Zohar da Parashá Tazria 5784

Tazria

Nossa Parashá nos conta que quando a mulher tem o grande mérito de fazer a importante Mitzvá de dar a luz a um filho, ela se torna impura para o marido por sete dias.

Depois disso, mesmo já estando pura para o marido depois ter mergulhado no Mikve, ela continua impura por mais 33 dias em relação ao Beit Hamikdash.

Ou seja, por mais 33 dias fora os sete anteriores ela não pode entrar no lugar sagrado.

Como pode ser que depois de ter feito uma Mitzvá tão grande de dar a luz a um menino, ela ficou impura por quarenta dias?

Nossa Parashá continua nos contando que quando a mulher tem um mérito ainda maior e faz a importante Mitzvá de dar a luz a uma menina, ela se torna impura por quatorze dias para o marido.

Depois disso, mesmo já estando pura para o marido depois de ter mergulhado no Mikve, ela continua impura por mais 66 dias em relação ao Beit Hamikdash.

Ou seja, como pode ser que depois de ela ter feito uma Mitzvá ainda maior e ter dado a luz a uma menina, como consequência disso ela fica impura por oitenta dias?

Pureza material, pureza espiritual e purificação das impurezas

Rav Yeshayahu ben Avraham HaLevi Horowitz conhecido como HaShlá HaKadosh por causa do seu livro Shnei Luḥot HaBrit, foi um grande Tzadik e estudioso da Kabalá.

Ele nasceu em Praga (hoje república Tcheka) por volta de 1555 e faleceu em Tvéria (Tiberíades) por volta de 1630.

Em 1621, após a morte de sua esposa Haya, ele se mudou para Jerusalém onde se casou novamente e se tornou o Rabino da cidade.

Por ser um Rabino tão grande e famoso, o paxá Muhamed ibn Faruk aplicou sobre ele um golpe de extorsão usual no Oriente Médio.

O paxá mandou colocar o Shlá na prisão junto com os quinze judeus mais importantes de Jerusalém, e exigiu uma grande fortuna para soltá-los.

Depois que ele foi libertado, por motivos de segurança mudou-se para Tzfat (Safed). Três anos depois ele se mudou para Tiberíades onde viveu mais cinco anos, lá ele faleceu e lá se encontra o seu túmulo. Tzfat e Tvéria eram naquela época as cidades dos cabalistas e lá também viveram o Ramak e o Ari Zal.

O Shlá nos conta que existem três categorias de impureza:

1- impureza espiritual

Como por exemplo o “espírito de impureza” que entra no nosso corpo durante o nosso sonho, quando nossa Alma tem acesso ao mundo superior.

Essa categoria de impureza é retirada por meio da “Netilat Yadaiim”. Lavamos as mãos de maneira intercalada pelas manhãs e assim nos purificamos dessa impureza

Você pega com a mão direita um recipiente cheio de água e passa para a mão esquerda. Então você despeja um pouco dessa água inicialmente sobre a mão direita

Depois você segura novamente o recipiente com a mão direita, despejando um pouco dessa água na mão esquerda. Faça isso três vezes, alternadamente.

Caso não haja água suficiente você pode despejar a água sobre os dedos (até a junção dos dedos com as mãos) mas o ideal é ter água o suficiente para cada vez jorrar a água sobre todo o punho.

Essa netilá deve ser feita sempre com um recipiente. Compre um pote redondo e grande, encha ele de água e coloque ele do lado da sua cama. De manhã sem descer da cama faça a Netilat Yadaiim.

A água utilizada para a netilá não poderá ser usada para nenhuma outra finalidade (pois um espírito de impureza paira sobre ela) e também não deve ser jogada em lugares por onde transitam pessoas que possam entrar em contato com ela.

2- impureza parcialmente espiritual e parcialmente material

A impureza parcialmente espiritual e parcialmente material é a causada quando mexemos em animais mortos sendo que quando o animal morre, mesmo tendo sido ele em vida um animal puro, após a morte para sobre ele um espírito impuro.

O animal que passou por um abate Kasher não impurifica porque sendo que o abate foi feito da maneira que a Torá pede para ser feito nesse caso paira sobre ele um espírito puro

3- impureza material

A impureza material é a que é causada pelo sangue que saiu do útero como no caso da nossa Parashá e tudo o que é comparado a isso.

