentos. A Torá nos impõe, explicitamente, servir a D’us com alegria, e a razão para fazê-lo é que o estudo da Torá e o cumprimento de seus mandamentos nos foram dados como uma ponte para conectar o homem finito com D’us Infinito. E é através do estudo da Torá e do cumprimento de seus mandamentos que podemos comungar com o Todo Poderoso. É uma concepção totalmente errada ver a Torá e seus mandamentos como um ônus que, se não cumprido propriamente, levará à punição Divina e ao sofrimento. Devemos ver a Torá e suas mitzvot em sua luz própria, como de fato são: o meio para vencer o enorme abismo entre o homem, finito, e o Altíssimo, Infinito.

Há judeus que temem, mas não amam a D’us, mas também há aqueles que sentem apenas amor sem realmente reverenciá-Lo. D’us é nosso Pai, mas também nosso Rei, e até os reis de carne e osso exigem a devida reverência. Os judeus que amam a D’us mas não O reverenciam estão interessados, apenas, nos aspectos alegres e agradáveis da Torá: podemos vê-los desfrutando das refeições na Sucá, dançando com fervor em Simchat Torá e se alegrando em Purim. Mas talvez não tenham a mesma devoção quando se trata das orações de Rosh Hashaná ou do toque do Shofar. Muitos não cumprem adequadamente as proibições de Yom Kipur. Em Tishá b’Av, eles não são vistos. Devemos servir a D’us com alegria, mas também com a reverência que Ele, Rei Infinito, merece. Não podemos escolher apenas o que é agradável e fácil no Judaísmo: há dias de festa e júbilo, mas também há dias de jejum e de introspecção. Há um momento para a dança, mas também há um momento de oração.

Os Dez Dias de Teshuvá, que se iniciam em Rosh Hashaná e concluem ao terminar Yom Kipur – são a oportunidade de fortalecer nossa reverência a D’us. Sucot e Shemini Atzeret/Simchat Torá são as oportunidades festivas de aumentar nosso amor a Ele. Ao fortalecermos essas “asas” de nosso serviço Divino, não há limites sobre a altura espiritual que podemos alcançar no restante do ano.

 Hoshaná Rabá: a importância da humildade

Hoshaná Rabá, literalmente a “Grande Salvação”, é o nome do sétimo e último dia da festa de Sucot. Hoshaná Rabá coloca a chancela final do julgamento de cada um de nós: o veredicto anotado em Rosh Hashaná e reafirmado em Yom Kipur é finalmente chancelado e ratificado nesse dia. Como ensina o Zohar: “Este é o dia do julgamento final para a água, fonte de todas as bênçãos… No sétimo dia de Sucot o julgamento do mundo é finalizado e os vereditos são expedidos pelo Rei”.

Hoshaná Rabá, último dia de Sucot, é quando a Corte Celestial toma as decisões finais acerca dos julgamentos feitos nos Dez Dias de Teshuvá. O Parecer Celestial assinado em Rosh Hashaná e confirmado em Yom Kipur é ratificado em Hoshaná Rabá. Daí a importância e o poder desse último dia de Sucot – que, de certa forma, é mesmo comparadoa Yom Kipur.

É interessante que o serviço de Hoshaná Rabá gire em torno do Aravá, os ramos de salgueiro, que, como vimos acima, representa o judeu que não tem muitos conhecimentos sobre a Torá nem pratica muitos mandamentos Divinos. Como ensina o Talmud: “Em Hoshaná Rabá… os Cohanim rodeavam o altar do Templo com ramos de salgueiro”.

Em Hoshaná Rabá, selecionamos um simples salgueiro para uma mitzvá muito especial. Aliás, esse dia é chamado de “Dia do Salgueiro”. O mandamento realizado com esses ramos é tão importante que os Mestres do Talmud ordenaram o calendário judaico de forma que Hoshaná Rabá jamais caia no Shabat – já que nesse dia não é permitido segurar o Aravá.

Por que o Aravá – a menos ilustre entre as Quatro Espécies – é a protagonista do dia da Grande Salvação? Pelo fato de não haver qualidade maior perante D’us do que a humildade. Moshé, o maior de nossos profetas e líderes, foi o homem mais humilde que já existiu. O problema de muitos dos eruditos em Torá, líderes, ativistas e filantropos – todos eles judeus simbolizados pelo Lulav, o Etrog e o Hadáss – é que muitas vezes lhes falta humildade. Na verdade, essa qualidade é raramente encontrada entre nós, seres humanos. Mas ninguém consegue dedicar-se inteiramente a D’us e à Sua Torá se lhe falta humildade. Nossos Sábios nos ensinam que justamente pelo fato de Moshé ter sido o mais humilde dos homens, ele conseguiu se tornar o maior dos profetas. Como era despido de ego, ele funcionava como um canal transparente que transmitia a Vontade e a Sabedoria de D’us a todo o nosso povo, o Povo Judeu.

Há outra lição fundamental transmitida pelo Aravá: um judeu não é definido pelo que sabe ou faz, mas pelo que é. Certamente devemos honrar nossos Sábios – simbolizados pelo Lulav; admiramos os judeus personificados pelo Etrog; e apreciamos as pessoas envolvidas, que são representadas pelo Hadáss. O Aravá, no entanto, nos ensina que nenhum de nós é mais judeu do que qualquer outro de nossos irmãos, judeus como nós.

A Grande Salvação vem a nosso mundo quando nele paira a paz e a união, atributos geralmente encontrados entre os verdadeiramente humildes. O Aravá nos ensina que a humildade é um canal para as maiores bênçãos, e a isso se deve seu papel primordial em um dia de tão grande importância no calendário judaico – o dia que ratifica o que foi determinado nos Céus em Rosh Hashaná e selado em Yom Kipur.

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Uma sucá é uma construção temporária com um telhado de galhos, conhecido como se’hach.

Durante quarenta anos, nossos ancestrais atavessaram o deserto do Sinai antes de entrarem na Terra Prometida.

Miraculosas “nuvens de glória” pairavam sobre eles, protegendo-os dos perigos e desconfortos do deserto.

Desde então, lembramo-nos da bondade de D’us e reafirmamos nossa confiança em Sua Providência, fazendo todas as refeições e “morando” na sucá pela duração da Festa de Sucot (de 15 a 21 do mês hebraico de Tishrei) – fora de Israel, também no dia 22).

Comer na sucá é uma mitsvá abrangente, pois nosso corpo inteiro está dentro da sucá e envolvido no cumprimento desse preceito Divino.

Como Fazer uma Sucá?

Uma sucá é essencialmente uma cabana ao ar livre coberta com vegetação. Porém há muitas orientações e exigências que devem ser respeitadas na construção, e sobre o local onde é erigida, a fim de que seja considerada “casher” – apropriada para o uso.

Existem excelentes kits de sucá pré-fabricada, numa variedade de tamanhos, em muitas lojas judaicas. Se você escolher o caminho menos aventureiro (e que economiza tempo), certifique-se que o kit sucá tem a correta certificação rabínica atestando que a sucá atende todas as exigências. A primeira coisa que você precisa fazer é selecionar o local adequado para sua sucá, para saber que tamanho comprar. Siga então as instruções do fabricante para a montagem, coloque dentro dela uma mesa e cadeiras – e está pronta! Se você preferir construir sua própria sucá à mão, veja abaixo.

Que Materiais Vou Precisar?

Se você está construindo a própria sucá, aqui estão os materiais que precisa:

As Paredes: As paredes de uma sucá podem ser feitas de qualquer material, desde que sejam firmes o suficiente para não se mover cm um vento normal. Você pode usar madeira, compensado ou painéis de fibra de vidro, tecidos à prova d’água presos a uma estrutura de metal, etc. Você também pode usar paredes pré-existentes (i.e., as paredes externas de sua casa ou garagem) como uma ou mais das paredes da sua sucá.

Cobertura do Telhado

A sucá precisa ser coberta com sechach – matéria vegetal sem acabamento. Os telhados comuns são: bambu, galhos de conífera, juncos, talos de milho, tiras estreitas (1X1 ou 1X2) de madeira sem acabamento, ou capachos especiais de sechach.

Você talvez precise também de algumas vigas de madeira para construir a estrutura sobre a qual colocar o sechach.

Iluminação (Opcional)

Se você quiser instalar um sistema de iluminação e sua sucá for construída perto de uma tomada, compre uma lâmpada com proteção contra chuva e cordão elétrico.

