Zohar e Hassidut da Parashá – Tzav 5784

Nossa Parashá continua nos contando sobre os Korbanot

 

Na Parashá passada estudamos os motivos dos Korbanot, e agora vamos estudar o motivo de certos animais terem sido exclusivamente escolhidos para que somente eles sejam abatidos como Korban e não outros, começando pelo mais famoso de todos, o Korban Pessa’h

 

Korban Pêssa’h

O Rambam nos conta no seu livro “Moré Nevuhim” que uma grande parte dos idólatras do Egito serviam a constelação de áries e portanto proibiam abater carneiros, e também abominavam os pastores de ovelhas

Outros povos da antiguidade serviam os demônios e diziam que eles se revelavam em forma de bodes e portanto proibiam fazer abate
de bodes

Essa religião também era muito difundida na época de Moshe Rabeinu

Mas em relação ao abate de bois, provavelmente a maioria dos povos antigos tinham reverência por essa espécie, e por isso, diz o Rambam, vemos que os hindus até hoje não fazem abate de gado mesmo em terras que costumam abater outros animais

E para apagar os resquícios que essas religiões deixaram no nosso povo recebemos a ordem Divina de sacrificar essas três espécies de animais para nos conscientizar de que aquilo que considerávamos o ápice da divindade agora se transformou em um sacrifício para D’us

O motivo disso é também para expressar o nosso pedido de desculpas por termos feito desses animais uma idolatria

E assim, diz o Rambam, funciona a cura dos falsos conceitos que são uma verdadeira doença do intelecto humano

A cura disso é feita por meio da inversão
desses conceitos ao extremo oposto

 

O Korban Pêssa’h

E por causa desse mesmo assunto Hashem nos ordenou fazer o abate do cordeiro de Pêssa’h e espirrar o sangue dele no lado de fora das portas, para nos limparmos daquelas ideologias e publicarmos o contrário delas

E também para nos conscientizarmos de que o que considerávamos o maior pecado que seria matar uma divindade e ainda publicar isso abertamente para motivar outras pessoas a
fazer o mesmo, isso é a nossa própria salvação. E se não fizéssemos isso, aí sim seria a nossa
destruição

E por isso está escrito, diz o Rambam, que Hashem pulou nossas casas “e não deixará o destruidor vir para as suas casas trazer a destruição” no mérito da publicação que fizemos de termos destruído o que era sagrado para os idólatras

Nossa Parashá também nos conta sobre a origem da ramificação sacerdotal do nosso povo , o “Cohen”

,Como sabemos, nosso terceiro patriarca Yaakov Avinu, teve doze filhos, e deles se originaram treze tribos sendo que Yossef se transformou em duas tribos, as tribos de Efraim e Menashe

Na nossa Parashá Hashem pede para Moshe ungir Aharon e seus filhos com o “azeite de unção sagrado”, e por meio disso tira eles do status de tribo de Levi dando origem à um novo status no nosso povo que é o Cohen

A unção de Aharon e seus filhos é comparada à unção do Rei David pelo profeta Shmuel que a partir dela David foi chamado de Mele’h HaMashia’h (Rei ungido)

O rei Salomão, filho do rei David, já não precisou da unção do profeta, sendo que filho de rei ungido já nasce rei ungido, e essa regra continua até o último descendente do rei David
que é chamado de Mele’h HaMashia’h

,Ou seja, filho do filho do filho etc do rei David que chegará em breve em nossos dias

O mesmo acontece com o Cohen. Os primeiros Cohanim foram ungidos na nossa Parashá, e seus filhos já nascem Cohanim até hoje, como no caso do Rei

Esse Shabat é chamado de Shabat Pará porque nele vamos ler também a Parashá que nos
conta sobre a Pará Adumá, a Vaca Vermelha

O motivo que lemos a Parashá da Pará Adumá antes de Pêssa’h é para nos lembrarmos que precisamos nos purificar antes de Pêssa’h para podemos comer um pedacinho do Korban Pêssa’h

Pará

 

Parashat Pará nos conta sobre uma Mitzvá (um Mandamento Divino) que aconteceu somente nove vezes em toda a nossa história, e acontecerá pela décima e última vez na época do Mashia’h

Essa Mitzvá é chamada de Pará Adumá, que literalmente significa a “Vaca Vermelha”

Ela consiste em se fazer o abate de uma vaca totalmente vermelha sobre uma estrutura de toras de madeira e depois acender um fogo nessa estrutura transformando-a em uma grande fogueira

Quando a maior parte da vaca vermelha (que já foi abatida) está queimando e a barriga dela se abre, se joga dentro dela um pedaço de “erez” que é a maior árvore da terra de Israel, um pedaço de “ezov” que é a menor árvore daquela região, e tolaat shani que é uma lã tingida com tinta vermelha originaria de um vermezinho

