Zohar da Parashá Ki Tissá 5784

Nossa Parashá nos conta que Hashem disse para Moshe que quando ele precisar contar o nosso povo, cada pessoa deve dar um “resgate” de si próprio para Hashem quando forem contados, e dessa maneira eles não terão uma epidemia por terem sido contados.

A Parashá continua nos contando que cada um deveria dar meio shekel para essa contagem.

Ou seja, o dinheiro seria contado no lugar das pessoas, e assim se saberia quantas pessoas estavam lá sem precisar contá-las.

Rashi explica que o “olho mau” é a revelação da “Sitra Ahara”, do “outro lado”, ou seja, o lado ruim, tem domínio sobre o que é contado e as epidemias vem para as pessoas contadas por causa desse motivo, como aconteceu na época do rei David.

A explicação do Zohar

O Zohar nos explica que a Bênção Divina não paira sobre uma coisa contada medida ou pesada, e por isso foi pedido o “resgate” em dinheiro de cada pessoa que deveria ser contada, e o que foi contado foi o dinheiro do “resgate” e não as pessoas.

Pergunta o Zohar: Porque a morte paira sobre o que foi contado? E ele próprio responde que isso acontece pelo motivo de a Bênção Divina não pairar sobre o que é contado, medido ou pesado.

E sendo que a Bênção Divina abandona o que é contado, o “outro lado” paira sobre aquilo e por isso tem o poder de prejudicar.

Ou seja, quando cada um deu meio shekel, não foi um “prejuízo” para ele, mas um “prejuízo” no lugar dele. Ele perdeu meio shekel mas salvou a própria vida.

Diz o Zohar que o motivo de a Bênção Divina não pairar sobre o que foi contado é porque a “Sitra Ahara” que é o que apelidamos de “olho mau” tem domínio sobre o que foi contado, e se a Bênção Divina estivesse lá a “Sitra Ahara” teria a capacidade de usufruir dela, e por isso Hashem é obrigado a tirar de lá a sua Benção quando a contagem acontece.

Ou seja, se a Bênção Divina caísse nas mãos da “Sitra Ahara”, seria como fazer uma bomba atômica e dar de presente para o inimigo.

O motivo de a “Sitra Ahara” , essa estrutura espiritual negativa que é chamada também de “olho mau”, ter acesso ao que foi contado medido ou pesado, é pelo fato de a contagem do número do peso ou do tamanho causar uma separação, e tudo o que é separado abre um acesso à “Sitra Ahara”.

Antes de algo ser contado, medido ou pesado, ele faz parte do “tudo”, e no “tudo” existe a Benção, porque o “tudo” está unido à raiz e fonte da Bênção, e de lá desce a vitalidade para todos.

Ou seja, no lado bom tudo é unido e no lado ruim todo é separado. O lado bom é infinito e ilimitado e o lado ruim é a fonte dos limites, limite de número de tamanho de peso e etc.

O exílio do Egito foi o nosso maior sofrimento e a palavra Egito, Mitzraiim em hebraico, tem como raiz a palavra metzarim que quer dizer limitações.

Sendo assim, na hora em que algo é contado, medido ou pesado, é oficializada a separação daquilo em relação ao “todo” do qual fazia parte, e essa separação dá acesso à “Sitra Ahara”.

Mas antes disso acontece a saída da Benção Divina para que a “Sitra Ahara” não tenha acesso à ela.

Essa é a regra cabalística em relação a tudo o que é contado, medido ou pesado.

Mas quando Moshe fez todas as contas das doações do Mishkan e de tudo o que foi feito com essas doações, essa regra não se aplicou, sendo que Moshe está ligado ao mundo de Atzilut, o mundo oculto, e a “Sitra Ahara” como vimos só tem acesso ao que é revelado por meio da contagem pesagem ou medida.

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Aprendemos na nossa Parashá que quando quisermos contar nosso povo, não devemos contá-lo de maneira convencional porque isso pode atrair coisas negativas, como vimos posteriormente na época do Rei David que após a contagem do povo muitas pessoas faleceram por uma epidemia que surgiu repentinamente.

Na nossa Parashá Hashem pede para cada uma das pessoas que serão contadas doarem meio “Shekel”, e a conta dessas moedas vai nos mostrar o número de pessoas que foram contadas sem precisarmos contá-las de verdade. Esse assunto se aplica aos nossos tempos também e a qualquer quantidade de pessoas judias.

Quando não há uma extrema necessidade de contar as pessoas, podemos contar, como por exemplo dez pessoas para a reza, por meio de um versículo que tem dez palavras, dizendo cada palavra olhando para uma pessoa diferente.

