Zohar da Parashá Tetzavê 5784

Nossa Parashá começa com as palavras: “e você vai ordenar”. Essa linguagem não é usual na Torá, sendo que nesse caso esse “e” está adicionando alguém junto à Moshe Rabeinu. Às vezes vemos na Torá que Moshe Rabeinu está falando em uma linguagem, como se fosse Hashem (D’us) falando, e não ele.

Diz o Zohar, é a própria Shehiná (Presença Divina) falando por meio das cordas vocais de Moshe. Às vezes Moshe discute com Hashem (D’us), e pede para Ele desculpar o nosso povo. Nesse caso, Moshe é Moshe e não Hashem falando por meio das cordas vocais de Moshe.

Consoante o Zohar, que a linguagem da nossa Parashá está nos indicando que nesse caso Hashem e Moshe estão falando juntos. E não é Hashem sozinho falando por meio das cordas vocais de Moshe, e nem Moshe sozinho fazendo um pedido para Hashem, mas os dois falando juntos.

Rabi Hiya no Zohar nos conta que todo lugar na Torá que está escrito “e você” está nos indicando que a presença Divina está com ele. Ou seja, este “e” vem nos indicar “alguém e você”, e esse “alguém” é Hashem (D’us).

Rabi Itzhak no Zohar nos explica que essa linguagem aparece para nos indicar que nesse caso a luz de cima e a luz de baixo se unem se tornando uma só.

Moshe Rabeinu cumpriu a missão de repassar ao povo de Israel, os assuntos relacionados à construção do Mishkan, mas, na prática, cada um teve a inspiração Divina causada por essa sincronização entre o mundo de cima e o mundo de baixo.

Cada um dos “Sábios de coração” que trabalharam com a construção do Mishkan, e de todos os seus artefatos, fizeram o que precisava ser feito mesmo nos mínimos detalhes que Moshe Rabeinu não chegou a repassar. E fizeram tudo tão perfeito a ponto de ele próprio se espantar com o fato de tudo ter sido feito como Hashem havia mostrado para ele no Monte Sinai, e não para eles.

Mais a frente, o Zohar nos conta como esse fenômeno espiritual acontece com cada um de nós.

אי איהו קיימא בנהירו דאנפין מתתא, כדין הכי נהרין ליה מעילא, ואי איהו קיימא בעציבו, יהבין ליה דינא בקבליה

Diz o Zohar que “se estamos com um sorriso aqui embaixo, assim somos iluminados lá de cima”. Em outros termos, Hashem (D’us) nos dá motivo para ficarmos alegres de verdade. Mas se estamos tristes aqui embaixo (mesmo tendo um motivo justo para ficarmos tristes), trazemos para nós as severidades “lá de cima”.

וּמִמַּעַל לָרָקִיעַ אֲשֶׁר עַל רֹאשָׁם כְּמַרְאֵה אֶבֶן סַפִּיר דְּמוּת כִּסֵּא וְעַל דְּמוּת הַכִּסֵּא דְּמוּת כְּמַרְאֵה אָדָם עָלָיו מִלְמָעְלָה

 

O Alter Rebe nos traz uma explicação do Maguid de Mezritch sobre o versículo em Yehezkel que diz: “sobre a aparência do trono, uma aparência como a aparência humana”. Diz o Maguid, que isso quer dizer que como nos comportamos aqui em baixo, causamos a revelação Divina lá em cima. Isto significa que, a revelação Divina acontece para nós como a nossa aparência naquele momento.

A descrição do profeta Yehezkel sobre a revelação Divina ser comparada à aparência da pessoa, não é uma coisa material, sendo que Hashem está acima dos conceitos materiais e não tem nenhuma comparação com o material. Mas a intenção é de que a revelação Divina que está sobre o trono reflete espiritualmente nossa aparência aqui em baixo.

Se estamos tristes, mesmo por motivos justos, a revelação Divina em relação a nós é Guevurá. Mas se estamos alegres, a revelação Divina em relação a nós é a Hessed, (bondade) e aí todos os milagres acontecem.

וְאַתָּה תְּצַוֵּה אֶת בְּנֵי יִשְׂרָאֵל

Nossa Parashá começa com as palavras “e você”. Em Parashat Bereshit, Hashem diz aos Anjos “façamos o homem”, e depois Hashem faz o ser humano sem a mínima participação desses Anjos.