A purificação desses tipos de impureza é por meio do mergulho no Mikve.

O Rambam nos conta que as purezas e impurezas citadas pela Torá são um “decreto do versículo”. Ou seja, mandamentos Divinos que estão acima da nossa capacidade de entendimento e por isso são chamados de hukim חוקים.

Diferente da categoria de leis da Torá chamadas de “Mishpatim” que são leis que conseguimos entender, como “não assassinar”, “não roubar” e etc, os “hukim” são leis da Torá que estão acima do nosso entendimento, e todas as leis da Torá relacionadas a assuntos de pureza e impureza estão nessa categoria.

Quando fazemos uma Mitzvá, quando cumprimos um mandamento Divino, trazemos para nós próprios uma grande pureza espiritual. E não somente para a nossa Alma, mas principalmente para o nosso corpo.

E esse é o motivo da descida da nossa Alma para esse mundo, cumprir os mandamentos Divinos como por exemplo dar a luz a uma menina ou a um menino e por meio disso trazer uma enorme pureza espiritual para o nosso corpo e também para a nossa Alma.

Ao mesmo tempo que a mulher por meio de cumprir o Mandamento Divino de dar a luz recebe toda aquela imensa pureza espiritual para seu corpo e sua Alma, uma pureza que vai reluzir eternamente nela, junto com isso ela recebe uma impureza material não detectável, que veio para ela por meio de uma ação material e vai sair dela por meio de outra ação material, e não por meio de rezas ou outros assuntos espirituais.

Como nos conta o Rambam que todo o assunto da pureza e impureza não é detectável, e por isso é chamado de “hok”, uma lei da Torá que está acima do nosso entendimento. Assim também a sua purificação por meio do mergulho no Mikve é um “hok”.

Da mesma maneira que a impureza não é detectável, sua purificação por meio da água também não é detectável, e todo esse assunto é chamado pelo Rambam de “decreto do versículo” por estar acima do nosso entendimento.

No caso da impureza e sua purificação, esse “decreto do versículo” vem nos revelar a impureza que existe nesse mundo material e não temos como saber que ela existe a não ser pelo fato de o versículo nos revelar a existência dela.

Ela aparece no nosso corpo por meio de uma ação material como no caso da mulher que deu a luz. Nesse caso a impureza material surge por consequência do corrimento de sangue para fora do ventre, e desaparece por meio de outra ação material que é o mergulho no Mikve após sete ou quatorze dias.

Mas nem a entrada dessa impureza material no nosso corpo e nem a sua saída são materialmente detectáveis.

Morte e impureza

Rabi Yehudah Halevi nos ensinou que a impureza está sempre ligada à morte e o caso mais grave de impureza é um judeu ou judia que faleceram.

Abaixo disso está a mulher que dá à luz uma menina. Antes de dar a luz ela era um conjunto de dois corpos e duas Almas, no parto ela volta a ser um corpo e uma Alma, ou seja, menos vida.

E sendo que essa vida que saiu dela vai dar origem à outras vidas ela fica impura 66 dias por causa da vida que saiu do seu próprio corpo, mesmo que a menina que saiu dela não só que tem vida própria mas também futuramente vai dar a luz à mais vidas

Abaixo disso está a mulher que dá à luz a um menino. Antes de dar à luz ela era um conjunto de dois corpos e duas Almas, no parto ela volta a ser um corpo e uma Alma. Ou seja, menos vida

Abaixo disso está a mulher que perdeu o óvulo e por isso ficou Nidá. O óvulo era vida, e ele saiu dela, agora ela é menos vida

Abaixo disso está o marido que teve relação com a mulher. O que saiu dele entrou nela, mas quem ficou impuro foi ele e não ela, porque dele saiu vida, e nela entrou

Nessa regra se aplica também no caso da “nega tzaraat”, a manifestação espiritual que se revelava na pele da pessoa causando a morte das células, e onde há morte há impureza, e por isso a pessoa ficava impura por causa da “nega tzaraat”

Quando acordamos de manhã estamos impuros (até jogarmos água nas nossas mãos por meio de um recipiente seis vezes intercaladamente) porque nossa Alma sobe para os céus nos colocando em uma situação de 1/60 da morte. Ou seja, durante o sono estamos menos vivos

Quando cortamos as unhas ou os cabelos, ou quando fazemos uma doação de sangue, também devemos fazer a “netilat yadayim”, (jogarmos água nas nossas mãos por meio de um recipiente seis vezes intercaladamente) para tirar a impureza que pairou sobre nós por causa da perda de uma pequena parte de vida, uma pequena parte do nosso sangue, dos nossos cabelos ou das nossas unhas

Mas porque a impureza paira sobre nosso corpo sempre que há nele um pouquinho de redução de vida, ou, D’us nos livre, a própria morte que traz com ela a maior de todas as impurezas?