Quando há necessidade de contar, como no caso de um ônibus levando crianças para a escola, contamos as camisas das crianças, e não as próprias crianças. Há muitas formas de saber quantas pessoas estão em um lugar sem precisar contá-las. Então, vamos usar a nossa criatividade!

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Quando trabalhamos simplesmente para termos mais bens materiais, estamos “separando para nós”.

Mas quando trabalhamos para Hashem e tudo o que temos vemos como equipamento para o trabalho Divino, estamos ligados à raiz, e a Bênção Divina recai sobre tudo o que fazemos.

Como a Tzedaká transforma todo o nosso trabalho em Mitzvá
Não teríamos como fazer uma doação de parte do nosso dinheiro sem ter o dinheiro para fazê-la, e para ter esse dinheiro precisamos viajar até o trabalho, nos dedicar à ele de corpo e Alma, perder nele as melhores horas do dia e os melhores anos da nossa vida.
Mas quando damos uma parte desse dinheiro para a Tzedaká, sendo que ele é a consequência do nosso trabalho, todo nosso trabalho se transforma em Mitzvá. Ele se torna a parte principal desta Mitzvá, sem ele a Mitzvá não teria como acontecer.

Por isso nossa Torá chama a doação de “elevação”, nos mostrando que essa Mitzvá eleva todo o nosso trabalho, incluindo o tempo perdido para ir até ele e também para voltar dele, sendo que ele é a parte principal da Mitzvá da Tzedaká.

Então quando terminamos o nosso trabalho e voltamos para casa, podemos dizer confiantes que o dia inteiro estávamos fazendo uma Mitzvá. Por meio da Tzedaká todo o nosso trabalho se transforma em Mitzvá, todo o nosso trabalho se torna a Mitzvá da Tzedaká.

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Nossa Parashá nos conta que Moshe Rabeinu desceu do monte Sinai com as “Tábuas da Lei”, em hebraico: Luhot Habrit.

A Guemará nos conta que essas Luhot eram dois quadrados de pedra de 48cm de comprimento, 48cm de altura e 24cm de largura ” ou seja , elas eram quadradas.

Em muitos casos elas aparecem arredondadas em cima, fato que não tem nada a ver com a nossa cultura judaica mas tem origem na cultura cristã.

Ou seja, os primeiros livros judaicos impressos após o século 15 foram impressos em gráficas de cristãos, a maioria delas na Itália.

As gráficas costumavam colocar um enfeite na página inicial, e sabendo que estavam imprimindo um livro religioso judaico, colocaram desenhos das “Tábuas da Lei” feitos por artistas de arte sacra cristã como por exemplo Michelangelo, no século 16, que era famoso na época.

Naquela época, a tecnologia de impressão recém descoberta baixava tanto o preço dos livros, que antes eram escritos a mão, que ninguém se importou com os desenhos dos enfeites, contanto que tivessem os livros impressos em hebraico.

Tempos depois, Judeus que nunca tiveram contato com arte sacra cristã acharam que, sendo que este desenho está em um livro judaico antigo, com certeza ele tem uma origem judaica.

E assim essas “Tábuas arredondadas” foram copiadas em todas as sinagogas, lapidadas na parede e no “Aron Hakodesh” que é o armário onde se guarda o Sefer Torá, bordadas na cortina do Aron Hakodesh, no “Meíl” que é o manto do Sefer Torá e na cobertura da “Bimá” que é a mesa na sinagoga onde se lê o Sefer Torá.

Sendo que essas Tábuas redondas estavam em livros e sinagogas antigas, com o tempo todos se acostumaram com elas e acharam que com certeza elas eram um símbolo judaico puro.

Até chegar o Rebe de Lubavitch e revelar essa história para nós, fazendo com que até o rabinato de Israel mudasse seu símbolo, de “Luhot” redondas para “Luhot” quadradas. Então, vamos tirar essas “Tábuas redondas” da nossa cultura!

Milagres revelados demonstrando a presença Divina entre nós

Alguns milagres aconteciam com essas Luhot. A escrita ultrapassava de lado a lado, mas aparecia do lado de trás e do lado da frente da mesma maneira, e as partes internas das letras que não tinham ligação com suas laterais ficavam paradas no ar no meio delas.

Quando Moshe Rabeinu estava nos trazendo as “Luhot”, o povo tinha sido induzido pela “erev rav” a fazer um “bezerro de ouro”, uma idolatria.

Moshe Rabeinu estava descendo do monte Sinai com as “Luhot”, e ao ouvir a festa da idolatria as “Luhot” caíram das suas mãos e se quebraram.

Depois que Moshe conseguiu resolver a situação e a idolatria parou, pediu para Hashem desculpar o povo de Israel pelo acontecido, nos ensinando que o principal da Teshuvá é parar de fazer a coisa ruim e a próxima etapa é pedir desculpas por tê-la feita.