Cadeiras e Mesa

Lembre-se, você estará fazendo todas as suas refeições na sucá durante toda a Festa. Além disso, é uma mitsvá especial convidar pessoas para compartilhar sua sucá. Tente proporcionar espaço amplo e assentos para todos.

Decorações

Muitas comunidades decoram a sucá com pôsteres coloridos com temas das festas, ou pendurando frutas frescas ou outras decorações nas vigas. O costume Chabad é não decorar a sucá, pois a própria sucá é considerada como sendo um objeto de beleza.

Exigências Básicas para uma sucá “casher”

1) Feita pela Mitsvá

Uma sucá deve ser construída novamente a cada ano para o propósito da mitsvá. Esta exigência, no entanto, aplica-se basicamente ao sechach (telhado feito com ramos ou bambu), pois é o sechach que faz da sucá uma sucá. Assim, pode-se deixar as paredes de pé durante o ano inteiro, e colocar o telhado antes da festa. Além disso, se a sucá ficou de pé durante todo o ano, pode-se substituir o sechach, o que permite que a sucá seja considerada como nova.

2) Ordem da Construção

Deve-se primeiro levantar as paredes e somente então colocar a cobertura sechach. Se o sechach é colocada antes que haja paredes “casher” no local, a sucá é inválida, até que o sechach seja removido e re-aplicado.

3) As Paredes

Quantas paredes?

Uma sucá deve ter pelo menos duas paredes completas mais parte de uma terceira parede (a “parte” precisa ter um mínimo de 8 cm de largura). É preferível, no entanto, que a sucá tenha quatro paredes completas.

De que são Feitas as Paredes?

As paredes da sucá podem ser feitas de qualquer material, mas devem ser firmes para que não se movam com um vento normal. Pode-se usar paredes pré-existentes, como as paredes da garagem da casa, como uma ou mais das paredes. Uma estrutura já existente que não tenha telhado ou que tenha um teto removível pode também ser transformada em sucá, cobrindo-a com sechach adequado (veja abaixo).

Tamanho e Dimensões

As paredes devem ter pelo menos 80 cm de altura, e a estrutura inteira (i.e., a distância do telhado a partir do chão) não pode ser mais alta que 9 metros. Em comprimento e largura, uma sucá não pode ser menor que 50 cm por 50 cm (largura suficiente para abrigar a cabeça e torso de uma pessoa, e uma pequena mesa). Não há limite na largura de uma sucá.

Vãos nas Paredes

É melhor que a sucá tenha quatro paredes sólidas (além dos batentes e janelas). Contudo, sob determinadas condições, paredes incompletas podem ser aceitas, como se vê a seguir:

a) Se houver um vã entre a base das paredes e o chão, a base das paredes deve ter menos de 25 cm do solo.

b) Se as paredes tiver 80 cm de altura, o telhado deve ser mais alto (até a altura máxima de 9 metros acima do chão), desde que as paredes estejam abaixo do telhado.

c) Pode haver vãos de espaço vazio nas paredes, desde que essas tenha menos de 25 cm de largura. (Assim uma cerca feita de estacas na vertical ou horizontal pode ser usada, desde que os espaços entre as estacas sejam menores que 25 cm).

A construção do Sechach (Cobertura)

O que pode ser usado como Sechach?

A sucá deve ser coberta com sechach, um telhado de matéria vegetal sem acabamento, Normalmente os telhados de sucá são galhos de bambu, junco, talos de milho, tiras estreitas (2 cm X 2 cm) de madeira sem acabamento, ou capachos especiais de sechach (veja abaixo).

Capachos feitos de bambu, palha ou outro material vegetal podem ser usados somente se forem feitos com o objetivo de servir de telhado (ex. Não para dormir, sentar ou qualquer outro uso).

Uma exigência importante é que o sechach seja cortado da fonte de crescimento – assim uma treliça viva, ou ramos presos à árvore, não podem servir como cobertura para uma sucá.

Quanto Sechach?

Deve haver sechach suficiente para proporcionar sombra, de modo que ao meio-dia deve haver mais sombra que sol refletido no piso da sucá. O sechach deve ser espalhado uniformemente sobre toda a sucá, para que não haja espaços maiores de 25 cm.

Apoio do Sechach

Tudo que estiver apoiando diretamente o sechach não deve ser feito de materiais que não sejam adequados para ser usados como sechach. Assim, se o sechach estiver apoiado diretamente sobre as paredes da sucá e as paredes não forem feitas de madeira, tiras de madeira devem ser colocadas entre as paredes da sucá e o sechach. Em sucot maiores onde é preciso haver uma estrutura de vigas é necessário apoiar o sechach, usando-se varas de madeira ou bambu, não metal. O sechach também não pode ser amarrado com arame ou preso com qualquer objeto de metal.

Agradecemos à querida família Grossmann pelas fotos da linda Sucá que construíram na Aldeia da Serra

Refeições na Sucá

É especialmente importante comer pelo menos um k’zayit (cerca de 30 gramas) de pão na primeira noite da Festa na sucá, entre o anoitecer e a meia-noite. Prepare uma refeição e convide sua família e amigos para que eles também possam participar dessa mitsvá especial.

A seguinte bênção é recitada ao comer na sucá:

“Baruch Atá Ado-nai Elohenu Melech Haolam Asher Kideshanu Bemitsvotav Vetsivanu Leshev Ba-Sucá”:

Bendito sejas, Eterno nosso D’us, Rei do universo, que nos santificou com Seus mandamentos e nos ordenou sentar na sucá.

Deve-se olhar para o telhado, o sechach da sucá, ao recitar a bênção.

Na primeira e na segunda noites, aquele que recita o Kidush recita a bênção sobre a sucá ao final do Kidush. Todos os outros recitam a bênção após recitar a bênção sobre a chalá.

Para o restante da Festa, todas as refeições devem ser feitas na sucá. Muitos têm o costume de comer todo alimento ou bebida somente na sucá. Durante toda a Festa de Sucot, a bênção acima é recitada sempre que se fizer uma refeição que inclua pão, bolo ou outro alimento à base de cereais na sucá. É costume da maioria das comunidades também comer na sucá em Shemini Atsêret – o “oitavo dia” que se segue ao sétimo dia de Sucot – mas sem recitar a bênção especial.

Segundo o Zohar, a sucá gera uma concentração de energia espiritual tão intensa, que, durante os sete dias da festa, as almas dos “Sete pastores de Israel” – Abraham, Yitzhak, Yaacov, Moshê, Aaron, Yoseph e o rei David – deixam o Gan Éden para visitar as sucot.

Estes “convidados de honra” são conhecidos como Ushpitzin, em aramaico, “convidados”. Outro mandamento da festa é o referente às Arbaat ha-Minim, as Quatro Espécies – o etrog (fruta cítrica), o lulav (palmas de tamareira), hadassim (ramos de mirta) e aravot (ramos de salgueiro). Durante toda a festa de Sucot, com exceção do Shabat, até e inclusive em Hoshaná Rabá, diariamente devemos cumprir, durante o dia, a mitzvá das Quatro Espécies. Nossos sábios afirmam que são reservadas bênçãos especiais para todos aqueles que unem os quatro tipos de espécies e fazem as orações sobre as mesmas. Com exceção do etrog, as três outras espécies – todas ramos de plantas- são atadas juntas por anéis feitos de fibra de palma trançada.

Segurando os ramos na mão direita e o etrog na mão esquerda, recita-se a berachá das Quatro Espécies e estas são, então, agitadas para as seis direções espaciais, a dizer, nas quatro direções do quadrante, para cima e para baixo. Com isto estamos reconhecendo que D’us se encontra em toda parte e que Seu reinado é eterno.

O sétimo e último dia de Sucot, Hoshaná Rabá, é considerado o último dia do Julgamento Divino, quando o que foi decretado em Yom Kipur é selado e o destino do novo ano, determinado. Os galhos do salgueiro são também chamados de Hoshaná e, no Talmud, a palavra é usada para descrever a junção das três espécies de ramos de planta. São, também, chamados Hoshanot os poemas litúrgicos, os piyutim, recitados diariamente durante a semana de Sucot. A cada dia, uma oração de Hoshaná é feita e os presentes dão uma volta, circundando a Tebá ou Bimá, mesa onde é lida a Torá, tendo nas mãos as Quatro Espécies.

