Shavuot

Shavuot

Shavuot é o dia da entrega da Torá, a segunda das três maiores festas do ano judaico. (Pêssa’h é a primeira e Sucot a terceira).

A palavra Shavuot significa “semanas”, nos indicando que nessa festa se completam as sete semanas entre Pêssa’h e Shavuot

Essa época de 49 dias é chamada de Sefirat HaOmer, a contagem do Omer. Ela foi o período no qual nosso povo se preparou para receber a Torá no Monte Sinai.

Durante este tempo, nosso povo se purificou das cicatrizes da escravidão e tornou-se uma nação sagrada, pronta a entrar em uma aliança eterna com D’us.

Em Pêssa’h fomos libertados do Egito, terra das limitações materiais e espirituais, e em Shavuot recebemos a Torá.

Entre a saída das “limitações” e o recebimento da Torá, temos que refinar 49 aspectos diferentes da nossa personalidade, 49 combinações diferentes dos nossos sentimentos.

Porque não esperamos até o recebimento das Torá para reinventar as nossas atitudes?

Porque se acrescentarmos a Torá à um mal caráter, somos capazes de usar essa Torá para justificar esse mal caráter, e no lugar de ela se tornar um remédio para a nossa alma, ela se torna um veneno

Por isso temos que primeiro revisar o nosso comportamento em todos os seus 49 aspectos para recebermos a Torá, e nunca errar achando que o fim justifica os meios

Como disse Raba na Guemará:- O objetivo da sabedoria é a Teshuvá e as boas ações. Para que não aconteça de uma pessoa estudar Torá e depois sair por aí dando pontapés no seu pai, na sua mãe, no seu rabino e etc…

Atzéret

A festa de Shavuot também é chamada de Atzéret que significa “parada”, porque ela  é o complemento da saída do Egito que começou em Pessa’h.

Ou seja, ganhamos nossa liberdade em Pessa’h a fim de recebermos a Torá em Shavuot.

Yom Habikurim

Outro nome para Shavuot é Yom Habikurim, ou o “Dia dos Primeiros Frutos”.

Numa expressão de agradecimento a D’us, começando em Shavuot, cada fazendeiro na terra de Israel levava ao Templo Sagrado uma oferenda do primeiro trigo, cevada, uvas, figos, romãs, azeitonas e tâmaras que cresciam nos seus campos.

Hag Hakatzir

Shavuot é também chamado Hag Hakatzir, a Festa da Colheita, porque o trigo que é o último dos grãos a ficar pronto para ser cortado, era colhido nesta época do ano.

Yom Tov 

A festa de Shavuot está na categoria de festas Judaicas chamadas de Yom Tov pela Torá

A maioria dos trabalhos proibidos no Shabat são proibidos também no Yom Tov com exceção de carregar em um domínio público e cozinhar utilizando o fogo repassado de uma chama acesa desde a véspera. Quando o Yom Tov cai no Shabat os trabalhos proibidos no Shabat prevalecem

No Yom Tov é permitido transportar objetos que não são “Muktze” do recinto privado para o recinto público e vice versa, e também podemos carregar em via públicas

É permitido cozinhar para as refeições daquele dia especificamente

Portanto, é permitido passar o fogo, a partir de uma uma chama pré-existente, como a de uma vela de um, dois ou sete dias, por exemplo.

É permitido passar o fogo da chama pré existente por meio de um espetinho de madeira para acender as velas de Yom Tov, mas é proibido apagar esse espetinho depois.

Ou seja, acender fogo no Yom Tov é proibido, apagar fogo no Yom Tov é proibido, mas passar o fogo de uma vela para a outra ou para o fogão a gás para cozinhar a comida do Yom Tov é permitido

Aumentar o fogo é permitido mas abaixar o fogo é considerado apagar o fogo parcialmente o que também é proibido pela Torá

 A véspera de Shavuot

Tem quem costuma enfeitar a casa e a sinagoga com frutas, flores e folhagens. O motivo disso é que na época do Templo Sagrado, os primeiros frutos da colheita eram oferecidos em Shavuot.

Nossos Sábios nos contam que, mesmo o Monte Sinai se encontrando no deserto, quando a Torá foi dada ao nosso povo a montanha floresceu e milhares de flores brotaram milagrosamente

Comidas de leite

Costuma-se comer alimentos à base de leite em Shavuot. Existem várias razões para este costume:

Com a entrega da Torá recebemos oficialmente todos os Mandamentos Divinos relacionados à alimentação kasher.

Como a Torá foi dada no Shabat, nenhum animal poderia ser abatido e nem os utensílios poderiam ser kasherizados, portanto neste dia come-se lacticínios em memória à esse acontecimento

Outro motivo é que a Torá é comparada ao leite. A palavra hebraica para leite é “halav”. Quando o valor numérico de cada uma das letras da palavra halav são somadas (8+30+2), chega-se ao total de quarenta. Quarenta é o número de dias que Moshê passou no Monte Sinai, recebendo a Torá diretamente de D’us.

Os Dez Mandamentos

1º dia de Shavuot – os Dez Mandamentos

Shavuot é o dia no qual celebramos a grande revelação da entrega da Torá no Monte Sinai há 3.336 anos atrás, no ano judaico de 2448.

As almas de todos os judeus que iriam nascer em todos os tempos futuros e também as almas de todas as pessoas que futuramente iriam se converter ao judaísmo, juntaram-se para ouvir os Dez Mandamentos transmitidos pelo próprio D’us.

Em Shavuot, na realidade, D’us está nos dando novamente a Torá. Por isso, o Rebe pediu para que todo judeu, homens, mulheres, e especialmente crianças (até mesmo bebês recém-nascidos) devem fazer todo o esforço para estarem presentes numa sinagoga durante a leitura dos Dez Mandamentos.

O Livro de Ruth

Em muitas sinagogas lê-se o Livro de Ruth no segundo dia de Shavuot. Há vários motivos para este costume:

Shavuot é a data de nascimento e yohrzeit (dia de falecimento) do Rei David, e o Livro de Ruth registra sua ancestralidade. Ruth e seu marido Boaz foram os bisavós do Rei David.

As cenas de colheita, descritas no Livro de Ruth lembram a festa de Shavuot que também é conhecida como Festa da Colheita.

Ruth foi uma convertida sincera que abraçou o judaísmo de todo o coração. Em Shavuot, todos os judeus foram como convertidos, tendo aceitado a Torá e todos seus preceitos.

Refeição de leite

No almoço, após o kidush, faça uma refeição festiva de laticínios. Espere no mínimo 1h de intervalo para realizar uma refeição de carne.

•Antes da refeição festiva da noite, leia o kidush de Yom Tov.

2º dia de Shavuot

Yizcor

Falamos Yizcor em memória de entes queridos falecidos. Antes da refeição festiva leia o kidush de Yom Tov.

*Veja as receitas para Shavuot em nosso site:

https://rabinogloiber.com/receitas-de-shavuot/

Certa vez uma pessoa (que não era judeu) perguntou ao grande Sábio Hilel :-Quantos tipos de TORÁ vocês tem? Dois, respondeu Hilel. Torá escrita e TORÁ oral. Ouvindo isso a pessoa declarou :- Na TORÁ escrita eu acredito mas na oral não, eu quero me converter ao judaísmo na condição de que você só me ensine a TORÁ escrita. Hilel concordou. No primeiro dia de estudos Hilel ensinou ele a ler a TORÁ escrita.

Mostrou para ele a letra Alef em hebraico e explicou para ele que isso é um Alef. Mostrou o Beit e explicou que isso é um Beit, e o mesmo fez com as outras letras. Na outra aula Hilel mostrou para ele a letra Alef e explicou que isso é o Dalet. O aluno se espantou e disse :- Mas ontem você não me explicou assim!

Você confiou no que eu te expliquei oralmente ontem?Disse Hilel, então você tem que confiar também na outra coisa que eu te disse , que também a TORÁ oral foi dada por D’us! (ou seja, sem a TORÁ oral não saberíamos nem ler e nem entender a TORÁ escrita, e isso é a prova de que elas são uma coisa só)

Quando D’eus nos deu a TORÁ elas eram duas desde o começo. Uma escrita e uma oral. Moisés ,o maior de todos os profetas escreveu a TORÁ escrita e explicou oralmente como colocar ela na prática, ou seja, de que forma cumprir o que está escrito. Em outras palavras ,o como cumprir a Mitzvá é chamado de TORÁ oral.

A TORÁ escrita pelo maior dos profetas continuou sendo escrita posteriormente por menores profetas até o exílio da Babilônia que aconteceu depois da destruição do primeiro Templo de Jerusalém .

