Zohar da Parashá Pekudei 5784


Na nossa Parashá Moshe Rabeinu prestou contas de todo o ouro, prata e

cobre doado para construir o Mishkan e todos os objetos necessários para o trabalho que seria feito nele

Diz Rashi que a palavra Mishkan aparece duas vezes no versículo que fala sobre essa contagem, nos indicando os dois Templos de Jerusalém seriam futuramente destruídos, e dando a entender que isso aconteceu por causa dessa contagem

A Guemará em Baba Metzia nos conta que a bênção Divina não recai sobre uma coisa contada, pesada ou medida, o que reforça essa possibilidade

Diz o Zohar que o principal motivo para isso é que a Bênção Divina se encontra onde há união, e o “todo” está conectado à “raiz”

Quando uma coisa é contada, pesada ou medida, ela está sendo separada de um todo e por isso perde a benção

Na prática, esse “todo” é dividido em partes por meio da contagem, fazendo com que a benção Divina não recaia mais sobre ele

Será que isso é o que Rashi está nos indicando dizendo que o fato de a palavra Mishkan aparecer duas vezes no versículo que se refere à contagem das doações dos materiais do Mishkan nos indica que os dois futuros Templos de Jerusalém foram destruídos por causa dessa contagem

“A explicação do “Or Hahaim HaKadosh

O grande Tzadik Rabi Haim ben Atar, conhecido como “Or Hahaim HaKadosh” devido ao seu livro principal chamado de “Or Hahaim” sobre a Torá, nasceu no Marrocos há mais de trezentos anos

Viveu no Marrocos 40 dos seus 47 anos de vida, em uma época conturbada e repleta de problemas como fome e guerras internas que tiveram como consequência perseguições aos judeus que muitas vezes tiveram que fugir de região para região

Rabi Haim ben Atar mudou-se para a Itália com a sua família, onde editou sua maior publicação, o “Or Hahaim”, uma explicação da Torá que lhe deu reconhecimento mundial

O Rebe HaRashab de Lubavitch contou que Rabi Haim ben Atar escreveu seu livro “Or Hahaim” enquanto estudava com as suas filhas Humash com Rashi

Disseram ao Rebe de Lubavitch anterior que Rabi Haim bem Atar não teve filhos, e ele respondeu que temos uma “kabalá”, um recebimento de Rebe para Rebe, que ele não teve filhos homens, mas filhas ele teve, e o seu livro é a coletânea das explicações do Humash que ele estudou com as suas filhas

Rabi Haim organizou na Itália um grupo de doadores para abrir uma Yeshivá na terra de Israel

Mudou-se para a Terra Santa com sua família e seus alunos, e no final da sua curta vida conseguiu abrir duas Yeshivot em Yerushalaim, uma para o estudo da parte oculta da Torá, e uma para o estudo da parte revelada

Rabi Haim nos ensinou que o fato de ter sido usada para a contagem das doações do Mishkan a palavra “Pekudei”, vem nos revelar que essa contagem não só que não retirou a Bênção Divina do que foi contado, mas ao contrário, veio acrescentar muitas e muitas bençãos para os doadores

E quanto mais detalhes foram acrescentados nessa contagem, mais bênçãos receberam os que acrescentaram nessas doações

A palavra Pekudei usada pela nossa Parashá para demonstrar a contagem das doações do Mishkan, é usada pela Torá em caso de grandes bênçãos, como, por exemplo, quando Hashem dá um filho para Sarah, e como sinal de que chegou a hora da redenção do Egito. Mas ela também é usada em casos totalmente contrários a bênçãos

Diz o Or Hahaim que sendo que aqui está se tratando das doações do Mishkan, a palavra “Pekudei” vem nos revelar que nesse caso não há nenhuma aversão Divina, mas ao contrário, grandes bênçãos

E esse é o motivo de que, mesmo que Hashem não pediu para Moshe Rabeinu fazer essa prestação de contas, ele a fez isso para acrescentar Bênçãos Divinas aos doadores do Mishkan, fora as que eles receberam pelo próprio fato de terem doado

A explicação do Zohar

Diz o Zohar que o motivo para recaírem bênçãos sobre essa contagem foi o fato de o próprio Moshe Rabeinu tê-la feito, e isso foi o que trouxe bênçãos para ela

Mas se não fosse isso, essa contagem não teria saído da regra geral que é de que por meio da contagem separamos algo do “todo” e ele perde as bênçãos

Enquanto uma coisa não é contada, ela faz parte de um todo, e no todo há bênção, porque o todo está ligado à raiz e fonte das bênçãos, e de lá vem a vida para tudo

Por isso, Moshe Rabeinu que era o homem da fé; um homem, que está ligado à raiz a ponto de mesmo quando estava ocupado com assuntos relacionados à natureza desse mundo, (assuntos materiais), continuava todo o tempo consciente e se lembrando de que tudo é de Hashem, e por isso as bênçãos pairaram sobre os seus feitos

