Luto no Judaismo

                                                                              Luto no Judaísmo 
                                                                            Cobrindo os espelhos 
A primeira coisa que fazemos depois do enterro é cobrir o espelho da casa  dessa pessoa que está enlutada.Os cabalistas deram uma razão mais assustadora para cobrirmos os espelhos em uma casa enlutada.Eles escrevem que todos os tipos de maus espíritos e demônios vêm para visitar uma família em luto.

Quando uma alma deixa este mundo, ele deixa um vácuo e este vazio está propenso a ser preenchido por forças obscuras.

Isto se deve ao fato de que onde quer que haja um espaço não ocupado, as forças do mal desejam ocupá-lo.

Desta forma uma casa enlutada, um local onde a perda de um ente querido é mais sentida, ela se torna um ímã de atração aos maus espíritos.

Esses demônios não podem ser vistos a olho nu.

Mas quando se olha em um espelho, pode-se ter um vislumbre de seu reflexo no fundo.

E, assim, ao cobrir os espelhos em uma casa enlutada, evitamos ficar alarmados

O Judaísmo, com sua longa história de lidar com a alma do homem, seu conhecimento profundo das realizações e fraquezas, suas grandezas e seus pontos fracos, sabiamente estabeleceu períodos graduais de luto.
Durante este tempo, o enlutado pode expressar sua dor e alívio, com calculada regularidade, o aumento das tensões causadas pela perda.
A religião judaica fornece uma abordagem estruturada ao luto, dividido em cinco estágios.
O primeiro estágio – aninut
Este é o período entre a morte e o enterro, quando o desespero é mais intenso. Nessa hora, não apenas as amenidades sociais, como até exigências religiosas importantes são canceladas, em reconhecimento à mente perturbada do enlutado.
Os primeiros três dias

Nos primeiros três dias de luto, se você está chorando é uma Mitzvá, mas tome o devido cuidado para não escorregar para uma depressão.

Nossa geração é uma geração muito fraca, por isso temos que ter o devido cuidado para que a nossa tristeza pela morte da pessoa querida não prejudique nossa própria saúde.

Durante este tempo, a pessoa deve refletir sobre o que pode melhorar no seu comportamento.

Nesses primeiros três dias de luto as pessoas não devem cumprimentar ou serem cumprimentadas pelo  enlutado. Se por engano o cumprimentam, ele deve responder: “desculpa não poder te cumprimentar, porque estou de luto.”

As “proibições de trabalho” durante estes dias aplicam-se mesmo se os enlutados forem passíveis de sofrer perda financeira.

O segundo estágio – lamentação

Este período consiste nos primeiros três dias após o funeral, dias devotados ao pranto e lamentação. Durante este período, o enlutado nem sequer responde aos cumprimentos, e permanece em casa (exceto sob certas circunstâncias especiais). É um tempo em que até visitar o enlutado de certa forma é desencorajado, pois é cedo demais para consolar os enlutados quando a ferida está tão recente. Durante este tempo, o enlutado fica dentro de casa, expressando sua dor ao usar uma roupa rasgada, sentando-se num banco baixo, usando chinelos, abstendo-se de barbear e arrumar-se, e recitando o Cadish (prece dos enlutados).

O terceiro estágio – shivá

Este estágio abrange os sete dias após o enterro e inclui o período de três dias de lamentação. Durante este tempo, o enlutado sai do estágio de profunda dor para um novo estado de mente no qual ele é preparado para falar sobre sua perda e aceitar consolo dos amigos e parentes.

O mundo agora se amplia para o enlutado. Ele continua as observâncias delineadas no segundo estágio acima, mas ele pode interagir com conhecidos que vão à sua casa para expressar simpatia em seu desgosto.

Uma obrigação sagrada cai sobre todo judeu – não importa seu relacionamento com o falecido ou com os enlutados – confortar os sobreviventes – mãe, pai, cônjuge, filho, filha (casados ou solteiros), irmão, irmã (ou meio-irmão e meia-irmã) do falecido.

No Judaísmo, mostrar compaixão fazendo uma visita de condolências é uma mitsvá, considerada por alguns de nossos maiores eruditos como sendo biblicamente ordenada. É dever de uma pessoa imitar D’us: assim como D’us consola os enlutados, o homem deve fazer o mesmo.

O objetivo fundamental da visita durante a shivá é aliviar o enlutado do fardo intolerável da intensa solidão. Em nenhuma outra ocasião um ser humano precisa mais de companheirismo.

