Zohar da Parashá Vaykrá 5784

 

Nossa Parashá começa com a palavra Vaykrá (e chamou) fazendo com que

essa palavra se torne tanto o nome da nossa Parashá quanto o nome desse nosso terceiro livro do Pentateuco

Algumas letras no Sefer Torá são escritas obrigatoriamente maiores do que o normal, e algumas são escritas obrigatoriamente pequenas

Uma dessas letras aparece na nossa Parashá, uma letra “Alef” pequena, sendo a última letra da palavra Vaykrá

Quando o terceiro Rebe de Lubavitch era uma criança e fez três aninhos de idade, seu avô, o “Baal HaTanya”, o levou ao “Heider” (escolinha de meninos) e pediu para o “Melamed” (professor dos meninos) estudar com ele a primeira parte da nossa Parashá, Vaykrá, como é o costume Judaico quando uma criança entra pela primeira vez na escola

Após estudar, a criança perguntou ao avô por que a letra “Alef” da palavra Vaykrá é pequena

A pergunta da criança despertou no Baal HaTanya um profundo entusiasmo de devoção, e depois de alguns instantes explicou

A Torá tem letras normais, tem letras pequenas como essa da nossa Parashá, e letras grandes como a letra “Alef” da palavra “Adam” (no livro Divrei Hayamim)

Tanto o Adam do “Alef” grande, quanto Moshe Rabeinu do “Alef” pequeno, foram pessoas que existiram com grandes méritos, mas por humildade, Moshe Rabeinu utilizou o “Alef” pequeno referindo-se a si

Adam foi criado pessoalmente por D’us e dele saiu toda a humanidade. Moshe Rabeinu foi o que recebeu a Torá diretamente de Hashem, falou com D’us face à face

Mas Moshe Rabeinu, mesmo tendo toda essa grandeza, a Torá testemunha sobre ele que ele era o mais humilde de todas as pessoas do mundo

Moshe Rabeinu era filho de Amram, o líder da geração. D’us se revelou para ele na ocasião do “arbusto incandescente”, e D’us o chamou para subir ao monte Sinai, etc., e depois de tudo isso como ele conseguiu se manter humilde

Moshe imaginou que qualquer outra pessoa que estivesse nessas mesmas circunstâncias que ele estava, e tivesse tido essas mesmas oportunidades que ele teve, teria feito muito melhor do que ele. Chegaria a níveis muito mais elevados, e aproveitaria essas dádivas Divinas de uma maneira muito melhor

Por isso, nesse versículo que está expressando o carinho que D’us tinha por Moshe, “e chamou Moshe”, a letra Alef é pequena, mostrando a humildade de Moshe Rabeinu

Temos que aprender com Moshe Rabeinu e começar a pensar dessa forma também

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A explicação do Kli Yakar sobre o Alef pequeno

Rabi Shlomo Efraim ben Aharon conhecido como o “Kli Yakar”, nasceu na cidade de Luntschitz, na Polônia por volta do ano de 1550. Estudou com o famoso Maharshal, Rabi Shlomo Lúria, e depois disso foi rabino da cidade de Lvov durante 25 anos

Desde jovem foi conhecido como grande orador e ficou famoso por suas palestras cheias de conteúdo e entusiasmo

Em 1601 ficou gravemente doente. Por esse motivo adicionou o nome Shlomo ao seu nome que originalmente era Efraim, e prometeu para Hashem (D’us) que se ele sobrevivesse, iria escrever um comentário sobre a Torá. Rabi Shlomo Efraim sobreviveu à sua doença, e no ano seguinte escreveu e publicou seu livro chamado de Kli Yakar

O livro se tornou imediatamente popular em todo o mundo judaico e foi sua publicação mais famosa a ponto de, como acontece com muitos outros grandes rabinos, Rabi Shlomo Efraim ser agora conhecido simplesmente como o Kli Yakar

No ano seguinte à publicação do Kli Yakar, Rabi Shlomo Efraim foi nomeado rabino-chefe da grande cidade de Praga, onde também serviu como Rosh Yeshiva (diretor do seminário rabínico) e Rabino chefe do Beit Din (tribunal rabínico)