Hashem não precisou falar para os Anjos “façamos um boi ou façamos um cavalo, então por que no caso da criação do ser humano Hashem convidou os Anjos para participarem dela mesmo que no final eles não participaram?

Um dos motivos para isso, é para consolar os Anjos, sendo que até aquele momento eles eram as criaturas mais elevadas e agora seria criado o ser humano que seria superior aos Anjos. Assim dizendo, Hashem teve que dizer para eles “façamos o homem” para dar um consolo a eles.

Outro motivo para isso, é porque os Anjos teriam várias responsabilidades em relação a nós, e por humildade Divina Hashem deu uma satisfação para eles, antes de nos criar, oferecendo a eles, até mesmo uma participação na nossa criação.

Na nossa Parashá, a intenção Divina na expressão “e você” é dizer “nós”, por que o versículo já não diz explicitamente “nós”, no mesmo estilo do versículo que fala sobre a criação do homem?

Porque aqui na nossa Parashá o “você”, é a pessoa principal desse versículo, e Hashem aparece como secundário indicado indiretamente por um simples “e”. Nessa mesma Parashá o Zohar traz uma regra profunda que por meio dela podemos entender claramente todos esses porquês.

Diz o Zohar que o mundo de baixo está sincronizado com o mundo de cima, e está sempre dependendo dele para receber de lá tudo o que nosso mundo precisa. Mas tudo o que receberemos dependerá de nós, e não do mundo de cima.

Se aqui nesse mundo estamos com um sorriso no rosto, alegres e felizes, recebemos um sorriso lá de cima, e não precisamos mais nos preocupar com nada, porque somos queridos no mundo de cima e todos os nossos problemas serão resolvidos com muito amor e carinho.

Por isso, diz o Zohar, está escrito no Tehilim que devemos servir à D’us com alegria, porque a alegria da pessoa traz para ela outra alegria superior. Isto é, quando você está triste, você desperta o lado esquerdo do mundo superior, o lado da guevurá (severidade), e atrai para você todos esses “dinim”, todos os decretos ruins que vem retificar a sua Alma da pior maneira possível e consequentemente a mais dolorosa.

Quando você se esforça e fica alegre, mesmo não tendo o mínimo motivo para isso, você desperta o lado direito no mundo superior, o lado da Hessed (a bondade Divina), e Hashem te dá verdadeiros motivos para ficar alegre. Todos os seus problemas são resolvidos com muito amor e carinho, e você recebe todos os motivos do mundo para ser feliz.

Nesse processo, sua Alma é purificada de maneira positiva. Hashem te dá muito dinheiro para dar para a Tzedaká, você consegue fazer muitos favores para muitas pessoas, e purifica a sua Alma dessa maneira sem precisar sofrer. Mas isso não dependerá lá de cima, mas sim de você.

E por isso nossa Parashá coloca a palavra você como principal, e a revelação Divina em segundo plano como algo que te acompanha, e você determina para qual direção ela vai te acompanhar. Você decidirá se Hashem vai se revelar para você como um pai ou como um rei, e isso dependerá somente de você.

Conclusão: Fique sempre alegre, não importa a situação. Você só tem a ganhar!

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AS ROUPAS DO COHEN GADOL.

Muitos segredos se ocultam por trás dessas roupas, como por exemplo o pedido Divino de colocar dentro do Hoshen (peitoral sacerdotal) o Urim e o Tumim. E nas doze pedras preciosas encaixadas no Hoshen estavam gravados os nomes dos doze filhos de Yaakov, patriarcas das treze tribos de Israel (no lugar dos nomes de Efraim e Menashe estava o nome de Yossef). Por trás das pedras preciosas, dentro do Hoshen, estavam o Urim e o Tumim.

Quando surgia uma pergunta de importância pública, como uma dúvida relativa à estratégia de guerra, ou outro assunto público importante, que necessitava de uma resposta Divina explícita, ela era perguntada em frente ao Cohen Gadol que vestia o Hoshen. Nessa hora, por causa do Urim e Tumim, um milagre acontecia com as letras dos nomes lapidados nas pedras preciosas.