Em Hoshaná Rabá, ou seja, no sétimo dia, além das Quatro Espécies usadas durante os dias de Sucot, juntam-se cinco ramos adicionais de salgueiro, as aravot ou Hoshanot. Esta é a razão pela qual, no Talmud, o sétimo dia de Sucot é chamado de “Dia do Salgueiro” ou “Dia de Hoshaná”. Neste dia, tendo nas mãos as Quatro Espécies, recitam-se as sete Hoshanot, dando sete voltas ao redor da Bimá.

Terminadas as Hoshanot, é costume instituído pelos Profetas baterem-se estes ramos de salgueiro no chão, cinco vezes, para assim “amenizar as cinco medidas de severidade no Julgamento Divino”.

Em várias comunidades da diáspora o dia é considerado uma espécie de Yom Kipur. Costuma-se permanecer acordado durante toda a noite, estudando a Torá e lendo os Salmos, Tehilim. Há também o costume de fazer novamente as caparot, acender velas como em Yom Kipur e os homens fazerem a imersão no mikvê. Há os que estudam Torá dentro da sucá, pois há uma tradição segundo a qual os Ushpitzin – que a visitaram durante Sucot – poderiam atuar como advogados de defesa perante a Corte Celestial.

 

  • Receita para Sucot

https://rabinogloiber.com/receitas-de-sucot/

 

Sucot, festa de sete dias que se inicia no dia 15 do mês judaico de Tishrei, celebra a proteção que D’us ofereceu ao Povo Judeu durante sua jornada de 40 anos a caminho da Terra Prometida.

Em nossas rezas, nos referimos a Sucot como Zman Sim’hateinu – “Época da nossa alegria” – porque o tema da festa é o amor Divino por nós e Sua preocupação com nosso bem-estar.

O nome dessa festividade, Sucot, literalmente significa “cabanas”. Alguns comentaristas explicam que a Torá nos ordena morar nas Sucot durante a festividade para relembrar as tendas nas quais o Povo Judeu morou durante os longos 40 anos em que viveram no deserto, e que lhes deu abrigo e proteção.

Outros afirmam que as cabanas nas quais moramos durante a festa de Sucot simbolizam as milagrosas Ananei HaKavod, as Nuvens de Glória, que conduziram, abrigaram e protegeram os Filhos de Israel durante aqueles anos. Quer o nome Sucot se refira às tendas, quer às Nuvens de Glória ou a ambas, trata-se de uma festa que recorda a proteção e o abrigo provido por D’us ao Povo Judeu no Deserto de Sinai.

O Gaon de Vilna pergunta: se o tema de Sucot é a celebração da proteção de D’us aos judeus após o Êxodo do Egito, por que razão essa festa cai no mês de Tishrei e não em Nissan – mês em que celebramos Pessa’h?

E ele responde que se Sucot comemora as Nuvens de Glória – uma visão aceita por Rashi em seu comentário no Chumash –, a data de 15 de Tishrei para o início da festividade está correta.

E explica: ainda que as Nuvens da Glória tenham acompanhado o Povo Judeu na saída do Egito, elas desapareceram após o pecado do Bezerro de Ouro. Somente quando D’us concordou em novamente residir em meio ao Povo Judeu e se iniciou o trabalho da construção do Mishkan, o Tabernáculo, as Nuvens voltaram.

A cronologia dos eventos é a seguinte: em Yom Kipur, dia 10 de Tishrei, D’us perdoou nosso povo pelo pecado do Bezerro de Ouro e concordou em voltar Sua Presença ao nosso meio, no deserto.

Naquele mesmo dia, Moshé desceu do Monte Sinai trazendo as Segundas Tábuas e informou ao povo sobre a ordem de construir o Mishkan. No dia seguinte, dia 11 de Tishrei,

Moshé ordenou ao Povo Judeu que trouxesse os materiais para a construção do Tabernáculo. Eles o fizeram durante os dois dias seguintes (v. Êxodo 36:3). No 14o dia de Tishrei, Moshé disse ao povo que não mais trouxesse material para o Mishkan.

E finalmente, em 15 de Tishrei, começaram a construir o Tabernáculo. Foi então que as Nuvens de Glória retornaram.

Como Sucot também celebra as Nuvens de Glória que abrigaram nosso povo no Deserto do Sinai, faz todo o sentido que essa festa se inicie em 15 de Tishrei – data em que esse abrigo Divino sobrenatural voltou a proteger o Povo Judeu, permanecendo com eles durante sua longa jornada pelo deserto.

Quatro espécies de plantas – Arbaat HaMinim

Os dois mandamentos principais da festa de Sucot são morar na Sucá e segurar as Quatro Plantas.

O Midrash encontra muitos simbolismos no mandamento das Quatro Espécies de plantas. Ao utilizar as Quatro Espécies em conjunto, estamos simbolizando a necessidade que temos de fazer bom uso de nossas faculdades a serviço de D’us.

Etrog (cidra amarela ou citrus medica) se parece ao coração;

Lulav (folha de palmeira), à coluna vertebral;

Hadass (murta), aos olhos;

Aravá (ramo de salgueiro), aos lábios.

 

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Lulav

O Midrash compara o Lulav à coluna vertebral devido a seu comprimento e formato. Chama a atenção o fato de que a bênção que recitamos ao cumprir o mandamento das Quatro Espécies apenas mencione o Lulav. Não mencionamos nenhuma das outras três espécies nessa bênção. Isso indica que, de certa forma, o Lulav é a espécie destacada.

O Lulav lembra a coluna vertebral, tão importante para o corpo humano já que sem ela, cérebro e corpo não se poderiam comunicar. A coluna é o caminho para os impulsos do corpo ao cérebro e vice-versa. Junto com o cérebro, a coluna vertebral controla as funções do corpo humano, inclusive seu movimento e comportamento.

O Lulav nos transmite várias lições. Uma delas é a importância de um relacionamento saudável entre o cérebro e o restante do corpo.

Nossos Sábios ensinam que se o ser humano deseja ser justo e íntegro e viver uma vida com moralidade e propósito, sua mente deve comandar seu corpo.

A racionalidade deve prevalecer sobre nossos instintos e impulsos. A sabedoria deve ditar nosso comportamento.

Hadass

As folhas do Hadass, a murta, se parecem com o olho humano. Essa espécie nos ensina o quão importante é ver os outros com um olhar bondoso e generoso.

As obras sagradas do Judaísmo usam o olho como metáfora para descrever as percepções humanas, os sentimentos e desejos em relação aos demais.

Por exemplo, o Ayin HaRá, o “olho ruim”, é um famoso conceito que denota inveja e ciúme, e que, como ensina o Talmud, é um fenômeno real – veículo de poder espiritual que pode afetar a vida de outras pessoas.

Por outro lado, ter um “olhar bondoso” significa desejar o bem dos demais e julgá-los favoravelmente.

Muitas pessoas de boa índole podem ser dominadas por sentimentos de ciúmes, inveja e ressentimento ou mágoa. O Ayin HaRá, infelizmente, é um fenômeno comum entre os seres humanos.

Além do mais, temos a tendência de julgar erroneamente aqueles de quem não gostamos. É comum não darmos aos outros o benefício da dúvida.

Quem não combate a inveja e o ciúme e é rápido em julgar os demais deve ter em mente que a energia espiritual negativa se volta contra quem a carrega.

O Talmud ensina que os Céus julgam as pessoas da mesma forma como esta pessoa julga os demais. Quem julga os outros favoravelmente é julgado também favoravelmente pelos Céus; e o oposto também é verdadeiro. De forma semelhante, o Baal Shem Tov, mestre da Cabalá e fundador do Movimento Chassídico, ensinava que “um suspiro emitido em virtude da dor de um outro rompe todas as barreiras impenetráveis dos acusadores celestiais.

E quando a pessoa se alegra com a alegria de seu amigo e o abençoa, ela é tão querida a D’us e por Ele aceita como as preces de Rabi Yishmael, o Sumo Sacerdote, no Kodesh HaKodashim”. Em outras palavras: o Altíssimo está mais aberto às preces daqueles que sentem a dor de outras pessoas e se alegram com a felicidade e o sucesso delas.