A explicação do Zohar

Diz o Zohar que a pessoa não morre antes de ver a “Shehiná” (Presença Divina) e por causa do intenso desejo da nossa Alma em se unir à Shehiná, nossa Alma sai do corpo ao seu encontro

Depois que a Alma sai do corpo e, consequentemente, aquele corpo se torna um corpo morto, é proibido deixá-lo sem que seja enterrado

O Zohar traz vários motivos para isso

1- Porque se deixamos passar 24 horas entre a morte e o enterro causamos uma fraqueza nas Sefirot do mundo superior, sendo que a “imagem e semelhança” Divina descritas pela Torá em relação à criação do homem se refere às Sefirot lá de cima e por isso cada um de nós está sincronizado com essas Sefirot

E da mesma maneira que existe a infiltração do lado espiritual negativo no corpo do falecido aqui em baixo, se ele não é enterrado em 24 horas esse lado espiritual negativo acessa ao mundo superior e suga vitalidade das Sefirot lá de cima

2- Outro motivo que não podemos atrasar o enterro é para não atrasar a ajuda Divina decretada para aquela pessoa. Porque talvez Hashem tenha decretado para o bem daquela pessoa que ela vai se reencarnar naquele mesmo dia que faleceu, explicitamente para o bem dela

E enquanto o corpo não é enterrado a Alma não pode se apresentar na frente de Hashem, e consequentemente não pode entrar em uma próxima reencarnação. Isso pelo motivo de que não é dado para a Alma um segundo corpo enquanto o primeiro não é enterrado

O Zohar compara esse caso à uma pessoa cuja esposa faleceu. Não é correto ele se casar com outra mulher enquanto a esposa falecida não é enterrada, assim também não é correto ele receber um novo corpo enquanto o corpo anterior não é enterrado

3- Outro motivo para que a pessoa seja enterrada no mesmo dia é porque quando a Alma sai do corpo e precisa ir para o mundo superior, para o Gan Éden (o Paraíso) e ela não pode entrar lá enquanto não é dado a ela um novo corpo. Mas sendo que o Gan Éden fica no mundo superior, esse novo corpo é infinitamente melhor do que o atual e é denominado pelo Zohar como um “corpo de luz”.

Um corpo espiritual para usufruir do Gan Éden HaTahton (Baixo Paraíso) onde uma hora lá equivale à setenta anos dos maiores prazeres aqui nesse mundo, ou do Gan Éden HaElion (Alto Paraíso) onde uma hora lá é comparada à setenta anos no Gan Éden HaTahton

Mas só depois que a Alma recebe esse corpo espiritual ela pode entrar no mundo superior, e isso só acontece depois que o corpo material que ela usou aqui embaixo é enterrado. Somente depois disso ela recebe o corpo espiritual e pode entrar no mundo superior

Diz o Zohar que aprendemos isso de Eliahu Hanavi (o profeta Elias) que tem dois corpos. Um corpo que ele usa para aparecer para as pessoas aqui nesse mundo, mas com esse corpo ele não consegue subir para o mundo superior. Outro corpo ele usa para aparecer lá em cima entre os Anjos do céu

4- Mais um motivo que traz o Zohar é o de que todo o tempo em que o corpo ainda não foi enterrado a Alma sofre por causa do espírito impuro que aparece para habitar nele (causando com que o corpo morto fique impuro)

E sendo que o espírito impuro aparece por causa da morte, a pessoa não deve deixar aquele corpo por uma noite sem enterrá-lo porque o espírito impuro se encontra com mais intensidade durante a noite e vaga por toda a terra procurando um corpo sem Alma para impurificá-lo, e de noite ele impurifica com muito mais intensidade

Shabat Shalom

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