Hashem revelou para Moshe uma mina de safira que, por incrível que pareça, estava embaixo da terra dentro da tenda de Moshe.

Hashem pediu para Moshe lapidar duas “Luhot” como as anteriores e subir novamente ao monte Sinai. No Yom Kipur Moshe desceu com as segundas Luhot.

As novas “Luhot” foram guardadas dentro das “Arca da Aliança” junto com todos os pedaços das primeiras “Luhot” e acompanharam nosso povo até a destruição do primeiro Beit Hamikdash, quando foram escondidas nos túneis que construiu o Rei Salomão, e vão ser reveladas novamente quando Mashiach chegar.

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O bezerro de ouro

Nossa Parashá nos conta que depois da entrega da Torá no Monte Sinai, Moshe Rabeinu avisou o povo de Israel que iria subir novamente ao Monte Sinai e ficar lá quarenta dias e quarenta noites.

Quando ele deu esse aviso já tinha passado uma parte do dia, e por isso ele não considerou o dia em que subiu como sendo o primeiro dos quarenta dias. O povo contou os quarenta dias incluindo o dia em que Moshe subiu, e por isso, depois de 39 dias eles acharam que chegou o dia de ele descer.

Existe um anjo chamado de “Satan” que em hebraico quer dizer “desviador”. Esse anjo é comparado a um fiscal do governo que entra em uma loja, compra uma coisa barata e diz que não precisa de nota fiscal. Depois disso manda um relatório para o tribunal de contas acusando o dono da loja de não ter dado essa nota fiscal.

Assim também trabalha o Satan, desce e nos seduz a transgredir um Mandamento Divino, e depois disso sobe e nos acusa no tribunal Divino. Delata a transgressão que fizemos mesmo tendo sido causada por ele.

O método de trabalho dele é simples. Quando Hashem (D’us) criou Adam (Adão) e Havá (Eva), o Satan “baixou” na cobra, e todo o tempo que ele estava nela ela falava, era esperta e inteligente. Depois que ele saiu dela, ela voltou a ser o animal irracional que era desde o começo.

Caso fosse perguntado à ele porque ele falou para Havá comer a fruta proibida, ele responderia:- Hashem pediu para não comer aquela fruta e uma “cobra” falou para comer, à quem eles deveriam escutar?

O tribunal Divino dá um limite para ele. Sempre que há uma revelação Divina, o Satan pode fazer alguma coisa paralela somente até aquele mesmo nível de revelação para que haja o livre arbítrio, nos dando a possibilidade de optar entre fazer o que Hashem (D’us) pediu ou fazer o que a cobra pediu.

Ou seja, se o túmulo de um Tzadik foi aberto depois de centenas de anos do seu falecimento e o corpo dele estava intacto como se estivesse vivo, o mesmo tem que acontecer com o túmulo de um sacerdote da idolatria, para podermos ter o livre arbítrio para escolher entre Hashem (D’us) e a idolatria.

Sendo que a revelação Divina que aconteceu com a entrega da Torá nos tirou esse livre arbítrio, porque vimos uma revelação Divina eternamente incontestável, agora chegou a vez do Satan fazer a revelação dele para podermos escolher entre Hashem e a cobra.

E da mesma maneira que na entrega da Torá, Moshe Rabeinu teve uma participação fundamental, Hashem falou os primeiros dois Mandamentos e o povo pediu para Moshe ouvir de Hashem os outros oito Mandamentos e repassar para eles.

Agora chegou a vez do Satan e os representantes dele que naquele momento que eram os feiticeiros da “Erev Rav”.

Agora no lugar de escolher entre Hashem e a cobra vamos ter que escolher entre Hashem e um bezerrinho feito de ouro.

O plano “diabólico”

No começo o Satan fez uma revelação visual. Todos viram no “céu” uma “visão” do “enterro” de Moshe. E como acontece muitas vezes de pessoas verem discos voadores mas nunca conseguirem pegar um desses “marcianos” com as mãos, assim também aconteceu nesse caso.

O Satan mostrou o “enterro de Moshe” acontecendo no Céu, bem longe de alguém que quisesse ir lá para ver se é de verdade ou não.

Aí chegou a equipe dos feiticeiros da “Erev Rav” que fizeram a declaração oficial de que Moshe Rabeinu faleceu e a religião judaica terminou, agora a nova religião vai ser uma estátua, continuação da religião do Egito, país da “Erev Rav”.

E da mesma forma que os cristãos colocaram um “antigo testamento” no cristianismo para dizer que a idolatria deles é nada mais nada menos do que o nosso D’us que nos tirou do Egito, dando assim legitimidade à idolatria deles, assim também a “Erev Rav” precisou de Aharon para ser o Cohen da idolatria e dizer que esse bezerro de ouro é aquele D’us que tirou os judeus do Egito.