Os últimos profetas viveram no exílio da babilônia, época em que o império persa dominava o mundo. Na época em que o segundo Templo foi construído e chegou a época do império grego e depois do império romano não tínhamos mais profetas, e portanto não tivemos mais TORÁ escrita do que aquela que foi escrita até o exílio da babilônia,ou seja, 24 livros. Posteriormente a TORÁ oral foi escrita incluindo a TORÁ oculta conhecida como Kabala.

A TORÁ oral continua sendo escrita a cada geração sendo que surgem novas situações que precisam ser esclarecidas, comparadas às anteriores, diagnosticadas e classificadas . As pessoas precisam de explicações com mais detalhes e etc. As explicações dos Sábios de cada geração de como cumprir a TORÁ da maneira correta naquela geração também é chamada de TORÁ oral. Em resumo, o que chamamos de TORÁ inclui TORÁ oral e escrita .A TORÁ escrita é composta de 24 livros e a oral hoje já chega à milhares de volumes que mais de 52000 já estão disponíveis no site Hebrew books

http://www.hebrewbooks.org

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Onde fica o Monte Sinai

Hoje, três mil trezentos e trinta e seis anos após o acontecimento mais sublime do mundo, a entrega da Torá, muitos estudiosos tentam identificar o lugar da montanha que foi tão sagrada no momento em que a Torá foi dada ao povo de Israel

Inúmeros estudos foram realizados ao longo de quilômetros na península do Sinai e no oeste da Arábia Saudita tentando descobrir em qual montanha Hashem nos deu a Torá.

E finalmente chegamos a mais verdadeira conclusão:

O monte Sinai pode ser qualquer montanha entre o oeste da Arábia Saudita e a península do Sinai!

Contanto que seja perto o suficiente de Midian que ficava na Arábia Saudita a ponto de Moshe Rabeinu levar o rebanho de Ytró para pastar e um carneirinho conseguir fugir até lá.

E perto o suficiente do Egito para que o povo de Israel conseguisse chegar lá para receber a Torá saindo do Egito em Pessach, caminhando no ritmo das mulheres e das crianças pequenas, e chegarem em menos de cinquenta dias naquela montanha para receber nela a Torá

A importância do Monte Sinai na época em que recebemos a Torá

A saída do Egito foi nossa redenção material e a entrega da Torá nossa redenção espiritual, e por isso a entrega da Torá teve que acontecer obrigatoriamente como continuação à saída do Egito, para que nossa redenção se tornasse uma redenção total

O segredo da existência do povo judeu é a Torá. Shavuot é a festa que simboliza o fato de nos tornarmos um povo. O dia da entrega da Torá é o dia em que a revelação Divina desceu no monte Sinai.

O fato de que o evento mais importante da história judaica, a entrega da Torá, ocorreu no Monte Sinai está claro, mas porque essa montanha não teve um acompanhamento, ou seja, nenhuma tradição exata foi preservada quanto à sua identidade e a localização a ponto de aparentemente até na época dos Sábios já não se sabia qual era a montanha exata

O motivo para isso é tanto o fato de o Monte Sinai se encontrar no coração do deserto, não só longe da civilização como também sem um assentamento humano contínuo, ninguém para testemunhar que esse era o lugar, até mesmo porque depois que partimos de lá a presença Divina partiu junto com o nosso povo

Quanto pelo fato de impedir com que ele se torne uma idolatria, semelhante à localização da tumba de Moshe Rabeinu no Monte Nevo, em Moav, que tradicionalmente não se conhece sua localização por esse motivo

A “briga entre as montanhas na atualidade”

O Midrash nos conta que antes de Hashem nos dar a Torá no Monte Sinai, as principais montanhas da Terra Santa brigaram entre si.

Cada uma esnobou sobre as outras suas superioridades, tentando assim convencer Hashem de dar a Torá sobre ela.

Diz o Midrash que Hashem optou pelo monte Sinai sendo que ele era a mais humilde de todas as montanhas, e por isso não participou dessa esnobação.

De acordo com a kabalá, cada criatura aqui embaixo tem um anjo responsável por ela lá em cima, e esses anjos foram quem brigou, cada um representando a montanha de sua responsabilidade

Hoje muitos arqueólogos brigam entre si, cada um representando a montanha que diz ser o verdadeiro Monte Sinai. A “briga das montanhas” nos tempos atuais!

Ao longo dos anos, muitos esforços foram feitos para identificar o Monte Sinai com uma das montanhas encontradas em várias partes do deserto do Sinai e além

Todas as opções:

Como vimos anteriormente, o monte Sinai pode ser qualquer montanha entre o oeste da Arábia Saudita e a península do Sinai, mas então, porque algumas opções foram vistas como preferências em relação à outras?

O monte Sinai está localizado entre os desertos de Tzin e Paran, bem como entre a terra de Amalek e a terra de Midian, mas a localização desses dois desertos e a relação entre eles é desconhecida em sua localização exata, embora seus limites sejam claramente definidos pela Torá

Jab el Mussa

O lugar mais conhecido como o Monte Sinai, e essa é a primeira foto que aparece quando você digita as palavras “Monte Sinai” no Google (cuidado com essa foto) é Jab el Mussa que foi escolhido pela Imperatriz cristã Helena como Monte Sinai.

No século IV ela fez construir ali uma igreja, a Capela da Sarça Ardente no local onde ainda se encontrava vivo um arbusto de rubus sanctus que os monges acreditavam ser a sarça ardente original.

Dr. Avigdor Shahan, especialista em estudos da terra de Israel, atesta que o vínculo entre o Monte Sinai e Jab el Mussa foi simplesmente inventado por essa Imperatriz Helena, mãe do imperador Constantino do Império Bizântico”

Ela decidiu visitar os locais cristãos na Terra Santa e se juntou a um comboio de camelos que ia do Egito à Israel.

Uma noite ela ficou impressionada com a beleza de uma montanha próxima e decidiu que essa era a montanha na qual Moisés recebeu a Torá, e por isso essa montanha foi chamada de “Jab el Mussa” (Monte de Moisés)

Assim nasceu a lenda de que esta montanha e não outra é o autêntico Monte Sinai.

O imperador, filho de Helena, ordenou a construção de um convento naquele lugar. Imediatamente se estabeleceu ali uma comunidade cristã para proteger a igreja e os monges dos ataques de beduínos.

O imperador Justiniano I mandou construir uma muralha à volta da igreja no ano 542 e os edifícios que são hoje o Mosteiro Ortodoxo de S.Catarina

Acontece que essa mesma Helena foi a que iniciou a prática de despejar lixo no Monte do Templo a fim de esconder os vestígios do” Kotel Hamaaravi, o “Muro das lamentações”, e assim apagar todo e qualquer vestígio judaico na terra santa

Antes do deserto do Sinai ser dado ao Egito, os turistas israelenses podiam ser vistos frequentemente subindo as escadarias íngremes do mosteiro que levavam ao topo da montanha.

Esses turistas provavelmente não sabiam que seu trabalho duro era gratuito, e pior do que isso, era visto como um apoio à idolatria.

Então, cuidado: quando você digita a palavra “Monte Sinai” no Google, essa opção aparece em primeiro lugar e esse lugar não tem absolutamente nada a ver com a nossa religião, mas é um lugar totalmente vinculado ao cristianismo

Monte Karkum

Uma das hipóteses levantadas pelos estudiosos da história ao longo dos anos é o “Monte Karkum”, uma montanha no sul do Negev, onde foram descobertos sítios arqueológicos e arte rupestre,

Identificada pelo arqueólogo Emanuel Anati como sendo o Monte Sinai, o monte Karkum era uma montanha sagrada para os idólatras nos séculos IV e III AC e muitas pessoas construíram suas residências no sopé da montanha.

Sendo que a Torá fala sobre a proibição de subir a montanha, ele imaginou que esse era o motivo de terem construído as casas no sopé da montanha e não no seu topo, mas essa identificação é controversa na comunidade arqueológica.

Jabel Al Laws

Outra teoria sugere o Monte Jabal al-Laws, na Arábia Saudita, no lugar onde se encontrava a antiga terra de Midian.

A distância entre o possível lugar da terra de Goshen e a possibilidade de lá ter sido a terra de Midian é de aproximadamente 450 km, e esse alcance não corresponde à proximidade do monte Sinai à terra de Goshen

Jab el Halal

Vários estudiosos sugeriram identificar Jab el Halal como o Monte Sinai da Torá, sendo que a localização da montanha se encaixa na “rota norte” do êxodo.  Sua escolha foi devido à sua relativa proximidade com Kodirat e Kadis que alguns estudiosos identificaram como sendo Kadesh Barnea

Serbit al-Khadam

Dr. Zvi Ilan sugeriu a identificação de Serbit al-Khadam com o Monte Sinai, que também é controverso entre os pesquisadores

Jabel Sin Bisher

Uma hipótese apresentada pelo professor Menashe Harel sugeriu a identificação de ‘Jabel Sin Bisher’ localizado na parte ocidental de Wadi Suder, no oeste do Sinai, como sendo o Monte Sinai da Torá.