Aravá

As folhas alongadas do Aravá se parecem com os lábios. Os ramos do salgueiro nos transmitem um dos mais sábios ensinamentos do mais sábio dentre os homens, o Rei Salomão, que escreveu em seus Provérbios: “A vida e a morte estão sob o poder da língua…” (Provérbios 18:21).

Nossos Sábios ensinam que uma das razões para a Torá usar a metáfora da fala para descrever a Criação Divina do Universo é mostrar que as palavras podem construir mundos.

No entanto, podem também os destruir. Uma ou outra palavra errada, mesmo se dita, por vezes, de forma descuidada, pode destruir um casamento, uma antiga amizade, o bom nome de uma pessoa e a reputação e solidez de uma empresa. Palavras maldosas já destruíram muitas esperanças, sonhos e vidas. Palavras maldosas já resultaram em guerras e genocídios.

Ensina o Talmud que não há pecado maior do que o de Lashon HaRá – “a má língua”. Aos olhos da Torá, assassinar um caráter ou assassinar uma pessoa são atos que guardam incrível semelhança.

Por outro lado, palavras que expressam sabedoria e bondade têm o poder de erguer vidas e mundos – criando novas realidades. Uma palavra animadora pode curar um coração ferido e restaurar uma alma desprovida de esperança; pode instilar fé e coragem; pode levar a pessoa a seguir seus sonhos e realizar grandes feitos; pode restaurar relacionamentos rompidos e construir novos.

Não surpreende o fato de que alguns dos principais mandamentos do Judaísmo sejam cumpridos com palavras: a leitura e o estudo da Torá e a recitação de orações e bênçãos, para citar apenas alguns.

O Aravá nos ensina que devemos escolher com muito cuidado nossas palavras. A pena é de fato muito mais potente do que a espada – assim como o são as palavras que saem de nossos lábios.

Etrog

A Torá se refere ao Etrog, a cidra amarela, como um belo fruto. Entre as Quatro Espécies, é o que mais atrai por sua aparência. Por seu formato, esse fruto simboliza o coração.

O Etrog nos ensina que a beleza verdadeira está no coração.

Muitas pessoas possuem forte coluna vertebral (Lulav). São sábias e de conduta reta;

Um olhar bondoso (Hadass) – não guardam rancor, inveja ou ciúme dos demais;

Bons lábios (Aravá) – não falam mal dos outros.

Mas, apesar disso, não têm coração. Não fazem mal a ninguém, mas tampouco fazem o bem.

Não guardam ódio ou falam mal dos outros, mas não se preocupam com ninguém. Falta-lhes amor, calor humano e compaixão.

O Etrog é o fruto da beleza porque não há nada mais atrativo no ser humano do que um bom coração.

Na verdade, o amor não cura todos os males e as boas intenções não substituem a sabedoria. Mas se em nosso mundo houvesse mais corações bondosos, viveríamos em um lugar bem mais bonito.

No Pirkei Avot, cujas palavras deveriam ser gravadas no coração e na mente de todo judeu, ecoa o seguinte ensinamento atemporal:

“Rabi Yohanan disse a seus alunos: Procurem saber qual o melhor traço de caráter que a pessoa deve possuir.

Respondeu Rabi Eliezer: Um olhar bondoso.

Disse Rabi Joshua: Ser um bom amigo.

Disse Rabi Yossi: Ser um bom vizinho.

Disse Rabi Shimon: Ser alguém que se preocupa com o resultado de suas ações.

Disse Rabi Elazar: Ter um bom coração.

Rabi Yohanan lhes respondeu: Prefiro as palavras de Elazar, ter um bom coração, às duas, porque suas palavras incluem todas as suas” (Avot 2:10).

Os quatro tipos de plantas e a Bênção sobre o Lulav

Sucot, festa de sete dias que se inicia no 15o dia do mês judaico de Tishrei, é conhecida por seus dois mandamentos, constantes na Torá: habitar na Sucá, uma cabana construída de modo a oferecer sombra, e ter nas mãos as Arbaat HaMinim – as Quatro Espécies: o Lulav – a folhagem fechada da tamareira; o Etrog – uma cidra amarela; o Hadás – um ramo da árvore da murta; e a Aravá – um ramo folhoso do salgueiro.

Ter-se em mãos as Quatro Espécies em Sucot é um dos mandamentos da Torá que nem todos entendem. Mas, esse fato não é o mais importante. O essencial é cumprir o mandamento de forma correta, de acordo com as leis da Torá. No entanto, a Torá nos estimula a entender o significado de seus mandamentos, pois o Judaísmo não espera que cumpramos cegamente suas leis. São Inúmeras as lições que podemos depreender de cada um de seus versículos e de cada um de seus mandamentos. E justamente o das Quatro Espécies não só constitui uma Mitzvá – isto é, um mandamento Divino que devemos cumprir pela simples razão de ser a Vontade de D’us – mas transborda de significado que transmite lições eternas para o Povo Judeu.

O Midrash (Vayicrá Rabá 30:12) comenta que as Quatro Espécies indicam quatro tipos diferentes de judeus. O Lulav – a folhagem longa e fechada da tamareira – representa os judeus que dedicam a vida unicamente ao estudo da Torá. Como passam a maior parte de seu tempo mergulhados em seus ensinamentos, eles não têm o tempo, energia ou recursos para praticar muitos atos de bondade.

O Hadás – o ramo de murta – representa a antítese, o contrário do Lulav: simboliza os judeus que são tão ocupados realizando atos de bondade que não têm tempo de estudar muito a Torá. O Etrog – o fruto da cidreira – personifica aqueles dentre nós que têm o melhor dos dois mundos: estudam a Torá e realizam atos de bondade. E, por fim, a quarta espécie, a Aravá – o ramo do salgueiro, que representa os judeus que nem estudam a Torá nem se dedicam muito a realizar atos de bondade.

Em cada um dos dias da festa de Sucot – exceto no Shabat – cumprimos o mandamento de ter em mãos as Quatro Espécies, formado por um Lulav, um Etrog, três Hadassim e duas Aravot. Na falta de uma das Quatro Espécies, ainda que seja a Aravá,estamos impossibilitados de cumprir esta mitzvá. Antes de cumpri-la, dizemos uma bênção, uma berachá, como é comum fazer antes de realizar uma mitzvá. Mas, como menciona o Talmud, há algo que chama a atenção sobre a bênção dita antes de ter em mãos as Arbaat HaMinim: a berachá termina com a frase al netilat Lulav (“ao ter em mãos o Lulav”). Perguntamos: qual a razão para a bênção apenas mencionar esta espécie? Por que não termina com … al netilat Arbaat HaMinim (“ao ter em mãos as Quatro Espécies”)? E se, por alguma razão, a berachá tivesse que mencionar apenas uma das espécies, qual a razão para ser escolhido o Lulav?

Uma razão dada pelo Talmud é que o ‘Lulav’ é o mais alto dentre as quatro espécies (Talmud Bavli, Sucá 37b). No entanto, o Midrash indica que o Etrog é a espécie preferida entre as quatro pelo fato de se referir a judeus que tanto estudam a Torá quanto Realizam atos de bondade. Esse fruto da cidreira reúne as virtudes do Lulav e também as do Hadás. Dentre as Arbaat HaMinim, o Etrog constitui o único que não tem falha alguma.

Sendo assim, repetimos nossa pergunta: por que a bênção das Quatro Espécies termina com as palavras al netilat Lulav, em vez de al netilat Arbaat HaMinim, ou ainda, al netilat Etrog?

A Superioridade do Estudo da Torá face às Mitzvot

Para responder com propriedade à pergunta do porquê de o Lulav ser a única espécie mencionada na bênção das Arbaat HaMinim, primeiro é preciso entender que o Judaísmo possui duas vertentes principais: Talmud Torá (o estudo da Torá) e Mitzvot (mandamentos Divinos). Ainda que o estudo da Torá seja um de nossos mandamentos – segundo uma opinião no Talmud, é o mais importante dos mandamentos do Judaísmo – há diferenças significativas entre o estudo da Torá e o cumprimento das mitzvot.

Um aspecto singular do Judaísmo é a importância suprema que atribui ao estudo de seus textos sagrados. Não se trata de uma religião que se baseia na fé, senão no fato. Não se restringe à crença em certas coisas, mas ao conhecimento das coisas. Judaísmo é a busca por D’us – e como D’us é a Verdade, o estudo da Torá é a busca pela Verdade.