Rabi Shlomo Efraim faleceu em 1619. Seu filho e seus netos seguiram seus passos, mantendo também a posição estimada de rabino-chefe de Praga. Entre seus alunos mais famosos estava o rabino Yom Tov Lipman Heller, também conhecido como Tosfot Yom Tov

O “Kli Yakar” explica que o fato de a letra “Alef” aparecer menor na nossa Parashá, vem nos indicar que aqui está havendo uma comparação em um certo aspecto entre a profecia de Moshe Rabeinu e a profecia de Bil’am

O Midrash nos conta que não existiu um profeta no povo de Israel como Moshe, mas entre os povos do mundo existiu. E quem era ele? Era Bil’am

A intenção do Midrash não é de que Bil’am se igualou à Moshe Rabeinu em profecia, D’us nos livre, mas o que eles tinham em comum, era o fato de terem recebido temporariamente um nível ao qual eles não teriam como alcançar por meio do próprio esforço

Moshe Rabeinu recebeu uma revelação maior do que o nível ao qual ele chegara por força própria

Hashem revelou para ele mais do que ele poderia receber pelo próprio mérito, e todo esse acréscimo foi no mérito do povo de Israel e não no mérito do próprio Moshe, sendo que o que ele tinha direito a receber por próprio mérito ele já tinha recebido

Por isso, vemos que no caso do “bezerro de ouro”, Hashem pede para Moshe descer do Monte Sinai. Diz o Midrash que a intenção Divina era de que todo aquele acréscimo de grandeza espiritual que Moshe Rabeinu estava recebendo, era no mérito do povo de Israel, e quando eles perderam esse mérito fazendo a idolatria, Moshe perdeu esse nível de revelação

Depois que eles foram desculpados, a revelação de Hashem para Moshe ficou ainda maior do que era antes de eles terem feito a idolatria, o que não aconteceria se a revelação fosse no mérito dele próprio

Nossos outros profetas, não receberam a profecia a não ser de acordo com seu próprio nível, e não mais do que isso. Mas entre os povos do mundo surgiu Bil’am, que em honra ao nosso povo também chegou a um nível maior do que conseguiria chegar

A regra geral é de que o nível de profecia, que o profeta alcança de acordo com seu próprio esforço, fica incorporado nele, em sua própria essência, e não se separa mais dele

Mas se ele alcança um nível acima da sua própria capacidade, esse nível de profecia é considerado como sendo dado a ele como algo que “aconteceu”, algo “temporário”, ou seja, não devido à essência do profeta, mas somente por dádiva Divina

Essa mesma linguagem, que chamaríamos de “acontecimento” e não de “merecimento”, é usada tanto em relação à profecia de Moshe Rabeinu quanto em relação à de Bil’am; nos ensinando que eles eram comparados somente nesse aspecto. No fato de os dois terem tido uma revelação acima da própria capacidade, acima da própria essência

Isso é chamado de “acontecimento”, por ser uma revelação adicionada ao que eles conseguiram chegar por si só

De acordo com isso, continua o Kli Yakar, conseguimos entender a explicação de Rashi em relação à palavra “vaykar” usada pela Torá em relação à profecia de Bil’am. Rashi explica a palavra “vaykar”, como sendo uma linguagem de “acontecimento”, e também explica essa palavra como uma linguagem de impureza

Seria o suficiente para Rashi optar por uma dessas duas possibilidades para determinar a diferença entre “vaykar” e Vaykrá, mas Rashi traz as duas opções, porque, segundo o Kli Yakar, também Rashi opina que a profecia de Moshe foi por “acontecimento” e não por essência. Ou seja, uma dádiva Divina e não o fruto do seu próprio esforço

Sendo assim, por que não é usada a mesma linguagem para os dois? O motivo para isso é para diferenciar entre a profecia de Moshe, que foi um acréscimo à santidade de Moshe, e entre a profecia de Bil’am que foi um acréscimo de santidade naquele momento. Um acréscimo paralelo ao lado da impureza que Bil’am tinha naquele momento, e que continuou tendo também depois disso