E finalmente conclusão :

Aonde fica o verdadeiro Monte Sinai? Dentro do seu coração!

O Rebe de Lubavitch e o Monte Sinai

No início de 1956, o Egito nacionalizou a Companhia do Canal de Suez, controlada pelo Reino Unido e pela França e fechou o Estreito de Tiran à navios israelenses paralisando assim o porto de Eilat.

Ao mesmo tempo, o enorme estado árabe estava fortalecendo sua força militar e adquiriu um grande armamento da antiga Tchecoslováquia, e tudo isso levou a Grã-Bretanha e a França a convencerem Israel a entrar em uma guerra contra o Egito.

O jovem Estado de Israel embarcou em uma batalha conhecida como Operação Sinai, ou pelo segundo nome, Operação Kadesh, durante a qual conquistou a Península do Sinai, danificou a infra-estrutura militar egípcia e aniquilou dos terroristas que dominavam aguerrida região

Quando os soldados da IDF conquistaram a Península do Sinai, alguns também chegaram a uma das montanhas que os pesquisadores acreditam estar associada ao Monte Sinai.Um desses soldados era o Dr. Moshe Herb, que estava muito animado com o fato de estar pisando onde (talvez) nossos ancestrais estiveram há três mil anos atrás.

Ele se aproximou pensando que poderia estar onde o povo judeu foi criado como um povo, onde recebemos a Torá, e subiu animadamente para a montanha, onde (talvez) Moshe Rabeinu cuja montanha leva seu nome (jab el Mussa) tivesse recebido a Torá.

No entanto, chegando lá em cima, ao contrário da expectativa que ele tinha de transcendência espiritual, de uma alegria especial, ele não sentiu nada.

Apenas uma decepção.  Ele não sentiu que essa era a montanha certa, não sentiu quie lá era o Monte Sinai.

Depois que o soldado Dr Moshe Herb voltou da frente de batalha para sua casa, ele enviou uma carta ao Lubavitcher Rebbe expressando seus sentimentos sobre a identificação da montanha

O Rebe respondeu para ele com as seguintes palavras: “Em resposta ao que você escreveu que escalou uma montanha achando que lá era o Monte Sinai e não sentiu que era a mesma montanha”.

Continua o Rebe dizendo: A localização física ou geográfica do Monte Sinai não tem para nós nenhum significado especial, porque todo o significado do Monte Sinai é que nele recebemos a Torá com o objetivo de cumprir a Torá conforme necessário, pois ela se torna parte integrante de nossas vidas.

A Torá, continua o Rebe escrevendo  para o soldado, é “Torá de Vida”, não é simplesmente um ensinamento mas também um modo de vida para nós.  A Torá é “o manual de instruções do mundo” e suas instruções são eternas, tanto para o mundo quanto para todo judeu a qualquer hora e em qualquer lugar.

A verdade é, explica o Rebe, que todo judeu em sua alma está vinculado com a Torá, mesmo que às vezes pareça se comportar de maneira um pouco diferente.

E esse é realmente o segredo da metodologia de Chabad: trazer todo judeu ao amor ao próximo de forma tranquila, por meio de um caminho de amor, e devolvê-lo à Torá dada no Monte Sinai, sem confundir e esconder a verdade da Torá.  Apenas removendo a cobertura que esconde seu verdadeiro vínculo (desse judeu) com a Torá.

E o Rebe termina sua carta com um resumo prático: não é suficiente entender a Torá ou o sentimento positivo que o judeu tem pela Torá, ele deve realmente colocar tudo em prática, cumprir as Mitzvot, porque esse é o propósito do homem.

Então, se te  perguntarem “onde exatamente está o Monte Sinai?”  Você pode apontar para sua localização exata: é bem aqui, dentro do coração, onde minha mente e a sua estão conectadas com a Torá.

Mas isso não basta, continua o Rebe, você tem que descer da montanha, ou, mais corretamente: dar vida à montanha, à vida cotidiana e, de fato, agir de acordo com as instruções que recebemos de Hashem no Monte Sinai, ou seja, de acordo com a Torá..

A verdade histórica da Revelação Divina no Sinai

Em Shavuot comemoramos a Revelação Divina no Monte Sinai. Esse é o acontecimento sobre o qual o judaísmo se mantém

Judaísmo não é deísmo

Deísmo é a crença de que a lógica e a observação do mundo natural podem determinar que o universo é o produto de um Criador todo poderoso.

Segundo os deístas, D’us criou o Universo para logo o abandonar, deixando-o seguir seu próprio curso.

O deísmo é uma filosofia religiosa, não uma religião; pois se D’us não se relaciona com Suas criaturas, que diferença faz ao homem como o Universo foi criado?

Se D’us nunca Se tivesse revelado ao homem, a lógica nos levaria a crer em um Criador, mas nós não teríamos evidência alguma de Sua existência.

Na ausência da Revelação Divina, não saberíamos como nos relacionar com D’us e, portanto, não haveria uma interface real entre D’us e o homem.

Diferentemente do deísmo, a verdadeira religião se origina em D’us, e não no homem.

Esta não se pode basear nas conjecturas de uma mente humana, limitada, ou nos desejos do coração humano.

Pelo contrário, precisa basear-se em fatos e verdades.

A fé que não se baseia em fatos é despida de significado: também os idólatras, têm sua fé

Portanto, a essência da verdadeira religião é a Revelação Divina.

A verdadeira religião é baseada não no que o homem pensa ou diz sobre D’us, mas na Verdade e no que D’us diz ao homem.

A Revelação Divina não é matéria subjetiva. Não é uma ideia, um ideal ou uma experiência que ocorre dentro da mente ou do coração humano. Trata-se de um evento pelo qual o homem deve passar.

Shavuot e a Revelação Divina no Sinai

A festa de Shavuot, celebrada em 6 e 7 do mês de Sivan, comemora o evento mais significativo na História Judaica, a Revelação Divina no Monte Sinai e a entrega da Torá ao Povo Judeu.

Cinquenta dias após o Êxodo, D’us abertamente Se revelou a aproximadamente três milhões de judeus, homens, mulheres e crianças.

O judaísmo se mantém sobre um pilar: a Revelação Divina no Sinai. O restante é comentário.

Cremos em Moshe simples e exclusivamente porque a Revelação Divina no Sinai confirmou que D’us o escolheu como Seu emissário e que a Torá que ele ensinou ao Povo Judeu era a Palavra de D’us.

Se D’us não tivesse se revelado para todo o Povo Judeu e não tivesse dado a Moshe Seu selo de aprovação, como os milhões de judeus que deixaram o Egito – e cada geração de judeus desde então – teriam sabido que Moshe tinha verdadeiramente falado em nome do Criador?

Como saberíamos que ele não era um sofisticado feiticeiro, um charlatão ou, até mesmo, um esquizofrênico bem intencionado?

Se D’us não Se tivesse revelado no Monte Sinai, nenhum de nossos ancestrais, nem tampouco nós, poderíamos saber isso ao certo… O judaísmo seria apenas baseado na fé, e não em fatos.

Da mesma forma, acreditamos na Torá e seguimos suas leis não por causa de Moshe, mas por causa de D’us.

Cada uma das letras dos Cinco Livros da Torá foi escrita por Ele; Moshé meramente as transcreveu como um secretário.

A razão para a Torá ser conhecida como Torat Moshe, a Torá de Moshe, é porque somente ele, e ninguém mais antes ou depois dele, teve o mérito de tê-la trazido à Terra.

A Lei Judaica não é a lei do homem, nem a lei de Moshe, mas a Lei de D’us.

Por isso o Talmud repetidamente ensina que a Lei Judaica somente pode ser derivada dos Cinco Livros da Torá, que foram escritos pessoalmente por D’us, e não derivam dos Livros dos Profetas (Nevi’im) nem das Escrituras Sagradas (Ketuvim), que, apesar de serem um produto da inspiração Divina, foram escritas pelos profetas, e não pelo Criador.

Apesar de ser verdade que D’us deu permissão aos Sábios para instituir decretos que fortalecem a observância da Torá e leis que celebram eventos de importância nacional que ocorreram após sua entrega, nenhum ser humano, nem mesmo Moshe, tem o poder de adicionar e nem de subtrair nada de seus 613 mandamentos.

Fazer isso seria impor a vontade de alguém sobre a Vontade do Criador, ou pior, negar a Origem Divina da Torá.

A busca pela verdade

A verdadeira religião tem que estar calcada em fatos e não na fé, por definição tem também que ser a busca da verdade.