De forma sucinta, o estudo da Torá é primordial para o Judaísmo, pois apenas se estudarmos suas leis poderemos cumpri-las. Mas esta não é a única razão para estudarmos nossos livros sagrados. Grande parte do que se estuda na Torá não pode ser praticado. Por exemplo, vários tratados do Talmud discutem em grande detalhe os serviços realizados no Templo Sagrado de Jerusalém. E nós seguimos estudando tais tratados, apesar de que o Templo não existe há quase dois mil anos. Se o único propósito do estudo da Torá fosse aprender a cumprir seus mandamentos, esse estudo estaria limitado aos livros da Lei Judaica – e unicamente aos assuntos relevantes à época em que vivemos.

A principal razão para estudarmos Torá é para podermos nos conectar com seu Autor – Aquele que nos deu esses livros sagrados. A Autoria Divina da Torá – a Divindade inerente em obras como o Tanach, o Talmud e o Midrash tornam-na sagrada e única. Em nossas orações matinais e a cada vez que recebemos uma Aliyá dizemos a Birkat HaTorá – a bênção sobre a Torá. Um dos propósitos dessa bênção – na qual agradecemos a D’us por nos dar a Sua Torá – é nos fazer lembrar de sua Autoria Divina e diferenciar seu estudo de qualquer outro campo do saber e do conhecimento.

Mas, de que maneira o estudo da Torá forja a conexão entre o homem e D’us? Uma das respostas a essa pergunta é que sempre que o leitor mergulha nos textos de um escritor sério – especialmente quando este autor se entregou de corpo e alma a seu trabalho – o leitor vislumbra a alma do escritor. Forma-se uma conexão especial entre autor e leitor. Na maioria das vezes, aprende-se mais sobre um autor lendo suas obras do que analisando seus dados biográficos. E esse conceito se aplica tanto a autores humanos quanto ao Autor Supremo, que escreveu a Torá. O Talmud nos ensina que D’us metaforicamente pôs Sua Alma na Torá. Quem deseja ter algum entendimento sobre D’us – que é o máximo a que nós, seres finitos, podemos aspirar acerca do Infinito – precisa estudar o
livro escrito pelo Autor Divino – a Torá.

Uma das razões pelas quais o estudo de nossos textos sagrados nos conecta com D’us é o fato de que a Torá constitui a Sabedoria e Vontade Divinas. Como D’us é indivisível, Ele e Sua Sabedoria são unificados. Portanto, se alguém estuda a Torá – a Sabedoria Divina – e depreende algo sobre a mesma, capta o Divino em sua mente. Como ensinou o Rabi Shneur Zalman de Liadi, o Ba’al HaTanya1, o autor do livro sagrado Tanya, sempre que um judeu assimila algum conceito da Torá, ocorre uma fusão celestial entre a sua mente e a Mente Divina. E como a mais elevada faculdade humana é a mente – principal morada de sua alma – quando ele estuda a Torá, ele emprega seu atributo mais elevado para se conectar com D’us.

Assim sendo, o estudo da Torá é a ponte que nos leva a D’us. Nada neste mundo pode nos levar ainda mais próximos a D’us. Nenhum outro mandamento do Judaísmo tem o mesmo efeito. Ainda que cada mitzvá constitua uma conexão entre o homem e D’us, o estudo da Torá se coloca acima de qualquer outro mandamento que leve o ser humano a um lugar mais próximo do Altíssimo.

Outra maneira na qual o estudo da Torá é superior ao cumprimento dos mandamentos reside no fato de o conhecimento ser permanente enquanto as ações serem transitórias.

Quando aprendemos algo, levamos esse conhecimento conosco para o resto de nossa vida, guardando-o em algum canto de nossa memória. Mesmo se o esquecermos, um dia poderemos recuperá-lo – ou, no mínimo, será mais fácil o aprendermos uma segunda vez. Por outro lado, nossas ações – mesmo se tiverem efeito duradouro em nós ou nos outros – não se tornam parte de quem somos. A palavra mitzvá vem do hebraico tzivui – um mandamento – mas também tem relação com a palavra, em aramaico, tzavta, que significa “conectar” ou “unir”. Uma mitzvá une a pessoa ao Ser Supremo, D’us, criando um relacionamento e vínculo especial entre eles. No entanto, a conexão apenas existe enquanto a mitzvá está sendo realizada. Por exemplo, um dos mandamentos centrais no Judaísmo é a mitzvá de se colocar Tefilin. Quando os colocamos, nos conectamos com D’us. Mas quando os retiramos, ainda que o mérito de ter cumprido esse mandamento seja eterno, a conexão se interrompe. Os Tefilin nos unem a D’us, mas não se tornam parte intrínseca a nós, como o conhecimento sobre a Torá.

Como explicam nossos Sábios, o estudo da Torá se compara com a ingestão de alimento e bebida, que são assimilados por nosso corpo, ao passo que o cumprimento das mitzvot é semelhante a fragrâncias agradáveis – que não se tornam parte de nosso organismo e acabam por se dissipar.

Isso não significa que o estudo da Torá possa substituir o cumprimento dos mandamentos. Um não exclui o outro. Nada seria mais desrespeitoso perante D’us do que o estudo de Sua Torá, que nos ordena cumprir Seus mandamentos, se ignorarmos esses mandamentos. A Torá não apenas é a Sabedoria Divina, mas também a Sua Vontade. O estudo da Torá deve levar a pessoa mais perto de D’us: isso significa não apenas uma fusão entre a sabedoria humana e a Sabedoria Divina, mas também uma sujeição da vontade humana à Vontade Divina. Portanto, é erro interpretar o Lulav como sendo o judeu que estuda a Torá, mas não cumpre seus mandamentos. Um erro grave.

O que o Midrash subentende ao dizer que o Lulav representa os judeus que têm Torá, mas não as mitzvot?

O que representam o Lulav e o Hadás

Qual a razão para que o Midrash associe o Lulav a judeus que estudam muito a Torá; o Hadás àqueles que cumprem muitas mitzvot; o Etrog as pessoas que estudam a Torá e cumprem muitas mitzvot; e a Aravá a judeus que não fazem nenhum dos dois?

O Midrash aponta que o Lulav está associado ao sabor, pois é a folhagem da tamareira, mas não tem odor. O Hadás (a murta) tem odor agradável, mas não tem sabor, por ser uma planta que não dá frutos. Como vimos acima, nossos Sábios comparam o conhecimento da Torá ao alimento e os mandamentos a fragrâncias. Assim sendo, eles associam o Lulav ao estudo da Torá e o Hadás ao cumprimento das mitzvot. O Etrog (a cidra) tem sabor e odor, portanto representa os judeus que estudam a Torá e cumprem suas mitzvot. E a Aravá (o ramo do salgueiro), que não tem nem sabor nem odor, simboliza os judeus despidos do conhecimento sobre a Torá e que não cumprem mitzvot.

Quando o Midrash menciona que o Lulav representa o judeu que é rico em conhecimentos sobre a Torá, mas despido de mitzvot, não está se referindo aos mandamentos que todo judeu deve cumprir. Aquele que estuda muito a Torá sem cumprir seus mandamentos, não é um estudioso da Torá, mas um blasfemador. Portanto, ao falar sobre as Quatro Espécies, o Midrash usa a palavra mitzvot de modo figurado para se referir a boas ações. E, de fato, quando o Talmud Yerushalmi (o Talmud de Jerusalém) usa o termo mitzvá sem determinar um mandamento específico, está-se referindo à Tzedacá. A definição de mitzvot como sendo boas ações esclarece o ensinamento do Midrash sobre os tipos de judeus representados pelo Lulav e pelo Hadás.

O Lulav simboliza o estudioso de Torá que passa a maior parte de seu tempo imerso em seus estudos. Ele obviamente coloca os Tefilin, ora três vezes ao dia e cumpre os demais mandamentos. Mas dedica seu tempo, sua energia e sua capacidade ao estudo da Torá. Os judeus simbolizados pelo Lulav passam seus dias nas yeshivot e nas sinagogas. São alunos e professores – não líderes, ativistas, filantropos ou pessoas que passam o dia realizando boas ações, como alimentar os pobres ou visitar doentes. Têm uma única ocupação e missão em sua vida – estudar e disseminar o conhecimento da Torá.