Rabi Yohanan na Guemará em Yoma diz que um conjunto de letras se destacava e o Cohen Gadol montava com elas palavras por meio de Rua’H hakodesh (Inspiração Divina). Reish Lakish diz que as letras se moviam milagrosamente e montavam palavras.

O Ramban, Rabi Moshê ben Nahman explica que as letras se iluminavam para o Cohen Gadol, e assim elas se ressaltavam.

Urim e Tumim?

Rashi esclarece que o Urim e o Tumim são o Nome explícito de Hashem escrito e colocado dentro das dobras do Hoshen. E por meio dele, as palavras Hoshen se tornavam perfeitas e iluminadas, e por causa desse Nome de Hashem que estava nele, o Hoshen é chamado de Hoshen Mishpat (peitoral do juízo). Porque por meio dessa escrita, as perguntas eram milagrosamente julgadas e as respostas do Hoshen eram explícitas determinando se fazer ou não fazer o que foi perguntado.

Urim

O Ari Zal explica que o Urim era o Nome de Hashem conhecido como Nome “Mem Beit”, letra Mem e letra Beit do alfabeto hebraico cujo valor numérico delas juntas é 42.

Esse nome é chamado de “Mem Beit” por ser composto pelas iniciais de cada uma das 42 palavras da reza cabalística “Ana Bekoa’h”.

Tumim

O Ari Zal explica que o Tumim era o Nome de Hashem conhecido como “Ain Beit” (72) que é assim chamado por ser o valor numérico do “Milui” (preenchimento) do nome de Hashem de quatro letras conhecido como Tetragrama. Quer dizer, o nome de cada letra é escrito literalmente e o resultado do valor numérico das letras que compõem os nomes das quatro letras é 72.

Quando o Cohen Gadol estava no Mishkan ou no primeiro Beit Hamikdash, esses Nomes se encontravam dentro do Hoshen. Diz o Ari Zal que não era possível fazer perguntas dessa forma a não ser dentro do Beit Hamikdash ou do Mishkan. E por isso o Hoshen de Aviatar, o Cohen que fugiu da cidade de Nov que foi atacada por Shaul e se uniu à David antes de ele ser o rei de Israel, não tinha o Urim e Tumim. Ou seja, David recebia respostas Divinas do Hoshen de Aviatar por meio do Rua’H Hakodesh do próprio David, e não por causa do Urim e Tumim.

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AS ROUPAS DOS COHANIM, OS SACERDOTES DO NOSSO POVO.

Rabi Anani bar Sasson na Guemará nos conta que essas roupas tinham uma característica espiritual muito interessante: elas faziam a reparação das nossas transgressões.

Sendo que D’us é a essência do bem, e a natureza de quem é bom, é fazer o bem, quando tomamos a decisão de não fazer mais uma coisa ruim, e nos arrependemos de tê-la feito, ele nos dá várias oportunidades de retificação para não precisarmos chegar à “medida por medida”. Ou seja, para não precisarmos passar por um sofrimento relativo ao mal que fizemos.

Um exemplo disso é o Shabat que serve como reparação para a transgressão da idolatria.

Imagine um judeu que volta da Índia depois de ter rezado para todas as milhares de estátuas que tem lá, ter feito oferendas para as estátuas e etc. E no final essa pessoa se arrepende de toda a idolatria que fez, e vai perguntar ao Rabino, o que fazer para retificar toda a idolatria que praticou.

:- Rabino, diz a pessoa, eu acabei de voltar de uma peregrinação religiosa de um ano na Índia. Não teve uma estátua que eu não me prostrei na frente dela, que não rezei, ou fiz uma oferenda para ela. Mas agora estou profundamente arrependido de ter feito isso. Como faço para consertar o que fiz? Vou sentar em um formigueiro?

:- D’us nos livre, responde o Rabino. Você vai consertar isso da seguinte maneira:

Compre uma roupa muito bonita para Shabat, faça quatro Chalot (pães para Shabat), compre um peixe bem grande, tire as escamas e prepare ele bem gostoso para Shabat. Compre dois quilos de uva e faça um suco de uva bem gostoso para o kidush. Faça muitas saladinhas e sobremesa, comemore o Shabat com a sua família com muita alegria, e essa é a sua retificação!

:- Mas Rabino, exclama o homem espantado, isso parece mais um prêmio do que um castigo!