A fé cega não é religião; é credulidade, e pode levar à idolatria.

Qualquer cientista honesto admitirá que o conhecimento humano é extraordinariamente limitado: sabemos muito pouco sobre muito pouco.

À medida que aumenta o conhecimento humano, percebemos que estávamos enganados, por muito tempo, sobre muitas coisas.

E ainda mais, percebemos que há exceções para cada uma das leis científicas.

Uma pessoa pode mentir sobre uma questão pessoal, algo que ocorreu quando não havia ninguém por perto e que, portanto, não pode ser comprovado nem negado, e os demais podem optar por acreditar ou não nela.

Da mesma maneira, um grupo de pessoas que se conhecem podem inventar uma história e, enquanto esta for convincente e não houver discrepâncias significativas entre os relatos de cada uma delas, poderão convencer muitos outros de sua veracidade.

No entanto, é muito difícil mentir acerca de um evento que envolveu milhares de pessoas. O que dizer então de milhões de pessoas.

Quando muitas pessoas que nunca se encontraram e nunca se comunicaram relatam a mesmíssima história, não importa quão inacreditável a história seja; é muito difícil pensar que seja uma invenção.

Porque, se aquela gente toda não se conhecia, nunca se falou nem nunca se comunicou, como e quando poderiam ter maquinado a mesmíssima mentira?

Se D’us apenas Se tivesse revelado a Moshe, como no episódio do arbusto incandescente, isso seria um evento privado, algo que não poderia ser comprovado nem refutado.

E ainda que um grupo seleto de pessoas testemunhasse que tivessem estado presentes quando D’us se revelou a Moshe, isso não significaria que nós teríamos que crer em seu testemunho, pois é possível que um grupo pequeno de conhecidos pudesse maquinar uma mentira e evitar que a verdade viesse a público.

No entanto, quando um evento ocorre diante de uma multidão, sua veracidade se torna muito mais difícil de ser negada.

Entre os três milhões de judeus que estiveram no deserto, havia muitíssimos que não se conheciam e que nunca haviam falado entre si.

Indo mais além, como relata a Torá, a geração que deixou o Egito rebelou-se com frequência contra Moshé. Seria possível que todos eles se tivessem unido para engendrar uma mentira?

E se Moshé, sozinho, tivesse inventado essa história sobre a Revelação Divina – como teria conseguido convencer todos os judeus a segui-lo? De alguma maneira, apesar de toda a desunião e rebeldia dos judeus do deserto, apresentou-se apenas uma Torá. A versão do que ocorreu no Sinai é uma e única.

Mas mesmo se os três milhões de judeus fossem totalmente submissos a Moshé e tivessem concordado com suas, digamos, maquinações, como se explica que ninguém se tenha entregado e dito a verdade, especialmente após sua morte?

Por que os judeus no deserto não contaram a seus filhos que o relato da Revelação Divina tinha sido inventado e que eles, portanto, não tinham que se preocupar em seguir as Leis da Torá?

Se mesmo uma minoria deles tivesse dito a seus filhos que o relato da Revelação Divina era mera lenda, a verdade teria vindo à tona, mais cedo ou mais tarde.

Mas, no entanto, durante mais de 3.336 anos desde que a Torá foi dada, ninguém, nem mesmo os ateus ou os que criticam a Bíblia, alegaram que haja uma tradição entre os judeus de que Moshe tenha inventado a história sobre a Revelação Divina e tenha forçado os judeus a dar continuidade à ela.

A razão para tal, como vimos acima, é que é muito difícil mentir sobre um evento público que envolveu milhões de pessoas. Se tal evento nunca ocorreu, é impossível convencer as pessoas de sua ocorrência.

Um evento monumental como a aparição de D’us perante todo o Povo Judeu, não pode ser inventada nem aceita como verdadeira a menos que haja uma tradição de que tenha mesmo acontecido.

Não é concebível que os judeus acreditassem no relato da Torá acerca da Revelação Divina no Sinai, a menos que o tivessem escutado de seus pais e avós, ao longo de sua vida.

E ainda que nenhum mais dos que tinham testemunhado a Revelação Divina estivesse vivo, seus filhos e os filhos de seus filhos, estariam.

Eles não tinham estado presentes quando D’us Se revelou no Monte Sinai, mas tinham ouvido aquele relato em primeira mão.

A Autoria da Torá

Um dos princípios fundamentais do judaísmo é que a Torá não foi escrita por Moshe nem por qualquer outro homem, e sim, pelo próprio Criador.

As fontes básicas de conhecimento sobre a Revelação Divina são a transmissão oral, de geração a geração, e um registro escrito, a dizer, os Cinco Livros da Torá.

Caso haja uma razão sólida para acreditar que a Torá é de autoria Divina, a veracidade do que quer que a mesma nos relate, inclusive a Revelação Divina no Sinai, é, pois, inquestionável.

No entanto, se a Torá tivesse sido escrita por um ser humano, ainda que por Moshé, sua veracidade e autoria poderiam ser questionadas – pois nenhum homem é dono da Verdade Absoluta.

Hala’há LeMoshe MiSinai

Como o judaísmo advoga que a Torá é a Palavra de D’us, seria lógico presumir que não há desacordo ou discussão acerca de suas leis.

Contudo, na realidade, o Talmud Babilônico, que elucida os Cinco Livros da Torá e constitui o pilar da Lei Judaica, é formado por uma série de divergências e debates entre nossos Sábios.

Podemos perguntar: se D’us transmitiu a Torá a Moshé, haverá o que discutir sobre suas leis?

A resposta profunda a essa pergunta está além do escopo deste artigo, mas a resposta simplista, fornecida pelo Talmud de forma explícita e não apologética, é que no dia em que Moshé deixou este mundo, o Povo Judeu esqueceu muitas das leis da Torá Oral, que são as elucidações e explicações da Torá Escrita.

Por isso, coube aos Sábios, através de discussões, lógicas e análises, tentar recuperar o conhecimento perdido. No entanto, os ensinamentos da Torá Oral que não foram esquecidos não estão sujeitos à discussão.

No Talmud, há uma frase “mágica” que coloca um ponto final em qualquer discussão: Hala’há LeMoshe MiSinai “uma lei transmitida a Moshe no Sinai”.

As divergências existentes no Talmud não contestam, mas até corroboram a Revelação Divina no Sinai e a Divina Autoria da Torá.

Como a Revelação ocorreu apenas uma única vez e como a Torá foi criada por D’us e transmitida apenas a Moshé, não houve quem vivesse após Moshé que pudesse ensinar as leis que tinham sido esquecidas.

Como ensina o Talmud (Tratado Temurá 16ª): “Um profeta não está autorizado a introduzir nada de novo”. A Torá deu aos Sábios o poder de decretar leis rabínicas, mas as leis bíblicas não podem ser alteradas, criadas ou abolidas.

Como ensina o Midrash (Devarim Rabá, 8:6): “Moshé disse ao Povo Judeu: ‘Não digam que outro Moshé surgirá, com outra Torá dos Céus; já lhes estou anunciando, agora, não está nos Céus. Nada restou nos Céus’”.

O fato de que os Sábios do Talmud discordassem acerca da aplicação adequada de muitas das leis da Torá é uma indicação de que o judaísmo não é dogmático, mas é a busca da verdade.

Por outro lado, o fato de que apesar de todas as suas discordâncias, os Sábios unanimemente concordam sobre tantos pontos, é uma boa evidência de que o judaísmo tem uma única origem comum; pois, de outra forma, os Sábios do Talmud debateriam sobre os mínimos pontos da Lei Judaica.

Quando as pessoas que costumam discordar entre si estão de acordo sobre umas tantas coisas, geralmente é sinal de que há uma razão para tal. Se para os Sábios do Talmud, Halachá LeMoshe MiSinai não estava sujeita à discussão, significa que a veracidade da Revelação Divina no Sinai e da Autoria Divina da Torá eram incontestáveis para eles. Assim sendo, eles não desperdiçariam seu tempo e energia discutindo o óbvio.

Mas, se não tivesse ocorrido a Revelação Divina no Sinai e se a Torá não tivesse sido escrita por D’us, o conceito da Halachá LeMoshe MiSinai não existiria.

Porque se a Torá fosse escrita por Moshe, por que seria proibido a um profeta ou um sábio de um período posterior mudar qualquer de suas leis ou, ao menos, instituir decretos que pudessem solucionar todas as dúvidas sobre a Lei Judaica?

Na verdade, na ausência de uma Revelação Divina, será que deveríamos atribuir a um ser humano o poder de criar leis imutáveis e, de fato, nem sequer passíveis de discussão?