O Hadás fica no espectro oposto do Lulav. O ramo de murta representa os judeus que cumprem muitas mitzvot – muitas boas ações – mas dedicam pouco tempo ao estudo da Torá. Em claro contraste com os judeus representados pelo Lulav, os representados pelo Hadás estão muito ocupados ajudando outros seres humanos e não têm muito tempo para dedicar ao estudo da Torá. Por exemplo, a maioria dos filantropos estão sempre extremamente ocupados – empenhados em ganhar dinheiro para doá-lo a causas nobres – e não dispõem de tempo ou energia para passar horas a fio estudando a Torá. Pode-se dizer que seria um erro grave – quem sabe, um sério pecado – tentar fazer com que um judeu que é um Hadás se transformasse em um Lulav. A pessoa não tem o direito de deixar seu trabalho e devotar sua vida ao estudo da Torá se a vida de outras pessoas depende dela.

Lulav e Hadás representam dois tipos de judeus que têm missões diferentes, talvez mesmo contrárias na vida. O que um possui falta ao outro. Mas se o Etrog – o bonito fruto – representa o melhor dos dois mundos – o estudo da Torá e as mitzvot – por que razão a bênção das Quatro Espécies menciona o Lulav,e não o Etrog?

O Etrog

Os judeus simbolizados pelo Etrog são aqueles que estudam a Torá e têm uma profissão que contribui para a sociedade. São os médicos, advogados, engenheiros, cientistas, comerciantes, empresários e financistas, entre vários outros profissionais, que equilibram sua vida religiosa com a profissional. O Etrog – a linda cidra – simboliza as pessoas que têm uma vida harmoniosa, assim demonstrando que é possível ser um judeu que estuda a Torá, observa as mitzvot e contribui para a sociedade.

Lulav e Hadás representam os dois extremos do espectro. Um possui o que falta ao outro. Já ao Etrog, de forma oposta, não falta nada. No entanto, sua força também é sua fraqueza. O fato de que os judeus simbolizados pelo Etrog têm uma vida equilibrada – estudam a Torá, contribuem à sociedade com seu trabalho e realizam atos de bondade – indica que não conseguem dedicar-se inteiramente ao estudo da Torá e ao cumprimento das mitzvot. O judeu que é um Etrog não estuda tanto a Torá como o que é um Lulav, nem se dedica integralmente a ajudar os demais, como faz o Hadás. O Etrog é um indivíduo harmonioso que não domina a Torá Nem Líder ou ativista que trabalha dia e noite em prol de alguma causa nobre

Por que razão o Lulav é a espécie superior?

Podemos, agora, entender por que razão a bênção das Quatro Espécies menciona apenas o Lulav. Se concluísse com as palavras al netilat Arbaat HaMinim (“ao se ter nas mãos as Quatro Espécies”), estaria indicando que não há diferença entre essas quatro espécies. Essa premissa seria errada, pois são grandes as diferenças entre cada uma delas.

É Importante ressaltar que não se pode cumprir a mitzvá das Arbaat HaMinim se alguma das quatro espécies estiver faltando. Pode-se ter o Etrog mais lindo do mundo, mas mesmo se estiver faltando a simples Aravá – a de menor importância dentre as espécies – a pessoa não pode cumprir o mandamento das Quatro Espécies. A exigência de que nenhuma das quatro espécies pode estar faltando nos ensina que o Povo Judeu não está completo se um único judeu estiver alienado ou ausente. Contudo, ainda que cada uma das quatro espécies tenha um papel imprescindível no mandamento, elas não têm igual importância. O Lulav – aqueles judeus representados por esta espécie têm um papel central, e é por esta razão que a bênção termina com as palavras al netilat Lulav.

O Lulav tem um papel central entre as outras três espécies pois, quando não se estuda a Torá, o Judaísmo não é Judaísmo, mas sim Humanismo. É errado acreditar que ser judeu significa, apenas, ser um bom ser humano, pois para tanto não é necessário ser judeu. O mundo está cheio de boas pessoas – de todas as religiões, raças, nacionalidades e etnias. É bem verdade que a contribuição do Povo Judeu à humanidade é grandemente desproporcional a seu número. Contudo, apesar de todas as teorias conspiratórias antissemitas sobre os judeus, seu poder e suas posses, a verdade é que as nações e pessoas mais ricas e poderosas do mundo não são judias.

Um judeu que pratica muitas boas ações mas não estuda a Torá nem cumpre seus mandamentos pode ser um excelente ser humano, mas não é um excelente judeu. Se o propósito Divino ao nos dar a Torá fosse apenas fazer dos judeus pessoas ótimas, praticantes da bondade, D’us não nos teria dado tantas leis que nada têm com as relações interpessoais. Se cada um de nós, judeus, fôssemos um Hadás – se o nosso povo apenas praticasse a bondade, mas não estudasse a Torá – não tardaria para o Judaísmo ser negligenciado e se perder, e para os judeus deixarem de existir.

Uma das razões para a bênção das Quatro Espécies mencionar o Lulav e não o Etrog éque a infinita profundidade da Torá, sua abrangência e complexidade requerem que as melhores cabeças judias estudem e transmitam, continuamente. O judeu que é um Etrog – que divide seu tempo de modo a estudar a porção semanal da Torá ou uma página ou duas do Talmud, diariamente – não adquirirá conhecimento suficiente para dominar, esclarecer e disseminar a Torá entre nosso povo. O estudo de algumas horas de Torá por dia não faz desse judeu um legislador. Assim como um ótimo atleta, ganhador de medalhas olímpicas, necessita treinar todos os dias, incessantemente, também um mestre em Torá precisa estudar o tempo todo e dedicar-se inteiramente a isso. Necessita canalizar sua energia física, mental e espiritual exclusivamente ao estudo da Torá.

A escolha do Lulav para ser a única espécie mencionada na bênção das Arbaat HaMinim é controversa – razão pela qual o Talmud e o Midrash a discutem em detalhe. Mas a História Judaica torna evidente a razão para a superioridade do Lulav. Os maiores heróis do Povo Judeu são os nossos Profetas e nossos Sábios. As figuras mais reverenciadas em nossa história são e sempre serão os mestres em Torá. Através dos séculos tivemos incontáveis judeus que deram contribuições extraordinárias ao nosso povo e à humanidade: cientistas, médicos, filantropos, escritores, artistas e pensadores. Mas costumamos dar aos nossos filhos o nome dos heróis e heroínas da Torá ou dos Sábios do Talmud. O Judaísmo existe por causa de nossos grandes Sábios e Mestres que se dedicaram inteiramente à Torá – visando a preservar sua integridade e garantir sua perpetuidade. Os judeus representados pela Aravá, pelo Hadás e mesmo pelo Etrog continuam a existir graças aos judeus simbolizados pelo Lulav.

Todos os judeus podem ser um Lulav

O fato da bênção das Quatro Espécies mencionar apenas o Lulav nos ensina que o estudo da Torá tem importância capital. É o alicerce do Judaísmo e a ponte que conduz o Povo Judeu até D’us. Há muitos judeus que cumprem muitas mitzvot – que realizam coisas extraordinárias e fazem contribuições inestimáveis à humanidade. E, ao fazê-lo, glorificam nosso povo. No entanto, o conhecimento da Torá é fundamental para a preservação da identidade judaica da pessoa. E para isso, não há substituto para o estudo da Torá.

O Lulav também nos ensina a reverenciar nossos Sábios. Essa espécie representa os judeus que se sacrificam pela Torá – não os que a usam em benefício próprio. Ser um Lulav é ser humilde, pois nossos Sábios nos ensinam que D’us concede a dádiva da Torá aos humildes. Uma pessoa queéumLulav não se considera melhor do que outra, mas precisa ter consciência de que desempenha um papel primordial em assegurar a perpetuidade do Judaísmo e de seu povo, o Povo Judeu.

Nem todo judeu nasceu para ser um Lulav e essa é uma das razões para mais três outras espécies comporem, juntas, as Arbaat HaMinim. Todo ser humano tem uma missão na vida. E, como vimos acima, pode ser perigoso que uma pessoa escolha um caminho que não é o seu. Mas cada judeu pode ser, temporariamente, um Lulav desde que se entregue profundamente ao estudo da Torá. Mesmo a pessoa mais ocupada pode dedicar algum tempo, em sua vida diária, para isso. E, ao fazê-lo, deve se entregar inteiramente a isso. Ao se envolver nessa união com a Torá e seu Autor, essa pessoa não deve distrair-se com nada mais.

