Como se constrói uma família judaica
Respondendo às pergunta das nossas queridas alunas
Minhas filhas estudaram em uma escola judaica de meninas. Não precisaram pensar ou falar em meninos até que isso se tornasse um assunto prático. Ou seja, não é saudável ficar pensando em uma coisa que você ainda não pode ter, alimentar fantasias e sofrer por não tê-las.
Por isso na nossa cultura as meninas não costumam pensar nos meninos enquanto não podem ter um de verdade.
Depois dos dezoito anos (pode ser antes também) nosso costume é procurar uma Shad’hanit que é, assim dizendo, uma corretora de casamentos. Ou seja, não esperamos o noivo cair do céu.
A Shad’hanit (corretora de casamentos) vai procurar nas suas inúmeras listas jovens que combinam com o perfil da jovem. Vai apresentar um… dois… três … quatro …. Até dar certo.
A apresentação é feita de acordo com o que os pais acham que é bom para ela .
Eles saem juntos porque confiamos plenamente nos nossos filhos, na educação que eles receberam, os pais não vão atrás para vigiar.
Eles sentam juntos em um lugar público , bebem alguma coisa juntos e conversam abertamente sobre seus sonhos e suas pretensões , o que esperam um do outro.
Se a cada vez que saírem juntos o amor aumentar, ou ao contrário, se quando eles deixarem de sair juntos eles sentirem falta um do outro é o sinal que o amor existe e o casamento vai dar certo. Então ele pede ela em casamento (mesmo que foi ela que mandou ele pedir!)
A primeira etapa é a família e amigos mais íntimos se reunirem e fazerem uma festinha de noivado na qual os noivos dão a sua palavra, se comprometem a casar um com o outro e os pais dão a sua palavra que vão patrocinar esse casamento em seus mínimos detalhes.
Geralmente as almas gêmeas se encontram dessa maneira . Os pais dos dois lados pagam todas as despesas de tudo que é relacionado ao casamento e mantém o jovem casal o primeiro ano até eles conseguirem decolar por si só.
Na prática:
Minha primeira filha se encontrou dessa maneira, noivou e casou com um jovem que estudava na Yeshivá de Migdal Haemek. Ele era do Uzbekistan (oy vey) , a mãe era judia e ele estava em Israel estudando para ser Rabino. Esse era o nosso nível de acordo com a Shadchanit (olha como o brasileiro é visto fora, até o Uzbekistan já é melhor do que nós) .
O casamento deu super certo e hoje eles já tem seis crianças . O primeiro trabalho dele foi no Colel da Yeshivá por dois anos, depois ele foi para o exército (em Israel, muito bem remunerado para soldados casados) e depois do exército começou a trabalhar como Sofer (Escriba) e até hoje escreve Sifrei Torá , Livros (Pergaminhos) de Torá .
Ela está muito feliz, ele ajuda ela com as crianças e com tudo o que ela precisa. Eles moram no interior de Israel perto da Síria em uma cidadezinha barata onde todo mundo se conhece.
Ele, de acordo com a Shad’hanit , era o nosso nível . (Não era o primeiro que foi apresentado para ela mas dele ela gostou e está super feliz) .
Minha segunda filha tentou desse jeito e não conseguiu o que queria. Então pediu para uma amiga apresentar o jovem cunhado dela , filho de um importante rabino de Israel que estava bem acima do nosso nível social e portanto não seria apresentado pela Shadchanit que geralmente procura o máximo de detalhes em comum nos dois lados.
Eles saíram juntos algumas vezes , se gostaram, resolveram noivar e aí pediram o consentimento dos pais. Eu fiquei muito feliz e o outro lado …..também concordou……
Hoje eles moram em Kfar Chabad perto de Tel Aviv e já tem três crianças. Ele trabalha com o pai e com escolas da região e estão muito felizes.
Esse é outro tipo de encontro que pode acontecer, geralmente quando você está passando um Shabat na casa de amigos e etc.
Isso é o normal, mas as vezes você acaba conhecendo alguém de um jeito diferente, de vez em quando ele é divorciado e tem alguns filhos, etc etc etc .