Com todo o respeito a Moshe, ele não fundou o judaísmo, nem foi um de nossos Patriarcas. E se a Torá tivesse sido escrita por ele, por que razão deveríamos acreditar, como diz a Torá, que ele foi o maior profeta de todos os tempos?

Além disso, a tradição judaica não mede palavras em sua tentativa de humanizá-lo. É inconcebível que os judeus atribuíssem autoridade divina a o que quer que fosse que Moshé lhes ensinasse, a menos que soubessem que a Torá não era dele, mas realmente do D’us de Israel.

Se a Torá não tivesse sido escrita pelo Todo Poderoso, os profetas e Sábios que vieram após Moshé poderiam ter mudado algumas de suas leis – coisa que nunca ocorreu.

No curso da História Judaica, criaram-se leis rabínicas, que foram modificadas e até rechaçadas, mas ninguém jamais ousou tocar na lei bíblica. Ninguém ousou argumentar com a Halachá LeMoshe MiSinai.

Se todos os profetas e Sábios que viveram após Moshé se recusaram categoricamente a substituí-lo ou mesmo a tentar replicar o que ele conquistara – nem mesmo pela nobre razão de tentar recuperar o conhecimento que foi perdido com sua morte – é porque sabiam que a Torá era a Palavra de D’us, que fora transmitida apenas a Moshé; e agora que ele se fora, não havia como novamente trazer a Torá dos Céus à Terra.

Há apenas uma versão da Torá, e não há relatos conflitantes sobre os eventos que descreve. Através da história, muitos judeus, especialmente os insolentes Reis de Israel, poderiam ter justificado seu comportamento pecaminoso alegando que a Torá era uma invenção ou um livro de lendas.

Se essas pessoas apenas pudessem apresentar alguma evidência de que a Torá não fosse Divina – de que foi escrita por Moshé ou por outros seres humanos – eles poderiam ter algum tipo de desculpas para muitas de suas próprias ações, especialmente sua idolatria, que não prejudicou nenhum outro homem.

Mas nos últimos três milênios, mesmo os judeus que mais se beneficiariam levantando dúvidas sobre a autoria da Torá, não o fizeram.

Eles poderiam ter questionado a Justiça Divina, mas nunca tiveram a audácia de questionar a verdade da Revelação no Sinai e a legitimidade e a Divina autoria da Torá. E por quê?

Porque um evento público que envolveu milhões de pessoas é impossível de ser negado.

Muitas pessoas não o sabem, mas os fundadores do Cristianismo eram judeus seguidores da Torá. O Cristianismo se iniciou como um movimento messiânico judaico. O propósito dos primeiros cristãos não era começar uma nova religião, mas ganhar o máximo de adeptos para seu movimento – judeus ou não. E como eles consideravam seu movimento messiânico autenticamente judaico, somente seriam aceitos os não-judeus que se convertessem ao judaísmo.

Mas, segundo relato da Bíblia cristã, quando os fundadores do Cristianismo saíram em suas primeiras missões proselitistas, não tiveram sucesso em sua tentativa de converter os pagãos ao judaísmo. Apesar de terem ouvido que a Torá era a Palavra de D’us, os gentios ficaram assombrados com seus mandamentos – as leis de Casherut, do Shabat e, sobretudo, da circuncisão. Os primeiros cristãos somente conseguiram converter pagãos a seu recém-criado movimento quando abandonaram a exigência de que os não-judeus aceitassem as leis da Torá. Eles provavelmente perceberam que nenhuma nação, exceto os judeus, se sujeitaria àquelas leis.

Quem pode culpar os pagãos por recusar a Torá? É compreensível
que os judeus a tenham aceitado – eles testemunharam a Revelação Divina no Sinai, e, na verdade, não tinham muita escolha. Mas por que um povo que não testemunhou a Revelação e a entrega da Torá iria aceitar a responsabilidade de cumprir todos os seus difíceis mandamentos?

A Revelação no Sinai não rendeu aos judeus o amor e a admiração do resto da humanidade. Milênios antes de ocorrer a Inquisição e o Holocausto, o Talmud já tinha previsto que os judeus seriam odiados por terem sido escolhidos por D’us para receber a Sua Torá e testemunhar a única Revelação Divina na História.

O Rabi Yehoshua ben Levi assim ensina no Talmud: Por que a montanha onde a Torá foi entregue se chama Sinai? Porque ela causaria Sinat – ódio – entre o restante do mundo contra o Povo Judeu.

Um Livro nada lisonjeiro

Além de conter inúmeras leis de difícil cumprimento, a Torá narra muitas histórias, a maioria das quais não são nada lisonjeiras para nosso povo. Mesmo o relato mais espetacular da Torá – o da Revelação Divina – não foi uma ocasião inteiramente feliz, pois apenas 40 dias após sua ocorrência, o povo já adorava um bezerro de ouro, fazendo com que Moshé quebrasse as Tábuas da Lei.

Até o Livro de Gênese é pouco lisonjeiro ao nosso povo. Pois enquanto muitas outras nações santificam seus fundadores e criadores, a Torá descreve nossos Patriarcas e antepassados como seres humanos falíveis, que suportaram provações e infortúnios e que tiveram fraquezas e cometeram erros.

Mas, muito sinceramente, os relatos da Torá não são apenas pouco elogiosos – o que serviria para torná-los ainda mais críveis – eles são simplesmente prejudiciais.

Algumas histórias negativas talvez servissem para tornar as boas um pouco mais críveis, mas a Torá é repleta de relatos que colocam os judeus sob um prisma muito negativo.

Pode ser difícil, mesmo, encontrar uma porção da Torá que não contenha uma ação negativa de nossos antepassados. Será que as pessoas escreveriam relatos tão danosos sobre si próprias?

Será que quereriam ser lembradas dessa forma por seus filhos e seus futuros descendentes?

O que é ainda mais incrível é que apesar das muitas leis de difícil cumprimento e das histórias nada lisonjeiras, nós, judeus, reverenciamos a Torá.

Não há objeto inanimado mais sagrado ao judaísmo do que um rolo contendo os Cinco Livros da Torá. E por quê? Porque nós, como nossos antepassados, não temos dúvidas acerca de sua autoria. Quando o Mestre do Universo escreve um livro e elenca nosso povo como protagonistas, nós o reverenciamos, mesmo que seu conteúdo nem sempre nos favoreça.

A essência do Povo Judeu

Muitos perguntam como é possível que, apesar de 2.000 anos de exílio, a queda do Templo, os massacres, a Inquisição, as expulsões, os pogroms e, acima de tudo, o Holocausto, nós, judeus, sobrevivemos e permanecemos fiéis a D’us.

A resposta é que a Revelação Divina no Sinai ficou gravada no inconsciente coletivo do Povo Judeu. A Voz que se ouviu no Monte Sinai reverbera até hoje no coração de todos nós, mesmo que disso não tenhamos consciência.

Cinquenta dias após o Êxodo, D’us Se fez ver a nosso povo e nos deu uma missão. Foi uma missão tão extraordinária que mesmo 2.000 anos de exílio e o Holocausto não foram capazes de abortar.

Que missão foi essa? Está escrito no Livro de Isaías: “Vocês são minhas testemunhas, diz o Eterno, e Eu sou D’us” (43:12).

O Midrash faz uma declaração espantosa: “Enquanto vocês forem minhas testemunhas, Eu sou D’us; se vocês deixarem de ser minhas testemunhas, deixarei de ser D’us”.

Como dissemos no artigo anterior, se não fôssemos nós, judeus, toda a humanidade seria deísta

Nós somos o canal através do qual D’us se tornou conhecido no mundo.

Nossa missão é manter nossa própria existência e, por meio disso, preservar a existência de D’us no mundo.

Esta é a missão maior que pode ser atribuída a um povo e a cada um dos indivíduos que o compõem. É uma missão árdua e desafiadora, mas que por ela vale a pena viver e lutar, e que, sem dúvida, constitui o propósito e a essência do Povo Judeu.

Será que o nosso povo ouviu no monte Sinai todos os Dez Mandamentos ou apenas os dois primeiros ?

No dia da entrega da Torá no Monte Sinai, durante aquela enorme Revelação Divina, nosso povo disse para Moshe que aquela vivência era por demais intensa para eles, e pediram para que Hashem (D’us) falasse os oito Mandamentos restantes para Moshe e Moshe repassasse para nós

Nossos Sábios na Guemará ensinam que o valor numérico da palavra Torá é 611, porque Moshe ensinou para nós 611 dos 613 mandamentos da Torá.

Os outros dois , ou seja, os dois primeiros Mandamentos, eles haviam recebido diretamente do Todo-Poderoso.

Rashi e Rambam explicam que o povo judeu ouviu os Dez Mandamentos diretamente de D’us, mas todas as palavras foram proferidas de uma só vez.