:- Você decidiu que não vai mais fazer idolatria? Pergunta o Rabino, se arrependeu do que fez? Agora tem dois jeitos de retificar, um muito bom e o outro muito ruim. Qual você escolhe?

Como nesse exemplo verídico em relação à idolatria, assim também acontece com todas as transgressões da Torá. Previamente temos de tomar a decisão de não fazer a coisa ruim novamente e se arrepender de tê-la feito. Assim, o que sobra é retificar o que fizemos.

Se não retificamos de maneira positiva, essa pendência continua. E quando chega o limite, D’us nos livre, somos retificados contra a nossa vontade, e de maneira negativa, “medida por medida”. Ou seja, o que fizemos de errado conosco.

Rabi Anani nos conta que no livro de Vaykrá a Torá fala sobre os Korbanot, os sacrifícios de animais, e logo em seguida fala sobre as roupas dos Cohanim. Nos indicando que da mesma maneira que os Korbanot vem para retificar as nossas transgressões, dessa mesma maneira as roupas dos Cohanim retificam as nossas transgressões.

Quando essas roupas eram usadas pelo Cohen Gadol no Mishkan que era um Templo móvel, e posteriormente no Beit Hamikdash que era o Templo Sagrado de Jerusalém, cada uma delas reparava um tipo de transgressão diferente.

Cada roupa com a sua função:

● Ktonet – a túnica do Cohen Gadol, retificava os assassinatos.

● Mi’hnassaim – a calça do Cohen Gadol, retificava as relações ilícitas.

● Mitznefet – o turbante do Cohen Gadol, retificava a prepotência.

● Avnet – o cinturão do Cohen Gadol, retificava os maus pensamentos.

● Hoshen – a jóia de doze pedras preciosas que o Cohen Gadol tinha sobre o peito, retificava os erros de legislação.

● Efod – o avental do Cohen Gadol, retificava a idolatria.

● Meil – o manto do Cohen Gadol, retificava a difamação.

● Tzitz – como uma tiara de ouro sobre a testa do Cohen Gadol, retificava a arrogância.

A explicação do “Rosh”

Rabeinu Asher bem Yehiel, conhecido como “o Rosh”, nasceu em Colônia na Alemanha antiga aproximadamente no ano de 1250.

O Rosh era descendente do grande rabino, Rabi Eliezer bem Nathan, conhecido como o Raaban. Um dos seus oito filhos foi Rabi Yaacov Baal Haturim, autor do Arba’ah Turim, famoso código de lei judaica.

Seu principal professor foi o grande Rabi Meir de Rothenburg que naquela época vivia em Worms na Alemanha antiga. Naquela época o Rosh também trabalhava com empréstimos e a situação financeira dele era muito boa.

Quando Rabi Meir de Rothenburg foi preso pelo governo, que queria extorquir a comunidade judaica, o Rosh quis pagar uma fiança astronômica exigida por eles para libertá-lo, mas Rabi Meir recusou, com medo de que isso servisse de incentivo para a prisão de outros rabinos.

Após isso, o Rosh assumiu a posição do rabino Meir em Worms. Porém, foi obrigado a emigrar para a França e depois para Toledo na Espanha, onde se tornou o Rabino da cidade por recomendação de Rabi Shlomo ben Aderet conhecido como Rashba.

Rabeinu Asher faleceu em Toledo no ano de 1328. Ele trouxe o espírito Talmúdico rigoroso e estreito da Alemanha antiga para a Espanha antiga.

Em um dos seus comentários sobre a Guemará, o Rosh explica que as roupas do Cohen Gadol não conseguiram retificar as transgressões de idolatria, assassinatos e relações ilícitas na época do primeiro Beit Hamikdash. E o Beit Hamikdash foi destruído e nosso povo exilado para a Babilônia por causa dessas transgressões.

O motivo para isso, explica o Rosh, é que eles não fizeram Teshuvá. Não se arrependeram das atrocidades que tinham feito e não tomaram a decisão de não fazê-las novamente. Mas se tivessem feito Teshuvá, as roupas do Cohen Gadol retificariam as transgressões, o Beit Hamikdash não seria destruído e nosso povo não seria exilado.

Shabat Shalom!
Rabino Gloiber e equipe.

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Agradecemos ao nosso querido Professor Israel e querida família por revisarem toda semana a nossa Parashá

 

 

 

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