O mandamento das Quatro Espécies nos ensina acerca da união entre o Povo de Israel, indicando o quanto cada um dos judeus é indispensável à nação. Mas o fato de que a bênção das Quatro Espécies apenas menciona o Lulav obriga cada um de nós a reexaminar seu comprometimento com o Judaísmo. O Pirkei Avot – tratado da Mishná que ensina a sabedoria e a Ética Judaica – afirma que mesmo que somente um de nós, judeus, se envolva no estudo da Torá, a Shechiná – a Presença Divina explícita neste mundo – está ao lado dessa pessoa. Quando um único judeu estuda a Torá, ele ajuda a disseminar a Luz Divina no mundo, fortalece sua alma e a alma de cada um de nós, judeus – mesmo a daqueles que já se foram deste plano terrestre – e ajuda a trazer bênçãos e paz a toda a humanidade.🌻

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Hoshaná Rabá

O sétimo e último dia de Sucot é Hoshana Rabá – a “Grande Salvação”.

É o dia final do Julgamento Divino, quando é determinado o destino do ano iniciado 20 dias antes.

O Zohar explica que Hoshana Rabá é o dia em que o veredicto de Yom Kipur é finalmente selado e os pergaminhos contendo os decretos do tribunal Divino são entregues aos anjos que os distribuem.

O Zohar explica o que ocorre em Hoshana Rabá trazendo como exemplo um rei que ama o seu povo.

Quando um bom rei faz um julgamento para seu povo, ele busca formas de evitar puni-los.

Eles podem ter violado a lei, mas talvez haja circunstâncias atenuantes.

Talvez os infratores sintam algum remorso, e isso seria uma garantia de que terão melhor comportamento no futuro, especialmente porque os erros passados ensinam lições que ajudam a construir um futuro melhor.

Se o rei, ao examinar o caso, encontrar um motivo que justifique a anulação do seu decreto, ele pode anular a acusação e declarar a inocência do réu.

Ainda que haja muitas evidências contra o réu e o veredicto lhe seja desfavorável, o rei ainda assim adia sua sentença para que o réu possa dar motivos para que o veredito final seja anulado.

Como o veredicto não entra em vigor até que seja inscrito, selado e entregue, existe a possibilidade de que o réu possa demonstrar que ele, que antes tinha se oposto ao governo do bom rei, agora se tornou um servo leal.

Por exemplo, suponhamos que o rei mande um mensageiro à casa do condenado e o mensageiro o encontre extremamente envolvido em servir ao rei, cumprindo, com devoção, suas leis.

O mensageiro retorna e diz ao monarca: “Certamente ele era culpado, mas hoje é outro homem”. Nesse caso o bom rei concorda imediatamente em anular o veredicto.

O Reino Celestial funciona de modo semelhante. A analogia não é precisa: D’us é onisciente e não necessita mensageiros para saber o que fazemos, dizemos ou pensamos.

Contudo, apesar de sua imprecisão, a analogia ajuda porque transmite a ideia de que D’us não tem nenhum interesse em nos dar um castigo e com certeza, quando esse castigo é a única solução para evitar a nossa morte espiritual, Hashem sempre vai tentar encontrar um jeito de que não precisemos desse castigo, e por isso nunca vai trazer ele automática ou imediatamente.

Primeiro assina, depois sela o destino, e só depois entrega seus decretos.

O Todo Poderoso dá ao ser humano tempo de mudar seu comportamento, possibilitando assim alterar seu destino.

Em Rosh Hashaná, a Corte Celestial julga todas as pessoas. Os Tzadikim são julgados favoravelmente e aqueles que estão em falta têm até Yom Kipur para se arrepender.

Se não o fizerem, o veredicto desfavorável é selado, mas ainda não é entregue. Isso só ocorre em Hoshana Rabá – o último dia da festa de Sucot – o dia quando os judeus se reúnem para orar, suplicar e cumprir mandamentos da Torá.

A festa de Sucot, que dura sete dias, é alegre – é chamada de Zman Sim’hateinu, época de nosso alegria, mas é, contudo, uma oportunidade para que o Povo Judeu influencie os decretos Divinos assinados em Rosh Hashaná e selados em Yom Kipur.

E Hoshana Rabá é a conclusão e culminação do período de Julgamento Celestial iniciado em Rosh Hashaná. Assim sendo, é um dia de importância espiritual extraordinária. É a nossa oportunidade final, individual e coletivamente, de forneceremos amplas razões a D’us para anular quaisquer pergaminhos que contenham sentenças severas e transformar esse ano que entrou em um ano cheio de alegrias e felicidades 🌻

🌿 O dia do Aravá 🌿

Quando existia o Primeiro Beit Hamikdash, o Templo Sagrado de Jerusalém, na festa de Sucot, os Cohanim (sacerdotes) costumavam colocar ramos de Aravot ao redor do Altar.

Os sacerdotes tocavam o Shofar, davam uma volta em volta do Altar, tendo nas mãos Arbaat Haminim, o Lulav, o Etrog, o Hadas e o Aravá, e invocavam as súplicas “Ana, Hashem, Hoshia Na. Ana, Hashem, Hatzlicha Na” , por favor D’us, nos salve por favor. Por favor D’us, nos dê muito sucesso.

No último dia de Sucot, o dia de Hoshana Rabá, os Cohanim davam sete voltas em torno do Altar.

Com a destruição do Beit Hamikdash esse trabalho cessou temporariamente. Após a construção do Segundo Beit Hamikdash, ele voltou, e com mais intensidade.

Os profetas Hagai, Ze’haria, e Mala’hi, que eram membros da Grande Assembleia que foram 120 Sábios e profetas que viveram entre a destruição do primeiro Beit Hamikdash e a construção do segundo, instituíram o costume de que em Hoshana Rabá, os judeus podiam cumprir esse mandamento mesmo fora do Beit Hamikdash.

Depois da destruição do Segundo Beit Hamikdash, nossos Sábios decretaram que, como cada sinagoga e casa de estudo é um Mikdash Me’at, um Beit Hamikdash em miniatura, os trabalhos que eram realizados no Beit Hamikdash, nos sete dias de Sucot, seriam realizados em todas as sinagogas.

Os homens da congregação, com as os Arbaat HaMinim nas mãos, davam voltas em torno da Bimá, onde já estava a Torá, e rezavam pedindo a ajuda Divina.

O conceito de dar voltas ao redor do Sefer Torá baseia-se em um ensinamento de um Sábio na Guemará, Rwabi Hiya, que dizia que um representante da congregação segurando o Sefer Torá é equivalente ao próprio Altar do Beit Hamikdash.

Posteriormente, no tempo dos Gueonim, na época de Rabi Saadia Gaon e do Rabi Hai Gaon, esse costume se tornou muito difundido.

O Rambam escreveu que todas as comunidades judaicas rodeavam a Bimá em cada dia de Sucot em comemoração aos dias em que tínhamos o Templo, e que, no sétimo dia dessa festa, Hoshana Rabá, batia-se no chão com um feixe de Aravá, assim como se fazia no Templo durante a época do Primeiro Beit Hamikdash e em toda a Terra de Israel na época do Segundo Beit Hamikdash.

As rezas que falamos durante as voltas em torno da Bimá são chamadas de Hoshanot, porque seu refrão constante – reminiscente do que era usado no Templo – é Hoshana, que significa “salva, por favor”.

Em Hoshana Rabá, sétimo dia de Sucot, damos sete voltas em torno da Bimá, como o faziam nossos antepassados nesse dia no Beit Hamikdash. Durante as primeiras seis voltas, repetem-se as Hoshanot dos seis primeiros dias anteriores da Sucot. Na sétima e última volta, recitam-se as rezas adicionais de Hoshana Rabá.

Há um costume antigo, também instituído pelos profetas Haggai, Zecharia e Malachi, encontrado nos escritos do Rambam, de se pegar cinco ramos de Aravá no término das súplicas das Hoshanot, em Hoshana Rabá, falar um trecho especial e batê-las contra o chão.

Fazemos isso para “adoçar” as cinco Guevurot, os “cinco rigores” celestiais. Esses ramos de Aravá também são chamados de Hoshanot.

É costume que todos – homens, mulheres e crianças – realizem esse ritual. Não se deve usar um feixe de salgueiro que já foi usado por outra pessoa; cada membro da família deve ter o seu próprio.