Foi então que D’us começou a repetir os Dez Mandamentos, palavra por palavra, para que todo o povo os pudesse compreender.

Mas depois da proclamação do Segundo Mandamento, eles disseram a Moshe que não tinham condições físicas e emocionais para suportar esse momento espiritual tão intenso e pediram para que ele lhes transmitisse para eles os outros Mandamentos.

Qual a razão para Hashem (D’us) ter dito todos os mandamentos juntos se o povo não os podia entender?

Foi para nos ensinar que não devemos dar importância maior ou menor a nenhum dos mandamentos Divinos e também para nos fazer entender que a Torá é um todo integral e unificado. Argumentar que é possível mudar alguma de suas partes ou até mesmo apenas uma letra é o mesmo que rejeitá-la por completo.

Analisando o Primeiro Mandamento, as primeiras palavras que emanaram de D’us a todo o nosso povo, perguntam nossos Sábios: não teria sido mais apropriado se D’us tivesse identificado a Si próprio como o Criador e Sustentáculo deste mundo?

“Não”, respondem os mestres hassídicos. No Sinai, D’us não se dirigiu a nós como o Autor da natureza, mas como o Executor de um milagroso Êxodo.

No Primeiro Mandamento, no qual D’us nos diz ser Ele nosso D’us, Ele se dirige ao povo judeu na primeira pessoa.

Isto significa que está falando a cada um de nós, em cada uma das gerações, individualmente.

O fato de ser o Criador e Mestre do Universo é de menor importância do que o fato de ser Ele um D’us pessoal, individualmente envolvido nos mais ínfimos assuntos de cada um de Seus filhos.

Os mestres hassídicos vão além e nos ensinam que, no Sinai, fizemos um pacto com D’us mediante o qual nos comprometemos a superar todos os limites da natureza e das convenções em favor de nosso compromisso com Ele; e Ele prometeu revogar todas as leis da natureza e das convenções sob Sua Providência em nosso benefício.

Isto explica os milagres que recaem constantemente sobre cada um de nós, a cada dia, a cada hora Hashem está preocupado com cada um de nós muito mais do que estamos preocupados com as nossas próprias crianças

A festa de Shavuot é o aniversário da Revelação Divina no Monte Sinai, que ocorreu 50 dias após o Êxodo do Egito.

Pela primeira e única vez na História, D’us Se revelou publicamente – a um povo inteiro e nos revelou os Asseret HaDibrot (Dez Pronunciamentos), comumente chamados de Dez Mandamentos.

O estudo da Torá é um mandamento central do Judaísmo. O mandamento de estudar e ensinar Torá é mencionado no Shemá Israel – a declaração fundamental da fé judaica –, que devemos recitar todas as noites e todas as manhãs.

Como diz o Talmud – e isto é parte das preces matinais diárias – o estudo da Torá equivale em importância a todos os demais mandamentos, em conjunto.

Aparentemente, o estudo da Torá é uma atividade religiosa incomum. A maioria das religiões têm expectativas sobre a crença e sobre agir corretamente, mas os seguidores não são obrigados, necessariamente, a estudar seus textos religiosos. Algumas religiões até preferem que seus fiéis não se aprofundem em seus ensinamentos e textos religiosos.

Para o Povo Judeu, no entanto, o estudo da Torá é um mandamento não conectado diretamente com a crença ou a ação. Os textos religiosos mais estudados, como o Talmud, têm pouco uso prático. Por exemplo, vários dos tratados do Talmud são basicamente dedicados ao estudo dos sacrifícios e oferendas executados no Templo Sagrado de Jerusalém. Atualmente, na ausência do Templo Sagrado, tais leis não são relevantes na vida diária de nosso povo.

Por que, então, dedicamos tempo precioso estudando o que aconteceu em tempos remotos e que já não se aplica, hoje? Por que estudamos certas leis e situações que o próprio Talmud afirma nunca terem ocorrido e que nunca hão de ocorrer? Dedicamos tempo e empenho a isso porque o que estamos fazendo é buscar conhecimento por amor ao conhecimento – e não como algo a ser usado. A ideia de estudar pelo amor ao estudo pode parecer peculiar a muitas pessoas. Mas quando se estuda um tema qualquer da Torá, até mesmo o que nos pareça mais irrelevante, está-se na verdade entrando em comunhão com D’us. Sendo assim, não faz muita diferença o assunto que se está estudando, desde que se estude Torá – pelas razões e com o estado de espírito certos.

A ideia de estudar por amor ao estudo sempre foi reverenciada pelo Povo Judeu. Talvez isso explique a longa lista de judeus que já conquistaram o Prêmio Nobel, particularmente nos campos científicos. Quando perguntaram a Isidor Isaac Rabi, vencedor do Nobel de Física em 1944, a que ele atribuía suas conquistas e a láurea recebida, ele respondeu que as atribuía a seus pais. Contou que quando voltava da escola, eles nunca lhe perguntaram o que havia aprendido. Queriam saber: “Você fez uma boa pergunta, hoje?”.

Essa abordagem judaica ao estudo – a preocupação com a pergunta e não com a resposta, e estudar pelo amor ao estudo – parece ser tão antiga quanto nosso próprio povo. Hectaeus, geógrafo grego durante o reinado de Alexandre, o Grande, escreveu sobre países remotos que começavam a ser conhecidos, à época. Observou que ouvira falar de um povo interessante que vivia ao sul da Síria, em que todos eram filósofos. Isto é, faziam perguntas filosóficas e estavam interessados no saber por simples amor ao saber. Esse foi um dos maiores elogios feitos ao Povo Judeu.

Há uma bela tradição de ficar acordado a noite toda, em Shavuot, estudando Torá. Muitas sinagogas promovem aulas ou palestras, mas muitos optam por estudar sozinhos ou com um grupo de amigos. Não importa o texto ou tópico da Torá escolhido. O importante é aprender algo que seja genuinamente Torá e estudá-lo pelos motivos adequados. Pois quando um judeu se senta para estudar Torá, mesmo sozinho, ele entra em comunhão com D’us.

A palavra Torá tem muitos significados. Uma ampla definição da Torá é a totalidade dos ensinamentos judaicos sagrados. Contudo, a definição precisa e literal da Torá é aquilo que D’us transmitiu a Moshé durante a jornada de 40 anos do Povo Judeu pelo deserto: os Chamishah Chumshei Torá, o Chumash: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

Há uma diferença significativa entre o Chumash e os demais livros da Torá. Todos são sagrados, obviamente. Mas os Cinco Livros são de pura autoria Divina: D’us ditou cada uma de suas letras a Moshé, que apenas as transcreveu – a Torá original que D’us lhe transmitiu, um “fogo negro gravado sobre fogo branco”.

Ao estudar os Cinco Livros da Torá, é da maior importância ter em mente que as letras hebraicas que os compõem, e não apenas seu conteúdo, revelam a Vontade Divina. Essa é uma das características específicas do Chumash, que os diferenciam de todos os demais textos sagrados, como a Mishná e a Guemará (Talmud). Encontra-se a santidade dos Cinco Livros nas próprias letras de seu texto.

Cada letra e símbolo no Chumash pairam como um mistério Divino que aguarda para ser revelado. A combinação das letras nas palavras e frases são a maneira como D’us nos comunica seu significado. Pode-se fazer todo tipo de combinações, em vários níveis, e obter 600.000 revelações diferentes.

Como ensinou Nachmânides, todas as letras dos Cinco Livros da Torá constituem Nomes de D’us. Em outras palavras, o Chumash é um código secreto sagrado: uma lista de Nomes Divinos, que praticamente não têm significado para nós. É como um código secreto dentro de um número infinito de interpretações possíveis; um conto dentro de um conto dentro de um outro conto – e cada um deles igualmente válido e sagrado.

Já foram escritos milhares de comentários e interpretações sobre a primeira porção da Torá, Gênesis, na tentativa de explicar, revelar e decifrar segredos contidos nela. No entanto, o segredo continua inviolável, pois o segredo da Torá é real – e nenhum ser humano pode, de fato, entender completamente os segredos de D’us Infinito.

Diariamente, nas preces matinais, dizemos uma bênção sobre o estudo da Torá, que é a mesma berachá que recitamos quando somos chamados à Torá – e que termina com as seguintes palavras: “Bendito és Tu, Eterno, que nos dás a Torá”. É importante notar que a bênção é dita no presente: “…que nos dás a Torá”, e não … “que nos deste a Torá”.

Isso nos ensina que a transmissão Divina da Torá não se encerrou com o falecimento de Moshé, ou seja, não é um fato do passado. D’us continua diariamente a nos dar a Sua Torá, que, por sua vez, continua a se constituir e se expandir. A Revelação Divina ocorrida no Monte Sinai, que celebramos em Shavuot, constitui uma revelação contínua que se repete sempre que um judeu estuda a Torá. Como ensina o Pirkei Avot, um tratado da Mishná, D’us nunca parou de proclamar os Dez Mandamentos.