E por isso, pelo fato de ele próprio ter feito a contagem, as bênçãos Divinas pairaram sobre o contado

? Será que “mau-olhado” existe de verdade

De uma maneira geral, uma pessoa normal não consegue contar, pesar e medir o que é nosso e comparar com o que é dele, provocando com a própria inveja a separação entre o que é nosso e o “todo”

E o pior é que se acreditarmos que isso possa acontecer realmente, ou seja, acreditarmos que alguém nos colocou um “mau-olhado”, conseguiremos por meio da nossa fé fazer com que a coisa ruim aconteça de verdade. Mas devido à nossa fé e não porque colocaram sobre nós um “mau-olhado”

Mesmo assim devemos evitar as “exceções de regra” não “esnobando” as pessoas à nossa volta, mas nos comportando com “pudor”, ocultando as coisas boas que Hashem nos deu até que elas cresçam e apareçam e não tivermos mais como esconder

Por isso, uma mulher judia não costuma publicar que está grávida até o quinto mês, quando esse fato já fica visível para todos. Claro que podemos contar para nossas mães e sogras, mas é melhor pedir para elas também não publicarem até o quinto mês

Mesmo assim, se o mundo inteiro ficar sabendo, você não deve acreditar em um mau-olhado, porque a sua fé no mau-olhado é o maior motivo para ele acontecer de verdade. Então, por um lado não podemos acreditar no mau-olhado, mas por outro devemos ter pudor em relação aos nossos bens mais valiosos e não ficar nos exibindo para não atrair por engano alguma “exceção de regra”

O principal: não seja você essa pessoa que vai contar, medir e pesar o que os outros têm e comparar com o que você tem

Não seja você essa exceção de regra que pode prejudicar alguém. Não seja você a pessoa que só consegue imaginar uma mão fechada e tem dificuldade em imaginar uma mão aberta

Contando pessoas

Por esse mesmo motivo não devemos contar as pessoas

Para saber se já temos dez pessoas na Sinagoga não fazemos a contagem de um, dois, três, mas falamos o versículo 9 do Tehilim 28 , um versículo que tem dez palavras, e a cada palavra apontamos para uma pessoa diferente

Quando terminamos esse versículo sabemos que temos dez pessoas na Sinagoga

הוֹשִׁיעָה אֶת עַמֶּךָ וּבָרֵךְ אֶת נַחֲלָתֶךָ וּרְעֵם וְנַשְּׂאֵם עַד הָעוֹלָם.

Nossa querida aluna Aziza (Vitória) tem uma escola em Belém do Pará, e quando pergunto a ela quantos alunos ela tem na escola, ela me responde com o número de carteiras ocupadas e não o número de crianças

Observação importante

Não há problema quando você verifica diariamente o extrato do banco, sendo que a escrita e o pensamento não entram nessa regra, mas somente o que foi contado verbalmente. Por isso não há problema em preencher formulários especificando o número de crianças. O problema é só falar o número
explicitamente

As colunas do Mishkan

Somente Moshe Rabeinu conseguiu levantar as colunas do Mishkan

A maior prova para o nosso povo de que Moshe não precisaria prestar contas para eliminar suspeitas foi que quando tudo ficou pronto e ninguém conseguia levantar as colunas do Mishkan somente Moshe conseguiu

Nesse momento Hashem pediu para Moshe fazer como se ele estivesse levantando as colunas e elas se levantaram milagrosamente, mostrando a todos que o Moshe de agora continua o mesmo Moshe de antes, o grande Tzadik que ele sempre foi, longe de qualquer suspeita de desonestidade

A explicação do Kli Yakar

Rabi Shlomo Efraim de Luntshits, conhecido como “Kli Yakar” em nome do seu livro principal; nasceu em Luntshits na Polônia no ano de 1540 sendo considerado um dos maiores rabinos da época, comparado ao Maharal de Praga que fez o Golem e ao Rabi Yeshayahu Horovitz de Praga conhecido como Shl’o em nome do seu livro principal

Após o falecimento do Maharal de Praga, Rabi Shlomo Efraim se tornou o Rabino de Praga com o Shl’o

Ele nos explicou que da mesma maneira que Hashem pediu para Moshe se ocupar com o levantamento do Mishkan e Hashem “fez acontecer”, assim também Hashem faz com cada um de nós.

A nossa parte nesse mundo é somente a de nos ocupar com o que precisamos fazer, e a parte de Hashem é “fazer acontecer”. Nós começamos, e Hashem termina

Então, muita fé e mãos à obra

Rabino Gloiber e equipe

Agradecemos ao nosso querido Professor Israel e querida família por revisarem toda semana a nossa Parashá

 

 

 

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