Portanto, foi acrescentada a letra “Alef” à profecia de Moshe para diferenciá-la da profecia de Bil’am. Mas mesmo assim, a letra “Alef” aparece aqui menor, nos indicando que as duas profecias tinham o mesmo aspecto, sendo o fato de nos dois casos elas terem “acontecido”, e não terem sido alcançadas por próprio esforço

O Kli Yakar dá mais uma explicação sobre o fato de a letra Alef estar pequena na nossa Parashá. Ele diz que o significado do nome da letra Alef, ou seja, a tradução literal da palavra Alef, é “estudo”. E o estudo da Torá não se mantém a não ser em quem se diminui e foge das honrarias

Em nossa Parashá, isso está indicado explicitamente. Moshe teve o mérito de receber esse chamado Divino por ter se diminuído no episódio do “arbusto incandescente”, quando Hashem se revelou para ele, e pediu para tirar o povo de Israel do Egito

Qual foi a resposta de Moshe lá? Simplesmente ele fugiu das honrarias, disse que não sabia falar bem e pediu para Hashem mandar outra pessoa no lugar dele

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A explicação do Baal Haturim, Rabeinu Yaakov ben Asher

Nossa Parashá começa com as palavras “Vaykrá el Moshe” (e chamou à Moshe). Nos indicando que D’us chamou Moshe pelo seu nome

Rashi explica que quando Hashem (D’us) se revelava para Moshe Rabeinu ou para qualquer outro profeta judeu, antes de dizer a ele a profecia, Hashem o chamava pelo nome para, demonstrar o afeto que tinha por ele, e só depois dizia para ele a profecia

Uma revelação Divina para um profeta que não era judeu só acontecia por algum motivo relacionado a nós, como foi o caso da profecia de Bil’am que falou a profecia conhecida como Ma Tovu

Quando Hashem era obrigado a se revelar para um profeta que não era judeu, como, por exemplo, um idólatra e depravado como Bil’am, Hashem revelava para ele a profecia sem chamá-lo pelo nome

Isso é comparado a uma pessoa que se encontra com alguém por acaso, com alguém que não é importante o suficiente para primeiro chamá-lo para que ele possa se preparar para ouvir o que vai ser dito

A linguagem do versículo para “e chamou”, uma linguagem de afeto, é Vaykrá

A linguagem do versículo para “e encontrou por acaso” é Vaykr. Essa mesma palavra, mas faltando a letra Alef no final da palavra

Na nossa Parashá, a palavra Vaykrá aparece com uma letra Alef pequena, menor do que as outras letras daquela palavra

Qual seria o motivo para essa diferença de tamanho

Rabeinu Yaakov ben Asher nasceu em Colônia na Alemanha antiga aproximadamente em 1269 e faleceu em Toledo na Espanha aproximadamente em 1343. Ele foi o terceiro filho do famoso “Rabeinu Asher ben Yehiel” conhecido como “o Rosh”

Rabeinu Yaakov foi uma autoridade rabínica medieval influente, sendo conhecido como “o Baal Haturim” devido à sua obra principal, o livro Arba’ah Turim (quatro fileiras), livro de lei judaica dividido em quatro categorias diferentes, e que serviu posteriormente como inspiração para a escrita do Shul’han Aru’h por Rabeinu Yossef Karo (Espanha 1488 – Tzfat 1575)

Essa obra foi dividida em 4 seções, cada uma chamada de um “Tur”, aludindo às fileiras de joias da placa peitoral do Sumo Sacerdote.