As cinzas da fogueira da vaca vermelha junto com tudo o que foi queimado nela é usada para purificar as pessoas da maior de todas as impurezas, a impureza dos mortos

Todos os que participam da preparação dessas cinzas em todas as suas etapas devem estar puros antes de começar esse procedimento, e ao final dele se tornam impuros, caracterizando a vaca vermelha como algo que purifica os impuros mas impurifica os puros

 

A explicação do Baal Shem Tov

a vaca vermelha representa o orgulho

 

O Baal Shem Tov nos ensinou que todos os Mandamentos Divinos são eternos

 

Mesmo que na prática eles precisam ser cumpridos por meio de uma ação determinada e em um tempo determinado, mesmo assim eles sempre trazem para nós um ensinamento que pode ser colocado na prática por cada um de nós e em qualquer momento

 

Nesse aspecto os Mandamentos Divinos são eternos, pelo motivo de a Torá ser Divina e a revelação Divina ser eterna

 

Dizem os alunos do Baal Shem Tov em seu nome, que toda a Torá tem que estar sempre presente na nossa vida diária dentro desse aspecto, o de aprendermos de cada Mandamento Divino uma instrução que pode ser colocada na prática no nosso dia a dia

 

Eles perguntaram ao Baal Shem Tov:- O que podemos aprender da Mitzvá da “Pará Adumá”(a vaca vermelha) para o nosso trabalho Divino diário, se até na época do Beit Hamikdash ela não aconteceu a não ser raramente

 

E também, o que podemos aprender do fato de que ela impurifica os puros e purifica os impuros

E assim respondeu o Baal Shem Tov

A “Pará Adumá” representa o orgulho

 

No princípio, quando nos comportamos de maneira incorreta e portanto estamos distantes de Hashem (D’us), o começo do nosso “conserto” é por meio do orgulho e das segundas intenções

Temos que cumprir os Mandamentos Divinos para “nos exibir”, por exemplo, ou de uma maneira mais nobre, mas ainda com “segundas intenções”, de “ganharmos o Paraíso futuro”

Temos que pensar que é mais do que justo que Hashem nos dê uma enorme recompensa por tudo o que estamos fazendo, temos que achar que estamos fazendo algo para D’us

Mas a verdade é que se D’us não nos desse força, o que seria de nós? Como podemos cobrar de Hashem uma coisa que fizemos com a força que ele próprio nos deu

Mas nunca conseguiríamos chegar à essa verdade, e D’us nos livre, ficaríamos de fora, se não começássemos o trabalho Divino como uma criança pequena, para exibir que estamos fazendo o que é certo e portanto somos importantes, ou para receber algo em troca, por mais nobre que seja a recompensa como por exemplo o futuro Paraíso

Depois que começamos o trabalho Divino com essas “segundas intenções” e conseguimos “crescer e amadurecer” dentro do trabalho Divino, descobrimos que Hashem é a essência do bem e ele nos ama mais do que nós amamos nossas próprias crianças, infinitamente mais do que imaginávamos

Perdemos o interesse pelo que os outros vão pensar de nós, perdemos a vontade de nos “exibir”, e vemos o futuro paraíso como uma coisa óbvia, como voltar para casa depois de estarmos perdidos na selva por tanto tempo

Paramos de pensar em nós próprios e começamos a pensar em Hashem que está tão preocupado com a nossa “volta para casa”. Vamos pelo caminho certo para que Hashem fique “menos preocupado” com a gente e não para termos algum lucro com isso

Nessa segunda etapa, ter orgulho, cumprir os Mandamentos Divinos para nos exibir ou para ganhar o paraíso é uma regressão à etapa anterior. Nessa segunda etapa se tivermos orgulho ele nos derruba

Nessa segunda etapa, na qual voltamos a ser crianças puras, temos que manter essa pureza e nos afastar do orgulho até o extremo

Porque a prepotência é uma auto idolatria, e aonde há idolatria a revelação Divina se oculta. Nessa etapa o orgulho nos impurifica

Conclusão: o orgulho purifica os impuros e impurifica os puro

 

E esse assunto existe em todos os níveis, até no nível dos Tzadikim, das pessoas mais elevadas espiritualmente

Até os próprios Tzadikim, para subirem do seu nível tão elevado para um nível mais elevado ainda, precisam usar esse sistema de começar pelo orgulho para decolar, e depois se apegar à humildade para aterrissar com segurança no nível superior

 

E por isso, também sobre os Tzadikim podemos dizer que o orgulho purifica os impuros, sendo que qualquer nível espiritual em relação ao nível superior à ele é comparado à impureza em relação à pureza

 