Poucos, ou quiçá nenhum de nós, consegue ouvir a contínua Voz de D’us. O melhor que podemos fazer é estabelecer o relacionamento adequado com a Torá, que se inicia com a percepção de ser o canal por meio do qual D’us se comunica com os seres humanos. Sempre que estudamos a Torá, de certa forma nos tornamos profetas, pois nos abrimos à Voz Divina. Sempre que estudamos a Torá, D’us está falando conosco.

Muitas pessoas julgam que o propósito da Torá é o avanço intelectual. Pois não é. O que realmente importa não é o nível em que se estuda – seja o domínio do Talmud inteiro ou um estudo superficial da porção semanal da Torá. O que, sim, conta é o grau de pureza do relacionamento da pessoa com o texto. Ou seja, o importante é a capacidade da pessoa de anular seu ego perante a Torá e, assim, tornar-se um receptáculo para a mesma.

Quem estuda o Talmud inteiro por considerá-lo intelectualmente estimulante – e não como meio de comungar com o Divino -, não fez de seu estudo um ato sagrado, mas sim, uma forma de autogratificação, ainda que refinada. No estudo da Torá, as intenções da pessoa – a que chamamos em hebraico de Kavaná – são o mais importante. O grau de pureza no relacionamento com um texto qualquer da Torá depende da consciência de que se está tratando de algo Divino, que tem a capacidade de forjar uma conexão entre o homem e D’us. Mais vale recitar um único Salmo com essa pureza d’alma do que estudar o Talmud inteiro sem a conscientização de que se está comunicando com D’us.

Quando a pessoa estuda Torá, está criando anjos e se torna uma criatura conectada a uma ordem superior de existência.

O pronunciamento das palavras sagradas da Torá muda a realidade. Aliás, o Judaísmo sempre enfatizou o poder extraordinário das palavras. Essa é uma das razões pelas quais a Torá usa a metáfora da fala para descrever a Criação Divina do universo – para nos ensinar que podemos criar ou destruir mundos com nossas palavras. Algumas das maiores mitzvot da Torá são realizadas por meio das palavras, como a oração e o estudo da Torá. Alguns dos maiores pecados também são realizados com palavras, como o maior deles, Lashon Hará, a maledicência.

Como o estudo da Torá cria anjos, é importante não apenas pensar na Torá, mas também enunciar suas palavras ao estudá-la. Devemos falar sobre assuntos de Torá sempre que possível e ensiná-la ao maior número de pessoas. Como ensina o Zohar, obra fundamental da Cabalá: o silêncio é bom em todas as situações, exceto quando se trata da Torá.

No Pirkei Avot, um dos tratados da Mishná, há uma afirmação de que uma hora de felicidade no Mundo Vindouro é melhor do que toda a vida e os prazeres deste nosso mundo. Tal crença pode ser profundamente satisfatória para o ardor místico de muitos. No entanto, o Pirkei Avot traz um outro ensinamento imediatamente a seguir, que parece afirmar exatamente o contrário: este diz que uma hora de teshuvá e boas ações neste nosso mundo valem mais do que uma vida inteira no Mundo Vindouro.

Nossos Sábios explicam o significado dessa aparente contradição. O Mundo Vindouro é um lugar de prazeres e tranquilidade incomparáveis a qualquer coisa existente em nosso mundo. Nem se trata de uma questão de intensidade; simplesmente não há comparação. Contudo, neste mundo, temos algo que nenhum outro mundo, nem o Vindouro, contém. Podemos entrar em comunhão direta com D’us por meio de Sua Torá. O Talmud nos ensina que quando estudamos Torá, D’us estuda ao nosso lado. Quando um judeu recita as palavras da Torá, D’us as repete, duplicando-as. Mesmo que seja uma criança a estudar a Torá, ela tem D’us ao seu lado, repetindo cada uma de suas palavras.

Uma pessoa pode usar a Torá como “ponte” para chegar a D’us. Mas a Torá é muito mais do que isso. Ela é a Sabedoria Divina, o veículo perfeito de comunicação entre o homem e D’us.

No entanto, há um problema no fato de a Torá ser Sabedoria Divina. Em sua origem, ela é inacessível aos seres humanos. Assim como D’us Infinito não pode ser entendido pela mente humana finita, a Torá, em sua origem, está além da compreensão dos mortais. Portanto, é preciso que desça, nível a nível, para ser absorvida pela mente de cada um de nós, até pelas crianças. Ao estudar Torá, devemos lembrar que até os textos mais avançados e complexos – seja uma passagem mística do Zohar ou uma discussão muito técnica do Talmud – representam uma descida. Se a Torá chegasse à Terra da forma como se encontra nos Céus, seria totalmente incompreensível a nós, simples mortais.

Como ilustração, consideremos o computador. Em seus níveis mais altos, sua teoria e detalhamentos são tão complexos que apenas as mentes mais especializadas conseguem entendê-lo. Em níveis mais baixos, quase todos podem aprender a usá-lo. Até as crianças que ainda não sabem ler sabem usar algumas de suas funções.

Essa analogia ajuda a explicar o fenômeno da Torá descer nível por nível de modo a permitir que todos nós possamos entrar em contato com ela. Em seus níveis mais elevados, nenhum ser humano seria capaz de entendê-la. Mas a Torá veio até nós, na Terra, de uma forma que nos permite estudá-la. D’us escreveu o Chumash em linguagem simples, trazendo histórias e leis que mesmo uma criança pequena possa compreender.

Há pessoas que estudam Torá para absorver sua sabedoria ou para usá-la para algum propósito prático ou idealista. Outros estudam-na para tirar boa nota na escola ou por razões profissionais – querem ser professores ou rabinos. Outros, ainda, a estudam para conquistar o respeito de seus colegas ou para melhorar suas perspectivas de casamento, já que um grande conhecimento de Torá é extremamente admirado em círculos religiosos. E, naturalmente, há muitas outras razões para o grande número de pessoas que estudam a Torá.

Quem estuda Torá pensando em benefício próprio não está estudando Torá Lishmá – estudar Torá pelo amor a D’us e à própria Torá. A Torá não serve como comunhão entre o homem e D’us se é estudada por motivos egoístas.

Quem se envolve adequadamente com a Torá permite que o estudo dissemine o esplendor e júbilo Divinos de modo a servir de canal em direção à Luz Divina. Isso se consegue estudando a Torá por seu próprio mérito, ou seja, sem qualquer outro propósito.

Se estivéssemos conscientes do tremendo poder da Torá, seria praticamente impossível concentrar nossa atenção em seu estudo. Ficaríamos, de fato, totalmente subjugados pela experiência.

Ironicamente, nossa simplicidade de espírito e pouca sensibilidade espiritual – não atentando para o que ocorre ao estudar Torá – é o que nos protege. É o que nos permite estudar textos da Torá sem ser consumidos pelos mesmos.

Há um conto que ilustra esse conceito. Um rei ordenou a confecção de uma coroa especial, fornecendo joias extremamente valiosas para tal. O mestre-joalheiro fez a estrutura, mas quando tentou cravar as valiosas pedras, sentiu suas mãos tremerem de ansiedade, temendo que algo pudesse dar errado. Chamou, então, uma pessoa simples que não fazia ideia do valor daquelas gemas. E esse ajudante conseguiu cravar as pedras e terminar o trabalho sem problema algum – sem ansiedade alguma, pois não fazia ideia de que tinha em mãos gemas da Coroa pertencentes ao rei.

Da mesma maneira, alguém que não conhece o tremendo poder e santidade da Torá consegue estudá-la sem se sentir dominado ou obcecado por ela.

É um grave erro considerar a Torá uma simples fonte de conhecimento. Estudá-la como se estudaria um livro de literatura ou história, ou estudar o Talmud para aguçar a mente, constitui um ato de blasfêmia. Quem não honra a santidade e Divindade da Torá a está desrespeitando – e há poucos pecados mais graves do que desonrar a Torá.

Quando estudamos qualquer livro, qualquer assunto que não seja Torá, estamos buscando conhecimento, inspiração, entretenimento ou mesmo sabedoria. Mas quando estudamos a Torá, estamos em comunhão direta com o Todo Poderoso. Tudo o que adquirimos com esse estudo – se nos tornamos mais sábios, mais cultos ou mais justos – tudo isso é secundário. O que tem importância máxima é que quando um judeu estuda a Torá, ele e D’us estão conversando.