Depois de ver os setenta anciãos serem assassinados pela “Erev rav” por não concordarem em fazer idolatria, e depois de ver Hur, o filho de Miriam, também ser assassinado por não concordar em fazer idolatria, Aharon chegou a conclusão de que se matarem ele também, nosso povo estará perdido nas mãos da “Erev rav” e será levado de volta para o Egito sem que o faraó precise fazer o mínimo esforço.

O plano de Aharon

Quando Moshe Rabeinu subiu ao Monte Sinai, Aharon Hacohen e Hur, o filho de Miriam, ficaram responsáveis pelo nosso povo. Aharon Hacohen viu que Hur foi assassinado pela Erev Rav e que não conseguiria impedir a Erev Rav de fazer a idolatria batendo de frente com eles, então planejou sabotar a Erev Rav por dentro.

Ele pediu para os homens trazerem os brincos de ouro das mulheres para fazer a estátua. Ele sabia que as mulheres não iriam doar seus brincos para a idolatria, e assim a Erev Rav iria perder a moral.

E ele tinha razão! As mulheres se recusaram a apoiar a idolatria. Até aqui o plano de Aharon deu certo, mas o que Aharon não esperava que acontecesse foi exatamente o que aconteceu. Os homens arrancaram os brincos das mulheres a força e os trouxeram para fazer a estátua

Diz o Ari Zal que a geração do Mashia’h é a reencarnação da geração que saiu do Egito e morreu no deserto, e o Mashia’h é a reencarnação de Moshe Rabeinu, e por isso essa geração vai ser uma geração de intelectuais a exemplo da geração do deserto que estudou Torá durante quarenta anos.

E a principal característica dessa geração, diz o Ari Zal, vai ser o fato de todas as mulheres mandarem em todos os maridos. E o motivo para isso é o fato de elas terem ido contra a idolatria e os homens terem arrancado delas os brincos a força para doarem para a idolatria. O Rebe diz que essa geração somos nós! Precisamos de mais sinais para sabermos que estamos na geração da Gueulá?

O “yetser hará” da idolatria

A cobra falou para Havá que D’us se tornou D’us porque comeu a fruta da Etz Hadaat, e se eles comessem essa fruta eles também virariam D’us. Eles comeram a fruta proibida para se tornarem D’us, fazendo de si próprios uma idolatria.

Por causa disso, a Alma Divina de Adam Harishon se impurificou e recebeu o que chamamos de “yetzer hará” (mau instinto) da idolatria.

Ou seja, sendo que a raiz da Alma de cada um de nós no seu DNA é a Alma Divina do Adam Harishon, sendo assim todos tinham na própria natureza a vontade de fazer idolatria por causa da auto idolatria de Adam Harishon.

Por isso o povo de Israel foi cúmplice da Erev Rav no bezerro de ouro, e por isso durante 790 anos, desde o falecimento de Josué até a destruição do primeiro Beit Hamikdash o principal problema do nosso povo foi a idolatria.

A Guemará nos conta que os “Anshei Knesset Hagdolá”, que eram os Sábios e profetas que viveram entre a destruição do primeiro Beit Hamikdash e a construção do segundo Beit Hamikdash, fizeram um jejum de três dias e três noites direto, e no final desse jejum pediram na Tefilá para que nesse mérito o “yetzer hará” da idolatria fosse anulado.

Nesse momento caiu um bilhetinho do céu com a palavra “Emet” confirmando essa anulação.

Tem quem diz que foram quarenta jejuns e tem quem diz que eles não precisaram fazer nenhum jejum, mas simplesmente o fato de eles terem instituído as Bênçãos matinais, as rezas que fazemos todos já deu à eles o direito de fazer esse pedido, e essa é a opinião do Hatam Sofer que foi um grande Tzadik que viveu na Hungria há duzentos anos atrás.

E sendo que por meio disso aconteceu novamente o mesmo desequilíbrio espiritual que tinha acontecido com a entrega da Torá, ou seja, o livre arbítrio desequilibrou, Hashem (D’us) teve que reduzir a revelação Divina que acontecia por meio dos profetas para equilibrar novamente o livre arbítrio no mundo.

E por isso, a partir daquele momento não temos mais yetzer hará para fazer idolatria, mas também não temos mais profetas.

Conclusão:

Vamos rezar com muita alegria e pedir para Hashem fazer com que a nossa Gueulá aconteça imediatamente, só temos a ganhar!

❤️SHABAT SHALOM❤️

 

Rabino Gloiber e equipe

Agradecemos ao nosso querido Professor Israel e querida família por revisarem toda semana a nossa Parashá

 

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