Sendo que o nível espiritual inferior está distante do superior, em relação ao nível de revelação Divina superior o Tzadik está longe de D’us, mesmo que para nós que estamos em um nível muito mais baixo ele está infinitamente mais perto de D’us do que nós

 

E antes de qualquer pessoa se aproximar de Hashem por meio de alguma Mitzvá, Torá ou Tefilá (reza) ele é considerado impuro, ou seja, distante de Hashem em relação ao nível da aproximação que ele vai chegar por meio da Mitzvá, da Torá ou da Tefilá que ele vai fazer, e não temos como nos aproximar de Hashem a não ser por meio do orgulho

 

Na “sitra ahara”, no lado espiritual impuro, representado principalmente pelo que está mais próximo à nós que é o nosso próprio “yetzer hará” (nossa má inclinação), o raciocínio é totalmente contrário

 

O yetzer hará começa pela humildade e termina no orgulho

Começa pela humildade dizendo : “Quem é você para fazer uma Mitzvá e o que adianta você estudar Torá, de qualquer jeito você nunca vai saber tudo. Ou com argumentos como : Você acha que é tão querido por Hashem para que a sua reza seja ouvida? Quando um pensamento desses proveniente do yetzer hará nos atinge como um míssil do Hamas que sai de dentro da própria terra de Israel para destruí-la, você deve responder com todo o orgulho dizendo

:-Quem sou eu para não fazer uma Mitzvá

:-O meu estudo de Torá lá encima é visto como uma pequena luz na escuridão que é muito mais importante do que uma grande luz que não está na escuridão

:- A minha reza lá encima é ouvida com mais atenção ainda, como uma criança aprendendo a falar que mesmo falando errado o pai está tão feliz em ouvi-la que até repete as palavras dela de tanta felicidade

 

O fato de o orgulho no começo do trabalho Divino fazer parte da santidade e não ser comparado à uma Mitzvá feita por meio de uma “averá” (transgressão) é porque por trás dele se encontra a verdadeira humildade como vemos nos exemplos acima

A humildade da “sitra ahara” é dizer :-quem sou para fazer uma Mitzvá

A humildade da Kedushá (santidade) é dizer :-quem sou eu para não fazer uma Mitzvá

E esse lado oculto da verdadeira humildade se disfarça de orgulho para enfrentar o Yetzer hará que tenta nos seduzir dizendo que é uma grande Mitzvá ser humilde mas que por motivos de humildade você não deve cumprir Torá e Mitzvót sendo que você ainda não está nesse nível!

 

E você só consegue refutar os argumentos dele com orgulho. E por meio desse orgulho você se purifica e se aproxima de Hashem, por meio de ter orgulho em estudar Torá, em rezar, em cumprir as Mitzvót

O orgulho de fonte impura é o orgulho da segunda etapa, quando você já está estudando Torá, cumprindo Mitzvót e caprichando na Tefilá. Aí aparece o Yetzer hará e tenta te convencer de que você é melhor do que as pessoas que não estão fazendo o que você faz

Esse é o orgulho proveniente da “sitra ahara” e o objetivo dele é te derrubar dessa forma fazendo com que você se ache melhor do que os outros, fazendo com que você se sinta um deuzinho, transformando você em uma pequena idolatria e te distanciando de Hashem muito mais do que você estava antes de começar

Por isso o orgulho é chamado de Pará Adumá. Pará(vaca) é uma linguagem de crescimento, o orgulho de fazer uma Mitzvá faz você crescer

Adumá (vermelha) se refere à “sitra ahara” que é o orgulho que você sente depois de ter feito a Mitzvá, o orgulho de ser melhor do que alguém que não fez essa Mitzvá, orgulho proveniente do lado impuro

Portanto é colocado dentro da fogueira da vaca vermelha um pedaço de Erez que é a maior árvore, um pedaço de ezov que é a menor árvore, e tolaat shani, a lã tingida com a tinta vermelha originaria de um vermezinho

Como explica Rashi que quem se orgulhou como um Erez, tem que se rebaixar como um ezov e como uma tolaat, um vermezinho

Diz o Rambam que o cajado de Erez que era colocado dentro da fogueira da vaca vermelha tinha um limite de altura de cinquenta centímetros

Disso nos ensina o Baal Shem Tov mais uma regra importante que aprendemos da Mitzvá da Pará Adumá

Que mesmo sendo necessário o orgulho no começo do trabalho Divino, ele tem que ter um limite. Não podemos perder o controle sobre ele para que seja possível eliminá-lo depois
com muita facilidade

Conclusão

Leia novamente tudo o que foi dito acima e coloque na prática com muito amor e carinho

 

Shabat Shalom

Rabino Gloiber
Sempre rezando por você

 

 

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