Diz o Zohar que os judeus estão conectados com a Torá e a Torá está conectada a D’us. Sendo assim, a Torá é a conexão do Povo Judeu com D’us. Quando mergulhamos na Torá, não é apenas para pesquisarmos o passado ancestral de nosso povo ou para estudar como cumprir os Mandamentos Divinos. Ademais, não se deve estudar Torá apenas para cumprir o mandamento de estudá-la. Envolver-se com a Torá é um fim em si; o estudo da Torá é a maior proximidade ao Todo Poderoso que o ser humano pode conquistar.

A Torá foi entregue por D’us ao povo judeu no Monte Sinai há três mil e trezentos e trinta e seis anos atrás.

Todos os anos, neste dia, renovamos nossa aceitação do presente de D’us.

🌻🌻🌻

A tradução da Torá para setenta idiomas

Está escrito na nossa Parashá: “E foi no quadragésimo ano, no décimo primeiro mês, no primeiro dia do mês, começou Moshe a explicar esta Torá dizendo…”.

Dizem nossos Sábios, como traz Rashi, que Moshe explicou a Torá em setenta línguas diferentes.Porque Moshê precisaria explicar a Torá em setenta idiomas?

Rabi Moshe ben Nachman, o Ramban, nos ensinou que a Torá, as Profecias e todas as Escrituras Sagradas foram ditas na “Língua Santa” que é o idioma Divino no qual D’us falou com Moshe e com os Profetas.

Sendo que a Torá é a “Torá de Hashem”, Hashem “nos deu Sua Torá “, aparentemente o estudo da Torá deveria ser somente na “língua Divina”, a “Língua Santa”.

A definição de Torá “escrita” é : Nenhuma letra a menos e nenhuma letra a mais, mas exatamente como foi dada por D’us, e por esse motivo a leitura do Sefer Torá na sinagoga é considerado estudo, e temos que dizer uma Brahá com nome de Hashem mesmo que o Judeu que está dizendo a Bênção não entende o que está lendo, e muitas vezes não entende nem a tradução da Benção.

Talvez por isso poderíamos dizer que a leitura da Torá escrita em qualquer ocasião só poderia ser feita na “língua Santa”, idioma no qual ela foi dada por D’us !

E não somente isso, mas até em relação às explicações da Torá, chamadas de “Torá Oral”, mesmo que aparentemente dependem somente do nosso entendimento, e se não entendemos a Torá Oral não cumprimos a Mitzvá de estudá-la, mesmo assim a Hala’há é que “pensamento não é fala” e para cumprir a Mitzvá devemos falar a Torá Oral

E novamente poderíamos pensar que só cumprimos essa Mitzvá falando a Torá Oral na “língua Santa”

E algumas leis que recaem sobre “falar” palavras de Torá são vigentes também em relação a Torá Oral como a proibição de falar palavras da Torá sem roupas e também o fato de não podermos fazer uma Bênção sobre a Torá que vamos pensar mas somente sobre a que vamos falar.

Ainda mais, sendo que a “Torá Oral” também é de D’us, poderíamos dizer que a classificação de “Estudo de Torá” só recaísse sobre a Torá Oral quando fosse dita na língua falada por D’us, na língua Santa.Essa foi a ação de Moshe Rabeinu na nossa Parashá.

Por meio de ter explicado a Torá em setenta línguas, a partir daí recai o nome “Torá” sobre assuntos de Torá estudados pelo povo de Israel em outras línguas mesmo não sendo essa a língua que D’us deu a Torá

Fazendo com que recaia sobre ela a classificação de “Torá” a tal ponto que quando falamos assuntos de Torá em outras línguas estamos falando verdadeiras “Palavras da Torá” e se torna proibido falarmos elas antes de dizer a “Bênção da Torá”, e nem precisamos dizer que é proibido falar assuntos de Torá em qualquer idioma se não estivermos vestidos

A iniciativa que teve Moshe na nossa Parashá foi incentivada pela própria Torá que usa algumas palavras nas línguas dos outros povos, como por exemplo “Yegar Sahaduta” , “Totafot” e etc.O Midrash Tanhuma nos conta que até a primeira palavra dos Dez Mandamentos, Anochi (Eu) que engloba todos os mandamentos positivos da Torá é uma palavra retirada da língua egípcia antiga

O motivo que essas palavras fazem parte da Torá que é toda de Hashem é para que recaia a santidade da Torá sobre essas palavras e por meio disso as línguas dos povos se tornam refinadas para que se possa “repassar” a Torá por meio delas .

Isso acontece nos idiomas atuais também. O que a Torá fez em curta escala somente indicando que isso é possível, e Moshe Rabeinu fez em larga escala , traduzindo toda a Torá para setenta línguas, aparentemente foi uma dica para a nossa situação atual.

Surgiram novos idiomas, todos derivados daquelas setenta línguas, e nós somos os que estão refinando esses novos idiomas quando repassamos a Torá por meio deles.

Na torre de Bavel aconteceu um milagre que deu origem a setenta línguas e delas saíram todos os idiomas que existem hoje. Sabemos que a “Lingua Santa” , que por meio dela D’us criou o mundo, foi falada por Adam e Havá (Adão e Eva) e continuou sendo falada por pessoas de cada geração também depois da torre de Bavel

A maior prova disso é que o Povo de Israel que desceu para o Egito não mudou a sua língua que era a mesma desde a criação do mundo.

O Tossfot Yom Tov nos conta que o Hebraico antigo, que foi a primeira língua existente no mundo, deu origem ao aramaico, e o aramaico ao árabe

Poderíamos pensar, será que o aramaico, sendo que é um derivado da “Língua Santa” já vem com a santidade do”Idioma Divino”?A Torá nos dá a dica: Está escrito: “Yaakov chamou aquele lugar de “Gal Ed” e Lavan de “Yegar Sahaduta” ou seja, tanto os idiomas derivados da “Língua Santa” quanto os derivados das outras línguas são o idioma de “Lavan o Arameu” e precisam ser refinados pela Torá !

O motivo que isso teve que ser feito especificamente por Moshe Rabeinu é porque todos os assuntos da Torá foram dados para o povo de Israel por meio de Moshe , “Moshe recebeu a Torá no Sinai”, a tal ponto que disseram nossos Sábios :-“Tudo que um aluno experiente vai inovar já foi dado para Moshe no Sinai”

Por isso também o fato de serem chamados de “Torá” os assuntos de Torá ditos nas setenta línguas teria que ser revelado pelo próprio Moshe Rabeinu.Porque Moshe pediu para o povo de Israel escrever a Torá nas pedras em setenta línguas?

Fora o fato de Moshe ter explicado oralmente a Torá em setenta línguas, Moshe e os anciãos de Israel pediram ao povo que no dia em que atravessassem o rio Jordão erguessem pedras grandes e escrevessem nelas todas as palavras desta Torá nessas setenta línguas, cada uma nas suas letras como nos contou o grande Tzadik Rabi Moshe ben Maimon, o Rambam, que a Torá foi escrita naquelas pedras com as letras de cada idioma.

Vemos aqui que Moshe Rabeinu conseguiu fazer com que não haja diferença entre traduzir a Torá oralmente para as setenta línguas e escrever ela em setenta línguas. Nos dois casos ela se tornou considerada “Torá” com toda a devida santidade relacionada a ela.

Por esse motivo Moshe também teve que traduzir oralmente a Torá e também pedir para que ela fosse escrita na escrita de cada povo.

Duas obras distintas, uma para que recaia a santidade da Torá sobre a língua dos povos e a outra para que essa santidade recaia também sobre a escrita dos povos.

Ou seja, para que os livros com assuntos de Torá escritos nas letras dos setenta idiomas também sejam chamados de Livros Sagrados, “Sifrei Kodesh”, e devam ser cuidados com o mesmo respeito que damos aos livros escritos na “Língua Santa”

O que fez Moshe em suas últimas cinco semanas de vida

Nosso quinto livro da Torá, Devarim, é conhecido como Mishnê Torá, a revisão da Torá. Seu conteúdo foi dito por Moshê ao povo judeu durante as cinco semanas finais de sua vida, enquanto o povo se preparava para entrar na Terra de Israel.

Moshe sabia que tinha os dias contados e pouquíssimo tempo de vida, e teria que se dedicar somente para fazer as coisas mais importantes. Nesses dias ele estava traduzindo a Torá para setenta línguas para facilitar o estudo da Torá aos judeus, para dar mérito a judeus que só sabem falar outros idiomas, para tornar o acesso à Torá mais fácil.

Ele estava empenhado e dedicado para que pessoas que nem sabem falar a “Língua Santa” possam saber o motivo que D’us criou o mundo e o motivo pelo qual nós estamos aqui. Moshe Rabeinu não só nos deu a Torá, mas também mostrou para nós que ela é a coisa mais importante que existe no mundo.