Em todos os casos , eles sendo judeus e guardando Shabat , Kashrut , etc, pode ser já o suficiente para que o casamento seja uma construção e não um ringue.
Esse foi o meu caso. Conheci minha esposa na fábrica de velas Kosher quando estava traduzindo um Dvar Torá para colocar nas caixinhas das velas que iriam ser distribuídas para meninas judias em escolas de S.Paulo.
Ela já tinha um filho de oito anos , estava começando a guardar Shabat, Kashrut e etc . Eu fui o meu próprio Shadchan! Me apresentei! Saímos três vezes e nos apaixonamos , noivamos depois de um mês e nos casamos depois de três meses .
Nossas mães estavam muito felizes ehoje eu sou o queridinho da minha sogra. Isso também acontece , mas não é o recomendado se apresentar pessoalmente, a princípio quando estamos interessados em alguém pedimos para uma família judia religiosa convidar essa pessoa para Shabat junto com você e fazer a apresentação.
Contei a minha história pessoal porque ela também responde a uma pergunta relacionada com esse tema que é o fato dos jovens se casarem virgens a princípio , mas quando não são virgens ou também se já tinham filhos dos namorados não há problema , como vemos nas histórias de grandes Tzadikim como Josué que sucedeu Moshe Rabeinu . Ele era um grande Tzadik , foi um dos principais líderes do nosso povo e se casou com Rahav que era a prostituta de Jerichó que tinha deixado sua vida anterior e se convertido ao judaísmo .
A Cabala explica que quando as pessoas se casam , um nível da Alma do marido chamado Ruach passa para a mulher e vincula ela a ele desvinculando ela do relacionamento anterior.
Isso consta no Sefer Haguilgulim do grande cabalista o Ari ZA”L, por isso o marido e a mulher se tornam uma pessoa só!
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Caminhe recatadamente com seu D’us”
Micá 6:8
Um elemento básico da vida judaica é o recato. Na maneira em que caminhamos pela rua, na maneira que interagimos com os outros, e na maneira como nos vestimos. Como filhos de D’us, devemos agir e parecer alguém que se conduz com dignidade e recato.
Os parâmetros exatos da exigência de se vestir recatadamente dependem do tempo e lugar. Mas a ideia básica para homens e mulheres é usar roupas com auto-respeito, roupas que não diminuam a pessoa por dentro acentuando por fora o corpo como se, em vez da alma e seu caráter e qualidades, seja o elemento básico da personalidade.
Quando nos abstemos de atrair atenção para nosso exterior, nosso âmago humano, o espírito Divino dentro de cada um de nós, pode brilhar sem ser ofuscado. O recato no vestir e no comportamento nos permite interagir com o mundo em maneiras realmente poderosas, quando nosso ser interior vem à tona.
Assim o recato não significa uma negação de si mesmo, nem nos força a nos esconder. Mas sim, cria uma área privada, um espaço dignificado no qual podemos trabalhar para exceder, sem preocupação com julgamento e aprovação externa.
E mesmo quando estamos sozinhos, no local mais privado, devemos também estar vestidos adequadamente, pois não há local onde D’us não esteja presente.
לא תם ולא נשלם
9 Comments
Sara Ryvka
Que lindas estórias,o encontro das almas gêmeas .
Juliana Yoshida
Maravilhosa explicação Rav, muito esclarecedora.
ednawinter
Lindas histórias Rabino Gloiber!!
E quando os pais não aceitam a pessoa que a filha gosta? O que fazer quando um filho quer se relacionar com alguém que não tem a aprovação dos pais? Podem os pais estarem errados?
Adriana Rachel
Shalom!
Também gostaria de saber o conselho do Rabino sobre esse tema.
Daniela
Linda história!
Evelyn Volsi
Que linda explicação rabino.. realmente inspira! Obrigada.
Anabela Coelho
Que lindo é o reencontro de almas gémeas! 😍😍
Adriana
Bonitas histórias.Gostei.
Roze Rorigues
Shalom! bonitas histórias, práticos e objetivos.. muito bom.