Após usar o feixe, muitos têm o costume de jogá-lo acima da Arca Sagrada, o Aaron HaKodesh. Esse costume de bater com o feixe de cinco Aravot no chão tem grande significado místico.

Outros costumes de Hoshana Rabá

À luz da importância espiritual desse dia, muitas comunidades costumam permanecer acordadas na noite de Hoshana Rabá. Lemos o quinto livro da Torá, que expõe os preceitos do amor e reverência a D’us, e após a meia-noite, lemos todo o Livro dos Tehilim.

No dia de Hoshana Rabá, comemos uma refeição festiva na Sucá. Esse último dia de Sucot é a última ocasião em que se fala a bênção por comer na Sucá, já que o mandamento bíblico de morar nas cabanas determina que isso seja feito durante sete dias.

No entanto, muitas comunidades que vivem fora da Terra de Israel continuam comendo na Sucá na festa que se segue imediatamente, Shemini Atzeret, mas em Shemini Atzeret já não dizemos a bênção por estar comendo na Sucá.

Aravá: elemento mais humilde das Quatro Espécies

Hoshana Rabá é conhecido como “o dia de bater o Aravá”. O auge das rezas de Hoshanot é o bater do feixe de cinco Aravot no chão.

Por que Hoshana Rabá – último diade Sucot, dia tão importante ao ponto de ser comparado a Yom Kipur – é associado com o Aravá?

Vamos nos lembrar de que um dos principais mandamentos da festa de Sucot é o Mandamento dos Arbaat HaMinim, as quatro espécies de plantas.

Nesse Mandamento, cada espécie de planta simboliza um tipo diferente de judeu.

O Lulav, a folha da tamareira, representa o estudioso da Torá

O Hadáss representa o judeu que pratica muitas ações boas

O Etrog representa, o judeu que estuda a Torá e pratica muitos atos de bondade,

O Aravá, representa o judeu que nem estuda muito a Torá nem cumpre muitos mandamentos.

O Aravá, aparentemente, é o menos importante entre os Arbaat HaMinim e simboliza aquilo que um judeu não deve ser.

Como, então, explicar que o protagonista de Hoshaná Rabá é o Aravá? Por que usamos o feixe de Aravá e não um feixe das outras três espécies, como antídoto contra as Guevurot que são os rigores celestiais?

A razão para isso é que em sua simplicidade e humildade, o Aravá triunfa sobre as outras três espécies.

Em muitos casos, a humildade a tudo supera. Nossos Sábios explicam que o maior obstáculo entre o homem e D’us é o nosso ego.

O Aravá, por ser o menos importante das Quatro Espécies, simboliza a antítese do ego.

A Torá aponta que Moshé Rabenu, o maior líder e profeta judeu dentre todos, a maior alma que já veio ao mundo, foi o homem mais humilde que já existiu. Foi sua humildade, sua total falta de ego, o que lhe fez chegar a tão grandes elevações espirituais.

Em Hoshana Rabá, o feixe de Aravá tem um papel central porque simboliza a humildade, essência desse dia. D’us eleva aqueles que aperfeiçoam sua humildade pessoal.

O judeu personificado pelo Aravá, o modesto e humilde Aravá, em virtude de sua humildade e falta de ego, eleva-se espiritualmente cada vez mais alto. Hoshaná Rabá, o Dia do Julgamento Final, ensina-nos que se pudermos dobrar nosso ego e aceitar o jugo Divino, poderemos influenciar a Corte Celestial a anular qualquer decreto negativo e nos abençoar com um ano bom e doce.

As Hoshanot e as sete Sefirot do sentimento

As Sefirot são as forças que D’us usa para criar e manter o Universo. As dez Sefirot – três intelectuais e sete emocionais, são as bases de toda a Criação. A nossa Alma contém todas elas.

As três relacionadas ao intelecto são Ho’hmá, Sabedoria), Biná, Compreensão, e Da’at, Conscientização.

As sete Sefirót ligadas aos sentimentos são:

Hessed, que se manifesta por meio da bondade, generosidade, expansividade

Guevurá, que se manifesta por meio da justiça, disciplina, restrição.

Tiferet, que se manifesta por meio da, beleza, equilíbrio e extrema bondade.

Netza’h, que se manifesta por meio da vitória, ambição e eternidade.

Hod, que se manifesta por meio da, humildade, submissão, reconhecimento.

Yessod, que se manifesta por meio da carisma, conectividade.

Mal’hut, que se manifesta por meio da liderança, supremacia.

Os sete dias da festa de Sucot correspondem às sete Sefirot ligadas aos sentimentos.

O primeiro dia da festa é associado à Sefirá de Hessed, o segundo dia, à de Guevurá; o terceiro, à de Tiferet, e assim por diante.

Sucot, festa da nossa alegria, é a época em que cada um de nós refina os poderes emocionais de sua Alma, torna-se mais generoso (Hessed), mais disciplinado, (Guevurá); mais equilibrado (Tiferet); mais determinado (Netza’h); mais humilde (Hod); mais inteligente emocionalmente (Yessod) e mais nobre (Mal’hut).

Em cada dia de Sucot (excetuando-se o Shabat), enquanto damos voltas em torno da Bimá e falamos as rezas de Hoshanot, mencionamos, explícita ou implicitamente, uma das sete Sefirot ligadas ao sentimento.

Em Hoshana Rabá, último dos sete dias de Sucot, damos sete voltas: nas seis primeiras, repetimos as passagens ditas nos seis primeiros dias da festa, que correspondem às seis primeiras Sefirot emocionais.

Depois rodeamos a Bimá uma sétima vez e falando as passagens referentes a Hoshana Rabá, cujo tema é a sétima e última delas – a Sefirá de Mal’hut.

A Sefirá de Mal’hut coloca em ação as outras seis Sefirot da emoção.

Em outras palavras, Mal’hut é a materialização dos planos teóricos. É esta Sefirá que repassa para o mundo as emanações das Sefirót que a antecedem que são a Hessed, a Guevurá, a Tiferet, a Netza’h, a Hod e a Yessod.

Hoshana Rabá, portanto, é o sétimo dia e a somatória dos seis dias anteriores de Sucot. Simboliza a perfeição dos sete atributos emocionais da alma humana. A Torá espera que até Hoshana Rabá tenhamos aperfeiçoado nossa habilidade de usar nossas sete Sefirot emocionais.

Sabemos perfeitamente que a maioria de nossos erros e transgressões na vida são decorrentes de algum problema emocional.

Para viver sábia e produtivamente, precisamos aprender quando dar e quando refrear, quando ser contundente e quando ser submisso, como relacionar-nos com os demais e como influenciá-los.

Refinando nossas qualidades emocionais, podemos viver uma vida melhor. Ao aperfeiçoar nossas Sefirot emocionais, podemos alinhar nossas qualidades intelectuais e emocionais e, assim, viver uma vida de paz interna, integridade, propósito, virtude e bondade.

Devemos celebrar Sucot e, particularmente, Hoshana Rabá – ponto alto dessa festa de sete dias, com a conscientização de que apesar de ser uma época de alegria, é também uma época de auto aperfeiçoamento, para que o período de Julgamento Divino, iniciado em Rosh Hashaná, somente traga decretos Celestiais positivos.

No último dia do Julgamento, o dia da “Grande Salvação”, temos a oportunidade de transmitir a D’us que além de ter limpado nossos pecados em Yom Kipur, também refinamos nossa alma e modificamos o que estava errado, e que nossas ações futuras serão melhores do que as passadas.

Hoshana Rabá representa o ponto culminante de todas as nossas rezas e empenho espiritual, iniciados em Rosh Hashaná. Por essa razão, é o dia final do Julgamento Divino.

Nesse dia, devemos concentrar-nos na Sefirá de Mal’hut que é comparada ao Aravá.

Ela não tem nada de si própria, mas para nós ela é a Sefirá principal. Porque ela repassa para o nosso nível todas as emanações, toda a fartura e abundância das Sefirót que a antecedem.

A Sefirá chamada de Mal’hut é comparada à uma mãe que depois de comer muitas variedades de alimentos que o seu nenê não teria a capacidade de comer, ela consegue repassar tudo isso para o nível do nenê transformando todos aqueles alimentos em leitinho nos seus seios e dando para ele mamar na medida certa.