Rabeinu Yaacov nos explica que Moshe Rabeinu era tão humilde que não queria escrever a palavra Vaykrá em relação a si, como demonstração do afeto que Hashem tinha por ele, mas queria escrever em relação a si, a palavra Vaykr, como está escrito em relação à Bil’am. Ou seja, como se Hashem não tivesse por ele mais consideração do que teve por Bil’am, D’us nos livre

Mesmo assim, Hashem obrigou Moshe a escrever a palavra Vaykrá, demonstrando o grande afeto que Hashem tinha por ele. Então ele escreveu o Alef em letra pequena, expressando que não se considerava merecedor de todo esse afeto

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O Motivo de se trazer um Korban (sacrifício) para Hashem

Nossa Parashá nos conta sobre os Korbanot, os sacrifícios que eram feitos inicialmente no Templo móvel no deserto e posteriormente no Beit Hamikdash, o Templo Sagrado de Jerusalém

O Rambam, Rabi Moshe ben Maimon (Córdoba 1138, Fustat 1204). No seu livro Moré Nevuhim que quer dizer “professor dos desorientados”, explica que uma pessoa normal não consegue mudar de um extremo ao outro repentinamente. Diz o Rambam que o ser humano por natureza não consegue abandonar de imediato o que sempre estava acostumado a fazer

Quando Hashem enviou Moshe Rabeinu para transformar o nosso povo em um reinado de sacerdotes, em um povo sagrado, era necessário para isso que eles se entregassem ao trabalho Divino de todo o coração, servir somente à D’us e à nada fora Ele

As pessoas do mundo inteiro naquela época estavam acostumadas a sacrificar alguns tipos de animais nos templos onde eram colocadas as estátuas, se prostravam na frente das estátuas, e acendiam para elas incenso.l

Todos cresceram educados dessa maneira, e os mais dedicados eram sacerdotes nos templos que eram feitos para o Sol, a lua e as estrelas

Diz o Rambam, que o motivo de Hashem não ter pedido para deixar todos esses trabalhos e não anulá-los, foi porque a natureza humana é de as pessoas estarem sempre apegadas ao que estão acostumadas a fazer

Caso Hashem pedisse para eles pararem de fazer os sacrifícios, seria comparado a um profeta que surgisse na nossa época, e dissesse que Hashem nos ordenou à não rezar para ele e não pedir, a ajuda dele na hora do sofrimento; mas somente fazer todo o trabalho Divino por meio de pensamento sem ação, o que seria um absurdo para nós.

Por isso, no lugar de anular esses costumes, Hashem pediu para que eles fizessem isso para Ele

Não fizessem os sacrifícios para a idolatria, mas sim para Hashem

Não fizessem um Templo para a idolatria, mas sim para Hashem

Não fizessem um Altar para fazer sacrifícios para a idolatria, mas sim para fazer sacrifícios para Hashem

Não se prostrassem para a idolatria, mas sim para Hashem

Hashem pediu para terem sacerdotes no Templo de Hashem, como tinham sacerdotes no templo da idolatria

Pediu para que fossem dados presentes para os sacerdotes de Hashem, para que eles possam se manter fazendo esse trabalho, e essa é a origem dos presentes que os Cohanim, e os Leviim tinham que receber do nosso povo

Essa foi a perspicácia Divina para apagar a lembrança da idolatria, e fazer uma verdadeira reviravolta no nosso povo, nos direcionando dessa forma à conscientização da existência de D’us e da sua unicidade

E assim impedindo que as pessoas daquela época ficassem “perdidas”, por ser anulado o trabalho que elas estavam acostumadas a fazer, e que não sabiam fazer nada fora disso

Até aqui, a tradução das palavras do Rambam no seu livro Moré Nevuhim. O Rambam começou a escrever esse livro em 1185, quando tinha 47 anos, e terminou de escrevê-lo em cerca de 1191

Esse livro foi escrito no idioma árabe, mas com letras hebraicas. O Rambam escreveu esse livro quando morava em Fustat, antiga parte do Cairo atual, e trabalhava lá como médico do Vizir do Egito

Mesmo assim, na prática, o Rambam escreve no seu livro Mishne Torá, que os Korbanot fazem parte da categoria de mandamentos da Torá chamada de Hukim, mandamentos Divinos
para os quais não existe uma explicação lógica

Shabat Shalom
e
PURIM Samea’h
Rabino Gloiber
Sempre rezando por você
🌻🌻🌻

 

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