O frio interior que se instala com a morte do parente começa agora a degelar. O isolamento e retiro do mundo e das pessoas agora relaxa um pouco, e a normalidade começa a voltar.

O quarto estágio – sheloshim

Este período consiste de trinta dias (contando os sete de shivá) após o funeral. O enlutado é encorajado a sair de casa após a shivá e aos poucos retomar seu contato com a sociedade, sempre reconhecendo que ainda não passou tempo suficiente para assumir relações sociais completas.

Barbear-se e cortar o cabelo geralmente é proibido para os enlutados, bem como cortar as unhas e lavar o corpo todo por deleite (em oposição a lavar-se em prol do asseio, que é requerido).

O quinto estágio – um ano de luto 

O quinto estágio dura um ano (contado a partir do dia do enterro), durante o qual as coisas retornam ao normal, e os negócios se tornam novamente rotina, porém os sentimentos do enlutado ainda são afetados pela ruptura no relacionamento com o ente querido.

A observância que mais afeta a vida diária do enlutado durante o período de doze meses é a completa abstenção de festividades, tanto públicas quanto privadas. Participar dessas reuniões simplesmente não coaduna com a depressão e tristeza pelas quais o enlutado está passando. Seria absurdo a pessoa dançar alegremente enquanto seu pai ou mãe foi enterrado há pouco tempo.

Assim, os Sábios decretaram que, embora o completo afastamento físico das atividades normais da sociedade dure somente uma semana, abster-se de ocasiões sociais festivas geralmente é observado por trinta dias para outros parentes, e um ano no caso da morte do pai ou mãe. A alegria, em termos da tradição do luto, está em grande parte associada com eventos sociais e públicos, e não com satisfação pessoal.

No encerramento deste último estágio, não se espera que a pessoa continue seu luto, exceto por breves momentos quando yizkor (prece especial recitada em memória aos entes falecidos) ou yahrtzeit (aniversário de morte do ente falecido) estão sendo cumpridos. Na verdade, a tradição judaica adverte a pessoa por ficar de luto mais tempo que este período prescrito.

Falando o Kadish

O Cadish é recitado em todo serviço de prece, de manhã e à noite, no Shabat e feriados, em dias de jejum e de júbilo.

O período em que o enlutado recita o Cadish pelos pais é, teoricamente, um ano inteiro. O falecido é considerado como estando sob julgamento Divino naquele período. Algumas comunidades, portanto, aderem ao costume de recitar o Cadish por doze meses em todos os casos.

No entanto, como um ano inteiro é considerado como sendo a duração do julgamento para os perversos, e presumimos que nossos pais não se enquadram nessa categoria, a prática em muitas comunidades é recitar o Cadish somente durante onze meses.

O Cadish deve ser recitado somente na presença de um quorum devidamente constituído, um minyan, que consiste de dez homens acima da idade de bar mitsvá. Se houver apenas nove adultos e um menor presente, ainda não é considerado um quorum para um minyan.

Yizkor e Yahrtzeit

Yizkor é uma cerimônia relembrando todos os falecidos durante um serviço comunal na sinagoga. Yahrtzeit é um memorial pessoal de aniversário; pode ser observado por qualquer parente ou amigo, mas basicamente é pelos pais.

O serviço Yizkor foi instituído para que o judeu pudesse prestar homenagem aos seus antepassados e relembrar a vida boa e os objetivos tradicionais. Este serviço está baseado num princípio vital da vida judaica, que motiva e anima a recitação do Cadish.

É baseado na firme crença de que os vivos, por meios de atos de piedade e bondade, podem redimir os mortos. O filho pode levar honra ao pai. O “mérito dos filhos” pode refletir o valor dos pais.

Este mérito é atingido, basicamente, ao viver num elevado plano moral e ético, correspondendo às exigências de D’us e sendo sensível às necessidades do próximo. A expressão formal deste mérito é conseguida por meio de preces e contribuições para caridade.

Yahrtzeit é um dia especial de observâncias para relembrar o aniversário da morte dos pais. Embora a palavra seja de origem alemã, o costume está anotado no Talmud.

Esta comemoração religiosa é registrada não como um decreto, mas como uma descrição de um sentimento instintivo de tristeza, uma lembrança anual da tragédia, que impele a pessoa a evitar a ingestão de carne e vinho – símbolos de festividade e alegria, o próprio sal da vida.

*Um Guia com orientaçōes referentes ao Luto